Com base nas informações sobre epidemiologia abordadas no último artigo, é importante enfatizar com clareza que o carrapato não deve ser erradicado da propriedade, porém controlado. O conteúdo do presente artigo visa colaborar para a difusão das informações sobre a quimioprofilaxia da tristeza parasitária, bem como abordar as opções e características das vacinas para controle da piroplasmose.
A quimioprofilaxia é a prática na qual se utiliza a dose subterapêutica de um medicamento habitualmente empregado para o tratamento da tristeza parasitária. O medicamento eleito deve ter sua atividade conhecida e específica contra o agente que se deseja controlar (anaplasma ou babesia). O objetivo desta prática é evitar o surgimento de níveis elevados de parasitemia, mantendo o agente em níveis subclínicos, com a utilização das subdoses, e propiciando o desenvolvimento da situação de portador.
Geralmente, para o tratamento convencional da Anaplasmose, a droga de eleição são as tetraciclinas, na dosagem de 8 a 11 mg/Kg de peso vivo, durante três dias. Já na quimioprofilaxia para a Anaplasmose, recomenda-se a administração de duas ou três doses de tetraciclina com intervalos de 21 dias. Na dose de 2 a 4 mg/Kg de peso vivo, pela via intramuscular.
A desvantagem desse método é a possibilidade do desenvolvimento de resistência contra outros patogênos (E. coli, por exemplo); em relação ao Anaplasma marginale não se tem observado casos de resistência à tetraciclina. Outro importante item que merece destaque é o momento do final do processo de quimioprofilaxia, quando é possível o surgimento de casos agudos de anaplasmose.
Em relação à Babesia, são geralmente utilizados para o tratamento convencional produtos à base de diaminazine aceturato na dosagem de 3 a 8 mg/kg de peso vivo, via intramuscular, em dose única. Já na quimioprofilaxia tem-se utilizado a oxitetraciclina LA.
Para avaliar a quimioprofialxia da Babesia um grupo de pesquisadores de Minas Gerais estudou a eficiência deste método de controle em bezerros experimentalmente inoculados com a Babesia bigemina, em uma propriedade com ocorrência de babesiose clínica. O experimento 1 foi realizado em condições semelhantes às que ocorrem em área endêmica estável para a babesiose bovina, onde os animais se infectam logo nos primeiros dias de vida. Os dados comprovaram que 87,7% dos animais do grupo controle apresentaram infecção. Assim como nos casos naturais, a parasitemia foi baixa, mas com acentuada redução do volume globular sangüíneo. Foi observado que a oxitetraciclina LA exerceu forte atividade babesicida no grupo tratado, sendo que apenas moderadas alterações de temperatura e volume globular sangüíneo foram encontradas.
No experimento 2, os animais foram expostos apenas 2 vezes por semana às baixas populações de carrapato (B. microplus). Após o período de pré-patência, os animais do grupo controle apresentaram infecção por B. bigemina. Os animais do grupo tratado apresentaram maior período de pré-patência (período que vai desde a inoculação do agente até o aparecimento dos sintomas clínicos) e menor redução do volume globular em relação à redução apresentada pelo grupo controle.
Os autores destacam que a quimioprofilaxia exige conhecimento da epidemiologia da babesiose, sendo essencial que os animais sejam expostos à Babesia durante o período profilático para que ocorra infecção e desenvolvimento de imunidade. Teoricamente, haverá um ponto em que os níveis plasmáticos da droga serão suficientemente baixos para permitir que ocorra infecção, porém ainda elevados o suficiente para prevenir infecção aguda fatal.
Os autores deste trabalho concluíram que, quando aplicada durante o período pré-patente da infecção, a diidroxitetraciclina apresenta atividade babesicida. Destacaram ainda, que o esquema de quimioprofilaxia testado pode ser utilizado nas áreas endêmicas estáveis, nas quais os animais são expostos gradualmente ao carrapato.
A vacina é considerada um método de controle apropriado em situações onde a infestação de carrapatos não é suficiente para permitir taxas de inoculação satisfatórias para o incremento da imunidade. As vacinas contra a Babesia podem ser vivas ou mortas. As vacinas vivas foram desenvolvidas na Austrália e vem sendo utilizadas na Austrália, África do Sul e em vários países da América do Sul. As desvantagens desta vacina são o curto período de viabilidade dos parasitas (apenas 10 dias) e o risco da transmissão de outros patogênos, já que não há tempo hábil para testes de inocuidade. Já as vacinas congeladas em nitrogênio líquido solucionam as limitações citadas acima, mas apresentam maior custo de estocagem e distribuição. As vacinas mortas com a tecnologia de DNA recombinante estão em fase experimental, mas a expectativa no meio cientifico é favorável.
A vacina contra Anaplasmose é atenuada e apresenta resultados pouco estruturados. O manejo após a vacinação é complexo, já que os animais vacinados devem permanecer em área livre de contato dos vetores do Anaplasma durante seis semanas. Além disso, caso os animais apresentem sintomas clínicos não é recomendável o tratamento com tetraciclina, pois o anaplasma atenuado é muito sensível à este medicamento.
Ainda não está sendo comercializada, mas há uma vacina sintética contra o carrapato sendo desenvolvida na UFV. Tal vacina utiliza alguns aminoácidos da proteína bm86, proteína presente nas células do intestino do carrapato, O objetivo é estimular o sistema imunológico dos bovinos, criando anticorpos que irão atuar sobre os carrapatos no momento da ingestão do sangue do hospedeiro. Segundo os pesquisadores responsáveis pela vacina, é possível reduzir até 80% do número de carrapato em um animal. As vantagens da vacina sintética são o custo e o grau de pureza, já que ela não necessita de meios de cultura ou organismos vivos para sua produção. As dúvidas são em relação ao tipo de efeito em longo prazo que uma vacina, com estas características, possa causar na população de carrapatos.
Estas opções de controle estão sendo continuamente aprimoradas pela pesquisa, mas ainda merecem muito estudo, e tudo indica que serão aperfeiçoadas no futuro. Por hora, é importante controlar a tristeza parasitária, mas de forma sensata, favorecendo a manutenção da capacidade de resposta imunológica nos bovinos.
Fonte:
Kessler, R.H.; Schenk, M.A.M. Quando e como vacinar contra Tristeza Parasitária. https://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/divulga/GCD40.html - acessado em 16/05/2008
Ribeiro, M.F.B; Passos, L.M.F. Tristeza Parasitária Bovina. Cad. Tec. Vet. Zootec., v.39, p.36-52, 2002.
Vacina contra carrapato bovino. https://www.inova.unicamp.br/inventabrasil/carrap.htm - acessado em 06/07/2008.