Quanto maior o tamanho do rebanho, mais deve se organizar as práticas sanitárias do mesmo. Manejar grandes rebanhos exige uma boa administração e um treinamento constante dos funcionários.
Orientar esquemas padronizados para o tratamento dos animais é uma estratégia que facilita o treinamento da mão-de-obra, o monitoramento da resposta dos animais ao tratamento, a compra de medicamentos, o controle de estoque e o levantamento dos custos.
Nos grandes rebanhos é praticamente impossível que o proprietário, o gerente ou o veterinário estejam presentes em todos os tratamentos para definirem o melhor procedimento a ser executado. Por isso, faz-se necessário reunir as informações sobre diagnóstico e tratamento em pequenos protocolos e treinar os funcionários para executá-los.
O primeiro passo é esclarecer o funcionário que existem doenças mais comuns em cada faixa etária. É verdade que podem ocorrer pequenas variações de acordo com a região e o clima, mas via de regra, as enfermidades mais freqüentes podem ser associadas com a faixa etária dos bovinos da seguinte forma:
- Bezerros até 2 meses de idade: diarréia, infecções umbilicais, pneumonia;
- Bezerros: diarréia, pneumonia, tristeza parasitária, complicações decorrentes da descorna;
- Novilhas: tristeza parasitária, afecções podais, mastites;
- Vacas no pré-parto: mastite, afecções podais
- Vacas no pós-parto: hipocalcemia, retenção de placenta, endometrite, mastite, deslocamento do abomaso e demais distúrbios metabólicos (síndrome da gorda, acetonemia, acidose ruminal, anorexia, etc.)
- Vacas em lactação: mastite, afecções podais.
OBS. Os distúrbios metabólicos citados como "demais distúrbios metabólicos" não fazem parte das enfermidades às quais os funcionários podem ser treinados a diferenciar, pois necessitam sempre da orientação do Veterinário. Os funcionários podem ser orientados sobre a existência destas enfermidades, sua gravidade e sobre a importância dos casos suspeitos serem imediatamente avisados ao técnico.
Lembre-se que estas enfermidades são as mais rotineiras em cada faixa etária, desde que o rebanho siga um adequado esquema sanitário de vacinação, evitando assim, transtornos inesperados.
O segundo passo é definir qual é o sintoma padrão de cada enfermidade e quais serão as principais características que o funcionário deve ficar atento. Por exemplo, nos casos de diarréia em bezerros. Definir a característica das fezes e o estado geral que o animal acometido apresenta. Destacar a importância do diagnóstico logo no início da sintomatologia.
O terceiro passo é determinar o tratamento. Cada enfermidade, mais comum à cada faixa etária, deverá ter sua primeira opção de tratamento definida. Esta primeira opção deverá ser sempre a mesma para facilitar o manejo e avaliar a taxa de resposta. Casos de recidivas devem ser acompanhados pelo veterinário.
Os procedimentos relativos ao tratamento devem oferecer as seguintes perguntas e respostas, para orientar o funcionário:
- É preciso hidratar o animal?
- É preciso antibióticoterapia?
- Qual o antibiótico de primeira escolha para a enfermidade?
- Qual a melhor via de administração para a gravidade do quadro apresentado?
- É preciso o uso de antiflamatórios?
- Em que intervalo de tempo devem ser administrados os medicamentos?
- Por quanto tempo devem ser administrados os medicamentos?
O quarto passo é manter um rigoroso esquema de cadastro dos dados relativos aos tratamentos realizados. O funcionário deve ser sempre lembrado da importância da anotação dos dados de cada tratamento, para que seja avaliada a eficácia e a realização dos ajustes necessários em cada caso. Procure a forma mais simples para o cadastro dos dados, formas complexas demais costumam não estimular sua utilização e caírem em desuso.
O quinto passo é orientar que todos os animais em tratamento devem ser informados ao veterinário responsável, e se possível, avaliados pelo veterinário, ao menos, uma vez por quinzena. Desta forma, será possível adequar ajustes necessários para cada caso, bem como, definir os próximos passos do tratamento.
O sexto, e último, passo é conscientizar a importância do protocolo de tratamento para todos os funcionários envolvidos com o manejo sanitário dos animais.
O protocolo deve ser simples o suficiente para ser consultado em pleno transcorrer do tratamento. Evite a elaboração de esquemas muito detalhados que o tornarão complexos e de difícil uso para os funcionários.
Os protocolos de tratamento devem ser elaborados pelos veterinários do rebanho, são eles também que devem treinar o funcionário adequado para a realização dos protocolos. Os tratamentos deverão ser iniciados somente após a aprovação do veterinário de que o funcionário terá a capacidade de realizar o protocolo. No início, haverá muitas dúvidas e a presença do veterinário será sempre requisitada, mas com a repetição dos casos, a tendência é de que o programa entre em sintonia e possa fluir bem.
Para não perder a direção correta desta prática de manejo, deve-se ter sempre em mente que o principal objetivo dos protocolos de tratamento é acelerar o diagnóstico e o tratamento de enfermidades simples e rotineiras que, na maioria das vezes em grandes rebanhos, por demora no diagnóstico ou no tratamento, levam a complicações, aumentos no custo de tratamento e até mesmo à perda do animal.
Fonte: Gerloff, B. How to design treatment protocols. Dairy Herd Management, agosto, 2004, adaptado por Equipe MilkPoint