Existem muitas recomendações para maximizar os resultados da antibioticoterapia. Contudo, em meio a muitos fatores que acontecem no dia-a-dia da atividade, a antibioticoterapia torna-se uma ação mecânica e pouco monitorada. É importante parar alguns minutos e avaliar como está sendo feita a antibioticoterapia no rebanho, conversar com os funcionários que executam esta tarefa e enfatizar os principais cuidados para a obtenção dos melhores resultados dos medicamentos.
Os antibióticos são substâncias químicas produzidas por diferentes espécies de microorganismos (bactérias, fungos, actinomicetos) que suprimem o crescimento de outros microorganismos e podem eventualmente destruí-los.
Um recente estudo da Universidade da Pennsylvania (Penn State) - USA avaliou o uso dos antibióticos em 113 rebanhos leiteiros. Os rebanhos foram classificados de acordo com o número de vacas em lactação, participaram do estudo 42 rebanhos com menos de 100 vacas; 45 rebanhos com 100 à 199 vacas e 26 rebanhos com mais de 200 vacas. A avaliação das propriedades indicou que apenas 50% dos rebanhos faziam anotações sobre a antibioticoterapia utilizada em cada animal (produto, dose, número de dias).
Cerca de 79% não tinham planos padronizados para o tratamento das doenças mais comuns em rebanhos leiteiros (mastite, metrite, afecções podais, diarréia, pneumonia). Apenas 24% dos rebanhos finalizavam o protocolo de tratamento, ou seja, aplicavam o medicamento durante o número de dias recomendado.
Em 32% havia uma orientação sistemática do veterinário sobre a antibioticoterapia, nos demais rebanhos, os próprios funcionários usavam sua experiência para definir o produto, a dose e o período de tratamento.
Estes resultados da pesquisa caracterizam muito bem a realidade da antibioticoterapia nas fazendas leiteiras e, observando estes dados, é fácil entender porque muitas vezes os tratamentos não alcançam os resultados esperados. Quando consideramos o investimento nos medicamentos e, principalmente, a elevada perda econômica ocasionada pelas enfermidades nota-se que é essencial a correta administração dos antibióticos e um freqüente monitoramento dos funcionários que realizam esta atividade.
São recomendações básicas para o sucesso da antibioticoterapia:
- realize anotações referentes ao tratamento: nome do animal; produto utilizado; dose; dia do início e fim do tratamento;
- evite o uso de subdoses! Atenção ao avaliar o peso do animal e a dosagem recomendada na bula do medicamento;
- gaste algum tempo refazendo as contas das doses. Com o passar do tempo, sem percebermos, alguns vícios são criados e os funcionários podem estimar incorretamente o peso e a dose do medicamento;
- não guarde frascos abertos de medicamentos já utilizados;
- não utilize medicamentos vencidos;
- obedeça sempre a via de administração recomendada pelo fabricante;
- não realize, por "conta própria", mistura/associações de antibióticos. Lembre-se que existem antagonismo, sinergismo e adição, fenômenos que ocorrem quando dois ou mais antibióticos são combinados. O antagonismo leva à diminuição do efeito do medicamento, alguns exemplos de antagonismo: tetraciclina + penicilina; tetraciclina + ampicilina; gentamicina + tilosina; gentamicina + cloranfenicol, etc;
- monte protocolos de tratamento para as doenças mais comuns do rebanho (os protocolos devem ser fundamentados no tipo de enfermidade e na gravidade do quadro clínico);
- mantenha o tratamento durante o número de dias estabelecido no protocolo (a interrupção do tratamento antes da cura completa, pode levar ao desenvolvimento de resistência ao quimioterápico e recidivas da enfermidade);
- os protocolos de tratamento devem ser montados por um veterinário. E, nos casos em que a cura não for alcançada, o veterinário deve avaliar o animal e definir o melhor procedimento para o próximo tratamento.
Na pesquisa sobre o uso de antibióticos na Pennsylvania, também foram selecionadas 33 fazendas para uma avaliação mais detalhada sobre os tipos de quimioterápicos mais usados em cada enfermidade. Foi observado que o grupo de antibióticos alfa;-lactâmicos, tais como as penicilinas e cefalosporinas são mais utilizados para tratar enfermidades como a mastite, metrite, podridão de casco (foot rot) e doenças respiratórias.
As tetraciclinas e o grupo dos aminoglicosídeos (neomicina, gentamicina, estreptomicina) foram os antibióticos mais utilizados pelas fazendas pesquisadas.
A diarréia dos bezerros foi a enfermidade, na qual foi mais utilizada a antibiótico terapia, 36% dos bezerros das fazendas avaliadas foram medicados durante um ano de pesquisa. A pneumonia foi a segunda maior causa do uso de antibiótico. A terceira enfermidade mais tratada com antibiótico foi a podridão de casco no gado adulto (16% do gado adulto).
Nas vacas em lactação, as doenças mais tratadas com antibiótico foram a podridão de casco (como citado anteriormente), a mastite e a metrite. A mastite foi também foi uma doença com significativo uso de antibiótico, tanto para o tratamento, quanto para a prevenção no período seco. A cefalosporina foi o antibiótico mais utilizado para a mastite.
Um recente trabalho realizado na Itália, também sobre o uso de antibióticos, observou que as cefalosporinas são as drogas mais utilizadas na antibioticoterapia; sendo usada em 54% dos casos de diarréia de bezerros, 12% das infecções respiratórias e 6% das mastites.
Em última análise, é importante que o produtor fique consciente que a antibioticoterapia é uma ferramenta que auxilia os animais no combate à doenças e proporciona uma redução na perda de animais, aumentando a longevidade do rebanho. Em função do investimento, é muito importante que as terapias sejam feitas com uma correta orientação e precaução, já que os maiores custos certamente estão associados à não obtenção dos resultados esperados, ocasionados por erros de manuseio ou descuidos no protocolo.
Fonte:
Sawant, A. A.; Sordillo L. M.; Jayarao B. M. A Survey on Antibiotic Usage in Dairy Herds in Pennsylvania. Journal Dairy Science, v.88, p.2991-2999, 2005.
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Zwald A.G.; Ruegg P.L.; Kaneene J.B.; Warnick L.D.; Wells S.J.; Fossler C.; Halbert L.W. Management practices and reported antimicrobial usage on conventional and organic dairy farms. Journal Dairy Science, v.87, p.191-201, 2004.