Ao longo dos anos o Brasil não tem se mostrado capaz de produzir lácteos para abastecer seu mercado interno, e muito menos produzir para ser um grande exportador de leite e lácteos.
Um dos motivos para isso é a baixa produtividade e competitividade de nossa pecuária leiteira.
Mas não é apenas a pecuária que tem problemas. A própria indústria de lácteos do País enfrenta dificuldades, como baixas margens, principalmente as que tem forte atuação em leite UHT. A LBR é um exemplo disso, mas não é um caso isolado. Se for feita uma analise das indústrias e cooperativas que quebraram nos últimos anos vamos ver que para um grande número delas o leite UHT tinha grande participação no mix de produtos.
O leite UHT representa mais de 82% do consumo de leite fluído no Brasil e é determinante para o preço ao produtor. Se o preço do UHT no varejo é baixo, o preço do UHT para a indústria e o preço ao produtor serão baixos e as margens serão reduzidas. Sem margens ou com margens muito baixas a indústria e os produtores tem dificuldade de investir em produtividade e competividade e a tendência é o Brasil continuar ser importador liquido de leite e lácteos, como tem acontecido de forma geral nas últimas décadas.
Se a pressão para baixos preços do leite UHT parte do varejo é ruim para a cadeia produtiva. Se a pressão por preço baixo parte efetivamente dos consumidores, o leite UHT não é um produto adequado à renda do brasileiro.
Assim o leite UHT parece ser um grande problema para o setor leiteiro nacional, que afeta a indústria e produtores de leite. E enquanto não houver uma discussão séria do Governo, varejo, indústria e produtores para equacionar e solucionar esse problema as perguntas provocativas feitas no Seminário “Competitividade do leite no Brasil”, promovido pelo Pensa/FIA não terão respostas adequadas e continuaremos incapazes de abastecer o nosso mercado interno e não nos tornarmos exportadores significativos de leite e lácteos.
Quem sabe um dia a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados ou a Secretaria de Planejamento Agropecuária resolvam promover essa discussão com seriedade e transparência e se possa criar perspectiva de cenário melhor para o setor leiteiro nacional.
Marcello de Moura Campos Filho