O edema excessivo causa muito desconforto ao animal, favorece uma maior ocorrência de traumas nos tetos e na própria glândula mamária, atrasa a ordenha devido à dificuldade na extração do leite, predispõe à ocorrência de danos nos ligamentos suspensórios do úbere, favorece a ocorrência da mastite, e por todos esses fatores, pode até mesmo ocasionar o descarte precoce do animal.
Além dos fatos destacados acima, vale a pena lembrar que o edema ocorre em um momento delicado e complexo do ciclo produtivo: o periparto. Nesta fase, o animal encontra-se imunodeprimido devido ao balanço energético negativo e às mudanças hormonais que ocorrem no período do parto.
Pesquisadores da Universidade de Purdue, nos EUA, avaliaram a severidade do edema da glândula mamária de 73 novilhas de primeira cria. O objetivo do estudo foi associar o efeito dos hormônios no periparto com a gravidade do edema em primíparas, bem como avaliar o efeito de outros fatores associados, tais como idade ao parto, peso do bezerro e tempo de gestação. A idéia de avaliar os hormônios tem embasamento no conhecido fato de os hormônios endógenos estarem envolvidos com o desenvolvimento da glândula mamária e o início da síntese do leite.
O trabalho foi conduzido avaliando-se as concentrações hormonais diárias no periparto e avaliando-se o escore da severidade e extensão do edema a cada dia. Os escores eram atribuídos pela observação visual, obedecendo aos parâmetros apresentados na Tab. 1.
Foi observado que o edema aumenta progressivamente nos últimos 7 dias antes do parto e permanece elevado um dia e meio após o parto (Graf. 2). Concluiu-se ainda que o edema no periparto aumenta em primíparas mais velhas e nas primíparas que apresentam um período de gestação mais longo (Graf. 3 e 4). Todavia, não houve variação entre a ocorrência do edema e o período do ano, a temperatura e o fotoperíodo. O aumento do edema no pré-parto apresentou uma correlação positiva com os níveis de estradiol -17a no plasma e foi negativa para os níveis de estradiol -17ß e progesterona. Os níveis de prolactina no plasma não apresentaram relação com o escore de edema. Não foi possível identificar um hormônio determinante da gravidade do edema. Em suma, os resultados do estudo evidenciaram uma complicada interação entre os hormônios esteróides e a ocorrência do distúrbio, onde alguns esteróides favorecem e outros inibem a ocorrência do edema em novilhas de primeira cria.
Tabela 1- Escore do edema de úbere
Gráfico 2- Constatou-se que o escore do edema aumentou progressivamente nos últimos 7 dias antes do parto e permaneceu elevado um dia e meio após o parto
Gráfico 3- Associação entre a idade ao primeiro parto e a ocorrência de edema de úbere
Gráfico 4- Associação entre o tempo de gestação e a ocorrência de edema de úbere
Este ano, no Brasil, foi publicado uma pesquisa que investigou a epidemiologia do edema de úbere em rebanhos de manejo intensivo. Os autores destacaram que, embora o edema seja uma ocorrência clínica amplamente conhecida no meio científico internacional, não havia ainda qualquer levantamento da sua ocorrência no Brasil. O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, e as 18 fazendas onde foram realizadas as avaliações localizavam-se em regiões tradicionais de produção leiteira sob manejo intensivo.
Este estudo também avaliou o edema de úbere com uma metodologia de escore. No entanto, a classificação é um pouco diferente da utilizada na pesquisa relatada anteriormente. Observe na Tab. 2 a classificação utilizada neste levantamento.
Tabela 2- Escore do edema de úbere
Animais de diferentes faixas etárias foram incluídos nesta pesquisa, totalizando 108 animais avaliados. Em relação ao escore, os autores relataram que 21,29% das vacas apresentaram escore 2; 52,78% tiveram o escore 3 e 25,93% apresentaram o escore 4. Foi também avaliada a amplitude de variação em relação ao período no qual o edema foi observado, sendo que antes do parto o edema foi evidente em 43 animais e após o parto em 63 bovinos. Foi possível também, detectar a preferência terapêutica de diferentes produtos nos casos que necessitaram de intervenção clínica. Foram utilizadas com maior freqüência as seguintes terapias: corticóide + diurético (forma injetável) em 51,85% dos casco; 12,04 % dos casos foi utilizado apenas diurético; 11,11% dos casos foi utilizado apenas linimento (tópico) e 4,63% dos casos foram utilizadas duas drogas diuréticas e corticóide (forma injetável); em 0,93% foram utilizados linimentos e injeções de Dimetilsulfóxido (DMSO); 0,93% foi aplicada uma droga antiflamatória não esteróide e, 18,51% dos casos não receberam tratamento, por opção dos proprietários, apesar da demora em desaparecer os sintomas do edema.
Dentre as medidas profiláticas praticadas nas propriedades, observou-se: a redução da quantidade de grãos na dieta do pré-parto; a utilização de dietas catiônica-aniônica no pré-parto; a suplementação com vitamina E, sais de magnésio e cloreto de cálcio no pré-parto e até mesmo, que muitos produtores exercitam os animais com caminhadas antes e depois do parto. Todos estes fatores apresentaram efeitos positivos quando bem utilizados e balanceados na dieta dos animais.
Fonte:
MARÇAL, W. S.; WESTERING, A.J.V. Aspectos clínicos, epidemiológicos e terapêuticos do edema de mama em bovinos leiteiros. R. Bras. Méd. Vet., v.24,n.3, p.114, 2002.
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