O maior fator que fez a Nova Zelândia ser o maior exportador mundial de produtos láteos foi a competitividade de preço dos seus produtos. Para isso, a NZ teve que ser eficiente em produção de leite a baixo custo. Sendo assim, os produtores buscaram essa eficiência através da produção de leite estacional, onde o pico de produção de leite do rebanho ocorre junto com o pico de produção do pasto. Desta forma, foi possível diminuir ou otimizar a suplementação. Nesse caso, a produção de leite foi se moldando em estações de acordo com clima, produção do pasto e fisiologia da vaca.
Neste blog já mostramos a Estação de vacas Secas, Estação de parição I e Estação de parição II. Neste texto iremos abordar a Estação de monta conhecida aqui na NZ como “mating”(acasalamento).
Nos textos Estação de Parição I e II vimos o quanto esta estação é trabalhosa. Em virtude disso, os produtores têm buscado uma estação de parição cada vez mais curta. Além disso, e o mais importante, é que quanto mais curta for a pariçao maior serão os dias em lactação do rebanho, uma vez que todas vacas são secas de uma vez ou em grandes grupos.
Cada dia a mais de lactação por vaca gera de 1,2 a 1,8 kg de sólidos de leite. Em um rebanho de 300 vacas daria uma renda extra de NZ$2340,00 a NZ$3510,00 com o pagamento de 6,50/kg de leite sólido.
Diante disso, muitos produtores passaram a induzir as vacas a parirem antes do prazo normal. No entanto, essa prática foi proibida em escala pela lei da NZ. É permitido até 20%, mas as autoridades estão discutindo em abolir de vez isso da NZ já que fazer as vacas abortarem não é uma imagem boa quanto ao bem estar animal. Nesse caso, a única maneira de se ter uma estação de parição curta é uma estação monta curta, porém sem perder eficiência.
Em geral, a estação de monta dura 63 dias com 42 dias ineminando e 21 com touros. Algumas fazendas fazem ciclos de 42 dias, com 21 dias de inseminção, mais indução hormonal de cio e mais 21 dias com touros. Deve-se acrescentar mais 21 dias de inseminação das novilhas que acontece antes das vacas. No entanto, isso ocorre nas fazendas arrendadas ou próprias fora da fazenda de produção de leite. As novilhas entram no “mating” mais cedo para ter mais tempo para recuperar o escore de condição corporal (ECC) ao parir e entrar junto com as vacas na próxima estação.
3 semanas antes do dia do “mating” todas as vacas tem a inserção da cauda pintada com a mesma cor para indentificação do cio. Pintando-se a inserção da cauda, a vaca terá tinta raspada quando for montada na manifestação do cio. É importande sempre renovar a tinta na vaca pois pode sair com o dia-a-dia. O cio é observado todos os dias pela manhã ou a tarde no momento da ordenha.
O observador fica em uma plataforma renovando a tinta e separando as vacas que manifestaram cio. A inseminação é feita após a ordenha com o inseminador terceirizado fornecido pela LIC (Livestock Improvement Corporation).O inseminador é negociado na compra do sêmen. Em torno de 70% do sêmen comercializado na NZ vem da LIC (veja mais informações sobre a LIC no texto “Melhoramento genético Kiwi: lucratividade define a seleção”). Depois de inseminada a vaca é pintada de outra cor que identifica que ela já foi inseminada.
Na última estação da NZ, realizou-se 1,34 inseminações por vaca (New Zealand Dairy statistics 2011-12) . Uma curiosidade é que o sêmen da LIC comercializado na NZ não é congelado e sim resfriado devido à estaçao de monta definida. O estoque de sêmen tem 7 dias de validade. Os produtores não armazenam o material, pois este chega junto com o insemindor na hora de inseminar. Na estação de monta, até os horários dos vôos podem ser alterados para atender a logística da LIC.
As novilhas não são pintadas, pois não tem como ficar renovando a tinta devido ao fato de não ocorrer o manejo de ordenha. Com isso, cola-se um adesivo na inserção da cauda dos animais. O adesivo já é próprio para identificação de cio. Existem dois tipos no mercado: um com uma raspadinha que quando a novilha é montada raspa o adesivo identificanco o animal em cio; outro com um compartimento de tinta, que quando a novilha é montada esse compartimento estora espalhando a tinta no adesivo indentificando o animal em cio. As novilhas são levadas no curral de manejo da propriedade todos os dias pela manhã ou à tarde para separar e inseminar os animais em cio.
Passado o período de inseminação, é feito o repasse com touros. Normalmente a relação touro vaca é de 1:100. Não se tem nessecidade de mais touros pelo fato de boa parte das vacas já terem consebido na inseminação. Em média, 95% das vacas são inseminadas com 70% de concepção. Geralmente faz-se dois grupos de touros por rebanho. Enquanto um grupo monta o outro fica separado das vacas descansando. Troca-se os grupos a cada 3 dias. Os touros são alugados para o serviço.
Com esses manejos, a taxa média de concepção na NZ tem sido 96%. Porém não existe “almoço de graça”. Não tem como alcançar bons índices de fertilidade sem um manejo alimentar adequado, além do melhoramento genético. Em média, as novilhas na NZ emprenham entre 14 e 16 meses. Chamo atenção que isso não ocorre esporadicamente. É uma media geral no país.
Novilhas que não emprenham na estação são descartadas para abate. Diga-se de passagem, possuem uma carne de boa qualidade. Levando em consideração que em média a bezerra leiteira kiwicross desmamada em torno de 3 meses com o peso vivo de 90kg e emprenha com 15 meses pesando em média 270kg, o animal teria 12 meses para ganhar 180 kg. Esse é um ganho diário de quase 0,5kg sem leite, passando o stress da desmama e à pasto. Para todas as raças, a desmama é feita com 20% do peso adulto e entram em estação de monta com 60% do peso adulto.
Na parição, em média, as vacas estão com um ECC em torno de 5 e 5,5 para novilhas. Até o “mating”perde 1ECC. A meta é que não mais de 15% do rebanho esteja com menos que 4 ECC. A Escala de ECC na NZ vai de 1 a 10 e cada 1ECC muda em torno de 6,58% de peso vivo do animal. Para a raça Jersey, pesando 425Kg, 1ECC=28kg de peso vivo; e 31Kg e 33kg de peso vivo para 1ECC da raça Kiwicross (475kg) e holandês-frisio(500kg), respectivamente. Para holanandês de linhagem norteamericana pesando 600kg, 1ECC=36kg de peso vivo .
O planejamento é sempre muito importante. No entanto, com o leite estacional neozelandês os prazos são muito mais curtos e as ações são feitas em todo rebanho. Não tem chance pra erro. Se errar, há reflexos em toda estação produtiva e em todo rebanho. Para consertar um erro, só planejando a próxima estação. No caso da estação de monta, as novilhas são preparadas desde dia que nascem. Caso falte alimento e as novilhas atrasem um mês, emprenhanhando junto com as vacas, elas irão parir juntas e as primiparas terão o mesmo tempo que as vacas para recuperar o escore corporal e entrarem juntos com as vacas na proxima estação.
As vacas são preparadas para o “mating” antes de parirem durante a estação de vacas secas. Em média, as vacas secam com ECC3. Para parir com um escore 5 elas precisam ganhar 13,16% de peso vivo em 60 dias de estação seca.
Para conseguir uma taxa de inseminação de 95% aos 21 dias de estação, as vacas precisam estar paridas 60 dias antes do “mating”. Essa taxa cairia para 80% caso comece o “mating”aos 40 dias e 50% aos 20 dias. Uma pariçao tarde é consequência de uma concepção tarde durante a estação de monta anterior, provavelmente porque as vacas não ciclaram durante o periodo de inseminação anterior. O problema é um ciclo vicioso difícil de quebrar.
Aqui na Beith Farm, até a estação anterior era feita indução do parto até os 20% pemitido. Na próxima isso já não será mais nescessário. Durante a estação de vacas secas as vacas são separadas em dois grupos: os animais que parem na primeira metade da estação de parição, chamados de “early cows”; e outro grupo que pare na segunda metade chamado de “late cows”.
No artigo sobre estação de vacas secas mostramos que estes animais vão para outra propriedade chamada “run-off”. Esse manejo é muito importante para não ter que trazer todas vacas de uma vez do “run-off”, bem como para saber qual grupo de vacas irá parir primeiro e, portanto, planejar traze-las pra fazenda onde tem a estrutura de ordenha.
O “mating” aqui começou 21 dias após a parição. Com isso, as “early cows” já estavam ciclando. Então fez-se uma sincronização hormonal de cio com inseminação artifical com tempo fixo (IATF) no primeiro grupo. No entanto, durante o protocolo continuou-se a observação de cio e a inseminação diária das vacas que manifestavam cio normalmente. O mesmo se repetiu na segunda semana de mating com o as “late cows”.
Espera-se uma estação de parição mais curta sem necessidade de indução de parto. Ao todo, o periodo de inseminação durou 21 dias. Atualmente estamos no período de repasse com os touros. Depois de amanhã será feito um exame de ultrasson no grupo das late cows para identificar quais emprenharam durante a nseminação. Quando retirar os touros, será feito outro exame no restante dosanimais para identificar as vacas vazias, bem como para definir os dois grupos de parição, e assim fechar mais uma estação de monta.