O cloreto de sódio pode ser utilizado para controlar o consumo de misturas múltiplas, pois os animais tem apetite específico para o sódio e não ingerem quantidades muito acima do requerimento (Underwood e Suttle, 2003).Trabalhos realizados com blocos de mineral e ureia e outras formas de fornecimento de nitrogênio-não-proteico em dietas pobres em nitrogênio foram utilizados para ruminantes com bons resultados (Madrid et al., 1997, Puga et al., 2001, Zanetti et al, 2000, Gallina et al., 2004).
A alimentação representa elevado custo em sistemas de produção de ovinos e caprinos, e o aproveitamento de alimentos alternativos, quando adequadamente tratados e tecnicamente orientados para o uso animal, não afetam o desempenho zootécnico e contribuem decisivamente para a viabilidade econômica dessas atividades.
Dos diferentes tipos de restos culturais, os resíduos gerados durante a colheita de grãos, apresentam grande potencial como volumoso para ruminantes (Rahal et al. 1997), podendo ser utilizados como suplementação volumosa na época de escassez de forragens nas pastagens e também como volumoso exclusivo em confinamentos, em regiões ou propriedades em que este resíduo é abundante.
Entre os fatores que limitam a utilização dos restos de culturas, na sua forma in natura, para a alimentação de ruminantes, destacam-se a baixa disponibilidade de compostos nitrogenados, os elevados teores de carboidratos fibrosos, os altos teores de lignina e a baixa digestibilidade da matéria seca. Esses fatores, em conjunto, restringem o consumo desses volumosos, que, por sua vez, resultam em baixo desempenho animal (Van Soest, 1994; Jung & Allen, 1995).
As palhadas de cereais são pobres em proteína e podem ser utilizadas para ruminantes em manutenção, quando devidamente suplementadas com nitrogênio na forma proteica ou não. Trabalhos realizados com blocos de mineral e ureia e outras formas de fornecimento de nitrogênio-não-proteico em dietas pobres em nitrogênio foram utilizados para ruminantes com bons resultados (Madrid et al., 1997, Puga et al., 2001, Zanetti et al, 2000, Gallina et al., 2004,).
A finalidade da mistura múltipla é fornecer nitrogênio solúvel no rúmen para o crescimento das bactérias celulolíticas, aumentando a digestibilidade da fibra e o aporte de energia para o animal. Ruminantes em geral tem exigência mínima de 7% de proteína bruta na dieta, para que ocorra o adequado crescimento microbiano, fermentação da fibra e retirada de energia desta fração. Dietas fibrosas com conteúdo muito baixo de proteína bruta acarretam diminuição do consumo voluntário e do peso vivo dos animais.
Além dos aspectos nutricionais, a possibilidade do uso de resíduos de beneficiamento de cereais de inverno na alimentação dos ovinos pode resultar em melhor aproveitamento do potencial das propriedades rurais, tornando esse sistema mais uma opção para produtores agregarem valores à produção, bem como desenvolver sistemas de produção à pasto, utilizando-se também da suplementação concentrada através das misturas múltiplas.
Atentos a essa demanda tecnológica e científica, a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga, órgão de pesquisa agropecuária da APTA - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios / SAA-SP, desenvolveu o estudo "Níveis de cloreto de sódio na mistura múltipla para ovinos deslanados Santa Inês, com palhada de trigo", onde foi avaliado o consumo de algumas formulações de misturas múltipla com intuito de fornecer nitrogênio para dietas pobres em proteína.
Atualmente tem-se usado as misturas múltiplas ou "sal proteinado" (ureia, cloreto de sódio, ingrediente protéico e energético), para suplementar dietas pobres em nitrogênio. O cloreto de sódio pode ser utilizado para controlar o consumo de misturas múltiplas, pois os animais tem apetite específico para o sódio e não ingerem quantidades muito acima do requerimento (Underwood e Suttle, 2003), o que pode diminuir riscos de intoxicações, considerando que na composição da mistura múltipla utiliza-se de 10 a 20% de ureia e o animal ingerindo e degradando lentamente esse nitrogênio de origem não proteica, associado a disposição de sal, esses riscos ficam bem mais amenizados.
O experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga, no período de dezembro de 2009 a março de 2010. Foram utilizadas 12 ovelhas da raça Santa Inês, desverminadas, com peso vivo inicial de 46,04 ± 5,00 kg, alojadas em baias individuais em chão batido de 4,0 m2, com cochos individuais, bebedouro e alimentadas com palhada de trigo. Tiveram a sua disposição a mistura múltipla (15, 20 e 25 % de NaCl) contendo 10% de ureia. Foram avaliados o consumo da mistura múltipla e de MS da palhada e o ganho de peso dos animais. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com três tratamentos e 4 repetições por tratamento.
O consumo da mistura múltipla foi influenciado pela concentração de cloreto de sódio na formulação. As ovelhas apresentaram uma diminuição linear significativa (P<0,05) na ingestão da mistura múltipla com o concentração de cloreto de sódio na formulação (Tabela 1). O ganho de peso das ovelhas decresceu linearmente (P>0,05) com o aumento dos níveis de NaCl, devido a menor ingestão da mistura múltipla (Tabela 2). A ingestão média diária de ureia foi 19,8; 13,6 e 10,8 g, para os tratamentos com 15, 20 ou 25 % de cloreto de sódio. O consumo voluntário de MS da palhada de trigo em gramas/dia, % do peso vivo e por unidade de tamanho metabólico (Tabela 1) decresceram linearmente (P<0,05) com o aumento da proporção de NaCl na mistura múltipla.
Tabela 1 - Consumo voluntário médio diário de palhada de trigo e mistura múltipla (MM).
Tabela 2 - Desempenho de ovelhas em manutenção alimentadas com palhada de trigo e mistura múltipla (MM)
Como conclusão do projeto, o consumo da mistura múltipla foi influenciado pela concentração de cloreto de sódio na formulação , mostrando o efeito do cloreto de sódio (NaCl) como controlador da ingestão voluntária do Sal Proteinado. A mistura múltipla contendo 15% de NaCl propiciou ingestão adequada de nutrientes, podendo ser aconselhada para a formulação de Proteinados, inclusive com ganhos de peso dos animais no período avaliado.
Com esse resultado o produtor poderá manejar seu rebanho em sistema de produção intensivo, com o aproveitamento de resíduos de beneficiamento de cereais de inverno de custos baixos, viabilizando, desta forma, os custos de produção da ovinocultura, bem como oferecer outra alternativa de alimentos, em períodos críticos de oferta de volumosos. A substituição de fontes de volumosos, por resíduos de beneficiamento de cereais de inverno, poderá ainda incrementar a produção ovina, uma vez que as matrizes poderão manter a condição coroporal em períodos que poderiam ocorrer perdas de peso e com isso apresentarem melhores condições corporais nas Estações de Monta e, em consequência disso, obter maior produção de cordeiros por unidade de área e melhores índices zootécnicos em suas explorações pecuárias.
Como regra prática, pode-se utilizar essa mistura na ordem de 150 a 200 g/animal/dia, representando cerca de 0,4 a 0,5% do peso vivo.
O produtor não deve esquecer da adaptação desses animais com a ingestão de metade da dosagem/animal, na primeira semana que antecede o fornecimento regular. Caso seja interrompido o fornecimento da mistura múltipla, por mais de dois dias, há necessidade de refazer novamente a adaptação dos animais, uma vez que a ureia faz parte da formulação. É importante que o Produtor tenha orientação técnica de profissional habilitado e com conhecimento em nutrição animal, visando assim ao melhor resultado benefício/custo e eficiência na produtividade do rebanho.
Formulação básica sugerida pela UPD Itapetininga para manutenção corporal de fêmeas caprinas adultas vazias e ou secas.
Participaram também desse trabalho: Josiane Aparecida de Lima, Luciana Gerdes, Diorande Bianchini e Frederico Fontoura Leinz.
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