A produção de forragens pelo sistema de hidroponia com frequência é tema de reportagens em revistas do nosso setor. Este sistema, permite o cultivo praticamente o ano todo, sem depender das condições edafo-climáticas. Em função disso, muitos defendem este sistema como alternativa para a alimentação em propriedades de pequeno porte.
Uma série de experimentos realizados na Faculdade de Agronomia e Veterinária da UNESP, em Jaboticabal, avaliou a produtividade e qualidade do milho para forragem, produzido através de sistema hidropônico. Poucos são os testes controlados sobre o assunto e portanto vale a pena observar os resultados.
Foram testados 32 tratamentos em esquema fatorial, sendo 4 tipos de substratos: bagaço de cana (BC), bagaço de cana hidrolisado (BH), grama (GR) e cama de frango (CF); duas densidades de semeadura (1 e 2 kg/m2) e quatro idades de corte (14, 21, 28 e 35 dias).
Inicialmente foi avaliada a produção da parte aérea e raiz do milho para as diferentes idades de corte. A produção aos 14 e 21 dias foi muito baixa, quase não disponibilizando material para análise. Próximo aos 35 dias ocorreu infestação por lagarta do milho e optou-se por não tratar com defensivos já que o material destinava-se à alimentação animal. Sendo assim, somente o corte aos 28 dias foi avaliado posteriormente quanto à sua qualidade.
A cama de frango foi o substrato que propiciou maior produção (P<0,05) de matéria seca (MS) e proteína bruta (PB) na parte aérea: respectivamente 189,2 e 33,2 g/m2 (tabela 1). Este mesmo substrato foi o que apresentou a menor produção de raízes, mostrando-se bastante compactada, o que dificultou a colheita das raízes. Os autores argumentam que uma provável fermentação da cama deve ter dificultado o crescimento da raíz.
No caso da raíz, o BC foi o substrato que proporcionou maiores produções (P<0,05), com médias de 297,4 de MS e 32,2 g de PB por m2.
A densidade de 2 kg de sementes por m2 proporcionou maior produções (P<0,05) de MS e PB tanto na parte aérea quanto na raíz.
Tabela 1: Produção de MS e PB da parte aérea e raiz de milho hidropônico
Fonte: Amorim et al. (2000)
Os autores não encontraram na literatura outras referências sobre produtividade do milho produzido por hidroponia. Para efeito de comparação eles cita Vieira et al. (1980), que estudando a produção de duas variedades de milho obtiveram valores médios de 14,3 e 13,3 toneladas de MS por hectare. Eles traçam um paralelo, considerando que, no sistema convencional, o milho precisa de 100 a 112 dias para atingir o ponto de ensilagem enquanto que por hidroponia, no presente trabalho, ele foi cortado aos 28 dias de idade, com produção média da parte aérea por corte de 177,5 g de MS/m2, a capacidade de produção estimada seria de 7,1 t/ha. Levando-se em conta a possibilidade de uso das raízes produzidas por hidroponia como ração para ruminantes, o potencial de produção passaria a ser de 14,4 toneladas de matéria seca por hectare, semelhante ao milho "convencional".
Os autores concluem que a produção de forragem por hidroponia não foi eficiente, no sistema avaliado, e que maiores estudos são necessários para se buscar sistemas que permitam maior produtividade, recuperação das sementes não germinadas e melhor forma de fixação das plantas. Além disso, a avaliação do custo deste sistema é fundamental para que as comparações possam ser estabelecidas.
No próximo artigo apresentaremos os dados da qualidade da forragem produzida.
Comentário MilkPoint: embora esta seção trate de nutrição, e este tema fosse mais apropriado para a seção de produção de forragens, estes dados foram apresentados para que possam ser associados à qualidade do material produzido como alimento para ruminantes, a ser apresentado no(s) próximo(s) artigo(s).
Com relação a estes dados, não se pode esquecer que a produção por hidroponia também exige técnica e requer mão de obra intensiva. Considerando-se somente os níveis de produção apresentados, qualquer capim tropical, ou mesmo a cana-de-açúcar bem manejados e corretamente adubados, poderiam facilmente ultrapassar (dobrar) estes níveis de produtividade, certamente com muito menor exigência de mão de obra. Se o problema portanto é encontrar soluções para a produção animal em pequenas áreas, esta possivelmente não seria a melhor opção.
Fonte: Amorim, A. C., Resende, K.T., Medeiros, A. N. et al., 2000. Produção de Milho (Zea mays) para forragem, através de sistema hidropônico. In: Anais da XXXVII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Viçosa, MG.