Segundo Noronha (1987), os investimentos têm maior chance de sucesso quando são realizados de acordo com o plano de crescimento da empresa, adequado às necessidades de curto e longo prazo. Ao analisar projetos de investimento, o produtor deve considerar que determinada decisão pode afetar, no futuro, a estrutura de capital e a viabilidade da empresa.
A pergunta chave é: qual será a contribuição da proposta de investimento no sentido de atingir o objetivo central da minha empresa ?
Investimento em instalações
Instalações são benfeitorias existentes na empresa que, associados à tecnologia adequada e ao trabalho, permitem ao produtor alcançar seus objetivos.
As instalações são o palco dos acontecimentos de toda a atividade, auxiliando o bom desempenho da mão-de-obra e do rebanho, estando seu planejamento baseado na seguinte tríade: funcionalidade, durabilidade e economicidade (figura 1).
Figura 1: Instalações: investimento baseado na funcionalidade, durabilidade e economicidade.
Como investimento, as instalações devem apresentar o máximo de vida útil, para que o desembolso inicial seja pago satisfatoriamente ao longo dos vários períodos de produção. Além de duráveis, convém que as instalações sejam construídas de maneira econômica, a fim de minimizar este investimento inicial. Contudo, é importante não economizar em itens fundamentais (altura do pé direito, área por animal, largura dos corredores, entre outros) a fim de não comprometer sua funcionalidade, o que, invariavelmente, acarretará em aumento nos custos de produção (Neto, 1994).
Desta forma, os investimentos em instalações precisam atender a determinados requisitos de modo a proporcionar efetivamente o retorno esperado. Esses requisitos dizem respeito à necessidade das instalações servirem ao seu propósito básico: dar suporte à produtividade do sistema e garantir a qualidade dos produtos (figura 2).
Figura 2: Propósito básico das instalações.
Objetivos da criação
As instalações devem estar de acordo com os objetivos da criação, variando consideravelmente a complexidade do projeto e as exigências de investimento e detalhamento conforme cada situação (subsistência, hobby, produção comercial de leite/carne e derivados).
Sistema de produção
As instalações devem atender ao sistema de produção definido no planejamento, de acordo os objetivos e possibilidades financeiras do produtor.
Quando se define por um sistema extensivo a campo ou por um sistema intensivo a pasto, as instalações podem ser mais simples, contemplando principalmente unidades para ordenha e manejo dos animais. Quando a opção é por um sistema intensivo semiconfinado ou confinado, o projeto é mais complexo e deve ter, além destas, outras construções voltadas para a estocagem dos alimentos e confinamento dos animais.
Em sistemas de pecuária a pasto, os investimentos em instalações apresentam menor velocidade de retorno do capital quando comparados com investimentos em genética animal, adubação e subdivisão de pastagens, análise e correção do solo, conservação do solo e controle de formigas e cupins (figura 3).
Figura 3: Velocidade de retorno do capital investido em sistemas de pecuária a pasto.
Localização
Sempre que possível, as instalações devem ser construídas em locais de topografia suave e de fácil acesso, com disponibilidade de água e energia elétrica, evitando-se, assim, maiores investimentos.
Instalações mal localizadas podem onerar consideravelmente os custos de produção, seja pelo aumento nos gastos com transporte e mão-de-obra, caso dificultem as atividades diárias, seja pela queda no desempenho dos animais, caso apresentem condições ambientais desfavoráveis (umidade associada ao frio ou calor, vento).
É importante que haja uma interação entre as várias instalações, descritas como "complexo de instalações", permitindo o fluxo dos alimentos, dos animais, do produto obtido e dos dejetos. Esses diferentes setores (alimentação, ordenha, manejo, depósito de alimentos, máquinas e implementos, laticínio, tratamento de dejetos) devem ser visualizados de forma sistêmica, a fim de se evitar problemas como silos ou capineiras distantes do local de alimentação, gerando gastos no transporte da forragem, ou vias de acesso mal dimensionadas, impedindo o trânsito de veículos de carga.
Tipo de piso
Normalmente, as instalações de piso ripado suspenso apresentam maior custo de implantação, pois além da qualidade da madeira a ser utilizada no ripado propriamente dito, existe a necessidade de toda uma estrutura reforçada de sustentação, já que o ripado deve estar a uma altura suficiente de modo a facilitar a operação de remoção e transporte dos dejetos.
Já as instalações com piso de cama demandam menores investimentos na implantação, entretanto, seu custo de manutenção pode tornar-se elevado, dependendo da disponibilidade e custo de aquisição do material utilizado. Dentre os materiais orgânicos tradicionais, a casca de arroz, casca de café, palha, serragem e maravalhas são os mais populares. Dentre os materiais inorgânicos, a areia é o mais utilizado. Na escolha do material, deve-se considerar, além do custo, o conforto do animal.
Em regiões de clima seco, a acomodação dos animais pode ser feita diretamente sobre o piso de terra batida, devendo-se considerar a freqüência de limpeza do local.
Dimensionamento
O correto dimensionamento das instalações frente ao rebanho e aos objetivos do produtor visa a exploração racional da área destinada ao sistema de produção, além de auxiliar no planejamento da mão-de-obra e da alimentação do rebanho.
Instalações bem dimensionadas proporcionam um ambiente com higiene e conforto para os animais, favorecendo o manejo diário, a manutenção da saúde do rebanho e a produção de produtos de qualidade. Além disso, permitem a separação das diferentes categorias animais e garantem espaço suficiente para livre movimentação, evitando traumatismos.
Conforto ambiental
Na busca de maior eficiência, os produtores estão utilizando, cada vez mais, animais de alto potencial para produção de leite/carne. Freqüentemente, as instalações e o manejo oferecidos a estes animais são inadequados e o estresse causado pelos diferentes elementos climáticos (principalmente temperatura e umidade) afeta de maneira negativa os processos básicos de crescimento, reprodução e lactação.
Deste modo, as instalações devem ser construídas com material adequado, adaptadas às condições climáticas da região, ao tipo de animal e ao sistema de produção adotado. Devem ser bem arejadas, mas protegidas do vento e da umidade e pouco sujeitas às variações climáticas.
Adaptação de outras estruturas
A existência na propriedade de estruturas ociosas que possam ser facilmente adaptadas deve merecer grande consideração. Casas de vegetação, barracões de avicultura, suinocultura e estábulos têm sido adaptados com relativo sucesso e baixo investimento para atender às necessidades de alojamento dos animais, sala de ordenha ou depósitos.
Entretanto, a decisão de aproveitar estas estruturas deve sofrer rigorosa avaliação de benefício-custo, já que uma adaptação inadequada pode comprometer seriamente a funcionalidade da instalação, o conforto dos animais e dos funcionários e as condições gerais de higiene e sanidade, aumentando os custos de produção.
Impacto nos custos de produção
Vários fatores irão influenciar na escolha do tipo de instalação e, conseqüentemente, nas exigências de investimento: 1) os objetivos da criação; 2) o sistema de produção; 3) as condições climáticas da região; 4) a área física disponível; 5) a adaptação de outras estruturas; 6) o tamanho do rebanho; 7) a adoção de novas tecnologias em alimentação, ordenha e manejo dos dejetos; 8) a disponibilidade de capital e mão-de-obra; 9) o material utilizado e 10) as exigências legais.
O impacto dos investimentos em instalações sobre os custos de produção do leite/carne decorrem, principalmente, da depreciação e da remuneração do capital investido. Por serem considerados como fixos, quanto maior for o volume de leite/carne produzido, menor será o impacto destes itens no custo total de produção.
A Tabela 1 apresenta os custos anuais de depreciação e remuneração em função do valor do capital investido e da vida útil das instalações. Para os cálculos, foram utilizadas as fórmulas descritas por Gomes (1999) e Yamaguchi (1999), considerando o valor de sucata igual a zero e a taxa de juros real da caderneta de poupança de 6% ao ano.
Tabela 1: Custos anuais de depreciação e remuneração em função do valor do capital investido e da vida útil das instalações.
Considerações finais
Os investimentos em instalações têm maior chance de sucesso quando são realizados de acordo com o plano de crescimento da empresa, adequado às necessidades de curto e longo prazo.
Os investimentos em instalações precisam atender a determinados requisitos de modo a proporcionar efetivamente o retorno esperado. Esses requisitos dizem respeito à necessidade das instalações servirem ao seu propósito básico: dar suporte à produtividade do sistema e garantir a qualidade dos produtos.
Os investimentos em instalações devem estar baseados na tríade funcionalidade, durabilidade e economicidade.
Referências Bibliográficas
BORGES, C.H.P., BRESSLAU, S. Planejamento de custos na construção do capril. In: ENCONTRO NACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESPÉCIE CAPRINA, 7, Santos, 2002. Anais Santos:UNIMES, 2002.
GOMES,S.T. Cuidados no cálculo do custo de produção de leite. In: Seminário sobre Metodologias de Cálculo do Custo de Produção de Leite, 1, Piracicaba, 1999. Anais Piracicaba:USP, 1999.
MARTHA JÚNIOR, G.B., CORSI, M. Pastagens no Brasil: situação atual e perspectivas. Preços Agrícolas, jan/fev, 3-6, 2001.
Neto, S.L. Instalações e benfeitorias. São Paulo:SDF editores, 1994.96p.
NORONHA, J.F. Projetos agropecuários: administração financeira, orçamento e viabilidade econômica. 2ed. São Paulo:Atlas, 1987. 269p.
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