Para obter bons resultados em sistemas intensivos de produção de leite com base em pastagens tropicais, é de extrema importância garantir a oferta de forragem de boa qualidade aos animais no período seco do ano, época em que os capins tropicais deixam de produzir em quantidade e qualidade devido à falta de água e de calor. A cana-de-açúcar vem se destacando como opção viável neste período, já que o período de maior produção e de maior teor de açúcar coincide com o período de escassez de forragem. No entanto, certos erros de manejo na oferta deste volumoso podem resultar em baixo consumo voluntário e desempenho pelos animais.
A maioria dos técnicos e produtores já utiliza técnicas que visam melhorar o valor nutricional da cana-de-açúcar, como por exemplo, a adição ureia e sulfato de amônio para elevar o teor de nitrogênio e de enxofre, ou mesmo utilizando aditivos para melhorar a fermentação em caso da silagem de cana-de-açúcar. Porém, muitos desconhecem ou não dão a devida importância para o tamanho médio das partículas que são ofertadas aos animais.
O fornecimento de cana-de-açúcar com elevado tamanho médio de partículas (TMP) pode reduzir o desempenho animal devido principalmente a limitação na ingestão de matéria seca. Já partículas excessivamente pequenas podem causar queda no teor de gordura do leite e problemas de saúde ruminal devido a diminuição da atividade de mastigação e a queda na produção de saliva, necessária para manter o pH ruminal próximo de 6,0; principalmente no caso de animais alimentados com mais de 50% de volumoso. Tamanhos reduzidos de partículas podem ainda aumentar a ingestão de matéria seca (MS), diminuir o tempo de retenção do alimento no rúmen e consequentemente a digestibilidade do alimento.
Experimento recente, conduzido pelo grupo "Conservação e Qualidade de Forragens" do Departamento de Zootecnia da ESALQ-USP, foi realizado com o objetivo de verificar o efeito do tamanho médio das partículas de cana-de-açúcar no desempenho e na composição de leite de vacas em lactação. Este experimento comparou 3 tamanhos médios de partículas: 3, 5 e 9 mm (Figura1). Para a obtenção dessa variação nos tamanhos médios de partículas foram utilizadas uma máquina estacionária que na troca das correias geraram o TMP de 3 e 5 mm; e uma colhedora (ambas da marca Menta®) gerando o tamanho 5 mm. Estes valores foram obtidos a partir da utilização do conjunto de peneiras, denominado método de Penn State Particle Size Separator (mais detalhes deste método no artigo publicado em 08/11/02 "O método Penn State Particle Size Separator para a predição do tamanho de partículas de silagens" no radar técnico de Conservação de Forragens).
As rações foram formuladas segundo o NRC, 2001 para que as vacas produzissem 20 litros de leite/dia com 3,5% de gordura. A única diferença entre as dietas experimentais foi o tamanho médio das partículas (Tabela1).
Tabela1. Proporção dos ingredientes experimentais.
Neste trabalho, a diminuição no tamanho de partículas (3, 5 ou 9 mm) apresentou tendência de aumento linear na produção de leite. Os animais dos tratamentos que receberam cana com tamanho médio de partículas de 5 e 9 mm produziram 2,4% menos leite do que as vacas do tratamento de 3 mm. Mesmo com tamanho de partículas reduzido (3 mm), a cana foi capaz de manter o teor de gordura no leite e a atividade de mastigação, os quais são indicadores da saúde ruminal.
Diante destes dados, ressalta-se a importância da utilização de um bom equipamento para a picagem da forragem, bem como a regularidade na afiação das facas do equipamento.
Referência Bibliográfica:
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrients requirements of dairy cattle. 7.ed. Washington: National Academy of Sciences, 2001. 381 p.
Vanessa Pillon dos Santos, Luiz Gustavo Nussio, Ana Luiza Bachmann Schogor, Gisele Bonato Muraro, Rodrigo da Silva Goulart, Kátia de Oliveira, Gerson Barreto Mourão. Avaliação do tamanho médio das partículas da cana-de-açúcar na alimentação de vacas leiteiras sobre o desempenho e a composição do leite. 45 a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Lavras, MG, 2008.