Existem duas principais classificações para as vitaminas, as lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K) e as hidrossolúveis (vitaminas do complexo B e vitamina C). É essencial que a dieta fornecida aos animais possibilite a ingestão adequada dessas vitaminas e/ou de seus precursores para prevenir quaisquer deficiências ou excessos (hipo ou hipervitaminoses, respectivamente). De maneira geral, os alimentos utilizados na nutrição de ovinos possuem quantidades consideráveis de vitaminas em suas composições e também os animais apresentam requerimento ínfimo desses componentes, necessitando apenas de pequenas quantidades para a manutenção adequada da saúde, crescimento e reprodução.
Os alimentos volumosos, como as forragens frescas e as conservadas, são importantes fontes potenciais de vitaminas. A concentração desses nutrientes nas forragens é dependente da espécie de planta utilizada, das condições climáticas no cultivo dessa espécie, do estádio de maturidade da planta, do método de conservação no caso de forragens conservadas e das condições de estocagem desse material.
Além disso, conforme discutido por ZEOULA & GERON (2006), os ruminantes adultos conseguem sintetizar as vitaminas do complexo B e a vitamina K, pela ação dos microrganismos do ambiente ruminal durante a degradação e fermentação dos alimentos. Já a vitamina D, é sintetizada através da radiação da luz solar sobre precursores presentes na pele, enquanto a vitamina C pode ser naturalmente sintetizada a partir de carboidratos (glicose e galactose). Portanto, em condições normais, os ovinos raramente precisam ser suplementados com essas vitaminas, devendo ser dada maior atenção às necessidades de vitaminas A e E que dependem diretamente da dieta.
Todavia, com a intensificação que vem ocorrendo nos sistemas de produção de ovinos, há uma maior suscetibilidade à ocorrência de distúrbios decorrentes de deficiências vitamínicas (hipovitaminoses). Por exemplo, a manutenção dos animais em confinamento excessivo com pouco ou nenhum acesso à luz solar, pode ocasionar uma deficiência severa de vitamina D, uma vez que não ocorre a conversão dos precursores devido à ausência de radiação ultravioleta sobre a pele. Também, uma dieta de alto grão com elevadas proporções de concentrado e pouco volumoso, pode reduzir drasticamente a população de bactérias produtoras de tiamina (Vitamina B1) e proliferar as bactérias produtoras de tiaminases no rúmen (enzimas capazes de destruir a tiamina), levando à deficiência desta vitamina e ao aparecimento de sinais clínicos (Figura 1), sendo mais comum a Polioencefalomalácia (Saiba mais: "Polioencefalomalácia em pequenos ruminantes" Link:
Figura 1 - Cordeiro em decúbito, com sinais clínicos nervosos: fornecimento de dieta com elevada proporção de concentrado e animal com rúmen não desenvolvido completamente, resultando em deficiência de vitamina B1.
Vitamina A: está relacionada à produção do pigmento da visão e aos processos metabólicos nas membranas de células receptoras de luz na retina. É também importante para a reprodução (espermatogênese), participa na manutenção de tecidos esquelético e epitelial e no desenvolvimento ósseo. As forragens apresentam quantidades abundantes de precursores de vitamina A (carotenóides ou provitamina A), que são convertidos no organismo. Porém em épocas de seca/escassez de forragem ou ainda para animais em confinamento, deve-se atentar para a correta suplementação deste componente, pois a deficiência pode provocar cegueira noturna, perda de apetite, redução no crescimento, maior susceptibilidade às infecções e também problemas reprodutivos.
Vitamina D: participa na absorção de cálcio e fósforo no intestino, no transporte desses elementos no sangue e na mobilização e fixação desses minerais nos ossos. Em condições normais a necessidade desta vitamina é suprida pela produção na pele do animal quando em exposição à luz solar. A deficiência em animais jovens pode acarretar raquitismo (crescimento retardado) e, devido às alterações no metabolismo ósseo, fraqueza e dificuldade de se levantar ou deitar.
Vitamina E: uma das principais funções desta vitamina é atuar como antioxidante no organismo. É abundante em forragens verdes e frescas e a deficiência pode ocorrer devido à utilização de ingredientes de baixa qualidade na alimentação dos animais, como forragens demasiadamente secas, e também em animais com taxas muito aceleradas de ganho de peso ou dietas que elevem as exigências de vitamina E (como as ricas em gorduras não saturadas). Os sintomas de deficiência são: atraso no crescimento, degeneração dos músculos esqueléticos e cardíacos, com calcificação anormal, podendo desenvolver distrofias musculares, como a doença do músculo branco (Figura 2).
Figura 2 - Cordeiro com doença do músculo branco (Saiba mais: "Doença do músculo branco em pequenos ruminantes". Fonte: sheepandgoat.com
Vitamina K: tem importante papel na coagulação do sangue. De modo geral, a deficiência de vitamina K em ruminantes é bastante rara, uma vez que ocorre produção elevada desta vitamina pelas bactérias do rúmen. Porém, quando ocorre, está relacionada a dificuldades na coagulação sanguínea, o que pode resultar em hemorragias.
Vitaminas do complexo B: como mencionado anteriormente, os ruminantes em geral, conseguem sintetizar quantidades adequadas de vitaminas do complexo B por meio das bactérias ruminais. Porém, atenção maior deve ser dada aos cordeiros, enquanto ainda não apresentam rúmen funcional, e por isso podem apresentar deficiências. Também, algumas plantas tóxicas, como a Samambaia (Pteridium aquilinum) e a Cavalinha (Equisetum vulgare), têm seu princípio tóxico baseado na presença de tiaminases em sua composição, que degradam a vitamina B1. Ovinos adultos não apresentam sintomas de deficiência desta vitamina por ingestão de plantas tóxicas, provavelmente, porque a síntese pelas bactérias ruminais supre as perdas ocasionadas pelas tiaminases.
Todavia, a ingestão dessas plantas por animais jovens, com atividade ruminal pouco desenvolvida, pode ocasionar deficiências consideráveis de tiamina. Além disso, a utilização de dietas com elevadas proporções de concentrado podem modificar a fermentação ruminal e, consequentemente, a população de microrganismos podendo assim afetar a síntese de vitaminas do complexo B e o suprimento para os animais.
Em especial, no caso de ovinos que são frequentemente acometidos por endoparasitoses, destaca-se a vitamina B12 que possui papel essencial na formação dos eritrócitos (células do sangue). Deste modo, em casos severos de verminose (Figura 3), em que o animal apresenta anemia e baixa ingestão de alimentos, indica-se o aporte de Vitamina B12 juntamente com ferro, aliados ao tratamento anti-helmíntico.
Figura 3 - Anemia severa causada por verminose: a suplementação de vitamina B12 e Ferro são indicadas no suporte ao tratamento anti-helmíntico.
De maneira geral, as vitaminas do complexo B são importantes por participarem em diversas reações no organismo, portanto, são componentes fundamentais do metabolismo animal. Dessa forma, a ocorrência de deficiências desses elementos resulta em sintomas nervosos, anorexia, fraqueza, diarreia, crescimento retardado, desidratação e, em casos graves, a morte do animal.
Literatura consultada
BUENO, M. S.; SANTOS, L. E. dos; CUNHA, E. A. Alimentação de ovinos criados intensivamente, 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em:
ZEOULA, L. M.; GERON, L. J. V. Vitaminas. In: BERCHIELLI, T. T.; et al. (Eds). Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: FUNEP, 2006. 583p.