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Importância das raças nativas: origem e adaptabilidade da raça Moxotó às condições de climas adversos

POR BONIFÁCIO BENICIO DE SOUZA

E TALÍCIA MARIA ALVES BENICIO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/12/2011

6 MIN DE LEITURA

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Introdução

A população mundial chegou à cifra de 7 bilhões de pessoas em outubro de 2011, e segundo o relatório da ONU, chegará a 10 bilhões antes do final deste século. É um marco histórico importante, contudo vem acompanhado de preocupações por parte dos órgãos internacionais, em função da maior demanda por alimentos e outros bens de consumo.

Levando em consideração às mudanças climáticas, as desigualdades sociais, onde, uns poucos tem de sobra e muitos passam fome. Assim cabe a todos contribuir no sentido de garantir a dignidade humana para todos. E um dos principais fatores que deve ser enfrentado é a falta de alimentos, sendo necessário promover a segurança alimentar para todos. Para esta tarefa conta-se com o apoio da FAO (2011), que trabalha no combate à fome e à pobreza, promove o desenvolvimento agrícola, a melhoria da nutrição, a busca da segurança alimentar e o acesso de todas as pessoas, em todos os momentos, aos alimentos necessários para uma vida ativa e saudável, reforça a agricultura e o desenvolvimento sustentável como estratégia a longo prazo para aumentar a produção e o acesso de todos aos alimentos, ao mesmo tempo em que preserva os recursos naturais.

Para cada região, as formas de promover a segurança alimentar, em grande parte, são específicas, sendo assim deve-se promover o desenvolvimento sustentável dos recursos disponíveis em cada região. Para o semiárido nordestino, uma das fontes de renda que vem contribuindo para o desenvolvimento e sustento de muitos agricultores de base familiar, tem sido a criação de caprinos e ovinos.

Na perspectiva de elevar o nível de produção dos rebanhos leiteiros, grande parte dos criadores tem optado pela criação de raças especializadas, como a Saanen e Parda Alpina, contudo, ainda não foi determinado um sistema de produção adequado que permita a máxima expressão do potencial genético dessas raças no semiárido. Sendo, portanto, necessários estudos para determinar o melhor sistema, de forma que possa integrar os fatores nutricionais, ambientais e econômicos, visando à sustentabilidade dessa atividade no semiárido, pois as raças especializadas para produção de leite são geralmente exigentes quanto à alimentação e ao conforto térmico. Quando não são atendidas, a tendência é ocorrer uma adaptação e seleção natural com base na tolerância à adversidade em detrimento da produtividade (Souza et al., 2011).

De acordo com Egito (2002) as raças de caprinos: Moxotó, Canindé, Repartida e Marota são os principais tipos caprinos nativos, sendo a primeira (Figura 1) muito semelhante fenotipicamente à raça portuguesa Serpentina.

Estudos realizados por Lima (2005), demonstram que os caprinos nativos existentes no estado encontram-se ameaçados, pondo em risco a manutenção do patrimônio genético local. A taxa de consanguinidade, bem como o número efetivo encontrados reafirma a necessidade de estudos voltados para a preservação e conservação dos recursos genéticos locais.

Figura 1 - Caprinos da raça Moxotó.



A raça Moxotó é originária do vale do Moxotó em Pernambuco, contudo há controvérsia a respeito de sua origem verdadeira, alguns pesquisadores citam que é o resultado de cruzamento da raça Alpina Francesa com cabras brancas nativas, outros citam que é a mesma raça criada em Portugal com o nome de Serpentina (Figura 2).

Figura 2 - Exemplares da raça Serpentina.



Há semelhanças fenotípicas entre as raças Moxotó e Serpentina, como pelagem e rusticidade. Quanto ao melhoramento da raça Serpentina, em busca do seu potencial genético máximo, deve equacionar-se a necessidade de realizar ações mais específicas de testagem de reprodutores e levar em conta que os resultados que se encontram são muito dependentes do manejo praticado nas diferentes explorações (Cachatra, 2011).

A raça Serpentina é muito rústica, segundo Cachatra (2011) animais dessa raça são criados na província Alentejana (Portugal), cujo clima apresenta as características mediterrânicas e continentais, é marcado por verões quentes e secos, com temperaturas médias entre os 31ºC e 35ºC e invernos de temperaturas médias entre os 8ºC e 12ºC. A precipitação média varia entre os 500mm e os 900mm apresentando grande deficiência na primavera e verão e algum excesso no inverno.

Considerando que a introdução das primeiras raças de animais domésticos no Brasil ocorreu por meio dos colonizadores portugueses, esta hipótese de que a raça Moxotó é a mesma Serpentina, pode ser verdadeira.

De qualquer forma, é fato que a raça Moxotó tem padrão definido e adaptação comprovada ao longo dos 500 anos, no Brasil. Sabe-se que no processo de adaptação, através da seleção natural, os indivíduos que apresentam maior capacidade de adaptação às condições impostas pelo ambiente, sobrevivem. Nesse processo de seleção, muitas vezes, os animais sofrem redução no porte e consequentemente nos produtos que fornecem (carne, leite, etc). No caso da raça Moxotó pode ter havido este ajuste, contudo ganhou em rusticidade, pois são animais adaptados ao sistema extensivo de criação e apresentam elevado índice de tolerância ao calor.

Segundo Egito et al. (2002) a busca por raças mais produtivas fez com que, a partir do final do século XIX e início do século XX, houvessem importações de raças consideradas exóticas, que embora fossem altamente produtivas haviam sido selecionadas em regiões de clima temperado. Estas raças, por cruzamentos absorventes, causaram uma rápida substituição e erosão nas raças locais, as quais apresentam níveis de produção mais baixos mas distinguem-se destas por estarem totalmente adaptadas aos trópicos, onde sofreram uma longa seleção natural.

Em pesquisas realizadas no semiárido para avaliação da tolerância ao calor de raças exóticas, foram utilizadas como parâmetros algumas raças nativas dentre elas a Moxotó. Foram aplicadas várias provas de tolerância, uma delas foi o ITC - Índice de tolerância ao calor (SOUZA, et al. 2011). Santos et al. (2005) trabalhando com reprodutores registraram ITC = 9,4 e Silva et al. (2006) ITC = 9,8, em condições de ITGU ao sol = 98,95; 93,58, respectivamente. Sendo estes resultados muito bons, considerando que a nota máxima para esse teste é 10 (dez).

Considerações finais

A escolha da raça depende de vários fatores, tais como a finalidade, o mercado, a localização, o clima, características de adaptação dos animais e do nível tecnológico adotado pelos produtores.

Os programas de Governo para a Caprinocultura no semiárido necessitam atender às exigências para elevar a produção em níveis adequados, preservando o meio ambiente e o patrimônio genético (animal e vegetal) de forma sustentável. A utilização de raças especializadas para cruzamentos com animais SRD e raças nativas/naturalizadas, deve ser bem orientada no sentido de preservar o patrimônio genético construído durante vários anos (raças nativas) de grande importância para o Brasil.

Dentre as várias raças caprinas naturalizadas, a Moxotó por apresentar um padrão definido e sua adaptação comprovada na prática e cientificamente, para produzir no semiárido, recomenda-se incentivos por parte dos governos através de políticas públicas, para que os produtores possam preservar e melhorar as qualidades produtivas da mesma sem reduzir sua tolerância às condições adversas da região semiárida.

Referências bibliográficas

CACHATRA, A. M. P., Cavaco, N. G., Babo, H.C.O., Saraiva, V. M. S. Sistema de Produção da Cabra Serpentina. Disponível em: https://www.ancras.pt/pdf/4-3%20Cachatra%20Serpentina.pdf. Acesso, 19 de novembro de 2011.

CENAGEN/EMBRAPA:Dispononível em: https://www.cenargen.embrapa.br/_comunicacao/2006/folders/fold06-07_conservRacaMoxoto.pdf. Acesso em 19 de novembro de 2011.

EGITO, A.A.; MARIANTE A.S.; ALBUQUERQUE, M.S.M. Programa brasileiro de conservação de recursos Genéticos animais. Archivos de zootecnia, v.51, núm. 193-194, p.39-52, 2002.
FAO. Disponível em: (https://www.onu.org.br/onu-no-brasil/fao/). Acesso em 19 de novembro de 2011.

LIMA, P.J. de S. 2005. Caracterização demográfica e estado de conservação dos rebanhos caprinos nativos no Estado da Paraíba. Dissertação (Mestrado). CCA/ UFPB. 62 p.

LIMA, P.J.S.; SOUZA, D.L.; PEREIRA, G.F. et al. Gestão genética de raças caprinas nativas no estado da Paraíba. Archivos de Zootecnia, v. 56 (Sup. 1), p. 623-626, 2007.

SANTOS, F.C.B.; SOUZA, B.B.; ALFARO, C.E.P.; CEZAR, M.F.; PIMENTA FILHO, E.C.; ACOSTA, A.A.A.; SANTOS, J.R.S. Adaptabilidade de caprinos exóticos e naturalizados ao clima semiárido do Nordeste brasileiro. Ciência e Agrotecnologia, v.29, n.1, p.142-149, 2005.
(https://www.cstr.ufcg.edu.br/bioclimatologia/artigos_cientificos/avaliacao_adaptabilidade_caprinos_exoticos.pdf). Acesso em 19 de novembro de 2011.

SILVA, E.M.N.; SOUZA, B.B.; SILVA, G.A. et al. Avaliação da adaptabilidade entre caprinos exóticos (Boer, Savana e Anglo-Nubiana) e nativos (Moxotó) no semiárido paraibano. Ciência e Agrotecnologia, v.30, n.3, p.516-521, 2006. Disponível em: (https://www.cstr.ufcg.edu.br/bioclimatologia/artigos_cientificos/avaliacao_adaptabilidade_caprinos_exoticos.pdf). Acesso em 19 de novembro de 2011.

SOUZA, B.B. et al. Índice de tolerância ao calor de caprinos no semiárido. Disponível em: (https://www.farmpoint.com.br/radares-tecnicos/bemestar-e-comportamento-animal/indice-de-tolerancia-ao-calor-de-caprinos-no-semiarido-68871n.aspx). Acesso em 19 de novembro de 2011.

SOUZA, B.B. et al. Leite de cabra: raças utilizadas e sistemas de alimentação utilizados no Cariri paraibano. Disponível em https://www.farmpoint.com.br/radares-tecnicos/sistemas-de-producao/leite-de-cabra-racas-utilizadas-e-sistemas-de-alimentacao-utilizados-no-cariri-paraibano-70309n.aspx. Acesso em 19 de novembro de 2011.

BONIFÁCIO BENICIO DE SOUZA

Professor Associado - UAMV/CSTR/UFCG, Bolsista de Produtividade do CNPq

TALÍCIA MARIA ALVES BENICIO

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