Em alguns animais a enfermidade persiste por anos, em outros a infecção pode ficar escondida em pequenos bolsões dentro do casco, onde é detectada somente após um desbaste (casqueamento) extenso, esses animais atuam como portadores subclínicos. Quando o ambiente externo fica úmido esses bolsões tornam-se ativos dentro do casco, podem se abrir e contaminar o solo.
O diagnóstico do FR baseia-se nos aspectos epidemiológicos, nos sinais clínicos característicos e nos achados laboratoriais.

Como o FR pode se expressar de formas diversas no rebanho, uma avaliação criteriosa das lesões deve ser o ponto de partida para o diagnóstico da gravidade da doença e será determinante no tipo de intervenção que será recomendada pelo médico veterinário. A classificação da virulência da doença será baseada na prevalência de animais com lesões escore 4 em relação ao número de animais expostos ao FR.
O tratamento do FR baseia-se no uso de drogas antimicrobianas através de aplicações tópicas e/ou parenterais, vacinação e medidas de manejo. E pode ser direcionado ao controle temporário da enfermidade ou à sua erradicação do rebanho.

A estratégia de tratamento do FR deve ser elaborada de modo consensual entre o médico veterinário e o proprietário do rebanho, baseando-se na relação custo/benefício, que levará em conta os diversos aspectos econômicos envolvidos em cada situação específica.
Uma série de medidas terapêuticas poderão ser utilizadas, e essa escolha dependerá de fatores como época do ano (regime de chuvas e temperatura), número de animais acometidos, gravidade das lesões, mão de obra disponível, instalações adequadas, número de potreiros, etc. Entre essas medidas podemos destacar:
- Isolamento dos animais enfermos;
- Apara dos cascos;
- Pedilúvio com drogas antimicrobianas;
- Antimicrobianos de uso parenteral;
- Vacinação;
- Descarte de animais cronicamente infectados.
A apara dos cascos ou casqueamento é utilizada para remover o tecido córneo do casco que cresceu de modo excessivo ou que sofreu descolamento durante a infecção pelo FR. Convém salientar que o casqueamento não exerce um papel preventivo no desenvolvimento do FR, ou seja, a infecção pelo FR pode conduzir ao crescimento excessivo do casco e a sua deformidade, entretanto o crescimento excessivo do tecido córneo e posterior deformação do casco não conduzem ao FR.

O uso de antimicrobianos em pedilúvio é o modo mais rápido para tratar um grande número de ovinos e caprinos, e facilita a repetição dos tratamentos. As soluções mais utilizadas são a formalina, o sulfato de cobre e o sulfato de zinco.
A seguir vamos descrever as principais ações que devem ser realizadas durante o tratamento tópico contra o FR:
- Examinar cuidadosamente os cascos de todos os animais do rebanho, realizando o casqueamento quando necessário;
- Separar os animais em dois grupos: sadios e infectados;
- O grupo sadio (não-infectado) passará pelo pedilúvio uma única vez, permanecendo algumas horas em piso seco (concreto ou pedra) e depois será enviado para um potreiro livre de ovinos e caprinos há 14 dias;
- O grupo infectado sofrerá o mesmo processo, com a diferença de que passará pelo pedilúvio quatro vezes com intervalo de uma semana entre cada tratamento, e será colocado sempre em potreiros livres de ovinos e caprinos no mínimo há sete dias.
No quadro abaixo está demonstrado como deve ser preparado o pedilúvio

- Os animais considerados intratáveis, crônicos, serão separados e enviados ao abate;
- O grupo dos animais infectados será incorporado ao grupo dos animais sadios ao final do tratamento, se forem considerados curados, após minucioso exame dos cascos.

A utilização de drogas antimicrobianas de uso parenteral (injeções), quimioterápicos e antibióticos, no tratamento do FR, geralmente é reservada, por motivos financeiros, para casos severos da doença ou para animais de alto valor econômico. Algumas drogas mostraram ser bastante efetivas contra o agente essencial da enfermidade, entre elas podemos citar a associação da penicilina G + estreptomicina, a oxitetraciclina, o florfenicol e a enrofloxacina.

No Brasil existe uma vacina contra o FR que contém 8 sorogrupos e protege o rebanho por um período de mais ou menos quatro meses. Possui ação preventiva e curativa e pode ser utilizada, também, durante um surto da doença, principalmente se for durante o período de transmissão do FR (chuva e calor), quando uma alta proporção do rebanho estiver infectado e houver um histórico de insucesso com os tratamentos convencionais.
Controle do FR
O controle refere-se às estratégias que serão implantadas para prevenir ou restringir a taxa de transmissão do FR entre os ovinos e caprinos de um rebanho infectado. Geralmente essas medidas são aplicadas um pouco antes ou durante o período de transmissão da doença (calor e chuva). O principal objetivo é manter uma baixa incidência de casos de FR no rebanho e impedir que os animais com FR desenvolvam lesões severas. As duas ferramentas principais, utilizadas nos programas de controle, são o tratamento tópico via pedilúvio e a vacinação.
Erradicação do FR
O objetivo dos programas de erradicação é eliminar do rebanho todas as amostras de D. Nodosus capazes de causar FRV. Diferente dos programas de controle, onde a maioria dos processos ocorre um pouco antes ou, na maioria das vezes, dentro do período de transmissão da doença; as atividades nos programas de erradicação serão realizadas durante o período onde não ocorre a transmissão da enfermidade (período seco). E serão direcionadas para identificar todos os ovinos ou caprinos infectados.
Na Austrália, quatro características importantes sobre o FR nortearam as ações dos programas de erradicação:
- O D. nodosus não sobrevive fora do casco do ruminante mais do que sete dias;
- Durante o período de não-transmissão da doença, todas as pastagens estão livres do agente essencial do FR, porque os ovinos estão refratários à enfermidade;
- Durante o período de não-transmissão da doença, as únicas lesões de FRV ainda presentes são crônicas, não são infecções novas ou inaparentes;
- As amostras de D. nodosus que causam FRV não são usualmente associadas com lesões subclínicas, ou com o estado de portador clinicamente sadio. Os ovinos ou caprinos infectados podem ser identificados por inspeção visual. A experiência tem demonstrado que o método de erradicação baseado na inspeção e na eliminação seletiva, com ou sem quimioterapia parenteral é mais provável de obter sucesso. Na prática, o sucesso de um programa de erradicação é diretamente proporcional ao sucesso obtido pela propriedade no seu programa de controle do FR, ou seja, durante o início do período de não-transmissão da doença a prevalência da infecção deve ser no máximo de 5%.
Após o início de processo de erradicação, a vigilância sobre os animais deve ser aumentada, principalmente ao longo do período úmido, onde qualquer animal que esteja com claudicação deve ser minuciosamente examinado e eliminado se o FR for diagnosticado.
A prevenção da reintrodução do FR na propriedade é obtida através do estabelecimento de quarentena para todos os novos animais que serão adquiridos. Que deverão sofrer o mesmo processo a que foram submetidos os animais que agora estão livres do FR.
Em muitas regiões da Austrália, o período de não-transmissão se estende por todo o verão que é seco, facilitando os programas de erradicação e controle, entretanto em muitos países o período de não-transmissão é inconsistente e relativamente curto, tornando a erradicação uma meta muito difícil de ser alcançada.
Vacinas autógenas
Trabalhos recentes, na Austrália, no Butão e no Nepal, buscando a erradicação do FR foram conduzidos com sucesso utilizando vacinas autógenas e eliminação seletiva. As vacinas são mono ou no máximo bivalentes e são produzidas utilizando amostras de D. nodosus colhidas no próprio estabelecimento rural. Desse modo, com no máximo dois sorogrupos na vacina, não ocorre o fenômeno da competição antigênica, e os títulos de anticorpos provocados pela vacinação são elevados e persistem por mais de seis meses. Esses títulos elevados permitem que as vacinas expressem, além do seu poder protetor, sua ação curativa.
Referências bibliográficas
RIBEIRO, L.A.O. Footrot dos Ovinos. In: RIET-CORREA, F; SCHILD, A. L; MÉNDEZ, M. C; LEMOS, R. A. A. Doenças de Ruminantes e Eqüídeos. 3ª ed. Santa Maria: Pallotti, 2007. 998 p.
RODRIGUES, P. R. C. Controle do footrot em rebanho ovino no Estado do Rio Grande do Sul: uso de vacina autógena e resposta sorológica. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Veterinária, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010.