O milho tem participação significativa na evolução da pecuária de leite brasileira. Em grãos ou ensilado, é usado na alimentação das vacas em mais de 70% das propriedades leiteiras do País. Num levantamento, ainda parcial, constatamos que 50 produtores da lista dos Top 100 plantam juntos quase 25 mil hectares de milho!
Dois fatores foram determinantes para o aumento dos investimentos dos pecuaristas na produção de volumosos de qualidade. Um desses foi a alta das cotações dos grãos e seus derivados. O outro, a intensificação dos sistemas de produção, com melhor exploração do potencial genético do rebanho.
A área plantada com o cereal no País ultrapassou 15 milhões de ha, com grande avanço na cultura da chamada safrinha. Até meados da década de 1990, a safrinha ocupava pouco mais de 1,5 milhão de ha, com 10% da produção total de milho. Atualmente, corresponde a quase 60% de todo o milho plantado no Brasil e se estende por mais de 9 milhões de hectares, com produtividade média acima de 3.500 kg/ha (figura 01).
Figura 01. Área plantada de milho no Brasil nas safras de verão e safrinha.
A produção de leite é o principal indicador do mercado de silagem de milho no Brasil. Concentradas nas regiões sul e sudeste do país é justamente nessas regiões de maior produção de leite que se encontram as maiores áreas de produção de silagem É a opção de volumoso conservado em mais de 70% das propriedades leiteiras. Os pecuaristas intensificam os sistemas de produção leiteira, e precisam de volumosos de mais qualidade para obter o máximo do potencial genético dos rebanhos. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), entre 14% e 16% das sementes certificadas do cereal vendidas no Brasil são para produção de silagem.
O planejamento da lavoura de milho para ensilagem começa com a escolha do(s) híbrido(s). Antes de tudo, o milho escolhido deve ter boa estabilidade agronômica, com maior tolerância a pragas e doenças, de modo que possa expressar as características produtivas desejadas. Independente da finalidade da lavoura de milho, silagem ou grão, o produtor dever seguir as recomendações agronômicas (posicionamento) que levem em conta as peculiaridades da sua região (altitude, solo, clima, etc) e do período de cultivo (verão ou safrinha).
Para produção de silagem de planta inteira, a escolha de cultivares de milho deve ser baseada em elevadas produções forragem (matéria seca) com grande participação de grãos no seu conteúdo. A planta de milho deve ter boa qualidade, com boa digestibilidade da sua fibra, e o grão deve ter alta concentração energética. Novos adventos da biotecnologia, como milho Bt e o uso de técnicas de marcadores moleculares para identificar genes que conferem tolerância a determinadas pragas e doenças no milho, resultaram em maior produtividade, tolerância a determinados herbicidas e até mesmo plantas mais aptas a enfrentar a seca e o frio.
Os resultados de produtividade são dependentes da interação do ambiente e do manejo adotado. A época adequada de plantio do milho interfere significativamente na produtividade. Mesmo que em algumas situações esse atraso não dependa exclusivamente do produtor, por razões diversas, e que não tenha nenhum efeito sobre os custos de produção, a desatenção quanto ao período ideal de plantio pode resultar em perdas significativas de produtividade da lavoura e qualidade da silagem. Estratégias como a adoção do Sistema de Combinação de Híbridos devem ser feitas de forma a combinar características como potencial produtivo, precocidade e defensividade de forma complementar.
Do ponto de vista nutricional, silagens com maior participação de grãos e boa qualidade de planta têm maior digestibilidade, permitindo maior consumo pelos animais, possibilitando aumento de produtividade e reduzindo a necessidade de suplementação concentrada para os animais. Vejamos o exemplo na Tabela 1.
Tabela 1. Comparação da necessidade de concentrado, para produção de leite, quando comparadas duas silagens de qualidade distintas.
Quando se têm lavouras de milho bem conduzidas, que apresentam maior densidade de plantas e tratos culturais adequados, certamente teremos maiores produtividades de grãos e forragem de alta qualidade e, conseqüentemente, menores custos de produção. Esta maior produtividade tem efeito positivo também nas outras etapas que envolvem a produção de silagem, que são os processos de colheita, transporte e armazenamento. Quanto maior a produtividade maior a eficiência de colheita, menor custo de produção.
O cenário que se projeta para a pecuária de leite no Brasil certamente é promissor. Os ganhos de eficiência na área agrícola, com produtividades crescentes de milho, deverão tornar o leite brasileiro mais competitivo no mercado internacional. Com a melhoria da qualidade do leite, o ciclo de exportações de lácteos chegará. Afinal, essa é uma condição inerente à pecuária leiteira nacional, graças às vantagens de que desfruta em relação aos países exportadores. Prova desse potencial são os novos grupos de investimentos e fazendas tradicionais do mercado que figuram entre os maiores produtores de leite do Brasil.