João Paulo V. Alves dos Santos e Marcelo Pereira de Carvalho
Vacas leiteiras de alta produção são animais extremamente exigentes em termos de condições ambientais, também necessitando consumir elevada quantidade de alimento, o qual deve ser oferecido em quantidades adequadas e possuir boa qualidade. A qualidade de um alimento pode ser avaliada através o seu valor nutricional ( resultado da análise bromatológica, que demonstra sua composição, feita em laboratório) e do consumo do mesmo pelo animal. Logo, quando oferecemos um alimento de qualidade, a tendência é haver um elevado índice de aceitabilidade do mesmo, resultando num elevado consumo de matéria seca (MS) individual e conseqüente aumento da produção de leite do rebanho de uma fazenda.
A situação descrita acima seria a ideal, porém, raramente conseguimos observá-la com freqüência nas fazendas, por diferentes motivos. Diante da ampla gama de possibilidades que podem vir a afetar o consumo de MS dos animais podemos destacar a influência do ambiente, sendo a temperatura e a umidade relativa do ar (UR%) os principais fatores associados ao stress térmico.
As vacas são animais homeotermos, ou seja, tentam manter a temperatura corporal constante independentemente das condições ambientais. Para tal, realizam troca de calor com o meio em que vivem. Parte do calor gerado por estes animais é utilizada para a manutenção da fermentação ruminal e produção de leite. Quanto mais leite uma vaca produz, maior o seu consumo e sua conseqüente produção de calor. Estudos indicam que à partir de 25 à 27ºC de temperatura ambiente, os animais (maioria) de alta produção passam a sentir desconforto, podendo iniciar sintomas de stress calórico. Os sintomas mais comuns são comumente observados em dias quentes, principalmente em instalações inadequadas (pé direitos baixos e/ou construídas em locais indesejados, com barreiras artificiais ou naturais que dificultam a ventilação ou coberturas de material incapaz de conter a radiação solar).
Os animais que se encontram em stress térmico aumentam o número de respirações por minuto, permanecem com a boca aberta e babam abundantemente. Em situações de elevada umidade, torna-se mais difícil ainda para vacas a dissipação do calor e manutenção da temperatura corporal. Como vacas de alta produção geram mais calor, tais animais tendem a entrar em stress térmico mais rapidamente que animais de produções mais baixas.
A seguir, os principais efeitos e sintomas causados pelo stress:
- Aumento da energia de manutenção, uma vez que a vaca consome mais energia para
"refrigerar-se" sozinha;
- Queda de consumo de matéria seca, impossibilitando, assim, os animais adquirirem
os nutrientes necessários;
- Mudança no comportamento alimentar. As vacas tendem a realizar dois terços da ingestão durante o período mais fresco do dia. Isso representa uma ingestão mais rápida de alimento, elevando os riscos de redução do pH ruminal. Além disto, as vacas procuram selecionar o alimento, dando preferência ao concentrado;
- Os animais encontram-se constantemente com suas bocas abertas e babando, perdendo, assim, muita saliva, a qual contém minerais e tamponantes imprescindíveis;
- Perda de potássio em função do aumento da sudorese e de sódio em função da maior excreção de urina;
- Ruminação prejudicada, pois os animais encontram-se ofegantes e também realizam a seleção de concentrado em detrimento ao volumoso, diminuindo a porcentagem de fibra;
- Queda do pH ruminal. Comumente o pH ruminal é afetado em função do stress térmico pois a seleção do concentrado em detrimento do volumoso induz, proporcionalmente, maior formação de ácido propiônico e a possível produção de ácido lático, o que pode gerar um quadro de acidose. A falta de fibra no rúmen reduz a ruminação e, conseqüentemente, a formação da saliva, a qual exerce importante papel como tamponante na dieta, agravando a situação do animal. Vacas sob stress térmico consomem mais terra, sal e bicarbonato, indicando problemas digestivos. Ao mesmo tempo, nota-se diarréia com bolhas, indicativa de acidose;
- É possível, após alguns meses, geralmente no inverno, encontramos seqüelas do stress térmico como o aumento nos problemas de casco e casos de laminite provenientes da acidose ruminal.
O gráfico a seguir mostra como o pH ruminal varia erm função da temperatura e do teor de forragem da dieta. Quanto mais quente o período e maior o teor de concentrados, menor o pH ruminal.
Obs: Frio = 18 ºC, Calor 29 ºC, AC = alto concentrado; AF = alta forragem, F = Frio, C = Calor. Fonte: adaptado de Mishra et. Al, Journal of Animal Science 30:1023.
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fonte: Hoard’s Dairyman, 10 maio 2000