No Brasil, grande parte das raças utilizadas comercialmente tem estacionalidade reprodutiva, ou seja, em determinado período do ano não apresentam cio. Algumas mais estacionais ciclam a partir de março, enquanto outras menos estacionais já manifestam cio a partir de dezembro. Ovinos deslanados são tidos como não estacionais e tendem a apresentar cio durante todo o ano, apesar de relatos que confirmam que mesmo nessas raças há cios irregulares e silenciosos durante a primavera.
Antecipar a época da estação reprodutiva em 4 a 6 semanas ou induzir o cio na contra estação de monta (em raças menos estacionais) pode ser interessante dentro de um sistema de produção que visa atender ao mercado com regularidade de oferta de cordeiros. Além disso, pensando em manejo e mercado, é mais prático conseguir uma boa sincronização das parições e conseqüentemente do desmame, gerando lotes mais homogêneos de cordeiros e cabritos.
Quando se pensa em saúde pública, o efeito macho também tem sua importância por ser um método natural de indução de cio, não deixando nenhum tipo de resíduo na carne - atendendo aos consumidores mais exigentes do mercado mundial.
Devido ao seu custo irrisório, torna-se muito acessível, sendo uma das ferramentas mais usadas para indução do estro na contra estação reprodutiva, tendo grande importância dentro da fazenda.
O que é o efeito macho
É um dos mecanismos naturais de indução do cio, e consiste na introdução de um macho no lote de ovelhas que estava sem contato com nenhum macho púbere a algum tempo. O tempo que os machos devem ficar separados das fêmeas para provocar o efeito macho é pouco estudado e divergente entre os trabalhos. Recomenda-se que este isolamento seja de no mínimo 2 semanas, apesar de alguns trabalhos apresentarem bons resultados sem qualquer isolamento prévio. O isolamento deve ser total - físico, auditivo, olfativo e visual.
Esse fenômeno ocorre na natureza, onde há segregação dos animais em fêmeas com crias e machos, durante grande parte do ano. Nesses rebanhos selvagens, chega a época de monta e os machos juntam-se às fêmeas para mais um ciclo reprodutivo se cumprir, ocorrendo um efeito macho naturalmente. O efeito macho não é uma característica exclusiva dos pequenos ruminantes, tendo sido observado também em algumas espécies de veado e até mesmo em bovinos.
Carneiros e ovelhas, bodes e cabras secretam os feromônios (substância hormonal que estimula o indivíduo do sexo oposto) através da pele, sendo principalmente ao redor dos olhos nos carneiros. Esses hormônios são captados pelo aparelho vômero nasal (Figura 1). No macho, essa captação é bem visível pelo reflexo de Flehmen (Figura 2). É através desses estímulos do feromônio, da visão do macho e do contato físico com ele que se dá a retomada de atividade hormonal na fêmea, com o aparecimento do cio.
Figura 1. Aparelho vômero nasal
Figura 2. Reflexo de Flehmen
Como se dá a indução do cio
A resposta da ovelha à presença do macho depende da força do estímulo e da responsividade da ovelha ao mesmo. Algumas ovelhas não responderão ao maior estímulo que for (mais estacionais), enquanto outras responderão a um leve estímulo (não estacionais ou próximas ao início da estação de estro). Entretanto, outros estímulos sociais são importantes e podem formar uma reação em cadeia - como a presença de ovelha em cio que induz o macho a aumentar o estímulo às outras, ou o próprio estímulo da fêmea no cio induzir o cio em outras (efeito fêmea-fêmea). Ovelhas com experiência sexual são mais responsivas quando comparadas a borregas inexperientes.
O hormônio responsável pela ovulação é o hormônio luteinizante (LH), que é liberado em pulsos, sendo esses pulsos menos freqüentes durante a contra estação reprodutiva e mais freqüentes no outono. Após 20 minutos da introdução de um macho em um grupo de ovelhas que não estão ciclando, a freqüência e o nível dos pulsos de LH aumentam consideravelmente.
O que vale a pena lembrar é que essa técnica é mais comumente usada - e terá maior sucesso - se empregada no período de transição (a partir de dezembro), quando as ovelhas ainda não estão ciclando, mas já estão quase prontas para ciclar - daí o efeito macho ser um "catalizador".
As primeiras ovulações decorrentes dessa técnica ocorrem 2 a 3 dias após o contato inicial com o macho (carneiro ou rufião), entretanto muitas vezes ela aparece como um cio silencioso, que não será fértil, mas irá despertar o relógio biológico da fêmea. Metade das ovelhas já terão um cio fértil após 17 dias, e a outra metade ainda terá outro cio silencioso após 6 a 7 dias para então apresentarem cio fértil no terceiro ciclo, que será aproximadamente 24 dias após a introdução do macho.
Nas cabras de raças leiteiras européias é recomendado o uso do efeito macho na pré estação de monta (dezembro a fevereiro), e nas Anglo Nubiana e fêmeas mestiças leiteiras a partir de outubro. O aumento do LH se dá cerca de 10 horas após a introdução do bode ou rufião no rebanho das cabras, e atinge seu nível máximo 56 horas após o contato inicial. Assim como nas ovelhas, esse primeiro pico de LH pode gerar um cio sem ovulação, recomendando-se o acasalamento ou inseminação a partir da manifestação do segundo cio.
Como usar o efeito macho (adaptado de Otto de Sá, 2006):
- Durante a estação de monta (EM), para sincronizar cio e concentrar as parições na primeira e terceira semana da estação de nascimentos:
- 2 meses antes - isolamento físico, visual, olfativo e auditivo do macho
- 15 dias antes da EM: colocar os rufiões com as ovelhas
- início da EM: colocar os carneiros com as ovelhas
- julho: estação de nascimentos
- setembro: desmame e isolamento físico, visual, olfativo e auditivo do macho
- 15 a 31 de outubro: colocar os rufiões com as ovelhas
- novembro: colocar os carneiros com as ovelhas
Agradecimentos: Dra. Anneliese S. Traldi
Referências bibliográficas
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