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Desenvolvimento técnico e sucessão familiar: O Caso do Sítio Balzan

POR MARCELO DE REZENDE

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/07/2014

9 MIN DE LEITURA

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A sucessão familiar não é um problema exclusivo do meio rural e, muito menos, da atividade leiteira. Como familiar, define-se a empresa em que um ou mais membros de uma família exercem a maior parte do controle administrativo por serem proprietários da maioria do capital investido. Porém, para que a empresa seja de fato considerada familiar, ela tem de ter sobrevivido ao menos por um período de sucessão, caracterizando assim a ideologia do negócio. O negócio de origem familiar pode abranger desde o pequeno comércio da esquina até empresas gigantescas e, certamente, a grande maioria das empresas brasileiras enquadra-se nesta definição, devendo, em algum momento, enfrentara questão da sucessão para a continuidade do negócio. A maior parte das fazendas leiteiras que conhecemos pode ser enquadrada como familiar, pois muitas possuem algum membro da família envolvido na gestão do negócio que começou com os pais ou avós, sejam elas pequenas propriedades, com produções diminutas, ou grandes, com produções diárias de milhares de litros.

Em muitos países europeus, a sucessão familiar no campo recebe grande atenção dos governantes, que lançam mão de uma série de artifícios, inclusive financeiros, para que os filhos permaneçam no campo garantindo a continuidade da atividade rural desenvolvida pelos pais. No Brasil, diagnósticos realizados em vários Estados importantes na produção de leite, como Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, indicaram não haver perspectiva de sucessão familiar que garanta a continuidade da atividade em, no mínimo, metade das propriedades leiteiras analisadas. A continuidade do negócio familiar depende, basicamente, de haver pelo menos um membro da família com interesse e preparo para assumir o controle do negócio quando os responsáveis já não podem mais fazê-lo, o que ocorre, normalmente, devido à idade avançada. O desinteresse dos filhos pela atividade dos pais os leva a deixar a vida no campo para viver na cidade, resultando no envelhecimento da mão de obra rural, como detectado em um levantamento feito pelo IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) no Estado do Paraná em 2009, indicando que 51% dos produtores de leite possuíam mais de 50 anos de idade. Com os filhos direcionando suas vidas para outras atividades na cidade, principalmente no caso das propriedades de produções elevadas, onde o melhor nível de renda permite que os pais ofereçam boa formação escolar aos seus filhos, a transferência do negócio, normalmente, deixa de ser um processo sucessório e passa a ser apenas hereditário. Nestes casos, o herdeiro passa a ser o dono da terra, porém, em muitos casos, ele não vive mais na propriedade e nem possui interesse em voltar a viver, dificultando a continuidade da atividade.

No caso das propriedades leiteiras de pequeno porte, a falta de renda da atividade é o principal fator que define o processo sucessório. Normalmente, a rentabilidade da fazenda já é insuficiente para o sustento dos pais que estão à frente do negócio, impossibilitando o sustento de uma ou mais famílias de filhos sucessores. Em tal situação de desesperança em relação ao futuro da atividade, os próprios pais acabam por incentivar os filhos a abandonarem a propriedade, mesmo sabendo que, em muitos casos, eles não estão preparados para vida na cidade. Essa perspectiva sombria também tem sido o principal fator motivador do desinteresse dos filhos pela continuidade da vida na fazenda. Estes, apesar de normalmente ajudarem nas atividades da propriedade, poucas vezes são remunerados, seja pela escassez de recursos financeiros ou pela falta de visão gerencial dos pais, que não consideram esse trabalho merecedor de um pagamento fixo. Assim, tal situação não desperta o interesse natural dos jovens pela continuidade da vida no meio rural.

Em um cenário de falta de renda, a continuidade do negócio pelos membros das famílias, cada vez menores em número de filhos, é um grande obstáculo a ser superado quando se pensa na manutenção da estrutura de produção rural em várias regiões. Apesar de poucas, as metodologias voltadas para o desenvolvimento técnico e financeiro das propriedades existem. Alguns programas merecem destaque, em especial aqueles que utilizam a metodologia do Balde Cheio, projeto desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sudeste, que tem ajudado muitas propriedades a evoluir, superar as dificuldades relacionadas à geração de renda e solucionar a questão da sucessão familiar. Por seu arrojo, que beira o atrevimento, os técnicos que utilizam essa metodologia são capacitados a tocar pontos nevrálgicos da atividade, aptos a reverter situações de dificuldades nas mais variadas condições, agindo com eficiência tanto em pequenas e micro propriedades como em rebanhos de centenas de animais, nas diversas regiões do país. Nesse cenário de desenvolvimento e geração de renda, muitas propriedades têm conseguido manter e, em muitos casos, trazer de volta os filhos que haviam deixado o trabalho na propriedade em busca de melhores oportunidades na cidade, atuando com eficácia na resolução do problema da sucessão familiar nessas fazendas. Esse foi o caso do Sítio Balzan, que usaremos para demonstrar os impactos que a geração de renda, oriunda da aplicação correta de técnicas e conceitos produtivos, pode ter sobre a sucessão familiar na propriedade leiteira.

O Sítio Balzan está localizado no município de São Lourenço D´Oeste, na região Oeste de Santa Catarina. No início de 2005, a propriedade teve o primeiro contato com o agrônomo Primo Quinaglia Neto, que desde 2009 está na Cooperideal, mas na época era membro da equipe de campo da Confepar, empresa compradora do leite da propriedade e que também disponibilizava aos seus fornecedores um trabalho técnico que utilizava a metodologia do Balde Cheio.

As primeiras visitas ao Sítio Balzan, com área útil de 13 hectares (sendo 16,9 de área total), serviram inicialmente para diagnóstico, poiso técnico Primo necessitava entender bem a realidade daquela família, suas dificuldades, seu estado de ânimo e sua cultura em relação à produção de leite, para somente depois pensar em alguma alternativa técnica para a situação. Na propriedade, viviam seis pessoas na época: o proprietário Antônio Balzan e sua esposa Salete; D. Raimunda e Lurdes, respectivamente, mãe e irmã de Balzan; além dos filhos Tiago e Taís, com 19 e 6 anos, respectivamente. Além desses, havia outro filho, Marcelo, que vivia fora e estava terminando de cursar o colégio agrícola da região e logo se formaria e tentaria a vida no Estado do Mato Grosso, trabalhando com suínos. Segundo o proprietário Antônio Balzan, a situação não era fácil e a família estava prestes a vender a propriedade. Segundo ele, a aposentadoria de D. Raimunda é que ajudava a equilibrar o orçamento da família e a manter Marcelo no colégio agrícola.

A análise do valor obtido com o fluxo de caixa da propriedade ao final do primeiro ano de trabalho demonstra a situação delicada em que a propriedade se encontrava. Apenas R$914,16 foi a sobra após um ano de trabalho (de maio de 2005 a abril de 2006) em uma propriedade onde seis pessoas dependiam da renda gerada pelo leite. Muito mais difícil do que implementar ações técnicas foi, naquele momento, resgatar o ânimo para iniciar um novo ciclo na propriedade.

Devagar, a família foi retomando as forças e Balzan, que como o patriarca teria a responsabilidade de comandar a mudança nos rumos da propriedade, ia aos poucos se convencendo da necessidade e da eficácia das ações propostas. Assim, a roda responsável por mover aquela pequena propriedade, que por muito tempo esteve emperrada, vagarosamente começava a girar.

Em novembro de 2006, levado pelo técnico Primo, Tiago foi conhecer uma propriedade assistida no município de Rio Bom, no interior do Paraná, a 500 km de sua cidade. O produtor Adilson Brizola, atendido na época com a mesma metodologia de trabalho utilizada no Sítio Balzan, produzia 500 litros de leite em uma propriedade de 15 hectares de área total, realidade que impactou Tiago, que voltou para casa renovado e cheio de esperança, cumprindo bem sua tarefa de contagiar o pai com o que havia visto na viagem.

A partir daí a coisa deslanchou. A confiança no trabalho aumentou e as orientações passaram a ser executadas com mais rapidez e segurança. Assim, ações técnicas foram sendo realizadas, como a implantação de sistemas intensivos de pastejo para o período do verão, sobressemeadura de culturas de inverno, plantio de cana-de-açúcar e de milho para silagem, irrigação de pastagens, construção de uma nova sala de ordenha, tudo feito gradualmente, de acordo com as condições financeiras do negócio. A produção foi aumentando e a renda também. Nesse meio tempo, as condições de renda da propriedade haviam melhorado a ponto do técnico Primosugerir à família que o filho Marcelo retornasse, fator que contribuiu muito para a propriedade chegar ao ponto em que chegou.

Vacas em pastejo

Em 2008, Marcelo estava definitivamente de volta ao sítio, reestabelecendo a presença de todos os membros da família Balzan no negócio. Era tempo de crescer! Dos 150 litros/dia produzidos em 2005, a propriedade atingiu pico de 1.025 litros/dia em 2013. A sobra financeira (fluxo de caixa) no ano 2013 foi de R$130.734,23 (R$10.894,00/mês), valor equivalente a R$18.676,33 disponíveis anualmente por cada membro da família (R$1.556,00/mês), contra apenas R$152,36 no primeiro ano (R$12,69/mês). Uma nova casa para a família foi construída em 2010, e outra em 2012 para o filho mais velho, Tiago, que se casou e vive com a esposa na propriedade. O outro filho, Marcelo, também está planejando construir sua casa, tudo dentro de uma área total de 16,9 hectares. A propriedade que para a família parecia minúscula no início do trabalho, hoje é capaz de manter duas e, em breve, três famílias.

Índices econômicos e zootécnicosdoSítio Balzan(2005– 2013)


Vacas recebendo suplementação no cocho

O que determina se uma propriedade é grande ou pequena não é o tamanho de sua área, mas sim o nível de conhecimento disponível para a sua exploração. Quanto menor o nível de conhecimento, maiores serão as necessidades de fatores produtivos, principalmente capital e terra. Certamente, a família Balzan, como tantas outras famílias produtoras de leite, acreditava que sua área era insuficiente e que não haveria recursos financeiros capazes de reverter sua situação inicial. Com a evolução técnica da propriedade, o nível de conhecimento de todos os envolvidos cresceu a ponto da situação se inverter completamente. Apesar de ainda poder crescer mais de 50% em relação à produção e renda obtidas até agora, o Sítio Balzan, quase abandonado em 2005, além de ser fator gerador de qualidade de vida, de bem estar e de união da família, também passou a garantir sua própria sustentabilidade, através de trabalho técnico sério e do comprometimento de todos com o trabalho proposto. Os bens materiais demonstram o quanto a atividade leiteira lhes foi generosa, respondendo sempre positivamente a cada ação acertada, ao trabalho e à dedicação da família. O futuro da propriedade está garantido, os sucessores estarão prontos para, no momento certo, atenderem ao chamado do pai e tomarem as rédeas do negócio. Porém, mais importante que tudo isso, é o fato da família permanecer unida, trabalhando todos juntos. E como costuma dizer Balzan: “isso não há preço que pague”.


 

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MARCELO DE REZENDE

Eng.Agrônomo, Diretor e Técnico da Cooperideal - Cooperativa para a Inovação e Desenvolvimento da Atividade Leiteira.

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LEONARDO DE SIQUEIRA MENDES

ALAGOA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/10/2015

Parabéns pelo artigo, claro e objetivo, muito motivador também! Sem duvidas o trabalho técnico bem planejado e executado gera retornos satisfatórios para o empreendedor familiar. Vale ressaltar que o Brasil carece de politicas publicas efetivas, que valorizem os produtores e trabalhadores rurais. Também vivemos está realidade cruel aqui em nossa propriedade em Alagoa, Sul De Minas, acredito que falta assessoria dos órgãos públicos, assessoria técnica e de valorização do produtor Familiar.       
MARCELO DE REZENDE

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/08/2014

Valquíria, obrigado pelo comentário.



Caro Michel, obrigado pelo comentário mais uma vez. Não tenho dúvidas de que a atividade leiteira é uma excelente opção de negócio. Os conceitos distorcidos e a falta de bons índices zootécnicos e econômicos explicariam o porquê de tanta gente pensar o contrário, mas justamente quem pensa o contrário não aplica os conceitos e nem possui tais índices, pela absoluta falta de controle do que faz.



Antônio, obrigado pelo comentário.



Ronaldo, obrigado pelo comentário. Penso como você, quem faz o sucesso da propriedade é o produtor, não o programa. Porém, o que não pode é um cego guiar outro.
RONALDO MARCIANO GONTIJO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/08/2014

Caro Marcelo,



Me desculpe pela franqueza, mas tenho um amigo aqui que conseguiu esta mesma rentabilidade com uma propriedade de tamanho e produção similar sem técnico. E ainda com a desvantagem de ser obrigado a mante o gado 7 meses no cocho. Ainda não estou convencido que o balde cheio seja superior a outros programas de assistência técnica ou ao conhecimento adquirido pelo próprio produtor. Conhecimento este que nos dias de hoje é muito fácil de se adquirir, visto que muitas empresas estão se especializando em vender conhecimento.
ANTONIO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/08/2014

Valquiria Gehring, você tem toda razão. Ganha mais quem mora na roça em todos os sentidos; R$ 1.500,00 na roça vale mais do que R$ 3.000,00 na cidade grande...
MICHEL KAZANOWSKI

QUEDAS DO IGUAÇU - PARANÁ - OVINOS/CAPRINOS

EM 08/08/2014

Caro Marcelo,



Apenas a título de complementar os dados acima apresentados por você, eu coloco um exemplo de atividade opcional desenvolvida na mesma região da fazenda citada, a produção de soja.

Tenho um amigo produtor, engenheiro agrônomo com mais de 40 anos de formação, dois filhos agrônomos e um exemplo de uso de tecnologia. Sua média de produtividade na última safra, com estiagem, foi de 81 sacas/ha. No último ano ele adquiriu uma área de 70 ha. Por interesse de fazer uma comparação pedi que ele me passasse os seus dados de rentabilidade. Segundo ele o período necessário para pagar o investimento, segundo a média de produtividade dos últimos dez anos e a variação do mercado, seria de 18 anos. Ou seja, uma taxa de retorno de 5,5%. Isso usando dados de margem bruta. Segundo, ele não usa o dado lucro pois o resultado seria negativo.



A pergunta que surge: Por que então comprar terra?



Como disse não há lucro, mas há fluxo de caixa e o grande retorno que o produtor acaba tendo é a valorização da terra, que em muitos anos supera a taxa de 10%.



Não entendo muito de contabilidade, mas em geral as avaliações não contabilizam como resultado econômico anual essa elevação dos valores dos ativos do produtor.

Mas de qualquer forma, onde gostaria de chegar é que os dados apresentados por ti mostram o quanto a atividade leiteira pode ser economicamente interessante, quando bem conduzida. Principalmente quando comparada as demais opções que o produtor teria.



Grande abraço.
VALQUIRIA GEHRING

CUNHA PORÃ - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/08/2014

É impressionante como tem pessoas, principalmente de outras regiões, que desfazem o negócio da Agricultura Familiar! Esquecem de que quem mora em uma propriedade rural tem muito mais coisas do que o salário em si! Esquecem que esta família provavelmente não compra carne, leite e derivados, frutas e hortaliças! Portanto, 1500 reais podem ser usados para outros gastos, que não sejam a compra de comida! Vão e vivam com 1500 reais na cidade, e depois venham contar como é! E venham olhar de perto a Qualidade de vida que nós, pequenos agricultores temos! Tenho certeza que morrerão de INVEJA!
MARCELO DE REZENDE

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/08/2014

Olá Ronaldo,



Está havendo uma confusão aí. A diferença entre todas as receitas da propriedade (venda de leite, venda de animais etc) e todas as despesas com desembolso (operacionais e pagamentos de investimentos), que é o valor que efetivamente sobra no bolso do produtor, chama-se Fluxo de Caixa (ou Sobra, como referido algumas vezes no texto). Esta diferença entre as receitas e as despesas operacionais e de pagamento de investimentos no Sítio Balzan foi de R$ 130.734,23 em 2013. Deste valor que efetivamente sobrou para a família você pode definir que 100% se refere à mão-de-obra da família e não houve nenhuma sobra ou que 0% foi mão-de-obra da família e que 100% foi sobra, para efeito prático tanto faz, uma vez que o resultado houve e está no bolso do produtor.

Porém, para efeito de análise da atividade, nessa propriedade considera-se um valor de mão-de-obra de R$ 4.000,00/mês, ou seja, R$ 48.000,00/ano foi o custo da mão-de-obra da família e assim a sobra foi de R$ 82.734,23 (R$ 130.734,23 da sobra total menos R$ 48.000,00 que se definiu com o valor de mão-de-obra da família).

Observe que em nenhum momento o texto usa o termo Lucro, pois o lucro da atividade é calculado de outra maneira. O Lucro é calculado pela diferença entre as receitas da atividade e os custos com despesas operacionais, mão-de-obra da família, remuneração do capital investido na atividade (6% sobre o valor investido em terra, animais, máquinas e instalações) e depreciações (de máquinas e instalações). Neste caso o Lucro do Sítio Balzan em 2013 foi de R$ 61.557,83 (obtido pela diferença entre a receita bruta de R$ 303.696,14 e as despesas operacionais de R$ 151.873,92, de mão-de-obra da família de R$ 48.000,00, de Remuneração do capital de R$ 26.292,00 e de depreciações de R$ 15.972,39). Considerando-se o custo da mão-de-obra da família no cálculo, o Lucro sobre o capital investido na atividade foi de 10,3% mais 6% de custo de capital, ou seja, o Lucro total foi de 16,3%. O capital atualmente investido na propriedade (terra, animais, máquinas e instalações) é de R$ 596.250,00.  

O que faz uma propriedade se manter viva no curto prazo é o Fluxo de Caixa, no longo prazo o Lucro tem que aparecer, sob pena do produtor consumir o próprio patrimônio. Quando a propriedade apresenta Lucro, ela normalmente apresenta um bom Fluxo de Caixa, mas o contrário nem sempre é verdadeiro. Propriedades com excesso de investimentos em instalações, máquinas e animais e uso ineficiente da terra, dificilmente conseguem Lucro na atividade, pois não conseguem renda para o pagamento das despesas com depreciações e nem remunerar o capital investido, isso deve ser melhor considerado quando se pensa nas diversas formas de se produzir.
HERNAN

LAURO DE FREITAS - BAHIA

EM 08/08/2014

Um problema é que certos relatórios de atividade mostram apenas ganhos sem considerar muitos custos. Na vida comercial ou empresarial, se a empresa não permite sustentar e crescer (ou seja, a receita extra para cobrir as despesas) é um fracasso e não tem futuro. Agora, se você quer mostrar é a sobrevivência no meio rural, é outra coisa. Mas chega de falar de negócios, longe de ser uma empresa com essas margens sucesso e lucro.

Como fazer para atualizar um caminhão (R $ 140.000) para comprar mais animais, cultivar investimento, alugar mais terra para expandir, onde conseguiu o dinheiro? de seu salário de R $ 1500? Isso não é um negócio senhores, é um trabalho de casa e sobrevivência, apoiando todos os aumentos de negócios e financiar seu bolso, tornando a vida no futuro é cada vez mais complicado em termos de crescimento e qualidade de vida. Como faria  a empresa para pagar um curso e fazer alguma viagem de treinamento, que o dinheiro iria pagar? alegou que a empresa não pode pagar. E é por isso que as pessoas procuram o campo para as cidades, onde com muito menos esforço e muito menos investimento ( fazenda , animais ,tecnologia, capital de giro)  salários  de 1500 ou mais são alcançados. Então,  o negócio so fecha para alguns e para os que ficam mais acima na cadeia de produção, o produtor recebe remuneração miserável, só quando você tem 1000 cabeça é diferente.
RONALDO MARCIANO GONTIJO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/08/2014

Caro Marcelo,



Então os 43% de lucro que você mencionou são o pró labore da família. E ainda fui ofendido por não ver vantajem em uma fazenda que teve lucro zero...
MARCELO DE REZENDE

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/08/2014

Olá Ronaldo,



No caso da família Balzan, 7 pessoas vivem da atividade leiteira, isso não significa que são necessárias 7 pessoas trabalhando para a produção de 816 litros/dia. O volume de 116,5 litros se refere ao volume produzido dividido pelo número de membros da família e não pelo número de pessoas que efetivamente trabalham na atividade. Uma criança e uma idosa, por exemplo, apesar de fazerem parte da família não necessariamente trabalham na atividade. Um trabalhador que recebe R$ 2.000/mês na atividade normalmente sustenta uma família com 4 ou 5 pessoas, no caso do sítio Balzan a família é sustentada com R$ 10.894,00/mês.

Realmente o sítio Balzan tem muito a melhorar ainda, com produção de 816 litros/dia em 13 hectares de área útil a propriedade possui uma produtividade de apenas 22.912 litros/ha/ano, tímida ainda diante de um potencial de mais 30.000 litros/ha/ano que este sistema permite que seja alcançado.
RONALDO MARCIANO GONTIJO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/08/2014

Prezados Marcelo e Michel,



A minha dúvida é devido ao fato do rendimento ser de 116,5 litros/pessoa/dia, com o valor médio de um trabalhador aqui na minha região ser de R$ 2.000,00/mês, isto significa que mais de 50% da receita vai para custear mão de obra. Preciso dizer mais?
MARCELO DE REZENDE

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/08/2014

Obrigado pelo comentário, Kassiano. Para quem conhece de perto o trabalho e acompanha os resultados a compreensão é facilitada. Um abraço.



Caro amigo Michel, como sempre seu comentário abre portas para uma série de reflexões. A maior dificuldade em relação a evolução do produtor e a obtenção de resultados na propriedade não é técnica. Existe conhecimento de sobra para que possamos mudar a realidade de dificuldade encontrada nas fazendas, o que falta é disposição para a mudança, mudar antigos hábitos não é fácil, mas todos nós, se quisermos ir a diante, temos que buscar uma nova forma de fazer. O ceticismo citado por você tem como origem a frustração de tentativas anteriores, mas é preciso persistir, tentar mais uma vez, contar com apoio e parcerias (o próprio município de Quedas de Iguaçu é um exemplo disso, você sabe melhor que ninguém). Outro obstáculo difícil de ser superado é a paixão pelos sistemas de produção, como qualquer paixão essa também impede que a razão prevaleça, e cada um vai criando seus motivos e justificativas para continuar com aquilo que não apresenta resultados e no final a atividade como um todo é crucificada. Mas o fato é que aqueles que acreditam e fazem a coisa certa prevalecerão, para os demais o futuro é incerto...Um abraço!
MICHEL KAZANOWSKI

QUEDAS DO IGUAÇU - PARANÁ - OVINOS/CAPRINOS

EM 05/08/2014

Grande Marcelo,



É incrível o ceticismo criado em torno de um trabalho responsável e bem direcionado. As pessoas tentam criar mil e um motivos para justificar sua ineficiência.

Os resultados do trabalho que a Cooperideal e os técnicos que aplicam a metodologia proposta pela Embrapa Pecuária Sudeste Brasil a fora pode ser evidenciada e comprovada por qualquer um que tenha interesse. Todos tem acesso a essas tecnologias. Porém, como tu citaras, a continuidade e o sucesso do negócio é quase integralmente dependente da vontade do produtor. E nós sabemos o quanto é difícil encontrar estes produtores dispostos a fechar os ouvidos a ladainha que ouvem todo dia, arregaçar as mangas e com muito trabalho alcançar uma boa condição econômica e social produzindo leite.



Grande abraço.
KASSIANO ANDRE TREZZI

TEUTÔNIA - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/08/2014

Parabéns ao vc Marcelo pelo excelente artigo.



Conheço a propriedade e sua historia..parabéns  a familia também



att,

kassiano.
MARCELO DE REZENDE

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/08/2014

Rafael Narloch, obrigado pelo comentário. Um grande abraço.



Gessé, obrigado pelo comentário. Realmente não temos a pretensão de solucionar a questão do êxodo rural no Brasil e nem de conseguir resolver a questão das pequenas propriedades. Nosso objetivo é somente demonstrar a viabilidade técnica e econômica de propriedades leiteiras, demonstrando que mesmo aquelas com áreas diminutas e com dificuldades de renda, podem, quando bem orientadas, gerar condições para que os filhos, caso queiram, permaneçam na propriedade. O que se vê atualmente na grande maioria das propriedades leiteiras é o abandono por falta de perspectivas, por se achar que a atividade é ruim como negócio e que somente fazendas ricas, com disponibilidade infinita de capital, é que podem permanecer no mercado e que somente os filhos de produtores endinheirados têm direito a futuro na área rural. O caso do Sítio Balzan, e de tantos outros que utilizam a metodologia do Balde Cheio pelo Brasil afora, demonstram que não é isso, que existe espaço para todos e que continuar ou não na atividade depende da vontade de cada produtor em construir um novo cenário, baseado em conhecimento e trabalho direcionado para a obtenção de resultados. A partir daí, com renda e conhecimento, cada filho decide por si só se quer ou não continuar no negócio, e o problema deixa de ser técnico.



Olá Valquíria, obrigado pelo comentário. Tenha a certeza de que só depende de vocês, procurem ajuda de um bom técnico e sigam em frente.



Olá Francisco, obrigado pelo comentário. O resgate do ânimo é primeiro passo para a retomada, a mudança começa por aí. Um abraço.



Olá Ronaldo Gontijo, muito obrigado pelo comentário. A renda bruta anual desta propriedade em 2013 foi de R$ 303.696,14, a sobra anual de R$ 130.734,23 (referente aos 15 salários mínimos mensais) representa 43% da renda bruta. O que a família Balzan fez foi simplesmente aproveitar a oportunidade que teve, infelizmente a maioria não aproveita. Um abraço.
RONALDO MARCIANO GONTIJO

BOM DESPACHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/08/2014

Interessante como uma propriedade com apenas 800 litros/dia consegue pagar todas as despesas com concentrado, adubo, medicamentos, vacina, energia, suplemento mineral, detergentes, papel toalha, etc., remunerar a mão de obra + encargos, cobrir juros sobre o capital, depreciação e ainda gerar um lucro liquido de 15 salários mínimos por mês. Tem que tomar cuidado com os números, se não vai aparecer propriedade com lucro superior a renda bruta.
FRANCISCO ROBERTO MELO JUNIOR

EM 02/08/2014

Na verdade esse trabalho e desanimador mais são esses exemplos de projetos é quem nos anima parabéns a família Balzan e o projeto balde cheio.
VALQUIRIA GEHRING

CUNHA PORÃ - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/08/2014

Nosso sonho , meu e de meu esposo, é tomar esta direção em nossa propriedade. Preparar  nossos filhos para assumirem uma propriedade que tem muito a crescer!
GESSÉ ANTÔNIO DE SOUZA

MANHUAÇU - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 01/08/2014

É muito interessante a matéria, visto que, se trata de uma feliz adaptação à realidade, que muda constantemente, variando a velocidade de tais mudanças ao longo do tempo. Falar numa continuidade sucessória de longo padrão é ainda uma incógnita. O que podemos constatar é que houve a superação de uma crise e que a família poderá superar ou não outras crises que virão, mas dificilmente a tendência de êxodo rural por que passa a sociedade brasileira.  O impacto dessa tendência varia de região para região e muitas variáveis estão em jogo, de sorte que, o que deu certo no Sítio Balzan, não necessariamente dará certo em outras regiões, considerando, entre outras variáveis: a topografia, a fertilidade do solo, o clima, as raças dos animais, o padrão educacional e cultural das famílias envolvidas, o mercado e etc. Penso que enquanto as fronteiras agrícolas no Brasil puderem ser expandidas para o norte à guisa de solos mais férteis e ainda não explorados, resultando em  produção mais barata, mesmo que com alto custo ambiental, dificilmente esse processo de falência das pequenas propriedades do sul e do sudeste será estancado. Falta seriedade política para equalizar um problema tão sério quanto este. Os que governam a sociedade deixam o circo pegar fogo e depois vão lidar com as cinzas e criarem mitos explicativos para o óbvio.



Gessé Antônio de Souza

Médico Veterinário, Biólogo e Pedagogo.
RAFAEL NARLOCH DE ARAUJO

PALMAS - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/08/2014

parabéns a família Balzan e ao projeto balde cheio.   

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