O gado leiteiro precisa de forragens fibrosas para estimular a ruminação, garantindo o bom funcionamento do rúmen e a completa digestão dos alimentos sem que ocorram distúrbios digestivos e o leite possa ter uma composição normal.
O teor de fibra das forragens é normalmente medido através de seu teor de FDN (fibra detergente ácido). Para garantir a ingestão de quantidade suficiente de fibra, a recomendação é que pelo menos 30% da matéria seca da dieta seja composta de forragens com fibras longas. Um parâmetro numérico normalmente seguido para se garantir a presença destas fibras longas prega que a dieta de vacas de leite deve conter de 25 a 28% de FDN, dos quais 75% (cerca de 19 a 21% da FDN da dieta) devem ser oriundos de forragens. Esta capacidade das fibras longas de estimular a ruminação é denominada "efetividade".
Alguns subprodutos fibrosos também possuem esta capacidade, que normalmente é medida em relação ao estímulo de ruminação provocado pela ingestão de alfafa. O caroço de algodão é um ótimo exemplo. Quando comparado com alfafa picada de forma grosseira (média de 11,4 mm), ele teve 50% da capacidade de estimulação da alfafa. Quando comparado com alfafa picada de forma mais fina (média de 5,8 mm), ele teve 124% da capacidade da alfafa em estimular a ruminação. Vários trabalhos já demonstraram a "efetividade" da fibra do caroço de algodão. Acredita-se que o "enchimento" provocado pelo caroço de algodão acaba diminuindo a taxa de passagem dos alimentos pelo rúmen, o que estimula a ruminação.
Outro subproduto que possui alguma "efetividade" de fibra é o resíduo de cervejaria. Neste caso, estudos diferentes têm apontado valores distintos de "fibra efetiva" para a "cevada".
Nesta época do ano, quando há escassez de forragens, muitos produtores recorrem a estes subprodutos para suplementação do gado. Em muitos casos as quantidades utilizadas são bastante elevadas, havendo grande (às vezes total) substituição dos volumosos, acreditando-se que a fibra destes alimentos substitui as forragens. Esta substituição total é errônea, mas existem estudos que indicam que uma substituição parcial é perfeitamente possível, sem prejuízo ao desempenho e saúde dos animais. É o que demonstrou um trabalho publicado recentemente.
Na oitava e nona semana de lactação, 60 vacas holandesas receberam uma ração completa única. Da semana 10 a 25 elas passaram a receber aplicações quinzenais de BST e foram divididas entre as diversas dietas testadas. Não houve interação entre os tratamentos e o tempo de experimento.
Foram testados dois tipos de caroço de algodão, um com línter (fibra) e outro no qual o línter foi encoberto por uma camada de amido (para diminuir seu volume), além do resíduo de cervejaria úmido em três níveis de inclusão na matéria seca da dieta. Em todos os casos estes subprodutos entraram em substituição à parte da fibra (FDN) das forragens (silagem de milho e de alfafa), partindo dos cerca de 21% de FDN de forragem da recomendação padrão até que se alcançasse cerca de 15% (de forma crescente no caso do resíduo de cervejaria).
Todas as dietas foram balanceadas para conter 18% de proteína bruta (61% degradável no rúmen). Casca de soja e milho foram utilizados para ajustar os níveis de carboidratos não estruturais das dietas. As dietas e o desempenho dos animais podem ser vistos na tabela 1.
A inclusão do resíduo de cervejaria promoveu aumento crescente no consumo de matéria seca da dieta, tanto em relação ao controle quanto às dietas com caroço de algodão, o que parece ter compensado perfeitamente a menor concentração energética das dietas com resíduo de cervejaria. O desempenho dos animais, no entanto, não foi diferente entre os tratamentos, o que pode significar uma desvantagem para a "cevada" (maior consumo para uma mesma produção - é preciso avaliar os custos das dietas).
Tabela 1: Composição das dietas e desempenho dos animais
a - efeito linear do resíduo de cervejaria em relação à dieta com alta forragem (P<0,01)
b- efeito do resíduo de cervejaria x caroço de algodão (P<0,01)
c - efeito do caroço de algodão com línter x caroço de algodão encoberto com amido
Já as dietas com caroço de algodão em substituição à forragem apresentaram nível semelhante de consumo e desempenho em relação ao controle. Somente a dieta com caroço encoberto por amido ocasionou diminuição no teor de gordura do leite, talvez pela perda parcial da efetividade de sua fibra.
Segundo os autores, este estudo demonstra que é possível realizar a substituição parcial da fibra (FDN) de forragens por subprodutos fibrosos, mas é importante que se observe conjuntamente os níveis de carboidratos não estruturais da dieta, que devem ter seus teores diminuídos com o aumento da participação dos subprodutos, para que se evite o excesso de fermentação ruminal, que poderia conduzir a condições de acidose.
Comentário do autor: a utilização de subprodutos em substituição à parte da forragem, em nosso caso, normalmente conduz a incrementos de produção já que muitas vezes substitui forragens de baixo valor nutritivo. No entanto, é preciso ter em mente que subprodutos fibrosos não são equivalentes às forragens em termos de sua efetividade de fibra e, portanto, a substituição deve ser parcial, tomando-se o cuidado de manter um nível de fibra longa e efetiva suficiente para a manutenção do bom ambiente ruminal e da saúde do animal.
Fonte: Firkins, J.L. et al, 2001. Effectiveness of Whole Cottonseeds and Wet Brewers Grains to Replace Forage in Dairy Rations. Ohio State University Extension Research Bulletin # 182-01.