As minúcias da produção e o rigor técnico das peças ofertadas pelo Capril são resultado da dedicação de Heloísa, que trocou o cargo de diretora do departamento de inglês da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) pela produção artesanal de queijos. Hoje, a professora comanda a única queijaria brasileira que produz queijos artesanais de cabra em grande quantidade e variedade - são 11 tipos cuja produção totaliza 500 quilos todos os meses. Entre os clientes fixos estão 25 restaurantes, incluindo casas renomadas como Piselli e Carlota, em São Paulo.
Heloísa Collins: "O que oferecemos aqui é um turismo de experiência".
A fazenda onde a produção está baseada foi adquirida na década de 1970. Inicialmente, Heloísa produzia laticínios a partir do leite de vaca por hobby, nos fins de semana. Nos anos 1980, ela comprou as primeiras cabras. "Aos poucos, o hobby foi se tornando sério, técnico e cuidadoso", conta. Ela passou a estudar detalhadamente processos, a importar ingredientes, mofos, utensílios e a participar de grupos internacionais de discussão sobre o tema. Em 2002, Heloísa decidiu que a produção de queijos finos seria sua prioridade e começou um processo de transição: aos poucos, preparou sua saída da universidade e aprimorou o portfólio.
A família Collins decidiu, então, apostar em uma empresa vertical - da produção da matéria-prima à venda de comida que leva o queijo. Para isso, o investimento para profissionalizar o Capril do Bosque, a partir de 2009, foi em infraestrutura: as obras começaram pelo estábulo (suspenso, desenvolvido a partir de um sistema francês), sala de ordenha e, por fim, queijaria e restaurante. O gasto nessa etapa foi de R$ 600 mil.
As construções aconteceram enquanto tramitavam os documentos necessários à obtenção do Selo de Inspeção do Estado de São Paulo (SISP), que permite a comercialização em todo o Estado, conquistado em abril de 2013. Em uma segunda etapa, com o Capril já em funcionamento, mais R$ 60 mil foram investidos em melhorias que vão desde a qualidade do rebanho até equipamentos para a cozinha.
Atualmente, quem visita o Capril do Bosque pode fazer uma visita guiada pelas instalações, conduzida por Victor Collins, filho de Heloísa, fazer passeios a cavalo, caminhar por trilhas, plantar árvores e provar o prato do dia do bistrô comandado pela chef Juliana Raposo, filha de Heloísa. Ao todo, 12 funcionários trabalham no local, que recebe entre 50 e 100 pessoas todos os fins de semana. A loja da sede é uma das principais fontes de renda do negócio. "Alguns clientes trazem malas térmicas e as levam embora cheias de queijo."
Transitando entre receitas tradicionais e adaptações próprias - o cardápio atual do Capril inclui criações como o Azul do Bosque, inspirado no Stilton inglês, e o Cacauzinho, maturado com mofos brancos sobre uma cobertura de cacau e baunilha - a proprietária conseguiu atingir uma produção de alto nível. A coalhada e o queijo fresco custam em torno de R$ 100 o quilo. Já as peças finas, que dependem de ingredientes importados, saem para o consumidor a R$ 150 o quilo. "No início, me surpreendia quando conseguia fazer um queijo que lembrava o paladar de algo que havia provado na França ou na Itália", diverte-se. "Agora não me espanto mais, mas os clientes ainda ficam admirados."
Para o mestre queijeiro Bruno Cabral, o crescente interesse do consumidor incentiva a expansão desse mercado. "Com a melhoria do poder aquisitivo, o brasileiro começou a viajar mais e a se questionar sobre a qualidade do que é produzido aqui", afirma. "Isso motivou uma melhora por parte dos produtores". O rebanho de caprinos ainda é pequeno no Brasil - são 14 milhões de animais, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. "O queijo de cabra é atrativo para o consumidor, mas o que motiva de fato a compra é ter um produto diferente e de qualidade, independente do animal de origem do leite", completa Cabral.
Para 2016, o desafio do Capril do Bosque, que já recuperou seu investimento inicial, é começar a lucrar através do aumento da produção e expansão do número de clientes fixos, o que deve acontecer a partir de abril, segundo Heloísa. Nos últimos três anos, o rebanho foi de 15 para 70 animais, todos com nomes próprios escolhidos pela dona. "Temos espaço para aumentar a produção, mas o processo deve ser vagaroso para não perder a qualidade artesanal."
As informações são do Valor Econômico.