Renata de Oliveira Souza Dias
A biosegurança pode ser definida como práticas estratégicas de manejo para controlar e prevenir perdas econômicas e sanitárias para a saúde animal e para a saúde pública. Em outras palavras, a biosegurança é a reunião de medidas que previnem a introdução de doenças ou patógenos no rebanho e controlam sua disseminação quando já presentes na fazenda.
Uma lista destas medidas, que pode ser designada de "checklist", foi desenvolvida nos EUA para ser utilizada pelos produtores de leite norte americanos com o intuito de avaliar como estão sendo implantadas as medidas de biosegurança. Entretanto, um programa de biosegurança efetivo necessita mais do que um "checklist": é necessário traçar uma estratégia evolutiva, considerando-se, para tal, o que é produzido na propriedade, quais os patógenos de maior risco e qual é o objetivo a ser alcançado.
O benefício primário dos programas de biosegurança é reduzir o risco da ocorrência de doenças infecciosas no rebanho. Apesar das medidas de biosegurança serem aplicáveis para a prevenção da maioria das doenças, algumas são particularmente importantes e podem ser direcionadas quando se sabe qual é a doença de interesse. O objetivo de cada propriedade vai determinar quais patógenos representam um maior risco para o sistema de produção. Por exemplo, para centrais de inseminação onde há coleta de sêmen e para centrais de transferência de embriões a atenção deve estar voltada para as medidas que previnam a BVD (Diarréia Bovina a Vírus) e a Língua Azul (doença viral); já em rebanhos produtores de leite a prioridade é prevenir a Mastite Contagiosa e a Paratuberculose, doenças que causam perdas na produção e descarte prematuro dos animais.
Em geral, as doenças de maior risco são a BVD, a Mastite contagiosa, Doenças de Casco contagiosas, Paratuberculose, Mycoplasma e Salmonelose. Em 1996, nos EUA, 13,4% das vacas produtoras de leite apresentavam mastite durante um ano, 11,6% apresentavam problemas reprodutivos e infertilidade, 10,5% apresentavam claudicação e problemas de casco e 3,4% apresentavam diarréia crônica. Cerca de 96% dos 30% de vacas descartadas dos rebanhos leiteiros eram enviadas para o abate, fato que destaca o risco para a saúde pública.
O Sistema de Monitoramento da Saúde Animal dos EUA realizou um levantamento para determinar qual é a percentagem de fazendas leiteiras que utilizam medidas de biosegurança no seu manejo de rotina. As fazendas foram agrupadas de acordo com o número de vacas em lactação. Veja os resultados na Tab. 1.
Tabela 1. Uso de práticas de biosegurança nos EUA de acordo como tamanho do rebanho
Dentre as medidas mais importantes pode-se destacar que a compra de animais contaminados constitui o maior risco de contaminação do rebanho com Paratuberculose. Os animais deveriam ser analisados antes de entrar no rebanho. O uso de quarentenas reduz o risco da introdução de doenças como a BVD, mas não é efetivo para a Paratuberculose. Outra medida de grande importância para a biosegurança é o local do parto. A área da maternidade deve ser limpa, não deve conter montes de esterco (grande fonte de contaminação) e, principalmente, nunca deve ser a mesma área utilizada como hospital para vacas doentes. Evitar a utilização de equipamentos de limpeza de esterco na alimentação dos animais é essencial para a biosegurança.
Muitos produtores não adotam as medidas de biosegurança para evitar os custos de sua implantação e por imaginarem que "isso nunca vai ocorrer com meu rebanho...". Todavia, a precaução nunca é demais, uma vez que as perdas econômicas advindas de um surto podem envolver perdas na produção de leite, perda de animais e despesas com Veterinário e medicamentos. Muitas propriedades norte-americanas não sobreviveram a esses tipos de despesas e saíram do negócio. Os procedimentos de biosegurança podem ser vistos como um custo adicional, mas estes procedimentos devem ser encarados como um Seguro no qual o benefício é a redução do risco de doenças e aumento da eficiência produtiva dos animais sadios, no crescimento e na produção de leite.
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fonte: Journal of Dairy Science, v.83, n.10, p.2380, 2000.