Experimentos conduzidos em Campo Grande (MS), em Latossolo Vermelho Escuro com pH em torno de 5,5 e com teor de alumínio 0,3 a 0,5, mostraram que aplicações de 4 toneladas de calcário dolomítico por hectare e adubação de 450 kg de superfosfato simples mais 40 kg de FTE-Br16/ha, possibilitaram a obtenção de produções de 5,5 a 6,0 t de MS/ha, na fração utilizável para forragem (folhas + vagens + hastes finas). No entanto, em anos de seca acentuada, a produção de outono é bastante baixa (1,5 a 2,0 t de MS/ha). No CNPGC (Centro de Pesquisa Nacional de Gado de Corte), em Campo Grande (MS), estão sendo efetuadas pesquisas, visando a seleção de leucenas para sua adaptação a solos ácidos e que deverão levar à indicação de variedades dentro dos próximos anos.
Para que a leguminosa possa desenvolver-se normalmente, precisa estar nodulada com uma bactéria (Rhizobium). Os nódulos formados por esta bactéria situam-se em pequenas raízes laterais, próximas à superfície do solo e, quando efetivos na fixação de nitrogênio atmosférico, apresentam cor rosada intensa e podem fixar anualmente mais de 500 kg de N/ha. Para melhor adesão do inoculante as sementes, deve-se aplicar o inoculante com adesivo preparado com polvilho, semelhante ao que já foi descrito para o guandu. Emprega-se meio litro de adesivo para cada pacote de inoculante de 200 g, quantidade suficiente para inocular 50 kg de sementes. As sementes inoculadas devem ser mantidas à sombra e semeadas o mais breve possível.
Figura 1. Leucena consorciada com milho.
A leucena deverá ser semeada na primavera, podendo-se usar plantio manual ou mecanizado, colocando-se as sementes no máximo a 1,5 cm de profundidade. Os melhores resultados de estabelecimento são de plantio de outubro-novembro, que coincidem com a época de chuvas abundantes. Plantios tardios, em janeiro, levam a atraso na formação, cujo "stand" somente se estabelece adequadamente no segundo ano.
Dependendo do propósito a que se destina, o espaçamento e a quantidade de sementes poderão variar bastante. Em plantios densos, para serem usados em cortes freqüentes, o espaçamento será de 1 metro entre linhas, com uma cova a cada 30 cm na linha. Serão colocadas três sementes por cova e, quando o plantio for mecânico, serão colocadas 9 a 10 sementes por metro linear. Quando a leucena for plantada para pastejo direto, serão empregados espaçamentos maiores (2 a 3 m entre linhas), com uma cova por metro linear e 3 sementes por cova. Poderá ser usado, ainda, plantio com espaçamento de 5 metros entre linhas, quando a leucena for plantada em faixas, consorciada com gramíneas, para uso em pastejo rotativo.
Em legumineiras onde se visa o pastejo direto durante a estação seca, o espaçamento de 3 m entre linhas tem mostrado ser adequado, porque facilita a circulação dos animais dentro de legumineira, favorece as operações de corte das hastes remanescentes do pastejo ao final do período de suplementação e favorece também o deslocamento de máquinas em operações de capina e aplicação de adubos. Quando o manejo empregado for o de pastejo direto durante a seca, é conveniente, ao final da estação de suplementação, efetuar o corte das hastes lenhosas remanescentes a 15-20 cm de altura, para que ocorra novo rebrote e que se mantenha a leucena com um porte acessível ao pastejo direto na estação seca seguinte.
A leucena tem excelente valor protéico. O teor de proteína bruta na fração de folhas + vagens situa-se entre 21 e 23% e nas hastes finas entre 8 a 10%. A fração utilizável para forragem, sendo uma mistura de aproximadamente metade de folhas mais vagens e metade de hastes finas, faz com que a forragem obtida apresente teores médios entre 14,7 e 16,5% de PB. Assim, o valor nutritivo do material foliar da leucena pode ser comparado ao da alfafa (Medicago sativa), tida como a 'rainha' das leguminosas forrageiras, com teores de proteína bruta, minerais e aminoácidos muito similares. O material foliar da leucena é também uma excelente fonte de b-caroteno, precursor da vitamina A, o que tem vital importância na época seca, quando o pasto geralmente está seco e a leucena apresenta-se verde.
A leucena pode ainda ser utilizada na forma de feno ou farinha (obtida pela moagem e dessecação ao sol) fornecida a bovinos, suínos e aves, embora, neste caso, devam ser utilizadas as leucenas que apresentam teores baixos de Mimosina. Pode ainda ser cortada juntamente com o milho e/ou sorgo para confecção de silagens mistas, com benefícios em termos de enriquecimento protéico da silagem resultante, sem qualquer prejuízo para o processo fermentativo. Adições de 20% de leucena ao milho resultam em elevação do teor de proteína bruta na silagem em até 12 % na matéria seca. Silagens exclusivas de leucena podem ser confeccionadas em tambores ou em pequenos silos de superfície utilizando-se filmes de polietileno.
Alguns estudos de desempenho animal já foram conduzidos. Me chamou a atenção um estudo com novilhos alimentados com cana-de-açúcar e leucena desintegradas, onde os animais consumindo essa ração de baixo custo, ganharam 0,6 kg de peso vivo por dia. Na Austrália foram obtidos ganhos elevados em novilhos, nas pastagens consorciadas de leucena + setária, chegando-se a 0,930 kg de peso vivo por dia.Com relação a sua utilização para vacas leiteiras, estudos verificaram que a adição de 5 kg de forragem fresca de leucena à ração de vacas leiteiras elevou a produção diária em 0,4 litros por dia, além de aumentar o teor de gordura no leite.
Entretanto, existe uma ressalva par ao uso de leucena na alimentação animal. Quando a leucena for utilizada como alimento exclusivo, pode apresentar efeito adverso à saúde dos animais, porque contém um aminoácido denominado "Mimosina", que pode chegar a se apresentar na proporção de 3 a 5% da proteína total, e seu efeito manifesta-se por disfunções metabólicas com perda de pelos na cauda, salivação e perda de peso. Pode induzir também à disfunção da atividade de reprodução em vacas, mas os efeitos são irregulares e reversíveis. Estes efeitos ocorrem somente quando a leucena é consumida em mais de 50% da dieta e por um período que exceda 6 meses. Algumas espécies como L. pulverulenta apresentam teores insignificantes de Mimosina, e a cultivar Cunningham, que é um cruzamento entre L. leucocephala com L. pulverulenta apresenta teores reduzidos deste aminoácido.
Caso um animal vinha a se intoxicar com a ingestão de leucena, este problema pode ser facilmente resolvido, retirando-se a leucena da dieta dos animais. Ressalta-se que a leucena como ração para ruminantes deve ser introduzida aos poucos, devendo atingir um máximo de 20%-30% da dieta.
Considerações finais
A leucena é uma alternativa interessante para aumentar o teor protéico de dietas de vacas leiteiras a baixo custo, em especial nos sistemas que exploram pastagens, podendo ser consorciada ou utilizada na forma de banco de proteína. Embora seja uma planta de excelente potencial, seu uso não muito tradicional no Brasil. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem desenvolvido bons trabalhos com leucena, desenvolvendo novos cultivares e aprimorando as técnicas de utilização deste recurso forrageiro.