A matéria “Europa: preços ao produtor não cobrem os custos de produção”, publicada no Milkpoint em 10/06/2014, mostra que na Alemanha em janeiro de 2014 o produtor recebeu US$ 0,565/litro ( R$ 1,20/litro ) para um custo de produção de US$ 0,616 ( R$ 1,42/litro ), representando um déficit na cobertura dos custos de 8%.
Segundo o MEG Milch Board a cobertura deficientemente crônica dos custos de produção significa que não somente fazendas individuais desaparecerão da Europa, mas também, que regiões produtoras de leite inteira poderão desaparecer.
Para comparação consideremos os valores pagos a produtores nacionais em reais e o correspondente em US$:
R$/litro 0,90 1,00 1,10 1,20
US$/litro 0,39 0,43 0,48 0,52
Essa comparação indica que mesmo recebendo R$ 1,20/litro o produtor nacional estará recebendo menos do que o produtor alemão em janeiro de 2014.
A matéria “Cautela na indústria de lácteos” , publicada em Milkpoint em 09/06/2014, coloca que a elevação de preços aos produtores de janeiro a maio de 2014 foi de cerca de 12%, comprometendo a margem de lucro das indústrias, que já estão repassando o aumento para os consumidores, e que para ser “saudável” precisaria haver uma redução de 5%, ficando o preço ao produtor entre R$ 0,90/litro e R$ 1,00/litro, ou seja, receber entre 83,3% e 83,3% do que recebe o produtor alemão.
Isso só seria saudável e sustentável para a cadeia produtiva nacional se pagar entre R$ 0,90/litro e R$ 1,00/litro ao produtor cobrir os custos de produção e sobrar uma margem.
Mas qual o custo de produção no Brasil? A heterogeneidade dos produtores e a falta de um organismo como o MEG Milch Board dificultam essa estimativa.
Eu pessoalmente acho que para poucos dos 30% dos produtores que responde por 70% da produção nacional esse custo de produção esta abaixo de R$ 0,90/litro e que para a maioria deve estar entre R$ 0,90 e R$ 1,00. Isto sugere que em 2014 o preço ao produtor no mínimo deveria oscilar entre R$ 1,00/litro e R$ 1,10/litro, para não corrermos o risco de perder muitos produtores e mesmo regiões produtoras. E se a indústria quer que a pecuária nacional aumente sua produtividade e competitividade e produza leite de qualidade, deveria pensar que em pelo menos no período de maio a outubro o preço ao produtor deveria ficar entre R$ 1,10/litro e R4 1,20/litro.
Entendo a cautela da indústria face as incertezas da economia. Mas é preciso que a indústria entenda que o produtor vive essa mesmas incertezas e que não é saudável e sustentável na realidade receber entre R$ 0,90/litro e R$ 1,00/litro. Isso poderá acontecer no futuro, se houver um aumento da produtividade e competitividade da pecuária de leite nacional, e que só ocorrerá se os produtores receberem para pagar os custos de produção e ter margem para sobreviver e investir para melhorar sua produtividade e competitividade.
Os problemas de falta de margem da indústria não pode ser resolvido baixando preços dos produtores, que padecem do mesmo mal. É necessário que no momento o varejo absorva parte dessas elevação de custos que não possa ser repassado aos consumidores para que possamos a médio prazo ter um cenário melhor para a cadeia produtiva do leite e derivados brasileira.
Observação: As conversões entre US$ e R$ consideraram uma taxa de câmbio de R$ 2,30/US$.
Marcello de Moura Campos Filho