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Tocantins realiza Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Gurupi

POR PAULO SERGIO SILVA DA COSTA

ESPAÇO ABERTO

EM 23/05/2007

11 MIN DE LEITURA

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A produção de leite é uma das atividades mais presentes no agronegócio brasileiro. Segundo dados da Embrapa, o Brasil é o sétimo maior produtor mundial, com uma produção de quase 25 bilhões de litros (1995). O estado de Tocantins contribui para estes dados nacionais com 239 milhões de litros produzidos (Anualpec 2006). Apesar de ocupar uma posição modesta no ranking dos estados produtores (apenas 18ª), a produção no Estado tem crescido sistematicamente (no ano 2000 era de 156 milhões de litros).

Além dos altos volumes de produção, a pecuária leiteira tem importância significativa para o Tocantins por ser uma atividade que proporciona rendimentos constantes (vendas diárias), além de envolver a família do pequeno produtor, ajudando a fixar o homem ao meio rural.

A realização do Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Gurupi foi uma iniciativa do SEBRAE em parceria com outras entidades de apoio aos empresários e produtores (Sictur, Ruraltins e CIEG), em atendimento a demanda de produtores da região. Seu objetivo é revelar a realidade da produção leiteira no município de Gurupi, com foco nas técnicas de produção e manejo e na gestão financeira da atividade e servir de subsídios a ações e projetos de melhoria neste segmento.

Para realizar este diagnóstico foi efetuada pesquisa junto aos produtores de leite da região de Gurupi. Foram pesquisadas trinta e cinco propriedades produtoras de leite, nos municípios de Gurupi, Sucupira e Figueirópolis. A pesquisa de campo coletou dados quantitativos e qualitativos dos anos 2004 e 2005 que permitiram identificar os pontos fortes e os fracos da pecuária leiteira da região, a qual servirá de referência para produtores e entidades que trabalham com o setor lácteo, contribuindo para o desenvolvimento de iniciativas e projetos, visando à melhoria técnica e econômica do agronegócio do leite.

Na região de Gurupi -TO, a maioria dos produtores reside na fazenda, possui mais de 50 anos e baixa escolaridade. No entanto, não existem produtores sem escolaridade, o que facilitará o aproveitamento nas capacitações. Outro fator positivo é o fato de 17% dos entrevistados possuírem nível superior, sendo a metade, em cursos da área de ciências agrárias.

Apesar do associativismo não ser prática comum entre a maioria dos entrevistados, o que indica a necessidade de desenvolver o espírito associativista dos produtores, 37% dos produtores já fazem parte de alguma associação existente na região.

O funcionário é o responsável pelas tarefas de manejo e alimentação do gado na maioria das propriedades, o que demonstra a pouca participação das esposas e dos filhos na atividade. Torna-se importante a capacitação dos familiares para a ordenha e manejo do rebanho como forma de aumentar a competitividade.

Foram investidos na atividade leiteira da região, em média, R$ 366.208,34 em benfeitorias, máquinas e equipamentos, animais e terra. A elevada relação capital/litro produzido trouxe, como conseqüência, alto custo fixo e baixa remuneração do capital.

A distribuição percentual do capital investido na atividade reflete o nível tecnológico do sistema de produção. Quase a metade do total dos investimentos corresponde ao valor da terra, apenas 8,27% correspondem a investimentos em máquinas, o que indica a predominância de sistemas de produção extensivos.

A área utilizada para gado de leite (117 hectares) corresponde a 27,5% da área total (432,74 hectares). Da área para o gado de leite 72% é ocupada com pastagens.

As condições de acesso às fazendas, de modo geral, não são entraves para o desenvolvimento da atividade.

A área destinada para a produção de volumoso, para o período seco, ainda é pequena (3%), mostrando a necessidade de investimentos, apesar de mais de 80% dos produtores afirmarem realizar a suplementação na seca.

A taxa de lotação de 0,81 UA/ha é indicadora de sistemas de produção extensivos. Esse indicador mostra a necessidade da criação de um programa visando o aumento significativo da taxa de lotação, o que é conseguido no momento em que for aumentada a oferta de alimentos durante todo o período do ano. Serão necessários investimentos na formação de pastagens, no plantio de canaviais com variedades apropriadas para a pecuária, na reforma de pastos degradados e na capacitação para manejo dos pastos e alimentação do rebanho.

A relação da quantidade de vacas em lactação pelo total de vacas existentes no rebanho é de 54%, enquanto o recomendável é de 80%. Esse resultado compromete a eficiência financeira da atividade.

Não foi encontrada na região nenhuma propriedade que possuísse resfriador de leite. Esse resultado mostra a necessidade de criar mecanismos que facilitem investimentos para a aquisição do equipamento, que é indispensável para a implantação de programas de qualidade do leite. Todas as propriedades pesquisadas afirmaram possuir energia elétrica, fato importante para a viabilização do uso do resfriador nas fazendas.

A maioria dos produtores usa a suplementação com concentrado. Essa informação mostra que, como a suplementação volumosa é insuficiente, a maioria dos produtores a compensa com uma maior utilização de concentrado, o que explica o gasto com concentrado ficar em torno de 23%.

O método mais utilizado para a formação das pastagens é o manual/mecânico, só com o preparo do solo e distribuição de sementes, sem a correção e adubação do solo. A falta de correção da acidez do solo e de adubação no plantio, combinada com a ausência de adubação de manutenção, é a responsável pela baixa taxa de lotação. Importante ressaltar que 40% dos produtores já utilizavam a correção e adubação do solo no processo de formação das pastagens, fato importante que permitirá a utilização de uma maior lotação.

O uso de cerca elétrica é realizado por 17% dos entrevistados, o que indica a necessidade de investimentos nessa importante ferramenta para o manejo adequado das pastagens.

Com relação ao padrão racial dos animais, as matrizes apresentavam um padrão racial superior à média do Estado, com relação à produção leiteira. Já com relação aos reprodutores utilizados no rebanho, o padrão racial não é para produção de leite. Esse resultado indica que, se não forem realizados investimentos para a substituição desses touros, as futuras gerações ficarão comprometidas. Recomenda-se a viabilização de programas de inseminação artificial.

A maioria dos produtores não utiliza nenhum tipo de controle reprodutivo, o que explica o grande número de vacas "falhadas". Apesar de apenas 17% das propriedades utilizarem a inseminação artificial como sistema de reprodução, 26% das propriedades possuem botijão de sêmen. Nas demais propriedades, além da capacitação, deverão ser criado mecanismos de viabilização para a aquisição de botijões de sêmen e demais equipamentos para a Inseminação artificial.

A maioria dos entrevistados não realiza testes de brucelose e tuberculose, resultado que demonstra a grande dificuldade para a implantação do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose, o que é preocupante, não somente pelos prejuízos causados à atividade com a redução da produção e abortos, mas pelos problemas de saúde pública, especialmente devido ao grande consumo de leite in natura pela população.

A retenção de placenta é o problema reprodutivo mais citado entre os entrevistados.

Em mais de 90% dos entrevistados predomina a ordenha manual e a prática de uma ordenha diária, o que é explicado pela baixa produção. Mais de 80% dos entrevistados não lavam nem secam as tetas no momento da ordenha e não praticam linha de ordenha. A maioria dos produtores afirma realizar a filtragem de leite com peneira de forma adequada, utilizando peneira de nylon. No entanto, 29% ainda estão procedendo de forma não recomendada.

A maioria dos produtores não lava os latões na propriedade e os guarda no curral, ao relento. 37% dos produtores deixam o leite sob o efeito das intempéries do tempo após a ordenha até ser transportado, o que prejudica a qualidade do produto. A maioria dos produtores não realiza teste de acidez. Entre os que realizam a perda de leite por acidez é freqüente. Uma análise desses itens citados remete à necessidade de ações, visando à implantação de procedimentos adequados para a obtenção de leite de qualidade.

Dentre os vários fatores estabelecidos pela IN 51, destaca-se, na região pesquisada, a disponibilidade da energia elétrica nas propriedades rurais, o que viabilizará a instalação de tanques de resfriamento de leite, proporcionando melhorias na qualidade da matéria-prima.

71% dos produtores consideram a atividade leiteira um negócio regular e 68% afirmaram ser a atividade principal da propriedade, o que demonstra a importância da atividade para a economia regional. Aumentar a produção e reduzir custos foi o que a maioria dos produtores respondeu, quando perguntados sobre a sua intenção quanto ao futuro da atividade, o que demonstra otimismo e uma conscientização com a melhoria da gestão. Esse dado é muito importante e demonstra que os produtores confiam nos atuais compradores e têm segurança quanto ao mercado atual. Entretanto, é necessário cuidado nessa análise, já que 60% dos produtores trabalham com o mercado informal, o qual, por si só, não tem condições de garantir sustentabilidade.

A maioria dos produtores não recebe assistência técnica. Entre os que a recebe, a maioria é por profissional autônomo e somente quando chamado. Esse resultado demonstra a necessidade de viabilizar o acesso à assistência técnica especializada através do setor privado.

O conhecimento dos produtores sobre a atividade que desenvolvem é regular, o que pode ser explicado, em parte, pela deficiência na assistência técnica.

A produção média de 146,8 litros/dia é pequena em relação ao capital investido na atividade. A baixa produção por área, 454 litros/ha/ano, ocorre em função da baixa produtividade relacionada com a área utilizada para a atividade, a qual se deve especialmente à baixa produção por vaca em lactação, (5,3 litros/dia) e ao grande número de vacas falhadas, 46% do total de vacas relacionadas.

A taxa de desfrute da atividade representa apenas 50% da taxa de desfrute do país. A sazonalidade é muito pequena, comparada com outras regiões, o que é indicativo de modernização da atividade.

A venda de animais representa 32,7% da venda bruta, enquanto a do leite e derivados é de 67,3%, o que está de acordo com as médias de sistemas de produção mais extensivos.

O preço médio do leite recebido pelos produtores da região de Gurupi, no período estudado, ficou em R$ 0,46, valor um pouco superior ao preço médio pago aos produtores do Estado no mesmo período. O custo operacional efetivo - COE em valores unitários foi de R$ 0,28, o custo operacional total - COT R$ 0,50 e o custo total R$ 0,64. Esses dados indicam os reflexos de um alto custo fixo, em relação a uma pequena produção.

A renda bruta da atividade leiteira de Gurupi foi de R$ 36.038,70. O custo operacional efetivo total de Gurupi possuía valor menor do que o das outras regiões. A explicação para que o COE, em valores unitários, de Gurupi fosse maior do que o APLeite, conforme explanação anterior, foi devido a sua baixa produção. A Margem Bruta total da atividade leiteira da região de Gurupi ficou em R$ 10.307,07 e a unitária em R$ 0,17.

A margem líquida total (ML), em Gurupi ficava em R$ 5.308,91 ou R$ -0,17 por cada litro produzido. Assim como a Margem Líquida, também o lucro anual foi negativo, R$ 15.529,47 e o lucro unitário em R$ 0,38. Na análise da margem bruta relacionada com a área disponível para a atividade leiteira, em Gurupi ficava em R$/87,4 ha, um valor baixo comparado ao valor do patrimônio investido na atividade. Ao analisar a remuneração do capital concluiu-se que entre os produtores de Gurupi a remuneração do capital é negativa incluindo ou não o valor da terra.

Por fim, analisando este diagnóstico, fica claro o grande potencial da região para a pecuária leiteira, o qual poderá ser mais bem aproveitado, melhorando a eficiência da gestão. De modo geral, os produtores não têm o costume de anotar os dados econômicos e zootécnicos, condição fundamental para a administração da atividade.

A explicação para a permanência do produtor na atividade, apesar da margem líquida negativa, pode ser encontrada nas próprias regras de mercado, onde baixo risco determina baixo retorno, alto risco determina alto retorno. O baixo risco da atividade serve de estímulo para que o produtor não abandone a atividade apesar da baixa lucratividade.

A continuidade do produtor na atividade e o aumento expressivo da produção dos últimos anos podem ser explicados pelo motivo do produtor não ter encontrado nas demais atividades do agronegócio outra alternativa que proporcionasse rentabilidade mensal, remuneração da mão-de-obra familiar e dos custos com as depreciações. Em algumas atividades do agronegócio até mesmo os custos variáveis estão sendo de difícil cobertura, devido à instabilidade das políticas do setor, especialmente, à da política cambial. Esse resultado mostra a importância da atividade leiteira, que se apresenta como alternativa de renda e se fortalece nos períodos difíceis para o setor rural, reafirmando outras pesquisas realizadas por órgãos oficiais do país, que definiram a atividade leiteira como a principal responsável pela permanência das famílias rurais no campo.

Considerações finais

A fertilidade do solo, a topografia e a situação geográfica da região são fatores positivos que, somados ao interesse dos produtores e das instituições regionais, proporcionam ambiente favorável à implantação de um programa de desenvolvimento da pecuária leiteira na região.

O grande capital investido na atividade se, por um lado eleva os custos fixos, por outro, proporciona garantia de crédito e viabiliza futuros investimentos, necessários para o aumento da produção e da produtividade.

A inexistência de produtores sem escolaridade e o fato de 17% dos produtores possuírem nível superior, sendo a metade na área de ciências agrárias, são fatores que contribuem para um maior aproveitamento dos programas de capacitação rural e incremento de novas tecnologias.

A alta freqüência de utilização de concentrado na suplementação do rebanho, a baixa sazonalidade da produção, comparativamente com outras regiões do norte do país, demonstram a modernização do sistema produtivo da região. No entanto, a garantia de mercado, apesar da visão otimista dos produtores pesquisados, é o maior desafio para a implantação de qualquer programa de desenvolvimento da pecuária leiteira regional na região de Gurupi-TO.

Clique aqui para fazer o download do trabalho completo do Diagnóstico da Pecuária Leiteira de Gurupi - TO.

PAULO SERGIO SILVA DA COSTA

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PEDRO SILVEIRA

GURUPI - TOCANTINS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/05/2007

Caro Paulo Sérgio,

Parabéns pelo trabalho, que nos colocou dados concretos para qualificar e quantificar a produção em nosso município.

Só falta agora a união destes produtores para alavancar o setor desestruturado que está, trabalho que estamos tentando fazer.

Uma resalva, é que não foi citado, ser primeiramente a iniciativa da APROLEITE - Gurupi (Associação dos Produtores de Leite de Gurupi e Região), solicitando aos orgãos competentes a inclusão do trabalho no orçamento do SEBRAE, que já estava completo para até 2007.

O apoio foi grande do Sindicato Rural de Gurupi, Ruraltins, SIEG - Incubadora de Empresa de Gurupi, AGIG, Secretaria de Industria e Comercio do Estado, e o empenho do SEBRAE GURUPI.

Esperamos sempre contar com seu apoio e atenção que nos foi dispensada, para novos eventos dentro da área.

Pedro Silveira
APROLEITE - GURUPI
Presidente.

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