Agradeço aos leitores que enviaram os seus comentários aos dois primeiros artigos de Sherlock Holmes, que são incentivos importantes para que Sherlock Holmes continue investigando, como pedem o Fernando Kachan e o Mário Pinto Filho.

Todos as considerações foram importantes, mas nesse momento vou comentar as colocações do Adimar Leonel Souto para fazer uma revelação que pode ser importante para investigações futuras de Sherlock Holmes.

Realmente leite cru é perecível a curto prazo, razão pela qual o produtor rural não tem como estocá-lo. Estoques só podem ser feitos depois de industrializado o leite.

Também é fato que em função das características da pecuária de leite brasileira, há uma variação de volume de produção relativamente rápida dependo do clima ou da qualidade e volume da alimentação oferecida aos animais, e que se o preço é atrativo os produtores ocorre um aumento significativo na produção, que se não for absorvido pelo mercado provoca a queda dos preços. Da mesma forma, se os preços não são atrativos há uma redução significativa da oferta e se a demanda do mercado se mantém, os preços sobem. É o mecanismo natural da lei da oferta e procura.

Justamente por essa realidade é que é da maior importância para a pecuária de leite brasileira que se combata a fraude no leite, pois não é admissível que fraude no leite por parte de algumas indústrias, seja por adição de água ou soro de leite, interferiram no mecanismo da oferta e prejudiquem os produtores rurais e os consumidores.

O esforço para aumentar o consumo interno, que está muito abaixo do desejável de acordo com os padrões de organizações internacionais de saúde, via marketing institucional do leite e programas de governos, bem como o esforço para aumentar as exportações será da maior importância para a regulação da oferta e procura do leite brasileiro nos próximos anos.

Caro Adimar Souto, realmente seria interessante que houvesse um esforço, não só dos órgãos competentes no assunto, mas também da iniciativa privada, no sentido de elaborar um projeto para o produto considerando todas as particularidades da cadeia produtiva, envolvendo governo, as indústrias e os produtores, para que as exportações e o mercado interno possam assegurar maior uniformidade de preços, onde produtores e indústrias possam trabalhar dentro de um projeto confiável pelo menos a médio prazo nas suas atividades.

A Leite São Paulo tem manifestado repetidamente que falta política e planejamento de forma geral no setor leiteiro, e que isso é o grande responsável pela falta de entendimento do setor!

Tradicionalmente tem se tentado estabelecer a política e o planejamento do setor leiteiro através de seminários, congressos e estudos isolados, mas com o passar dos anos se evidencia que o setor precisa mais do que isso para resolver seus problemas estruturais, conjunturais e de falta de entendimento.

A Leite São Paulo tem procurado mostrar que o setor precisa um forum adequado para que, de forma permanente e continuada, o Governo e a iniciativa privada discutam os problemas, procurem o entendimento e juntos estabeleçam e monitorem a política e o planejamento do setor, fazendo os ajustes sempre que necessário.

Por isso a Leite São Paulo propôs na última reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados do MAPA a criação de um grupo permanente para política e planejamento do setor leiteiro. Representantes da Secretaria de Política Agrícola do MAPA, do MDA e da Contag se manifestaram a favor e de participar do grupo de política e planejamento setorial proposto. Como não haviam representantes da indústria nessa reunião, a votação da proposta deverá ser feita na próxima reunião.

Creio que Sherlock Holmes deva investigar o resultado dessa votação, para verificar se o setor leiteiro nacional efetivamente quer avançar para um futuro melhor, onde os problemas setoriais sejam discutidos com transparência por todos os elos da cadeia produtiva do leite, permitindo o entendimento e a implementação de política e planejamento do setor leiteiro que assegure um projeto confiável, que permita menor flutuação de preços e crescimento sustentável para todos os elos da cadeia, ou se quer que tudo continue como está, repetindo o passado, permitindo que alguns aventureiros possam se guiar pela " lei de Gerson" e trazer prejuízos para o agronegócio do leite, para o País e para o consumidor.