No mercado externo, o preço do leite em pó dobrou de novembro, do ano passado, para abril deste ano. O elevado preço no mercado internacional estimula a exportação, enxugando ainda mais o mercado interno.
Diante deste cenário de fortes demandas interna e externa, a pergunta é: quem poderá atendê-las? Em outras palavras, qual sistema de produção tem maior capacidade de resposta aos estímulos da demanda? Para responder a essa pergunta, serão utilizados os resultados da tese de Mestrado em Economia Rural, defendida na Universidade Federal de Viçosa, por Daniel Pacífico Homem de Souza, em junho de 2000, sob minha orientação.
Os dados utilizados na pesquisa referem-se a 255 produtores dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Os produtores entrevistados foram estratificados segundo o genótipo de suas vacas, ou seja, de acordo com a raça e o grau de sangue dos animais. Ainda que a raça e o grau de sangue tenham sido a variável critério de agrupamento, o resultado expressa grupos de sistemas de produção em razão da correlação entre os fatores de produção que definem o pacote tecnológico. Foram estabelecidos três estratos de grau de sangue: até 1/2 HZ, de 1/2 a 7/8 HZ e acima de 7/8 HZ.
A pesquisa feita por Daniel testou a seguinte hipótese: "Sistemas mais primitivos que usam como fatores de produção, basicamente, terra e trabalho têm menor capacidade de resposta do que os mais intensivos em capital e administração".
A capacidade de resposta foi medida pela elasticidade-preço da oferta, resultante da divisão entre a variação percentual da quantidade ofertada de leite e a variação percentual do preço do leite. Todavia, mais relevante que os parâmetros da elasticidade é a relação que existe entre eles. Tomando-se como 1 a elasticidade do sistema de gado acima de 7/8 HZ, a elasticidade do sistema de 1/2 a 7/8 HZ é igual a 0,62 e a do sistema até 1/2 HZ, a 0,17.
Os resultados não rejeitam a hipótese de que a capacidade de resposta do sistema acima de 7/8 Hz seja maior que a do sistema de 1/2 a 7/8 HZ e a deste maior que a do até 1/2 HZ.
A maior capacidade de resposta aos estímulos da demanda do gado mais enraçado está associada à menor variação da produção de leite entre os animais e à maior persistência da produção das vacas em lactação.
Os resultados da pesquisa permitem antever crescente participação, na produção de leite, do gado de maior grau de sangue holandês. Análises dos dados de um passado recente já confirmam essa tendência.
O gráfico, a seguir, ilustra bem o comportamento dos preços do leite quando há aumento da demanda. Para atender à demanda Q1, o sistema de produção até 1/2 HZ oferece o leite ao preço P1; o de 1/2 a 7/8 HZ ao preço de P2 e o de mais de 7/8 HZ ao preço de P3. Ou seja, o sistema de produção que consegue atender ao menor preço é o de até 1/2 HZ, vindo a seguir o de 1/2 a 7/8 HZ e depois o de acima de 7/8 HZ.
Quando a quantidade demandada for Q2, a ordem dos sistemas se inverte. O que consegue atender com menor preço (P4) é o de acima de 7/8 HZ, vindo a seguir o de 1/2 a 7/8 HZ (P5) e, por fim, o de até 1/2 HZ (P6). Se a demanda Q2 fosse atendida pelo sistema de gado até 1/2 HZ, o consumidor iria pagar o preço mais alto. Por isto, no longo prazo, devem prevalecer os sistemas de produção com gado mais especializado na produção de leite.