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Relação entre produtor e laticínio no setor agroindustrial leiteiro brasileiro

POR RAFAEL C. M. MENEGHINI

ESPAÇO ABERTO

EM 26/08/2011

5 MIN DE LEITURA

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Introdução

O sistema agroindustrial leiteiro é caracterizado como oligopólio, em que a concorrência é imperfeita, havendo excesso de fornecedores de insumo (leite) em relação às indústrias que compram a matéria-prima (BICALHO et al., 2008). A estrutura de mercado é considerada atomizada devido à pulverização da produção nas diferentes regiões do país com participação de pequenos, médios e grandes produtores (Barros et al., 2010). O presidente de uma associação de produtores de leite da região de Juiz de Fora em Minas Gerais relatou que 90% dos associados eram pequenos pecuaristas com produção de leite diária variando de 50 a 80 litros (BICALHO et al., 2008).

A produtividade ainda é muito baixa, sendo que 94% das fazendas representam apenas 32% da produção nacional com média abaixo de cinco litros por vaca por dia. Apenas 1% das propriedades apresentam produtividade superior a 10 litros por vaca por dia, representando 29% da produção total brasileira (Rodrigues, 2008).

Em contrapartida, é possível elevar a produtividade utilizando tecnologias desenvolvidas em institutos de ensino, pesquisa e extensão, assim como melhorando a gestão das propriedades e agregando valor ao leite por meio de cooperativas e de indústrias, pois a qualidade da matéria-prima é essencial para a conquista de mercados externos e para a consolidação do interno. Em dez anos, a produção brasileira de leite aumentou aproximadamente 8,4 bilhões de litros. Devido a esta elevação de produção, a balança comercial no mercado leiteiro foi invertida pela primeira vez em 2006, exportando mais do que importando (Rodrigues, 2008).

Atualmente, o Brasil é considerado o sexto maior produtor de leite do mundo (27,5 bilhões de litros), ficando atrás dos Estados Unidos (86,1 bilhões de litros), Índia (44,1 bilhões de litros), China (35,8 bilhões de litros), Rússia (32 bilhões de litros) e Alemanha (28,6 bilhões de litros) (FAO, 2008). A produção leiteira brasileira concentra-se nos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo (Barros et al., 2010).

A relação entre produtor de leite e indústria laticinista

Os produtores, compostos por uma maioria de pequenos extrativistas leiteiros, possuem baixo acesso à informação e à contratação de capital à taxa de juros acessíveis. Sob essas restrições, ficam impossibilitados de variar sua produção, de ampliar e de diversificar seu mercado. Devido a essas limitações e a organização do setor leiteiro do agronegócio, os produtores resignam-se às demandas e ofertas das indústrias que impõem seus interesses. Segundo o presidente de uma associação de pecuaristas leiteiros da região de Juiz de Fora, Minas Gerais, a relação entre indústria laticinista e produtor de leite é caracterizada pela ausência de negociação, em que a indústria geralmente remunera o produtor no 20º dia do mês informando o preço e a quantidade de leite recolhida no mês anterior (BICALHO et al., 2008).

Na tentativa de formalizar a comercialização do leite entre produtores e laticínios, alguns programas governamentais, como o Pró-Leite da Prefeitura de Juiz de Fora, MG, incentivam o associativismo dos produtores de leite e a instituição de contratos formais com preços e volumes de leite a serem pagos e fornecidos explícitos, respectivamente, garantindo maior controle financeiro dos produtores e fidelidade destes com as indústrias (BICALHO et al., 2008).

A pulverização da produção leiteira eleva os custos de captação e armazenamento do leite. No entanto, tem ocorrido aumento na captação de leite cru para processamento devido ao crescimento da participação de pequenas empresas no mercado. As empresas maiores têm perdido receita em detrimento de perdas de pequenas parcelas do mercado para as empresas menores (Barros et al., 2010).

As empresas hoje têm sistemas próprios de bonificações e descontos, sendo seu preço final resultado de uma política leiteira. As empresas de médio e grande porte adotam a estratégia de que não pode faltar leite nas indústrias, o que faz que as empresas disputem entre si produtores com maiores volumes e qualidade. Cada indústria tem a liberdade de pagar o que achar necessário. Por exemplo, um determinado produtor pode receber mais para viabilizar a linha em que se encontra: é ele que torna viável a coleta do leite dos pequenos produtores que estão nessa rota de leite, sendo que, no final a indústria tem um preço médio adequado a seus custos pelo qual o produto é adquirido. Acerca de 34% das cooperativas amostradas no Brasil pagam por volume e acerca de 55% das cooperativas utilizam o critério volume e qualidade na remuneração dos produtores (Sbrissia& Barros, 2008). A Figura 1 e a Tabela 1 ilustram essa distribuição.

A Secretaria de Agropecuária e Abastecimento da Prefeitura de Juiz de Fora desenvolveu um mecanismo de remuneração ao produtor de leite baseado no preço médio mensal de varejo do leite. As usinas beneficiadoras de leite e as associações de produtores definem os preços do leite cru em contratos como uma percentagem, que oscila entre 45 e 54%, do preço médio mensal de varejo do leite (BICALHO et al., 2008).


Fonte: Sbrissia e Barros (2008)
Figura 1 - Representação percentual do pagamento por qualidade, por volume e por qualidade e volume em alguns estados brasileiros.

Tabela 1 - Formas de pagamento aos produtores de leite (%) em diferentes estados do Brasil



Um pool formado na região de Castro pelas cooperativas Castrolanda e Batavo, no estado do Paraná, foi pioneiro na utilização de padrões de qualidade na remuneração do leite ao produtor e adotam, desde junho de 2000, um sistema de pagamento no qual o preço final está baseado em um programa de qualidade que considera teor de gordura, teor de proteína, contagem bacteriana, temperatura do leite no momento da coleta, crioscopia (presença de água no leite), presença de antibiótico e contagem de células somáticas, sendo este último o indicador de maior impacto no preço final. O sistema de pagamento parte de um preço-base sobre o qual incidem premiações e/ou descontos por qualidade, mais uma bonificação pelo volume entregue. As análises são realizadas com todos os produtores, duas vezes por mês, por meio de amostras coletadas nos tanques. O estímulo à melhoria da qualidade valoriza o produto, traz ganhos de produtividade e redução de desperdício na produção, na indústria e no varejo (Sbrissia& Barros, 2008).

Referências

Barros FLA, de Lima JRF, Fernandes RAS (2010) Análise da estrutura de mercado na cadeia produtiva do leite no período de 1998 a 2008. Revista de economia e agronegócio, 8, 22.
BICALHO RDA, MACHADO MCDS, PAÇO-CUNHA E (2008) ESTUDO DAS RELAÇÕES LATICÍNIOS - PEQUENOS PRODUTORES NA REGIÃO DE JUIZ DE FORA. In: 46º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, Rio Branco, Acre, Brasil.
FAO (2008) https://faostat.fao.org/site/569/default.aspx#ancor. Rome.
Rodrigues R (2008) Depois da tormenta, São Paulo, São Paulo, Brasil.
Sbrissia GF, Barros GSAdC (2008) Sistema Agroindustrial do Leite: formas de pagamento e bonificações por volume. In: 46º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, Rio Branco, Acre, Brasil.

RAFAEL C. M. MENEGHINI

Professor do Instituto Federal de São Paulo
IFSP - Campus Avaré
Médico Veterinário - FMVZ/USP
Doutor - ESALQ/USP

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NAGATO NAKASHIMA

CANDEIAS DO JAMARI - RONDÔNIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/09/2011

Sr. Edvalson de Souza Martins, permita também dizer nós porque um dia fui pecuarista e abandonei por verificar que não era negócio. Governo Federal vem mostrando caminho mas creio eu, que a grande parte dos produtores não estão entendendo. Por favor deixe eu contar a minha estória, quando menino, isto mais de 50 anos atras, via o entregador de leite na porta da casa fazendo a sua entrega diária de leite, junto com o leite entregava também o queijo, manteiga doce de leite produzidos artesanalmente, verificava o preço que tinha um preço em relação ao comércio bem mais em conta e curiosamente perguntei ao leiteiro, a respeito, ele me disse: garoto se só ficar vendendo leite não consigo sobreviver, seguido de deixa de ser curioso. Um modelo de economia colonial mas foi praticamente extinguida depois dos anos 60. Instrumentos legais já existem para organizar este tipo de atividade para obter melhores resultados econômicos. Aproveitando do cabo ao rabo do boi, a pecuária será no futuro grande negócio para atendes as necessidades de alimento para o consumo de 9 bilhões de pessoas no mundo. Já não é para mim, devido a minha idade. Sou Médico Veterinário CRMVRO nº 0001 formado em Curitiba PR.
MATOZALÉM CAMILO

ITUIUTABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/09/2011

Caro Rafael,


Concordo com seu  brilhante artigo. Quero aproveitar seu tema para tecer alguns comentários sobre o mesmo. Eu acredito que a pecuária de leite merece atenção especial por parte dos governos (por ser tão grande e gerar tantos empregos). Não só a pecuária de leite, eu diria mais, o setor primário, produtor de alimentos, necessita atenção especialíssima. No entanto é uma ilusão muito grande acharmos que isso irá acontecer porque os governos serão bonzinhos e irão enxergar esta questão. Eles enxergam, mas jamais terão interesse em resolver por motivos obvios: alimento barato representa inflação baixa. Se não houver pressão e muita pressão, jamais um governante vai conceder algum benefício a uma categoria qualquer que seja. Enquanto os produtores de alimentos não acordarem e se unirem em grandes blocos, como fazem na Argentina, na França e em qualquer outro pais politizado esta questão de "preço de mercado" irá continuar massacrando os produtores nacionais. Veja o caso do Trigo, por exemplo, se não tomarem uma atitude drástica, dentro de pouco tempo, não haverá mais produtor de trigo no Brasil (principalmente no Paraná) onde a situação está calamitosa. Comprar trigo Argentino é bem mais barato do que comprar dos produtores brasileiros. Não por falta de tecnologia dos produtores paranaenses, mas sim pelo chamado custo Brasil que é altíssimo. As industrias que compram o trigo mais barato estão erradas ? Lógico que não. Elas têm é que comprar onde estiver mais barato mesmo. No caso do leite é igual. Quem importa, esta errado? Evidente que não. Estamos no mercado capitalista (mesmo que selvagem) e o correto é comprar onde estiver mais barato com boa qualidade.


Quem tem que regular tudo isso seriam os nossos governantes. Só que é contraditório, o governo quer alimento barato nas mesas dos consumidores, porque população bem alimentada reclama menos e deixa de "incomodar". Quem tem que forçar os governnos a tomarem medidas que protejam nossos produtores de alimentos do setor primário são as entidades de classe. Precisamos deixar desta idéia maluca de criticar os países que protegem seus produtores e começarmos a cobrar mais proteção para os nossos produtores domésticos. Dinheiro existe nos cofres públicos e se não for utilizado em ações sociais coletivas, pode ser que desapareça e ninguém sabe para onde vai. Desculpa interferir em sua linha de raciocínio, mas é importante deixar claro que não adianta somente aumentar a produção de leite. Temos que saber para onde este leite vai. Se todos os pequenos produtores resolverem aumentar e continuarmos com o mercado totalmente livre, dentro de 2 a 3 anos os preços praticados inviabilizarão a produção e o setor entrará em crise. Ainda bem que muitos não querem aumentar a produção, porque senão seria um deus nos acuda para escoar tanto leite. Temos tecnologia de sobra para aumentar o leite, porém falta muita política adequada.





att,





Matozalém Camilo Neto


Med.Veterinário


Educampo Ituiutaba MG
EDVALSON DE SOUSA MARTINS

GOIÂNIA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/09/2011

Nós produtores de leite, começamos com empolgação, muitos com especulação, todos na sua maioria, só conseguem ver a crise de produção, quando a vaca já foi pro brejo.Coitado dos pequenos produtores, que vivem da penúria do sol a sol, domingo a domingo, sem férias, sem esperamça, deposi de uma seca braba, coitado do produtor. Leite no Brasil, nunca deu lucro pro coitado do produtor.O médio e o grande produtor com a sua empolgação, esbanjando dinheiro, despesas enormes, custos  elevados, inseminação, investimento em tecnologias de ponta, ilusão do tamanho do mundo, começa os leiloes, fechado a atividade de leite. Muitos não querem mais nem para beber, me desculpem mais a ilusão esta chegando ao fim, meus sentimentos para aqueles que persistem  na atividade.
NAGATO NAKASHIMA

CANDEIAS DO JAMARI - RONDÔNIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/09/2011

Caro colega Rafael Cedric M Meneghini, também sou Med Vet CRMVRO 0001; colega está correto nas colocações. Não sei quantos anos tem o colega, eu tenho 68, e lembro muito bem como começou este modelo que temos, que não difere muito da de corte. Na economia de mercado o nobre doutor sabe que para tem uma boa receita tem que ter quantidade e qualidade. Porque o lucro por litro de leite é pequeno, assim quem produz 100 litros por dia e tem um lucro operacional de 5 centavo/litro encontrará dificuldade para se manter.

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