Estamos assistindo novamente o start da montanha russa do preço de leite, fato este confirmado através do artigo de autoria do Marcelo e da Marlizi, "Com produção reduzida, preços iniciam trajetória de alta", e com cartas de alto valor para análise sobre os sintomas que acometem a estrutura de produção e preços do leite no Brasil e mesmo nos países vizinhos.
O problema principal é que estamos sempre tratando dos sintomas e não do fator causal, ou seja, não queremos alterar a verdadeira causa, que é o descontrole da produção leiteira no Brasil e vizinhos.
Como garantir preços que remunerem o produtor com dignidade, em um cenário onde queremos o bônus sem ter o ônus? Como garantir lucratividade em um mercado com pouca ou nenhuma regulamentação de produção? Sim, queremos as benesses do livre mercado, onde cada um é livre para estipular seus limites de produção, ou seja, de montarmos projetos para duplicar, triplicar, quintuplicar a produção com pouca ou nenhuma preocupação sobre como se comportará o mercado. Alteramos toda uma estrutura primária de produção de toda uma região, e capacitamos milhares de novos produtores de leite em substituição aos ineficientes e inadequados ambientalmente produtores de suínos, sem nos preocuparmos se o mercado vai absorver este excesso de produção.
O problema é que o livre mercado ou livre iniciativa ou, em síntese, o capitalismo, é regulado por um simples mecanismo: quando há excesso de produção em relação ao consumo, os preços caem e só sobrevivem os mais eficientes.
Por outro lado existe o mercado com preços controlados com remuneração garantida (caso do Canadá) em que se assegura uma remuneração altamente gratificante, porém com um pequeno problema, o custo de alojamento de uma simples vaca e sua correspondente cota de produção gira em torno de R$ 25.000,00, ou seja, para aumentar 100.000 litros de produção ao ano é necessário investir R$ 250.000,00.
Qual dos mundos queremos? Os dois creio que seja impossível. Crescer o quanto quiser cada produtor e receber preços altamente remuneradores não possui nenhuma matriz econômica que possa sustentar. O que nos resta, visto que por temperamento preferimos a não regulamentação?
Creio que se buscamos um mercado livre, os únicos caminhos que nos restam a trilhar em busca de uma melhor remuneração são o da organização e do marketing institucional. A balança só pode ser alterada favoravelmente para o lado dos produtores se alavancarmos consistentemente o consumo de lácteos e principalmente o de produtos lácteos com alto valor agregado. Para isso precisamos nos estruturar com uma produção de leite com melhor qualidade, com um controle sanitário realmente eficiente, com uma fiscalização de fraudes e descaminhos tributários realmente efetiva, pois toda e qualquer notícia que atinja o produto Leite tem impacto direto no consumidor urbano.
Construir entidades fortes e representativas que possam dialogar pelos produtores, para aí sim estabelecer políticas para fortalecer o marketing institucional do produto Leite, para adequar nosso produto às exigências mundiais de qualidade sanitária e organoléptica é a cada dia mais necessário, pois caso contrário a cada ano vamos requentar o mesmo assunto, que é a inconstância do preço do Leite.