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Por que todas as atenções estão voltadas para Cancun

ESPAÇO ABERTO

EM 09/09/2003

2 MIN DE LEITURA

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Por Luciana Marques Vieira1

No dia 10 começa o encontro da Organização Mundial do Comércio em Cancun. O objetivo deste encontro, após a fracassada Rodada de Seattle em 99, é de traçar uma linha de ação para que os países membros negociem multilateralmente regras para o comércio e investimentos. Estas regras regularão o crescimento do comércio e a liberalização do acesso aos mercados. Hoje em dia, os 56 países mais ricos do mundo representam somente 16% da população, mas concentram 80% da riqueza mundial.

A agricultura já deixou de ser importante como atividade econômica para a maioria dos países europeus. Na Inglaterra, por exemplo, representa somente 1% do PIB e envolve 1% da população economicamente ativa. A atividade agrícola representa culturalmente uma identidade nacional e um atrativo turístico.

No entanto, os países desenvolvidos continuam investindo pesadamente em subsídios para financiar a competitividade (ou melhor, sobrevivência) de seus fazendeiros. O Banco Mundial calcula que uma vaca criada em um país desenvolvido recebe mais do que um fazendeiro africano ou indiano anualmente. A União Européia, por exemplo, subsidia em US$ 803 cada vaca por ano. Se este número já impressiona, o espanto só aumenta ao constatar que os EUA gasta US$ 1.057 por vaca e, no Japão, US$ 2.555 são pagos por vaca. Lembre-se que a renda per capita brasileira no ano de 2003 foi de US$ 2.850, pouco mais do que o valor recebido pela vaca japonesa!

Para o Brasil, o acesso aos mercados tornou-se uma condição chave para a sustentabilidade do desenvolvimento do agronegócio. O país tem alcançado sucessivos superávits agrícolas, mesmo que os preços unitários dos produtos estejam em queda. Porém, os mercados mais interessantes para os produtos brasileiros estão restritos por tarifas em valores que chegam ate 130%! O país tem todas as condições de ser líder vários sub-setores, como açúcar, café, frango, laranja e carne, desde que as regras do comércio sejam justas (Fair Trade). Já existem organizações que só comercializam produtos comprados direto do produtor rural para garantir sua renda e sobrevivência (veja o site www.fairtradefederation.com).

Se os resultados de Cancun não levarem a real liberalização das regras do comércio internacional, teremos que concordar com Joseph Stiglitz (prêmio Nobel em Economia e ex-presidente do Banco Mundial) que o sistema global de tomada de decisões não reflete os interesses e preocupações da maioria da população mundial. E que nenhum acordo talvez seja melhor que acordos injustos. Mas se os resultados forem promissores, a agricultura brasileira terá todas as condições de liderar o comércio internacional em diversos sub-setores. Vamos cruzar os dedos!
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1Luciana Marques Vieira é Professora de Comércio Exterior e Doutoranda no Dept of Agricultural and Food Economics, Inglaterra.

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JOÃO CARLOS DE CAMPOS PIMENTEL

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/09/2003

"Se os resultados de Cancun não levarem a real liberalização das regras do comércio internacional, teremos que concordar com Joseph Stiglitz (prêmio Nobel em Economia e ex-presidente do Banco Mundial) que o sistema global de tomada de decisões não reflete os interesses e preocupações da maioria da população mundial. E que nenhum acordo talvez seja melhor que acordos injustos. Mas se os resultados forem promissores, a agricultura brasileira terá todas as condições de liderar o comércio internacional em diversos sub-setores. Vamos cruzar os dedos!"

Prezada professora Luciana,

Eu realmente não entendi o uso do verbo no tempo condicional pela professora na frase " Se os resultados de Cáncun não levarem à .....teremos que concordar com Joseph Stiglitz" .

Portanto, permita-me realizar uma análise do vosso discurso para que a senhora possa, se desejar, diminuir essa minha incompreensão. Entendi que a senhora afirmou que se sentirá obrigada a concordar com o pensamento de Stiglitz se os resultados da reunião da OMC não forem favoráveis à liberalização do comércio mundial.

Eu estranho essa afirmação, especialmente por ser proferida por uma professora em estágio de doutoramento. Vou explicar meu estranhamento. Eu sempre pensei que pensamentos elaborados (de pessoas como o Prof. Stiglitz) devessem ser notáveis pela sua coerência - isto é, pela lógica interna que eles apresentam. Pensamentos asssim independem de fatos externos (e posteriores àqueles em que foi baseado sua construção) que o validem, que o façam se tornar verdade. Fazer Ciência é isto: criar uma estrutrura qde busca à verdade que explique os fatos antes que eles ocorram. Na minha opinião, a verdade do pensamento do prof. Stigliz independe dos eventos que estão ocorrendo ou vão ocorrer em Cáncun.

O pensamento e a atitude pessoal de Stiglitz têm tanta dessa coerência interna que ele é conhecido como Stigliz , "o economista justo", ou "o economista honesto". As pessoas com algum conhecimento dos negócios relacionados ao comércio mundial sabem que a posição do professor Stiglitz na denúncia da "captura" do FMI e do Banco Mundial pelos grandes investidores internacionais o levou a ser despedido do posto de vice-presidente senior do Banco Mundial.

É claro que qualquer pessoa pode discordar do trabalho do professor Stiglitz. Pode fazer isso em decorrência da defesa de seus interesses. A maior parte das pessoas em posição de força, dentro das grandes corporações e instituições criadas para defender seus interesss, faz isto. Qualquer pessoa pode continuar não concordando com o professor Stigliz caso ela - ou o grupo cujos interesses ela defende - acharem que esta posição é mais favorável aos seus interesses. Mas essa discordância não irá diminuir (ou aumentar) a verdade do pensamento do Prof. Stiglitz.

Aplicando seu conhecimento econômico ao mundo da realidade politica internacional, o Professor Stiglitz tem mostrado como as atividades políticas do FMI e do Banco Mundial são desenhadas para diminuir ou impedir o crescimento econômico dos países em desenvolvimento. Na minha modesta opinião, a razão subjacente é que se as outras nações não crescerem, "uma determinada nação" - pode crescer com mais facilidade pois haverá mais disoonibilidade de recursos (naturais, humanos, financeiros etc) e, não menos importante, de reserva de mercado para ela realizar esse crescimento. Isto ocorre porque, como dizem os economistas, os recursos mundiais são escassos e, no longo prazo, farão falta às futuras gerações da determinada nação imperial caso eles (os recursos) sejam utilizados pelas gerações atuais das outras nações. Não há mais necessidade do pensamento de Ricardo para chancelar essa política. É claro que nem todos os outros países concordam com essa política. Também nem todos os americanos do norte concordam ela, como mostra o trabalho de Stiglitz, de Ralph Nader, de Chomsky e de muitos outros interessado na criação de um mundo justo, seguro e sustentável dentro de um ponto de vista não só ambiental, econômico e cultural.

Minha leitura do pensamento de Stigliz mostra que a reunião da OMC em Cáncun seguramente irá fracassar pois a luta por posições de força dentro do comércio mundial está crescendo numa velocidade cada vez maior. E é claro que se um determinado setor econômico - dentro da nação específica - crescer em uma velocidade diferencial em relação aos outros setores econômicos dessa mesam nação, então esse setor seguramente estará enriquecendo em relação aos outros grupos deentro de outros setores econômicos mundiais.
Também é claro para mim que se a agricultura brasileira depender de "cruzar os dedos" para "liderar o comércio internacional em diversos sub-setores", então ela estará perdida. Não acho que os boiadeiros velhos de nem os sojicultores modernos deste " Brazilzão velho de Meu Deus" acreditam mais nessa prática de "cruzar os dedos". Desde Diadorim e Riobaldo, os homens do campo deixaram de acreditar nessas artes.

Desta maneira, peço licença para sugerir que, além das obras econômicas do professor Stiglitz, a brilhante professora leia rapidamente as obras políticas do Professor Noam Chomsky (do Massachusetts Institute of Technology). Outra sugestão é para a senhora entrar em contato com Lori Wallach, moça formada em Direito Comercial por Harvard e que é diretora de comércio global da organização americana Public Citzen. Outra ainda é ler "Behind the Scenes at the WTO", de Fatoumata Jawara e Ailleen Kwa. Este livro conta os bastidores da OMC, as intimidações, chantagens e atropelamentos das regras que se tronam inconvenientes para os interesses dos países amis fortes.

Vai ver que é preciso muito mais que cruzar os dedos para a agricultura brasileira sobreviver na mão de brasileiros, quanto mais liderar o comércio internacional de diversos sub-setores.

Atenciosamente,
João Pimentel, médico veterinário


<b>Resposta:</b>Caro Dr. João Pimentel,

Obrigado pelas colocações feitas em sua carta quanto ao meu artigo sobre a importância do encontro da OMC em Cancun. Acho que foram extremamente pertinentes ao tema tratado.

Concordo com seu parecer final de que é preciso muito mais do que cruzar os dedos para o sucesso do crescimento do agronegócios brasileiro! A intenção foi demonstrar, num pequeno artigo, certo otimismo e confiança no desenrolar do encontro de Cancun. Talvez um otimismo muito mais baseado em "wishful thinking" do que na realidade... Reconheço que varias ações neste sentido já vêm sendo implementadas e muitas ainda surgirão. E este parece ser um tema promissor para um próximo artigo!

Quanto aos trabalhos do Prof. Stiglitz, tenho como livro de cabeceira "Globalization and its discontents", e concordo quanto a coerência lógica e as evidências empiricas de seus argumentos. Acho, entretanto, que as soluções passam pela OMC, que hoje estabelece "as regras do jogo". E temos que jogá-las. Ou não?

Finalmente, agradeço pelas referências indicadas em sua carta, tenho certeza que serão de extrema valia para o desenvolvimento do meu doutorado.

Cordialmente,
Luciana Vieira

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