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O ótimo é inimigo do bom

POR MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

ESPAÇO ABERTO

EM 15/06/2007

4 MIN DE LEITURA

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Em editorial do MilkPoint de 03/02/2005, Marcelo Pereira de Carvalho dizia que via a iniciativa privada, principalmente os grandes laticínios, se movimentar no sentido de adequarem seus fornecedores às normas, mas mesmo nesse grupo de empresas, ele percebia que haviam dúvidas, pois "tenho recebido telefonemas e e-mails de grandes laticínios simplesmente me perguntando como está a questão da IN 51, se vai ter mesmo"... ou seja, havia algo errado no processo de comunicação com essas empresas, o que se dirá das centenas de pequenos laticínios por esse Brasil afora, muitos dos quais inclusive vendem o leite captado para as empresas de maior porte.

O editorial mostrava que problema de comunicação com o mercado existia também em relação aos produtores, e que havia a distorção dos conceitos relativos a IN 51 e o pagamento por qualidade. Marcelo Carvalho dizia que tinha lido que a IN 51 permitiria o pagamento por qualidade no Brasil, e que essa era uma confusão bastante comum, pois uma coisa não tem, a princípio, nada a ver com a outra. Lei é lei, é obrigatório cumprir. Pagamento por qualidade é um estímulo à melhoria da qualidade, com base nos parâmetros de interesse do mercado.

Como o Ministro Pratini de Moraes assinou a IN 51 em setembro de 2002 e o editorial é de fevereiro de 2005, essa confusão e falta de conhecimento existia passados mais de 2 anos da criação dessa instrução normativa.

E o que nos preocupa na Associação dos Produtores de Leite do Estado de São Paulo - Leite São Paulo, é que em junho de 2007, nos parece que ainda há confusão e falta de entendimento com relação a IN 51, pois tenho ouvido, e até lido, que os leites tipo B e C iriam acabar, ficando tudo como leite pasteurizado e que a única distinção seria a classificação com relação ao teor de matéria gorda (integral, padronizado, semidesnatado e desnatado). Até ouvimos dizer que há laticínios que não encomendaram novas embalagens para o leite tipo B em função de que esse tipo de leite teria sua comercialização extinta pela IN 51.

Na realidade a IN 51 definiu apenas o fim da comercialização para o tipo de leite tipo C, a partir de 01/07/2005 nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e até 01/07 de 2007 nas Regiões Norte e Nordeste, para ser substituído por um tipo de leite de melhor qualidade, que recebeu a denominação de leite pasteurizado.

Aliás, na IN 51 fica bem claro isso, quando caracteriza o alcance e o objetivo do Regulamento de Identidade e Qualidade do Leite Pasteurizado: "fixar a identidade e os requisitos mínimos de qualidade que deve ter o Leite Pasteurizado, sendo permitida a produção de outros tipos de leite pasteurizado desde que definidos em regulamentos técnicos de identidade e qualidade específicos".

É bastante claro que o Leite Pasteurizado que substitui o leite tipo C é apenas o padrão mínimo de qualidade para leite pasteurizado, não determinando o fim da comercialização de leite pasteurizado tipo B e A, o que seria absurdo, pois esses leites têm qualidade superior ao do Leite Pasteurizado, e por isso a própria IN 51 no seu bojo traz os Regulamentos de Identidade e Qualidade dos leites pasteurizados tipo A e B sem determinar o fim da comercialização dos mesmos.

A confusão e a falta de entendimento dessa questão levaram os laticínios e as cooperativas a praticamente não fazer diferenciação sensível de preço entre o leite pasteurizado tipo B e o Leite Pasteurizado, limitando a colocação do produto e desestimulando o produtor rural a credenciar ou manter o credenciamento de seus estábulos como produtores de leite tipo B. E o preço dessa confusão se faz sentir no momento que programas de governo para fornecimento de leite pasteurizado pretendem utilizar leite tipo B, a oferta é bastante limitada e, conforme os volumes e prazos para início de fornecimento, podem surgir dificuldades de atender a demanda, pois o credenciamento de novos produtores rurais para produzir leite B e o aumento da produção dos já credenciados exige um tempo mínimo. Esperamos que haja entendimento da indústria do leite pasteurizado dos governos para viabilizar o uso de leite pasteurizado tipo B nesses programas, permitindo o acesso das populações carentes a um leite de melhor qualidade. Uma sugestão para que isso aconteça é que esses programas de governo para distribuição de leite permitam no início o Leite Pasteurizado mas com um prazo definido para este ser substituído pelo leite pasteurizado tipo B.

É obvio que seria ótimo se tivéssemos no Brasil um único tipo de leite pasteurizado com a qualidade igual ou até mesmo superior a do leite pasteurizado tipo B.

Mas pensar em substituir um leite pasteurizado de qualidade superior por outro, que apesar de ter qualidade superior ao praticamente extinto leite tipo C, naturalmente não favorecerá em nada a melhoria da qualidade do leite, e até desestimula o produtor, pois evidencia que o mercado e a indústria não distinguem a diferença de qualidade no leite.

Uma vez que a IN 51 já eliminou o leite pasteurizado tipo C que era de baixa qualidade e garantiu um padrão o mínimo de qualidade para o Leite Pasteurizado, o bom é tomar as medidas para incentivar o consumo do leite tipo B, de forma que gradativamente este vá absorvendo o mercado do Leite Pasteurizado, de forma que em alguns anos possamos efetivamente ter a totalidade do leite pasteurizado consumido no Brasil com o máximo de qualidade.

Terminamos este artigo conclamando o esforço dos governos, da indústria e dos produtores, visando um perfeito entendimento da IN 51 e bom senso, para que as nossas ações possam efetivamente beneficiar toda a cadeia do leite e o desenvolvimento econômico e social do País. E nesse sentido é importante ter em mente que muitas vezes o ótimo é inimigo do bom!

MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

Membro da Aplec (Associação dos Produtores de Leite do Centro Sul Paulista )
Presidente da Associação dos Técnicos e Produtores de Leite do Estado de São Paulo - Leite São Paulo

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SEDENIR ROSOLEN

VESPASIANO CORREA - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/06/2007

Prezado Marcello de Moura Campos Filho,

Muito apropriado este artigo. Realmente percebe-se que os elos da cadeia produtiva do leite não assimilaram os conceitos da IN 51. E, o que é pior, há claramente um desestimulo por parte do produtor de credenciar sua propriedade para prodição de leite tipo B. Creio que um dos gargalos esteja na capacidade da industria leiteira em coletar e industrializar diferentes tipos de leite.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Sedenir

Obrigado pelo comentário.

Se o desestímulo para a produção de leite B for a capacidade da indústria leiteira em coletar e processar diferentes tipos de leite, e a opção for desestimular a produção do leite de melhor qualidade e trabalhar com um leite de menor qualidade por ser encontrado em maior volume no momento, então realmente estaríamos frontalmente contra o espírito da IN 51 que é melhorar a qualidade do leite.

Acredito que possa até haver dificuldade de algumas indústrias em coletar e industrializar dois tipos de leite (leite pasteurizado e leite pasteurizado tipo B), mas acredito também que essas dificuldades são equacionáveis e passíveis de serem resolvidas, permitindo que com o leite tipo B venha a se tornar o maior volume e acabando por permitir elevar de forma geral a qualidade do leite pasteurizado, que é o espírito da IN 51.

Um abraço

Marcello
ALUÍZIO LINDENBERG THOMÉ

FARIA LEMOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/06/2007

Prezado Marcello,

Na Região de confluência Estados RJ, MG e ES, que é a área onde tenho melhor conhecimento, realmente a indústria de laticínios não tem feito o menor esforço visando a melhoria da qualidade do produto de seus fornecedores. No máximo, recolhem amostras eventuais que são enviadas à Embrapa JF, mas o retorno disso ao produtor é praticamente nulo.

São algumas associações de produtores, a exemplo da Associação de Produtores de Faria Lemos, que têm feito a diferença. Por iniciativa própria, os associados são cobrados e multados por falta de qualidade, e as negociações da Associação com os fornecedores passam obrigatoriamente pelo controle e pela melhor remuneração por qualidade, ainda que em uma versão mais generalista, com menos parâmetros.

E na atual carência de matéria prima, está todo mundo preocupado mesmo é com volume.

Mas aqui praticamente não existe mais produção de leite ensacolado especialmente "B e A".

Entretanto, embora não tenha muito conhecimento dessa questão, que com o aprimoramento lento mas inexorável do leite industrial (esse deveria ser o destino de todo o leite apenas "pasteurizado" - antigo "C"), as denominações para o "leite in natura para consumo diário" também deveriam ser modificadas, pois a percepção do mercado consumidor, uma vez que não haverá mais um leite "C", poderá ser de que o leite "B" é um leite inferior mesmo ao leite "pasteurizado".

Do ponto de vista da indústria o pagamento por qualidade realmente não tem porque distinguir o leite B, uma vez que as normas de qualidade a serem exigidas no longo prazo passarão a ser até mais restritivas do que as presentemente exigidas ao leite "B".

Do ponto de vista comercial, no presente pode ser até justificável e louvável que governos pretendam fornecer leite "B" em seus programas sociais, mas com a crescente implantação da IN 51, essa postura poderá ser confundida com reserva de mercado, uma vez que, cumpridas e fiscalizadas integralmente, as normas da IN 51 deverão resultar na produção de um leite "pasteurizado" com a mesma qualidade do leite "B". Pelo menos na visão do leigo.

Então, porque continuar com o leite "B"?

Cabe aos produtores responder essa pergunta com clareza, esclarecendo ao mercado e a opinião pública no longo prazo, enaltecendo qualidades que futuramente não serão mais são facilmente percebidas. Pois se o leite "pasteurizado" cumpre todas as normas internacionais de qualidade e a fiscalização sanitária é eficiente, qual a diferença?

Nós sabemos que isso é quase uma utopia, mas saberá o consumidor?

Abraços, Aluízio.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Aluízio

Agradeço suas considerações, que me permitem complementar o que coloquei no artigo.

Você diz em seu comentário que do ponto de vista da indústria o pagamento por qualidade realmente não tem porque distinguir o leite B, uma vez que as normas de qualidade a serem exigidas no longo prazo passarão a ser até mais restritivas do que as presentemente exigidas ao leite "B".

Diz também que na região de confluência dos estados RJ, MG e ES, que é a que você conhece bem, realmente a indústria de laticínios não tem feito o menor esforço visando a melhoria da qualidade do produto de seus fornecedores, e que estão mais interessadas em volume.

Ora, nessas duas colocações fica evidenciado o alerta de que realmente o ótimo é o inimigo do bom. Como disse, seria ótimo se tivéssemos um único tipo de leite pasteurizado, atendendo a todas as normas internacionais e que assegurasse a máxima qualidade. Mas infelizmente não temos, e o Leite Pasteurizado definido na IN 51 (e que eliminou o leite tipo C) é apenas o padrão mínimo exigido. Para que cheguemos a que todo leite pasteurizado produzido tenha essa máxima qualidade, o bom seria que os governos e indústria incentivassem o leite pasteurizado tipo B, que realmente tem um padrão superior ao mínimo exigido.

Para produzir leite tipo B a IN 51 faz exigências específicas para garantir a maior qualidade do produto, relativas à indústria, ao produtor e à ao leite cru refrigerado. Os estabelecimentos industriais e rurais para, respectivamente, poder beneficiar e produzir leite tipo B, que tem qualidade superior ao Leite Pasteurizado tem que estar devidamente autorizados pela inspeção federal para tal fim. No caso do produtor, a IN 51 faz exigências específicas com relação às instalações do estábulo e da dependência para ordenha, à sanidade do rebanho e mesmo com relação à higiene da produção, que não são feitas para o Leite Pasteurizado.

E exigir leite tipo B em programas de governo não pode de forma nenhuma considerada como reserva de mercado, pois é livre o credenciamento de indústrias e produtores para produzirem leite tipo B. Naturalmente como até o momento a realidade é que efetivamente houve pouco interesse em promover a qualidade do leite, a indústria, e principalmente os produtores rurais deixaram de ter interesse em produzirem esse leite de melhor qualidade. Por isso no momento a oferta de leite tipo B é limitada e por isso sugeri que os governos, ao exigir o leite tipo B, para assegurar a melhor qualidade do leite nos seus programas, permitam inicialmente por um prazo limitado o uso do Leite Pasteurizado Integral por um prazo definido, findo o qual todo o leite fornecido deveria ser tipo B. Esse prazo de carência permitiria a indústria e seu os produtores se ajustarem e fazer os credenciamentos exigidos pela inspeção federal.

No meu ponto de vista não cabe ao produtor esclarecer ao consumidor por que continuar tomando o leite pasteurizado tipo B. Esses esclarecimentos, e que passam pelo nível de qualidade superior do produto, cabem aos governos esclarecendo aos beneficiários dos programas e à opinião pública e às indústrias que colocam o leite tipo B à disposição do consumidor. Se governos e indústria não tiverem interesse em promover leite pasteurizado de melhor qualidade, por que os produtores rurais deverão fazê-lo?

Utopia para mim é esperar que o leite no Brasil possa atingir padrões máximos de qualidade, se colocando ao nível das normas e padrões internacionais exigidos pelos países desenvolvidos, se os nossos governos e as nossas indústrias não mostrarem efetivamente de forma concreta o seu interesse em promover o leite de melhor qualidade. E digo mais, se esse interesse não for claramente demonstrado, o percentual do leite que atingirá os padrões da IN 51 poderá ficar bem abaixo das expectativas e não se pode esquecer que mais de 30% do leite produzido no Brasil é informal, ou seja, não atende nenhuma norma.

No meu entender o leite pasteurizado tipo B só deveria ser extinto quando o Leite Pasteurizado (que eliminou o leite tipo C) tiver sua especificação acima do tipo B. Face a extinção do leite tipo C, para que o consumidor perceba a diferença de qualidade o marketing nos oferece muitas possibilidades para essa distinção. Por exemplo, poderíamos usar para os leites de qualidade superior a designação Premium associado à classificação leite pasteurizado tipo A e leite pasteurizado tipo B.

Como você, muitos produtores sentem que há muito tempo se vem falando em melhorara a qualidade do leite mas a ação é diferente do discurso, e só há interesse por volume. Se realmente os governos e indústria não começarem a agir para que efetivamente se melhore a qualidade do leite, até o discurso ficará desacreditado.

Um abraço,

Marcello de Moura Campos Filho
CLEBER MEDEIROS BARRETO

UMIRIM - CEARÁ

EM 16/06/2007

Sr. Marcello,

Parabéns pelo artigo, que além de esclarecedor, procura preservar acima de tudo a imparcialidade, virtude esta escassa nos nossos dias, principalmente numa cadeia produtiva que leva vários elos a praticar o comportamento oportunista em nome do "lucro" fácil, abusandoda boa fé da maioria de nós que vivemos no campo.

Gostaria de aproveitar o momento para comentar sobre a carência de informação aqui pelo Ceará. A vigoração da IN 51 no NE tem levado muitos técnicos contratados por empresas de insumos e equipamentos a se utilizar de um simples e importante instrumento, muitas vezes de forma distorcida em nome da venda fácil de seus produtos. Não somos contra o mercado, o lucro é sagrado.

Entretanto, esse tipo de comportamento em nada ajuda um setor que vem a duras penas tentando a sua profisionalização. O recado também serve para os poucos laticínios aqui existentes, os quais nos geram dúvidas sobre a real vontade de profissionalização do setor, pois como já vimos num passado recente em outras regiões do país com pecuária de leite mais avançada, é patente o oportunismo por eles praticados quando da aquisição da matéria-prima leite.

Entendemos que não precisamos incorrer nas mesmas falhas que como já demonstrado só trazem atrasos para o proceso como um todo.

Atenciosamente,

Cleber Medeiros Barreto
Zootecnista/Produtor de leite de vaca

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Cleber

Obrigado pelos comentários. Se a indústria teve comportamento oportunista se apropriando de "lucro fácil" não foi apenas por causa da boa fé dos prodututores, mas principalmente por omissão e desumião da categoria, que não tem cobrado as informações e atitudes de suas lideranças e dirigentes.

A implantação da IN 51 é importante para todo o setor leiteiro e não é admissível que seja usada indevidamente por empresas para vender insumos e produtos.

Realmente para que rompamos o atraso do setor leiteiro é realmente importante que, todos os elos, principalmente a indústria e produtores, se entendam, cada lado procurando ver os problemas da outro, pois para o setor não interessa achar "bodes expiatórios", mas sim resolver problemas para que os mesmos não se repitam no futuro.

Um abraço

Marcello

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