No entanto, quando se lança mão de altas tecnologias, deve-se levar em consideração, além do retorno econômico, o risco inerente a esses sistemas.
Com o aumento da especialização do rebanho, tem-se o aumento da capacidade de resposta em produtividade. Por outro lado, há uma maior utilização de concentrado. Num cenário como o do ano de 2007, a situação é favorável, pois apesar de o preço médio dos insumos concentrados ter aumentado, o incremento no preço do leite foi compensatório.
Segundo especialistas do setor, tudo indica que 2008 será um ano de preço bom para o leite, porém com menos chance dos elevados picos ocorridos no ano anterior. Em contra partida, o custo com alimentação tende a ser elevar, pois já no início do período constatou-se um aumento significativo nos preços dos adubos e minerais, principalmente os fosfatados. Em relação aos cereais, estes já se encontram 50% mais caros comparados com 2007 em algumas regiões, sobretudo milho e o farelo de soja, principais componentes da ração concentrada, cujos preços iniciaram 2008 com 35% de aumento frente ao ano passado.
Embasado nesse contexto, realizou-se um estudo com um grupo de produtores, os quais são assistidos há mais de sete anos pelo Projeto Educampo na região do Triângulo Mineiro. Foram analisadas as interações entre o preço médio anual do leite e do concentrado ao longo desse período, em função da margem líquida/área (Margem Líquida = Renda Bruta - (Custo operacional efetivo + Depreciações + Pró-Labore do Administrador)).
Foram realizadas 5.000 simulações com as séries históricas das variáveis de entrada (preço do leite e concentrado) em resposta a margem líquida/área, usando como base o custo de produção médio do ano de 2007. Na tabela 1, encontram-se os indicadores técnicos e econômicos dos produtores nesse período.
Tabela 1: Indicadores técnicos e econômicos do grupo de produtores do Projeto Educampo, na região do Triângulo Mineiro, inerente ao período de janeiro a dezembro de 2007, dados corrigidos para o IGP-DI: 12/2007.
Fonte: CPDEducampo.
Dentro das séries históricas, os preços foram corrigidos para o IGP-DI de dezembro de 2007. O valor mínimo anual do preço do leite foi 0,596 e o máximo, 0,803 R$/L. No tocante ao concentrado, esses valores oscilaram entre 0,542 e 0,683 R$/kg. Assim, em conformidade com o comportamento de mercado nos últimos sete anos, e diante do custo médio apresentado, a probabilidade de o empresário ter uma margem líquida negativa é de 14,58%, ou seja, ele pode até continuar produzindo mas corre o risco de descapitalizar ao longo do período (veja dados na tabela 2).
Tabela 2: Probabilidade dos diferentes valores da margem líquida/área de acordo com a simulação dos preços de leite e concentrado.
Fonte: CPDEducampo.
É incontestável que o ano de 2007 foi o divisor de águas na pecuária leiteira. Mesmo que tenhamos um cenário pessimista, não será tão ruim quanto aos que tivemos alguns anos atrás. Os resultados positivos no último período, para os produtores em questão, decorrem da maior média de preço de leite da história e de um valor de concentrado médio próximo do valor mínimo discutido anteriormente.
Por essa razão, a variável de estudo escolhida foi a margem líquida, que é um indicador de médio prazo, que, se positivo, significa que o empresário conseguiu cobrir os desembolsos diretos (custo operacional efetivo), as depreciações de máquinas, benfeitorias e forrageiras, além de remunerar a mão-de-obra familiar. Dessa forma, consoante se observa na tabela 2, a probabilidade dos valores serem próximos dos 587,11 R$/ha do ano passado, fica na casa dos 20,58% (estrato de 400 a 600 e acima de 600).
Afirmar que a chance da margem líquida/área ser negativa é baixa ou ser acima de 400,00 R$/ha é alta é muito relativo, pois vai depender da aversão ao risco de cada produtor. O que se pode concluir é que não poderemos conduzir a atividade do mesmo modo que do ano passado.
Maior ênfase no planejamento e, principalmente, no gerenciamento, serão imprescindíveis para o aumento da rentabilidade. O produtor não pode esquecer que sua unidade produtiva, a vaca, é um animal ruminante, o que lhe proporciona uma enorme flexibilidade na alimentação. Assim, deve estar atento às oportunidades do mercado, visando a realização de compras estratégicas de insumos e a maior utilização de subprodutos.
É nesse ponto que o planejamento faz a diferença, pois caso não se saiba da necessidade de concentrado ao longo do ano, não há como adquirir a quantidade certa; se não se faz uma previsão de fluxo de caixa, não há como comprar grandes quantidade na época de melhor preço; se não faz cotações de insumos, não se ganha na compra, não aproveitando a relação de troca.
Enfim, diante de um cenário de custos mais elevados e preço de leite ainda nebuloso, devem, técnicos e produtores do setor, focar no equilíbrio dos custos de produção e na produtividade condizente com os sistemas vigentes, e para isso, o gerenciamento da empresa rural é uma ferramenta fundamental na condução dos trabalhos.