Desde que tivemos conhecimento de que existiam tratativas no sentido de integração dos setores lácteos do Brasil e da Argentina, ficamos preocupados e nos posicionamos que deveria haver uma discussão do MAPA com o MDCI, que comandava negociações com a Argentina nessa direção, no sentido de se assegurar que as discussões externas só deveriam prosseguir depois de ampla discussão interna, e sugerimos uma Reunião Extraordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados do MAPA para começar a discussão dessa questão.
Os motivos da nossa preocupação fundamentam-se na diferença das realidades dos setores lácteos dos dois países, principalmente com relação à pecuária de leite, e os expusemos no artigo "Câmara do MAPA discutirá integração dos setores lácteos do Brasil e Argentina", publicado em 31/03/2010, no Espaço Aberto do MilkPoint.
Esse posicionamento foi aceito, tendo sido realizada reunião com o MDCI no dia 17 de março passado e a Reunião Extraordinária da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados do MAPA, para discutir a integração dos setores lácteos dos dois países foi realizada no dia 22 de abril passado.
Nessa reunião, inicialmente o senhor Roberto dos Reis Alvarez, da ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, explicou que a questão nasceu em decorrência de reunião dos presidentes dos dois países, e com objetivo de uma ação conjunta, envolvendo o setor privado, para atuação em terceiros mercados. Explicou que a integração prevê ações com relação a investimentos e cooperação técnica, e que não tem por objetivo interferência em relações comerciais de curto prazo, e que o setor leiteiro é extremamente sensível. E disse que a discussão com a Argentina relativa à integração de setores produtivos terá continuidade dia 06 de maio próximo numa reunião a ser realizada em Buenos Aires, e que o objetivo dessa reunião será discutir o interesse do setor lácteo brasileiro numa integração com o setor lácteo argentino.
Aberta a discussão, colocamos a posição da Leite São Paulo:
A integração entre os setores lácteos do Brasil e da Argentina, embora importante, não é urgente e deve ser tratada com todo o cuidado, principalmente para não prejudicar os produtores de leite dos dois países, especialmente os brasileiros que estão numa situação muito mais frágil do que os argentinos.
Nesse sentido entendemos que uma integração dos setores lácteos brasileiro e argentino deveria estar voltada para aumentar a competitividade da indústria e da pecuária leiteira nos dois países, bem como para colaboração mútua para aumento e diversificação de exportações para outros países.
Uma integração dos setores lácteos não deve ter por objetivo solução de relações comerciais entre os dois países existentes atualmente, mas sim a complementariedade visando o crescimento desses setores para terceiros mercados no futuro próximo, bem como assegurar que essa integração seja sustentável a longo prazo.
Várias entidades presentes se manifestaram, evidenciando possíveis vantagens mas também salientando muitos problemas para a integração, entre os quais destacamos a questão de realidades cambiais diferentes e o fato da Argentina constantemente mudar sua posição em acordos devido a pressões internas decorrentes da situação econômica.
O senhor Roberto da ABDI disse que, independentemente dos problemas que possa haver no Mercosul, o que temos que fazer é responder a seguinte pergunta: interessa ao setor lácteo brasileiro uma integração com o setor lácteo argentino?
Foi feita então a proposta de agendar um Workshop com os argentinos para discutir essa questão. A Leite São Paulo sugeriu que antes do Workshop com os argentinos fosse feito um Workshop interno para discutir o assunto. A sugestão foi aceita, e a ABDI em conjunto com o MAPA e com apoio da CNA, CNA, SINDILAT e FIESP, organizarão esse Workshop interno. E na reunião do dia 06 em Buenos Aires será levada essa posição.
É preciso agora que as entidades que representam setores dentro do nosso setor leiteiro promovam a discussão dessa questão com seus associados, para que esse Workshop interno produtivo e o que vier a ser decidido seja o melhor para a nossa pecuária leiteira. Face à fragilidade da pecuária leiteira brasileira, esperamos que a CNA, OCB, cooperativas e associações de produtores promovam esse trabalho preparatório para que possam levar ao Workshop os anseios e preocupações dos produtores que representam.
A Leite São Paulo, além da discussão com seus associados, está também aberta aos leitores desse artigo, que queiram enviar cartas com sugestões e considerações sobre a integração dos setores lácteos do Brasil e da Argentina, para discussão da questão, colaborando dessa forma com a posição que levaremos ao Workshop interno.