A pecuária bovina tem grande participação nas emissões antropogênicas de gases efeito estufa (GEE), tanto de corte quanto de leite. A baixa produtividade da produção de leite no Brasil coloca a mesma dentre aquelas que possuem o maior potencial poluidor. Entretanto esse mesmo fator é uma grande oportunidade de redução das emissões.
De acordo com o relato da FAO (2006) a produção animal contribui com 14% das emissões antropogênicas de GEE globais, sendo que só a pecuária bovina representa 11% do total. Em relação às emissões geradas pela agricultura a pecuária bovina representa 61% e as demais criações animais contribuem com 19%.
Os gases emitidos pelos animais ruminantes que contribuem para o aquecimento global são principalmente três: metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e gás carbônico (CO2). A emissão de metano proveniente do seu processo digestivo atinge cerca de 86 milhões de toneladas anuais, representando 80% de toda a emissão de metano pela agricultura e 35-40% do total de emissões antrópicas de metano (FAO, 2006).
No Brasil, segundo o relatório do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT, 2004), cerca de 92% das emissões totais de metano do setor agropecuário são decorrentes da fermentação entérica. O restante resulta do manejo de dejetos dos animais, da cultura do arroz irrigado e da queima de resíduos agrícolas.
Pode-se perceber na Tabela 1, no entanto, que a participação do gado de leite no total das emissões da agropecuária é de 13% se somadas as emissões da fermentação entérica e do manejo dos dejetos. Esse fato se deve principalmente à diferença do tamanho do rebanho entre as atividades leiteira - 13% do rebanho segundo o Censo de 1996 - e de corte - 87%.
Comparativamente à Nova Zelândia, levando em consideração apenas as emissões de metano, o potencial poluidor da produção brasileira é de 15 a 70% superior. Enquanto naquele país a emissão é de 6,2 kg CO2 eq./SL, no Brasil esta fica entre 6,9 (gado holandês) e 10,1 kg CO2 eq/SL (gado mestiço) - Tabela 2.
No que diz respeito as emissões de N2O, estas também são predominantemente advindas do setor agropecuário, que respondeu por quase 92% das emissões totais deste gás em 1994. Dentro deste setor, a decomposição do esterco dos animais em pastagem é a maior responsável pelas emissões (quase 40%).
No ranking brasileiro das atividades que mais contribuem para o aquecimento global, excluindo as emissões provenientes da mudança de uso do solo (inclusive as queimadas), a pecuária leiteira ocupa a quinta posição, com pouco mais de 40 mil Gigagramas de carbono equivalente. Esse valor é muito próximo aos de setores considerados tradicionalmente poluidores, como o de transporte e o de siderurgia; entretanto, muito distante da pecuária bovina de corte (primeira no ranking), como se pode ver na tabela 3. A de se considerar que a mudança de uso do solo é responsável por mais da metade das emissões brasileiras. Assim sendo, no total o gado de leite contribui com cerca de 3%.
Pouco é tratado na literatura a respeito das emissões de CO2 da pecuária. Isso porque se considera que o seqüestro do pasto é equivale ao emitido de CO2 pelo gado. No entanto, atualmente tem se feito um grande esforço para se calcular o balanço liquido das emissões. Ou seja, definidas as metodologias de calculo das emissões, os pesquisadores têm se voltado para possíveis sumidouros de carbono no sistema, como a fixação de carbono no solo promovido pela pastagem. Alguns estudos indicam que, quando a pastagem for bem manejada, pode-se fixar no solo 780 kg CO2 eq./ha na MOS (matéria orgânica do solo), número muito próximo ao emitido por hectare no setor leiteiro, algo em torno de 771 kg CO2 eq./ha, na média.
Sabe-se que no Brasil a pastagem recebe pouco investimento, encontrando-se muitas vezes degradada. Aí está a grande oportunidade do setor reduzir o seu potencial poluidor. A melhora deste fator fundamental na pecuária leiteira pode reduzir as emissões do setor por unidade de produção, gerando mais litros de leite por vaca ou maior teor de sólidos no leite, além de promover o aumento da captura de carbono pelo solo.
Tabela 1 - Emissões de CH4 da agropecuária em 1994.
Fonte: Baseado em MCT, 2004.
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Tabela 2 - Emissão de GEE na atividade leiteira no Brasil e em alguns países selecionados por sólidos no leite.
Fonte: Brasil - elaborado com dados de Primavesi et. al. (2004); NZ e RU - extraído de Saunders & Barber (2007).
Tabela 3 - Matriz de emissões de CO2 por setor de atividade da Matriz Insumo Produto (MIP) de 1996 (em Gg de CO2 equivalente)
Fonte: FERREIRA e ROCHA,T (2004).
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(Este artigo foi publicado originalmente no Boletim do Leite de maio de 2008).
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