Na formação de custos, em todos os negócios, deve-se considerar o custo de oportunidade. Em rebanhos de corte pode-se comparar a lucratividade obtida com a produção de bezerros e bezerras "brancas" (na maior parte dos rebanhos brasileiros) ou produtos de cruzamento industrial com a produção de bezerras leiteiras F1 (Holandês x Zebu), muitas vezes mais do que meio sangue, usando, várias vezes, as mesmas matrizes como barrigas ou "fôrmas".
A despeito do melhor grau de sangue a ser usado nas diversas condições brasileiras, é fato que há grande demanda por fêmeas F1 (Holandês x Zebu) e que as matrizes gir produzem bezerras de maior liquidez; entretanto, surgem algumas perguntas:
1) Onde conseguir um número significativo de fêmeas gir a serem usadas como matrizes ou "fôrmas"?
2) Conseguindo as matrizes, estaremos sujeitos a preços de venda conseqüentes ao bom momento da raça gir?
3) Essas matrizes gir têm histórico de seleção para leite?
4) Se estamos comparando a lucratividade da atividade de cria para "corte" x cria para "leite", pensamos em estação de monta com inseminação artificial, de curta a média duração. Desta forma, como se comportam matrizes gir?
Acredito que as respostas nos levam a pensar em utilizarmos, como matrizes ou "fôrmas", vacas azebuadas de "orelha pesada" (Giradas, Guzeratadas, Indubrasiladas e mestiças Tabapuã), com a sintonia de que muitos produtores têm obtido sucesso com matrizes ou "fôrmas" Aneloradas em programas de inseminação artificial.
A escolha dos touros tem sido norteada pela crença de que a rusticidade será dada pela matriz ou "fôrma" e a produção de "muito" leite pelo macho; entretanto, não podemos esquecer que touros muito leiteiros tendem a produzir bezerras de piores características fenotípicas e de menor vida útil, o que vai contra os anseios dos nossos clientes que produzem leite exclusivamente em pastagens ou com baixa suplementação concentrada, desafiando diariamente a reprodução, pernas, cascos e úbere das fêmeas. Touros muito leiteiros e de alta prepotência genética produzem bezerros F1 (Holandês x Zebu) de difícil colocação no mercado de recria. Na escolha do sêmen, não podemos pensar somente em leite, negligenciando o tipo leiteiro, bem como não há gordura para queimar com doses de sêmen com valores muito altos.
Uma vez gestantes, parindo e desmamando, o produtor de bezerros e bezerras F1 (Holandês x Zebu) tem em suas mãos os produtos para a venda. Qual será o valor justo para a comercialização?
Algumas considerações:
1) Bezerros e bezerras Holandês x Zebu são menos adaptados ao ambiente do que os produtos anteriores ("brancos") e, por isso, representam maiores custos com controle parasitário e mão-de-obra, com conseqüente menor ganho de peso;
2) Na produção de bezerros e bezerras Holandês x Zebu tem-se a figura do macho, que tem seu valor formado pela região onde está, o que depende do número de confinamentos (aumenta o valor pela arroba) e da predominância da pecuária de corte em pastagens (diminui o valor pela arroba, sendo ofertado, muitas vezes, 60% do valor do bezerro "branco").
Produtores tradicionais de bezerras F1 (Holandês x Zebu) comumente comercializam seus produtos ao valor de "dois por um", sendo que o valor das bezerras é o dobro do valor do bezerro "branco". Como foi formado esse valor?
Com margem de segurança, para a formação de preços, pode-se pensar em valores aproximados de:
1) Perda de até 40% na venda da arroba do macho F1 (Holandês x Zebu) comparado ao bezerro "branco", que embora seja um bom ganhador de peso, os compradores o desvalorizam pela menor qualidade da carcaça e menor adaptabilidade;
2) Perda de até 15% na venda das fêmeas F1 (Holandês x Zebu), responsáveis pela maior fatia do faturamento, que ganham menos peso por serem fêmeas;
3) Perda de até 15% na venda de machos e fêmeas F1 (Holandês x Zebu) pela menor adaptabilidade.
Surge a dúvida de qual o melhor momento para a venda das bezerras, pois historicamente, a atividade de cria não é a mais rentável quando comparada à recria e engorda. Vale ressaltar que os tecidos corporais têm diferentes taxas metabólicas e produzir tecido ósseo (esqueleto) é mais lento do que encher fibras musculares com citoplasma (engordar), o que pode justificar a retenção das fêmeas até alcançar maior peso (ou algumas das melhores fêmeas). Deve-se estar atento à possibilidade de oferecer ao mercado um produto diferenciado que é a novilha F1 (Holandês x Zebu) gestante de sêmen sexado, após verificação da viabilidade econômica.
Conclusão
Com prévias avaliações de riscos e benefícios, a produção e venda de bezerras F1 (Holandês x Zebu) sinaliza como interessante alternativa econômica.
Foto 1: Lote de matrizes azebuadas usadas na produção de F1 leite (Holandês x Zebu)
Foto 2: Bezerra F1 (HPB x Matriz Indubrasilada)
Foto 3: Bezerra F1 (HPB x Matriz Guzeratada)
Foto 4: Bezerras F1 (HPB x Matriz Zebu)