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EUA: grandes fazendas são rentáveis?

POR CARLOS EDUARDO PULLIS VENTURINI

ESPAÇO ABERTO

EM 22/06/2015

4 MIN DE LEITURA

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Entre 1970 e 2012, a quantidade de fazendas leiteiras nos EUA diminuiu de 648 mil para 58 mil, uma redução de 91% no total de operações. Hoje, o país conta com diversas “Mega-fazendas” de leite, com elevado número de vacas. Nesse artigo, mostramos como essa transição se justifica economicamente.

No gráfico 1, vemos a receita menos o custo operacional por tamanho de fazenda nos EUA, entre 2005 e 2014.

Gráfico 1 – Receita menos Custo Operacional por quantidade de vacas na fazenda – EUA 2005 - 2014

Fonte: USDA; deflacionado pelo CPI (Consumer Price Index)

Observa-se que, entre 2005 e 2014, exceto em alguns casos específicos como em 2009 e 2013, todos os módulos de produção, dos menores aos maiores, conseguiram pagar seus custos operacionais (com rentabilidade menor nas pequenas propriedades mas, ainda assim, positiva em grande parte do período analisado!).

Porém, se analisarmos os custos totais, que levam em conta também o custo de capital das máquinas, o custo de oportunidade do trabalho, os gastos com mão-de-obra, custos da terra e outros itens, temos um panorama bem diferente, como pode ser visto no gráfico 2.

Gráfico 2 – Receita menos Custo Total por quantidade de vacas na fazenda – EUA 2005 - 2014

Fonte: USDA; deflacionado pelo CPI (Consumer Price Index)

A influência dos custos de oportunidade na pecuária leiteira é nítida: enquanto a maioria dos módulos de produção conseguiu pagar os custos operacionais com “sobras”, ao se analisar os custos totais, a situação muda completamente: as fazendas com mais de 1.000 vacas apresentam resultado positivo em 9 dos 10 anos analisados (com o único ano negativo, 2009, sendo o ano de maior impacto da crise econômica dos EUA, portanto um dado a ser “relativizado”; 2006, apesar do resultado praticamente zero, não ocorreu em prejuízo).

Já nos outros módulos de produção, a situação foi completamente diferente: nas fazendas com 500 a 999 vacas, houve resultado (muito pouco) positivo em 5 dos 10 anos, enquanto nas fazendas com menos de 500 vacas, apenas em 2007, nas fazendas entre 200-499 vacas, os custos totais foram pagos. De resto, em todos os outros módulos de produção entre 2005-2014, as menores fazendas não conseguiram pagar seus custos totais.

O principal fator que causa essa discrepância de resultados entre as grandes e pequenas fazendas é o custo de oportunidade do trabalho. O gráfico 3 abaixo mostra um pouco dessa situação:

Gráfico 3 – % Custo de oportunidade do trabalho em relação à receita total

Fonte: USDA; deflacionado pelo CPI (Consumer Price Index)

Pelo gráfico, é nítida a influência do custo de oportunidade do trabalho nas fazendas com até 50 vacas: na maioria dos anos, tal custo representa 50% ou mais da receita total da fazenda. Mas, se observarmos, até mesmo nas fazendas entre 100-199 esse é um item relevante: em todos os anos da série, tal custo representou mais de 13% da receita em tais fazendas.

Isso ocorre pois as menores fazendas são mais dependentes de mão-de-obra familiar, sendo esse um custo “oculto”, apesar de não afetar o “caixa” da fazenda, no médio/longo prazo é um item importante: caso a remuneração do empreendimento seja menor do que outras oportunidades no mercado de trabalho, o proprietário tende a deixar a atividade.

Os dados apresentados até aqui nos auxiliam a entender o gráfico abaixo.

Gráfico 4 - EUA - Custos de produção(¹), preço do leite ao produtor e variação da produção(²)

(1) Custo Total = Custos operacionais + Custos “alocados”.
Como custos operacionais o USDA lista as seguintes contas: todos os itens ligados a alimentação + medicamentos e vacinas + combustíveis, lubrificantes e eletricidade + serviços contratados + manutenções + pagamento de juros sobre capital operacional + outros itens de desembolso mensal.

Custos “alocados” = depreciações + mão-de-obra familiar + mão-de-obra contratada + despesas administrativas + taxas e seguros + arrendamento de terra

(2) Produção do mês corrente/produção do mesmo mês no ano anterior (%)
Fonte: Elaboração de MilkPoint Inteligência, a partir de dados do USDA


Pelo gráfico, observa-se que o preço pago pelo leite entre 2010 e 2015 foi, em quase todo o tempo, insuficiente, para pagar o custo total de produção. Mas, quando analisamos a relação entre preço do leite e custos operacionais, vemos que a produção leiteira conseguiu pagar pelo menos os custos operacionais em quase toda a série, o que corrobora o que foi dito acima no artigo: no curto prazo, o empreendimento consegue pagar as despesas “de caixa”, mas os custos de oportunidade fazem com que as fazendas de menor escala abandonem a atividade.

Outro ponto interessante é que o dado “médio” de custo de produção total pode nos levar a conclusões erradas: uma atividade que não consegue pagar seus custos totais tende a diminuir. No entanto, as maiores fazendas vem obtendo resultados expressivamente superiores às demais. Por exemplo, entre 2011 e 2012, a produção dos EUA cresceu 1,85 bilhão de litros. Deste crescimento, cerca de 1,2 bilhão de litros foram de fazendas com mais de 1.000 vacas, o que corresponde a 65% do aumento do mercado. No entanto, havia apenas 1.730 fazendas com mais de 1.000 vacas em 2012, ou seja, 3% das fazendas foram responsáveis por 65% do crescimento da produção dos EUA.

Para deixar uma reflexão, você conhece algum outro país com elevado número de produtores de leite, no qual grande parte das propriedades não cobre os custos totais e que a participação dos grandes produtores vem aumentando significativamente?

Para te ajudar na reflexão, confira este artigo: “Quem produz o leite brasileiro hoje?


ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

CARLOS EDUARDO PULLIS VENTURINI

Economista formado pela ESALQ/USP; Coordenador de Conteúdo do MilkPoint Mercado

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SÍDNEY OLIVEIRA

RONDÔNIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/06/2016

Muito importante todos os comentários sobre os variáveis sistemas, mas a cada dia fica bem claro amigos, na atual situação da cadeia produtiva do leite no Brasil, tende a permanecer sistemas que adotem tecnificação em todo o processo de produção. Assim sendo os pequenos produtores mais desprovidos de conhecimentos e  de assistência técnica especializada e com políticas públicas ineficazes para o setor, estão desaparecendo automaticamente por não suportar a pressão por exigências em qualidades do produto(leite) pelos consumidores finais. Este é o momento oportuno para o Brasil repensar as políticas adotada em favor da cadeia produtiva, capacitar e organizar os produtores rurais, para um novo modelo produtivo, buscando eficiência, aproveitando as oportunidades que facilitam o sucesso dos empreendimentos no setor lácteo, entidades de pesquisas e extensão, solo, pastagens, mão de obra familiar, clima, infraestrutura, comércio. etc...
PAULO F. STACCHINI

SÃO CARLOS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/06/2015

Adilson, ter conhecimento sobre o negócio que você atua é fundamental, eu diria que é básico em qualquer tipo de negócio, tanto pra produzir leite, quanto para produzir aviões. Aliás, garanto que leite é mais complexo e exigirá mais conhecimento. É realmente já vi empresários de sucesso em outros segmentos, banqueiros, indústrias de grande porte fracassarem no leite, mesmo com boa escala. Você está certo no seu comentário! Mas isso não invalida a conclusão de que ter escala é importante pra garantir maiores margens. E o que pode ser uma margem boa pra um, pode não ser pra outro em relação ao capital e trabalho envolvido na atividade leiteira. Com o custo das terras aumentando e o custo de oportunidade de trabalho também, maiores tem que ser às margens para justificar, do ponto de vista econômico, a permanência (entenda-se capital e trabalho) na atividade. A rentabilidade também deve ser analisada num período de avaliação correto, evitando-se análises errôneas, pois ainda pode ser que uma propriedade esteja crescendo para atingir certa escala. Tanta a pasto quanto confinado, é mais fácil ter melhores margens quanto maior for a escala. Isso é o que geralmente se espera, não é regra, mas é o que se observa na maioria dos casos. Outros fatores devem determinar antes a opção por um ou outro sistema de alimentação.
ADAILTON M SILVA

JI-PARANÁ - RONDÔNIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/06/2015

Saudações à todos. Quero com todo respeito, descordar da maioria dos comentários anteriores, pois apesar de ter recebido inúmeras informações dizendo que para produzir leite de forma eficiente e gerar lucro precisa ter escala de produção, acredito que o sucesso de qualquer empreendimento está muito mais atrelado ao tamanho do conhecimento que o empreendedor tem da atividade que ele desenvolve, do que  simplesmente ter "escala de produção". Afirmo isso porque na minha região quase a totalidade da produção é de leite a pasto. Sendo assim, mesmo pequenos empreendimentos familiares na minha região tem conseguido resultados positivos. O que tem feito o diferencial mesmo tem sido a experiência de cada produtor e a capacidade de buscar informações e novas tecnologias.
ESTÊVÃO DOMINGOS DE OLIVEIRA

QUIRINÓPOLIS - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/06/2015

Muito bom o artigo!!!
RICARDO DINIZ JUNQUEIRA

ALTINÓPOLIS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/06/2015

MEGA FAZENDAS VAO DOMINAR A PRODUÇÃO LEITEIRA DO BRASIL DAQUI UNS ANOS
DARLANI PORCARO

MURIAÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/06/2015

Grande , pequena, mega, não importa o tamanho, agora se minha propriedade é de fácil localização, e passa caminhões leiteiros, porque eu não posso   receber o mesmo prêço  por litro de leite  daquele mega  produtor , aí que está o problema, estão acabando com o produtor familiar, o de 100, ou até 200 litros dia., e é esse a maioria no Brasil, onde não temos empregado, e o pior estamos sendo roubados, seja gado, materiais usados no curral , como balde, latões de leite  e outros , e´a verdade.
LUIS OLIVEIRA

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/06/2015

Parabéns pelo Artigo.

Mesmo não sendo foco do artigo, vejo frequentemente alguns colegas comparar a produção leiteira americana com a brasileira. Sempre discordo.

Embora tenhamos várias similaridades entre as condições de produção nacional e americana, é importante destacar que no Brasil a maior parte do volume de leite produzido vem de pequenos estabelecimentos, que via de regra, estão dispersos geograficamente dos principais pontos de consumo.

Ou seja, um arranjo produtivo desconcentrado.

A concentração produtiva de leite no Brasil, sem dúvida, poderia reduzir os custos de produção absoluta, porém há de avaliar as externalidades possivelmente advindas a partir dessa estratégia, especialmente a social.

Outro ponto a se pensar é que na concentração (ou intensificação) produtiva se diminui (ou perdesse) a condição que atribui maior competitividade ao produção nacional, que é a baixa dependência com insumos (principalmente na produção a base de pastagem). Portanto, podemos dizer que as vantagens de se aderir ao modelo de produção americana são relativizadas no contexto brasileiro.


PAULO F. STACCHINI

SÃO CARLOS - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/06/2015

Já era esperado esse resultado...um pouco óbvia essa conclusão. Não é à toa que a produção cresceu em estados como a Califórnia com grandes empreendimentos e reduziu em estados onde predominavam operações menores. Ter escala é fundamental no leite pois ajuda a diluir custos fixos. Embora muitos considerem que os investimentos em instalações e maquinários possam gerar alta gasto com depreciações futuras, o impacto disso dificilmente ultrapassa 5-10% do custo total. Já os custos com mão de obra giram em torno de 12-17% em fazendas médias aqui no Brasil, quase o dobro, às vezes o triplo. Operações maiores permitem que investimentos em mecanização e automação sejam amortecidos mais facilmente. Como a mecanizacao/automacao é inversamente relacionada à demanda de mão de obra, e o custo dessa é cada vez mais alto, dificilmente se espararia outro resultado. Só num cenário de alto desemprego (oferta abundante de mao de obra e alto custo de investimentos (tx de juros de financiamentos mto altas) poderia reduzir esse fenômeno. Mesmo num cenário de alta do desemprego (normalmente medido apenas nas grandes regiões metropolitanas) não seria esperado o mesmo impacto em aumento da oferta de trabalhadores no campo, já que poucas pessoas estão dispostas a sair dos centros urbanos pra trabalhar no leite no campo. De outro lado, há decadas as taxas de juros nos EUA é menor de 1-2% aa. Portanto, parece-me um processo irreversível e universal, que tende se intensificar também com aumento no custo da terra (outro fenômeno irreversivel enquanto a população mundial continuar a crescer e demandar mais alimentos).
MARCELO BRANQUINHO PEREIRA

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/06/2015

Ótimo artigo! Muitas pessoas pensam que no Brasil é diferente mas não é. Apenas grandes projetos são viáveis economicamente. Quem não gostaria de ter uma fazendinha com pouco investimento e pouco trabalho e ainda ganhar dinheiro ,é um sonho impossível. Quem não tem disposição para grandes investimentos e jornadas exaustivas de trabalho melhor dedicar a outra atividade. Este é o mundo do leite.
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/06/2015

Parabéns Carlos. Excelente abordagem sob a ótica da viabilidade econômica futura do negocio leite.  

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