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Estratégias de Cruzamentos

POR FERNANDO ENRIQUE MADALENA

ESPAÇO ABERTO

EM 08/03/2007

7 MIN DE LEITURA

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Em recente artigo no MilkPoint (para visualizá-lo clique aqui) apresentam-se dados que indicariam superioridade econômica dos cruzamentos com 7/8 de Holandês. Tenho dificuldade para avaliar os resultados econômicos, uma vez que não se descreve como foram obtidos os dados dos custos e receitas, nem no artigo nem no "Diagnóstico da pecuária leiteira de Minas Gerais" em que ele se baseia. Já na comparação dos grupos genéticos, com todo o respeito que me merece o autor, Prof. Sebastião Teixeira Gomes, sinto-me na obrigação de discordar do colega, uma vez que os dados daquele estudo não permitem tal comparação, por três motivos muito claros:

1. Os quatro grupos genéticos comparados estavam em diferentes fazendas, e, portanto, as diferenças no seu desempenho podem ser devidas tanto à genética quanto a outros fatores, como local, clima, fertilidade do solo, topografia, manejo, práticas sanitárias, instalações, escolaridade do dono, qualidade dos trabalhadores, e por aí afora. Não é válido comparar genótipo A em fazenda ruim, de 3 litros de leite, com genótipo B em fazenda melhor, de 8 litros. Pelo que se sabe, inclusive de outros levantamentos, as fazendas maiores, que utilizam mais insumos, geralmente tem gado mais "holandesado" enquanto que as menores têm gado mais "azebuado". Assim, o leite de uma 7/8 em fazenda de 500 litros poderá ser mais bem pago, pela bonificação por volume, que o leite de uma ¼ em fazenda de 50 litros, e isto não tem nada a ver com a genética. A única comparação válida seria ter todos os genótipos representados em todas as fazendas.

2. O grau de sangue não fornece uma boa descrição da genética, pois a heterose é ignorada, uma vez que se colocam no mesmo grupo animais mestiços, filhos de touros puros, e bimestiços, filhos de touros mestiços, que, portanto, apresentam maior segregação gênica e menor heterose. Misturar estes cruzamentos pode levar a conclusões completamente equivocadas.

3. Neste tipo de dados, também não se tem certeza da raça, de forma que o que no trabalho se classifica como "zebu" tanto pode ser Gir, Nelore ou qualquer outra coisa, sendo que mestiças destas diferentes raças não têm o mesmo desempenho, e, da mesma forma, nas fazendas mineiras há muitas outras raças européias além do Holandês, inclusive muitos animais cuja composição genética só Deus conhece, e não há garantia de que estes diferentes genótipos não estejam também mascarando ou interferindo nas diferenças no desempenho entre os grupos comparados.

Por outra parte, é bem sabido, e está bem documentado, com resultados de pesquisas, que a genética mais apropriada para as fazendas que usam mais insumos não é a mais apropriada nas fazendas com menos insumos, já que, enquanto as primeiras admitem gado mais refinado, as últimas requerem gado mais rústico, porém este fato não foi considerado no estudo apresentado, onde todas as fazendas foram analisadas juntas.

Quando estas ressalvas foram evitadas, no experimento de cruzamentos conduzido pela EMBRAPA, com apóio da FAO, alguns anos atrás, objetivando avaliar estratégias de cruzamentos para as condições de produção prevalecentes na Região Sudeste, os resultados foram completamente diferentes dos agora apresentados pelo Prof. Gomes, e isto, creio, deve ser considerado nesta oportunidade.

Naquele experimento foram produzidas 527 novilhas, de seis graus de sangue Holandês VB/Guzerá, as quais foram distribuídas a 67 fazendas cooperadoras, localizadas nas principais bacias leiteiras da Região Sudeste, para acompanhamento posterior, até os 12 anos de idade, com controle leiteiro e zootécnico mensal, inclusive do consumo de concentrados. Todas as fazendas receberam representantes de todos os seis genótipos e foram tomadas precauções para evitar confundimentos, como formar grupos contemporâneos das novilhas que iam a cada fazenda cooperadora, nascidas num intervalo de três meses, de forma que os seis genótipos representados em cada lote estiveram nas mesmas condições, desde que nasceram até o fim do experimento. Também se tomou a precaução de utilizar os mesmos reprodutores na formação dos quatro grupos oriundos de pai Holandês, e de fazer rodízio das mães ½ das novilhas ¼ e 3/4.

Na análise, agrupamos as fazendas em duas classes de manejo, segundo seu perfil de alimentação, pastagens, sanidade, etc., e verificamos a necessidade de se estudar os cruzamentos por separado, uma vez que os resultados eram diferentes para cada classe de fazenda.

Como o espaço é curto, coloco aqui apenas alguns resultados (Tabela 1), que por outra parte são bem conhecidos e divulgados, e maiores informações podem ser obtidas na bibliografia abaixo relacionada. Para encurtar a história, em ambos os tipos de fazenda as F1 foram mais lucrativas, caindo o desempenho econômico à medida que o genótipo se "holandesava" ou se "azebuava", e caindo também no caso das bimestiças. Entretanto, a superioridade das F1 era menor nas fazendas de maior produção, mostrando que é necessário considerar o cruzamento mais apropriado para cada tipo de fazenda por separado.


O estudo do Prof. Gomes indica que os rebanhos com grau de sangue médio 7/8 foram lucrativos em nível de produção de 8,6 kg de leite por vaca total, mas não prova que esse fosse o melhor cruzamento nesse tipo de fazenda. Por coincidência, no nosso experimento, a produção das 7/8 foi muito semelhante, 7,9 kg por dia de intervalo de partos (ambas as medidas são praticamente a mesma coisa), porém, ao contrário que no trabalho do Prof. Gomes, as F1 apresentaram 18,5% maior lucratividade que as 7/8 e as ¾ 10,6% mais, como pode ser visto na Tabela 1. Isto ilustra o ponto de que a comparação de genótipos deve ser feita nas mesmas fazendas.

Voltando aos nossos resultados, a superioridade das F1 decorria delas produzirem quase tanto quanto as mais holandesadas, porém sendo quase tão resistentes aos parasitas quanto as azebuadas. Sabe-se da literatura que elas são também quase tão tolerantes ao calor quanto as zebu e bem mais do que as ¾ e 7/8. As vacas F1 têm requerimentos de mantença semelhantes ou menores que as zebu. Nas fazendas do nosso experimento, elas conseguiam manter melhor condição corporal, o que está associado a maior fertilidade. Enquanto uma alta proporção das vacas 7/8 e >31/31 morreram, a mortalidade das F1 foi baixa e só um pouco maior que a das ¼ (Tabela 1), porém as ¼ eram mais descartadas e vendidas para abate. O impressionante fato de que 62% das F1 foi vendida para continuar produzindo, após sair do experimento, com 12 anos de idade, apóia os outros resultados obtidos.

O estudo do Prof. Gomes se refere a apenas um ano, e não considera, portanto, as flutuações de preços. É claro que o laticínio vai querer o produtor mais engessado, com gado mais exigente e instalações caras, mas quando vem apagão ou qualquer outro desastre e cai o preço do leite, o produtor se defende melhor com gado que admite passar para uma ordenha só ou apenas criar o bezerro, e essas flutuações também não podem ser ignoradas.

Eu gostaria de fazer um apelo para que os resultados sejam analisados com cuidado, com ponderação, sem paixão, e sem se fazer extrapolações a condições outras que as dos estudos. Por exemplo, note-se que em todas as fazendas de nosso experimento se ordenhava com bezerro ao pé; assim escolhemos, por ser esta prática adotada pela imensa maioria dos produtores. Hoje sabemos, por nossos experimentos e os de outros, que isto é mais econômico, para a maioria, mas pode não sê-lo para outros, e no sistema de ordenha mecânica sem bezerro tem havido alguns insucessos com as F1, que não estão bem equacionados. Também, o fato das F1 serem mais adaptadas para produção lucrativa na maioria das fazendas da Região Sudeste, não quer dizer que dispensam boas pastagens, suplementos e sanidade, nem que sejam a única e universal solução genética. Outros cruzamentos poderão ser mais práticos em determinadas circunstâncias, justificando a perda de heterose. Mas, para a maioria dos produtores, que não controlam a reprodução do rebanho, o esquema de F1 é uma forma simples e prática de se aproveitar a tremenda heterose dos híbridos de Bos taurus x B. indicus, e por esse motivo vem sendo cada vez mais adotado, não apenas no Brasil, mas, na sua esteira, na Colômbia, Venezuela e países da África. Na Nova Zelândia, em 2001, visitei uma fazenda que produzia anualmente 2000 novilhas F1 de Sahiwal para exportar a países tropicais. Enquanto as F1 continuarem a valer duas a três vezes a arroba de boi gordo e enquanto os criadores de Holandês continuarem a inseminar com Gir, seguirei pensando ser esse o caminho certo.

Bibliografia
1) LEMOS, A.M., TEODORO, R.L., MADALENA, F.E. Estratégias de cruzamentos entre raças leiteiras. Informe Agropecuário v. 16, n. 177, p. 19-22, 1992. 2) MADALENA, F.E., TEODORO, R.L., LEMOS, A.M., MONTEIRO,
J.B.N., BARBOSA, R.T. Evaluation of strategies for crossbreeding of dairy cattle in Brazil. Journal of DairyScience, v. 73 p. 1887-1901. 1990. 3) MADALENA, F. E. La Utilizacion Sostenible de Hembras F1 en la Produccion del Ganado Lechero Tropical. ROMA : FAO, 1993, 98p. 4) MADALENA, F. E. Por que F1? In: Anais do 5o Encontro de Produtores de Gado Leiteiro F1. BHTE: FEPMVZ Editora, 2004. p.1 - 21

FERNANDO ENRIQUE MADALENA

Consultor autônomo. www.fernandomadalena.com

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ROBERTO TRIGO PIRES DE MESQUITA

ITUPEVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 22/03/2007

Prezado Prof. Fernando,

Volto ao tema para desfazer uma interpretação equivocada ao meu comentário.

Eu não disse que o aleitamento artificial é mais efetivo do que o natural, mas sim que no caso das fazendas que empregarem o aleitamento artificial, o centro de lucro "criação de bezerros" será muito melhor gerido e os resultados expressarão uma realidade mais efetiva, ou seja mediante aferição direta dos mesmos e não mais eficiente.

Outro ponto dúbio para mim é quanto ao fato de que apesar de estar de acordo de que avaliar os bezerros é importante, isso não foi realizado pela falta de recursos financeiros para implementar as pesagens nas fazendas.

A aferição de pesos através de fitas de pesagem, principalmente considerando que os resultados não exigem precisão absoluta, viabiliza a execução desse controle ponderal até de forma mais econômica do que o citado emprego da romana na execução do controle leiteiro.

Desculpe, mas insisto nesse ponto pois entendo que a discussão e principalmente os experimentos que ajudam a encontrar os animais e os sistemas de produção com máxima agregação de renda à atividade agropecuária, exigem uma gestão de resultados melhor estruturada do ponto de vista econômico e financeiro, começando no mínimo com a departamentalização adequada dos centros de lucro envolvidos (produção de leite e criação de bezerros).

Assim, a opção de abandonar a receita da transformação do leite em peso do bezerro, mesmo contabilizando-a no centro de lucro do leite, pode distorcer completamente o resultado final de fazendas de cria e produção de leite que utilizem rebanhos F1 e que sejam mais ou menos lucrativos nessas especializações produtivas.

Abraços.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Roberto,

Ok, essencialmente estamos de acordo (exceto, talvez, na palavra completamente (distorcer completamente).

Abraços,
Fernando Madalena
NILSON NUNES MORAIS JÚNIOR

COLATINA - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/03/2007

Prof. Madalena

Não cabe a mim questionar os dados ou a capacidade técnica como pesquisador, até porque já tinha conhecimento do experimento realizado - muito bem conduzido -, e realmente aponta para uma indiscutível superioridade do F1 1/2. Mas também é importante ressaltar que o trabalho do Prof. Sebastão tira uma fotografia real e uma tendência de especializaçào com holandês por parte dos produtores mineiros e principalmente por criadores que possam dar condições viáveis (instalações, sanidade e alimentação) para vacas de leite.

Sem querer contrariar, até porque a questão é polêmica, e é comum nas aulas de Bovinocultura que ministro há 12 anos em uma Escola Agrotécnica Federal de Colatina-ES, e tembém por muitos produtores sempre é a seguinte pergunta: qual a melhor raça ou cruzamento para produzir leite com viabilidade no Brasil? Com certeza não existe uma resposta absoluta ou verdadeira... e a melhor resposta seria: depende de cada propriedade, somente diante de cada realidade poderemos optar pela melhor composição racial. Mas na prática precisamos definir e avaliar em cima de erros e acertos.

Concordo plenamente que a receita para o Brasil de forma genérica é o F1. Entretanto, seguem-se 2 gargalos que tenho enfretado na prática e gostaria de ouvi-lo a respeito:.

1º gargalo - Fazer uma vaca com composição genética próxima a F1 é ralativamente fácil, usamos uma vaca zebú e cruzamos com Holandês. Fiz isto há 12 anos quando assumi o setor de Bovinocultura da EAFCOL. E o resultado é muito bom, animais produtivos e rústicos e bem de acordo com sua pesquisa, algumas vacas só foram descartadas em 2006. Mas a questão é como manter uma composiçào racial próxima a 1/2 GH sem compra de animais?

É raro encontrarmos criadores idoneos de 1/2, e o pior, os preços normalmente são abusivos. E por fim, não seria muito ariscado basear todo um projeto de produção na dependência de uma reposição de animais externa e que pode fugir ao nosso controle?

2º gargalo - Necessidade de maiores produções
No nosso caso, e de muitos, não dispomos de áreas adequadas para a ampliação da atividade leiteira, e desta forma precisamos de animais com maiores lactações para atingir produções diárias viáveis.

Ao longo destes anos usando 100% de IA no nosso rebanho, obtemos animais de diferentes composições genéticas desde o 1/2 GH até animais PO holandes (8000 kg/lact cont leit oficial). É claro que que nosso sistema favorece animais de maior produção - e por incrível que pareça, a nossa tendência é usar animais mais especializado, e tem se destacado animais oriundos do cruzamento de vacas 7/8 holandes X semem de touros Jersey.

A medida que usamos princ holandes ao longo do tempo aumentaram o leite, os gastos e os lucros. Como fugir da grande variação de produção observada nas vacas F1, e principalmente, conseguir animais com grande presistência? Temos necessidade de grande descarte (às vezes inviável) de F1 para concilar as duas características.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Dr. Nilson,

De fato não existe solução única, universal, senão que para cada tipo de fazenda algumas alternativas de cruzamento são mais lucrativas. Entretanto, também não há infinitos tipos de fazenda. O nosso experimento foi conduzido em fazendas de duas ordenhas, com apojo do bezerro, por ser estas práticas amplamente majoritárias, como já se disse. Os resultados valem para essas condições e não é válido extrapolá-los fora delas. Naquelas condições a F1 foi muito superior, mas também não é a única alternativa. Respondendo a suas interrogações:

1. Sendo a F1 o primeiro cruzamento, para o produtor comum não há como fazé-lo sem comprar as novilhas de reposição. Isto não é costumeiro no gado de leite, mas é corriqueiro na avicultura, suinocultura e agricultura. Um segmento especializado produz a fêmea de reposição ou a semente, adquirida pelo produtor.

A novilha ou bezerra F1 é mesmo para ser mais cara que outras mestiças, porque é melhor, mas, claro, preço tem limite, e, se for abusivo, aí não vai compensar. Também é necessário conseguir fornecedor que não lhe venda o fundo ou doenças. Para qualquer insumo, precisa-se de bom fornecedor. Se hoje há poucos fornecedores de F1, no futuro haverá mais, caso elas sejam superiores, como a gente diz, e a demanda continúe.

Também há casos de cooperativas que se organizaram para produzir as novilhas de reposição, que poderão ser F1. O semen sexado para produzir F1 em vacada Holandesa é outra alternativa possivelmente viável. O fomento público pode também ser utilizado, como no caso do Banco do Brasil em Minas Gerais, que, atendendo à política da Secretaria da Agricultura do Estado, incluiu nos seus programas de crédito subsidiado a produção de F1 e a de zebu leiteiro para fazê-las.

2. O nosso experimento foi conduzido em dois tipos de fazenda. Nas fazendas de maiores insumos, a produção era de aprox. 8 kg de leite por vaca total (produção+secas), como no estrato mais alto do Prof. Gomes, sendo nessas as F1 mais lucrativas. Se no seu sistema vacas de 8000 kg de leite são mais econômicas, creio que não deve usar mestiças.

Atenciosamente,

Fernando Madalena
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/03/2007

Caro Eduardo,

Você tocou no "x da questão". Há muito venho combatendo a briga dos laticínios e pecuaristas pelo aumento da produção de sólidos do leite, defendida a unhas e dentes por criadores da raça jersey, como se esta fosse a pedra filosofal. Não é bem assim, porque, que laticínio desprezaria um produtor de seis mil litros de leite/dia, magro, esquelético, raquítico, oriundo de vacas holandêsas, a favor de oitocentos gordos, obesos, suculentos litros diários, retirados de vacas jersey?

É claro, ambos os produtos de alta qualidade. Abro um parêntesis para informar que sou criador de ambas as raças, em plantéis distintos. E que produtor deixaria de ser o primeiro, para ser o segundo, sabendo que, no fim do mês, com as holandesas, teria recebido (levando-se em conta o preço médio de R$ 0,50 o litro), R$ 90.000,00 (noventa mil reais) e que com as Jersey - estipulando-se o preço do leite, melhor remunerado, a R$ 0,70 o litro - R$ 16.800,00 (dezesseis mil e oitocentos reais)?

Ou, mesmo, para partir para o exemplo das F1, mestiças, conseguir que produzam dois mil litros/dia (desempenho muito melhor que das Jersey), remunerados a R$ 0,70 (setenta centavos) - por seu leite mais rico em gordura e sólidos totais - e receber, ao final do mês, R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil reais).

Parafraseando o Fernando, "prefiro ser rico e sano que pobre e enfermo". Quanto ao capital investido ser maior na criação das vacas holandesas, não se pode desvinculá-lo do lucro, que é imensamente maior, também, pagando-se aquele em espaço curto de tempo. Todavia, a diferença de se criar uma holandesa pura, que produz quarenta litros/dia, para uma mestiça que tenha igual produção, em termos de investimento e gastos é nenhuma, já que, volto a afirmar, uma vaca de alta lactação, seja qual for sua raça, exige de igual forma, para não dizer que é muito mais caro fazer uma jersey ou uma mestiça produzir quarenta litros/dia do que uma holandêsa pura.

Um grande abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/03/2007

Prezado conterâneo Fernando,

Gostaria de comentar uma resposta sua dada ao participante Roberto, sobre a criação de bezerros ao pé, segundo a qual, "bezerro amamentado geralmente morre e adoece menos, além da mãe dar mais leite". Ora, esta não é a realidade das fazendas "comuns", onde o pequeno produtor (a maioria) depende do leite para sobreviver e, por isso, não permite que o bezerro ingira o volume necessário para sua subsistência.

O resultado é que temos bezerros de muito baixa qualidade, com sanidade duvidosa, mesmo os cruzados, o que prejudica, até mesmo, seu aproveitamento como gado de corte, já que não crescem e não se desenvolvem corretamente. No criatório ao balde, sistema que adoto, o animal recebe a quantidade de leite necessária a seu bom desenvolvimento, atingindo peso e tamanhos muito significativos até o tempo de desmame que, no meu caso, ocorre aos seis meses.

A minha taxa de mortalidade é de dez por cento, ou seja, de cada vinte criados, apenas dois falecem. Os sobreviventes vão virar vacas de alta lactação, como suas mâes, ou bezerros de muito boa caracterização genética, próprios a serem aproveitados como touros.

Por outro lado, se adotasse o sistema de "bezerro ao pé", estaria inviabilizada toda a minha sistemática de ordenha mecanizada, já que o manejo seria quase impossível, em face da demora em se trazer o bezerro, esperar a vaca descer o leite, reconduzir o bezerro ao seu criatório, entre outras dificuldades.

Além do fato de aumentar o volume de bactérias e sujidades no ambiente, em face da presença de maior número de indivíduos e de meus empregados de ordenha pedirem demissão. Por isso, as fazendas de gande produção dificilmente adotam este sistema. Quanto ao aumento da produção no aleitamento natural, não vejo base de comprovação científica nisso, já que, se assim fosse, ninguém mais estaria criando seus bezerros artificialmente. Como comprovar esta assertiva?

Um grande abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Guilherme,

Assim não nos entendemos. Fineza atentar para a palavra geralmente (bezerro amamentado geralmente morre e adoece menos). Se a sanidade é muito boa, como no seu caso, tanto faz aleitamento artificial ou natural, mas isso não é o geral.

Também, como dito, bezerro amamentado não é o mesmo que bezerro cuiado.

Existe comprovação científica, sim, de que a vaca ordenhada com bezerro ao pé produz mais leite total que sem bezerro, simplesmente porque o leite que esconde do ordenhador ela baixa para a cria, de forma que o leite ordenhado + o mamado é mais do que o leite ordenhado sem bezerro - o fornecido ao bezerro. Também não é verdade que ordenha com bezerro produza leite com maior contagem de células somáticas.

Finalmente, em experimento em que cronometramos o tempo gasto nas tarefas que você menciona, para o apojo, este tempo foi igual ao gasto para aleitar em balde e lavar os mesmos, de forma que foi mais econômico ordenhar com apojo. Isto foi divulgado neste MilkPoint em 16.12.2004 (para visualiza-lo https://www.milkpoint.com.br/?actA=7&areaID=61&secaoID=186¬iciaID=22004). Uma extensa revisão dos experimentos ao respeito, avalizando o dito acima, se encontra no Cap. 15 do livro Produção de Leite e Sociedade (https://www.vet.ufmg.br/editora/livros).

Isto posto, também não há regra universal, sendo que alguns preferem simplificar a ordenha e outros criar o bezerro. Em Minas, 95% ordenha com bezerro ao pé. Não quer dizer que uns estão certos e outros errados, apenas que há diversas situações coexistindo.

Grande abraço,
Fernando

<b>Resposta de Guilherme:</b>

Prezado conterrâneo: desculpe-me mas, desta forma, não vamos nos entender mesmo. Para mim, o termo "geralmente" quer dizer com freqüência, normalmente, de forma geral, o comum. Portanto, o que seu artigo dá a entender é que bezerro amamentado quase sempre morre, o que, você mesmo concorda, não é verdade. Dependendo do manejo, qualquer um dos dois (amamentado ou criado artificialmente) morre com facilidade.

Por outro lado, com o aleitamento artificial, o bezerro recebe a quantidade certa de leite que necessita para seu desenvolvimento, enquanto, é de sabença meridiana, no aleitamento natural, o produtor deixa muito pouco para o mesmo - porque depende do leite para viver - que cresce prejudicado.Quanto às vacas ordenhadas com o bezerro ao pé serem mais produtivas, porque não esconderiam o leite, isso não condiz com a realidade, porque aí sim, é que elas destinam alguma parte para o bezerro.

Minha experiência com vacas holandesas, cujo bezerro é retirado logo após a parição, é de que não há nenhuma guarda do produto para o rebento, porque o animal não se acostuma a amamentar o bezerro, não havendo, portanto, porquê para o armazenamento.No que pertine ao tempo de ordenha com o bezerro ao pé ser idêntico à amamentação artificial do mesmo, ouso, novamente, discordar.

O tempo gasto com o aleitamento artificial é irrisório, já que a quantidade de leite a ser fornecida a cada animal já é conhecida anteriormente pelo tratador, que já sai do recinto de ordenha pronto a fornecê-lo. Por outro lado, até que a vaca seja conduzida à sala de ordenha, seu bezerro (que não pode ficar nela) seja buscado no bezerreiro, venha a mamar e a vaca descer o leite, o lapso temporal é muito maior.

Além da confusão que faz o bezerro no ambiente, sendo mais um animal no recinto, aumentando os riscos de acidente e de contaminação do produto. Se assim não fosse, todos os criadores adotaríamos o bezerro ao pé em nossas propriedades e nossas salas de ordenha mecânica teriam lugar para os bezerros (o que não ocorre), porque não somos tão amadores ou malucos ao ponto de jogar dinheiro fora.

Em Minas, você se esqueceu de citar, sessenta e cinco por cento dos produtores sequer tem ordenha mecânica e criam animais mestiços, que não aceitam ordenha sem bezerro ao pé. Estas explicações, desculpe-me são necessárias e deveriam estar discriminadas em seu artigo, para não causar confusão no leitor. Prefiro trocar as "caninhas" por bons copos de leite.
Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
MOACYR FIORILLO BOGADO

NITERÓI - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/03/2007

Não é à toa que até no automobilismo a principal categoria é a F1.
EDUARDO COGO ABIB

OUTRO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/03/2007

Boa Tarde!

Volto a escrever pois minha primeira pergunta foi mal elaborada, na verdade, gostaria de saber se colocadas em um sistema de produção que visasse maiores produções a F1 acompanharia as Holandesas em lucratividade. Pois ainda acredito que é melhor lucrar 0,07 centavos em 30 litros do que 0,1 em 12 . Como produtor não vivo do saldo de 1 litro de leite e sim do montante no fim do mês .

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Eduardo,

Boa tarde! Só posso responder com base a trabalhos de outros. Há indícios de que acompanham até 10 ou 11 kg de leite diários por vaca total (incluindo as secas), sempre falando em ordenha com bezerro, mas o assunto deveria ser mais pesquisado.

É claro que é melhor lucrar 0,07 em 30 litros que 0,1 em 12, mas o capital empatado para produzir 30 é maior que para produzir 12. Se me permite a bricadeira, eu também prefiro ser rico e sano que pobre e enfermo.

Saudações,
Fernando Madalena
ROBERTO TRIGO PIRES DE MESQUITA

ITUPEVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 15/03/2007

Caro Professor Fernando, parabéns pelo trabalho apresentado.

Atendendo ao seu apelo para que os resultados sejam analisados com cuidado, com ponderação, sem paixão, e sem se fazer extrapolações a condições outras que as dos estudos, vou me ater à área econômica levantando alguns questionamentos que imagino possam ajudar na correta avaliação de lucratividade em seus futuros experimentos.

Entendo que a comparação de resultados possa ser melhor formulada na medida em que os mesmos sejam levantados safra a safra, em fazendas segmentadas por especialização e segundo o sistema de produção empregado na cria e na produção leiteira, departamentos que devem ser geridos como centros de lucro independentes.

Por exemplo, note-se que desde que nas fazendas do vosso experimento se ordenhava com bezerro ao pé, por ser essa prática adotada pela imensa maioria dos produtores, seria fundamental considerar separadamente os resultados do centro de lucro "criação de bezerros" do centro de lucro "produção comercial do leite".

Interessante notar que se não levarmos em conta o leite "mamado" pelo bezerro poderá ser significativamente distorcida a lucratividade da mãe naquela safra de leite. Para corrigir isso, basta avaliar o peso ao desmame do bezerro, que além de contribuir para a correta avaliação do resultado do bezerro nesse centro de lucro, pode ser conceituado como resultado extra da produção diária das mães.

Claro que no caso das fazendas que empregarem o aleitamento artificial, o centro de lucro "criação de bezerros" será muito melhor gerido e os resultados expressarão uma realidade prática bem mais efetiva.

Abraços,

Roberto

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Roberto,

Obrigado pelo comentário. Estamos de acordo no conceito: avaliar os bezerros seria importante. Entretanto não era possível, com os recursos disponíveis, implementar pesagens de bezerros nas fazendas. Uma coisa é ir com romana para pesar leite e outra puxar balança para bezerros, na grande área de abrangência, pois tinhamos fazendas de Taubaté, SP, até Carlos Chagas, MG, e de Vassouras, RJ até Ituiutaba, MG.

Assim, optamos por auferir todo o leite ordenhável, sendo que no dia do controle o bezerro apojava mas não mamava. Nos outros dias mamava normal. Desta forma, o leite que o bezerro mamaria entra na receita, mas falta a receita da sua transformação em peso do bezerro.

Quanto à criação artificial ser mais efetiva, isso contradiz o que as pesquisas mostram, bezerro amamentado geralmente morre e adoeçe menos, além da mãe dar mais leite. Bezerro amamentado não é o mesmo que bezerro cuiado.

Abraços,
Fernando
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/03/2007

Caro conterrâneo Fernando,

Como você mesmo disse, não podemos generalizar no sentido de que todas as realidades são iguais. Por isso, minha observação toma cores lógicas. É claro que minha realidade operacional e mesmo genética (meu gado é inseminado com touros "top", como Ladys-Manor Wildman, Toy Story, Delta Canvas RF, Ridle-Side Invision Red, no holandês; Priceland Bold Daniel Beau ET, no Jersey). Mas, um artigo deve expor estas diferenças, sob pena de alimentarmos a equivocada idéia de que produzir com alta genética e com vacas de escol não compensa, ou seja, de nada vale aprimorar a raça, se o mestiço será melhor que o puro.

Vamos fechar nossas seleções e criar mil e cem vacas girolando, tirando seis mil litros de leite/dia, ao invés de nos preocuparmos com o apuro de nosso rebanho e com a relidade de que, com a metade de vacas holandesas puras, poderemos produzir o triplo de leite, com mesmo manejo e gasto, porque - volto a afirmar - animais de alta lactação, sejam eles puros ou mestiços, exigem do mesmo jeito.

Lado outro, venderemos nossas vacas excedentes para o açougue ou por preço abaixo do que valem, ao invés de vender nossas puras, em leilões, por valores convidativos. Quanto aos demais aspectos, peço desculpas por erro de interpretação, pois, realmente, a idade das vacas entrou em consideração.

Todavia, já presenciei vacas de mais de dez anos serem adquiridas por preços altos, em face da genética que portavam. Agora, quanto aos cruzamentos, como bem asseverou o Pedro Luiz, quanto mais se aproximam da holandesa, mais produzem as mestiças, tanto é que a composição racial é feita com base nela (7/8 quer dizer sete partes de holandês e uma de gir, por exemplo), em face de sua maior produção. Então, não seria melhor criar holandêsas?

A tão aclamada heterose esbarra, fatalmente, na perda de alguma característica principal de cada raça, o que, no final, representa retrocesso. Quanto à sua afirmativa de que as vacas puras não se adaptam ao cenário corriqueiro das fazendas da Região Sudeste, por que será que aqui estão os maiores plantéis delas? Não será sua afirmativa pautada na falta de profissionalismo (mais que dinheiro) dos nossos produtores ditos "comuns"?

Meu avô partiu de um gado sem raça e foi selecionando até chegar ao Holandês puro, em uma época que inseminação artificial era coisa de rico. Usou touros mesmo. Levou mais de trinta anos nisso, mas conseguiu. Não era veterinário, nem zootecnista, nem técnico em agropecuária - tinha o segundo grau - e, muito menos, rico. Por que o João, da fazenda ao lado, não conseguiria? Era só deixar de ser amador. Quanto à maior mortalidade das vacas holandêsas, ouso discordar, novamente, já que a morte não escolhe raça ou miscigenação. Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

<b>Resposta do autor:</b>

Meu caro Guilherme,

Discordar é um direito sagrado de todo nós, mas, no caso, você está discordando é de Deus, e não da gente, porque nossa equipe não matou ninguém, apenas anotamos quem morreu. Como pode ser visto na Tabela 1, no período entre o primeiro parto e os 12 anos de idade, morreram 49,9% das vacas com 31:32 ou mais de Holandés, contra 11,7% das F1. Se a morte escolhe raça eu não sei, mas que morreram, isso lá elas morreram, e até com papel passado (atestado de óbito de veterinário da região).

Grande abraço,
Fernando

<b>Resposta de Guilherme:</b>

Prezado conterrâneo Fernando: Não estou duvidando de seu experimento, somente alerto, como já o fiz, pelo erro de premissa, ou seja, na sua experiência, a mortandade foi maior entre as vacas holandêsas, o que não autoriza a dizer que sempre será assim. Não é só porque ela era mais apurada que ela morreu e que a mais mestiça não morreria. Situações outras várias levarão à conclusões distintas da que você atingiu. Destarte, reafirmo que não se pode generalizar.

É mais ou menos como uma pesquisa de "boca de urna", onde se dá como certa a vitória de um candidato e, na hora da contagem dos votos, outro é o resultado. Não se pode tomar a sua conclusão como fórmula matemática, sob pena de engano e transmissão de dado inseguro, o que assassina a hermenêutica da experiência. O erro não está no "anotar quem morreu" mas, sim, em interpretar tal óbito como sendo situação imutável em termos estatísticos.

Um grande abraço,

Guilherme Alves de Mello Franco

<b>Resposta do autor:</b>

Meu caro conterrâneo,

Se a boca de urna for feita com amostra suficientemente grande, o erro de amostragem desaparece ou fica mínimo. Em pesquisa, é válido afirmar que há diferenças quando a probabilidade delas serem devidas a amostragem pequena é muito baixa, que foi o caso destes resultados. Lembre que as fêmeas de ambos os graus de sangue eram filhas do mesmo grupo de pais HVB, nasceram dentro do mesmo trimestre, e ficaram juntas, nas mesmas 67 fazendas, até os 12 anos, estando, portanto, submetidas às mesmas condições durante toda sua vida.

Se eliminadas estas causas de interferência, morreram 49% das 31/32 Holandesas e 11% das F1, e sendo esta diferença estatísticamente significativa (não imputável a amostragem), a conclusão lógica é que as holandesadas morreram mais, e que, em amostras de animais semelhantes, submetidos às mesmas condições, isto ocorrerá novamente. O valor não será inmutável, terá uma variação, mas o valor médio esperado é o obtido.

Assim anda a ciência. É como dizer que quem fuma morre mais de enfisema: embora isto nem sempre aconteça, estabelece-se uma relação de causa-efeito a partir da associação entre fumante-enfisema-morte, porque maior proporção dos fumantes tem enfisema e morrem disto que dos não fumantes. Por isso parei de fumar há mais de 30 anos.

Abraço,
Fernando

<b>Resposta de Guilherme:</b>

Prezado professor: Aí sim, você tocou no ponto chave. Amplitude da pesquisa. A sua pesquisa, dentro do universo de vacas holandêsas e mestiças criadas no Brasil é ínfima. Se pudéssemos abranger a todas, garanto que o resultado seria diverso do apontado, quase perfeito, onde o "erro de amostragem desaparece ou fica mínimo".

Por isso, reafirmo, não se pode generalizar - sob pena de erro de premissa e de silogismo - condição essencial de hermenêutica. Melhor eu, que nunca fumei, mas posso morrer de enfizema, mesmo contrariando as pesquisas, que me tornam menos propício a isto.

Um grande abraço,
do conterrâneo,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO
SAULO SAMUEL DE PAIVA VILLELA

IPATINGA - MINAS GERAIS

EM 12/03/2007

Parabéns por este artigo, mas para mim, que sou um pequeno produtor de leite, ficou mais confuso, já que o artigo anterior mostra resultados diferentes.

Aproveito a oportunidade para fazer uma pergunta ao professor. Minhas vacas são F1 são inseminadas com gir e estou ficando com as fêmeas. Qual deve ser o próximo cruzamento, e ser for com holandês, as 5/8 são viáveis economicamente?

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Saulo,

Obrigado. É claro que não dá para dar palpite sobre situação específica pela internet. Porém, o Senhor poderia comparar sua situação com os dados da Tabela 1, que poderá lhe dar uma indicação do resultado esperado com as 1:4 Holandês, que no nosso caso não foi bom. Já as 5:8 da Tabela eram bimestiças e não correspondem ao 5:8 de Holandês x 1:4 que os Senhor está pensando fazer. Esse último 5:8 tem desempenho semelhante às F1, pois não perde tanta heterose quanto a bimestiça.

Uma outra alternativa é vender as bezerras ou novilhas e repor com F1 compradas. Isto poderá ser mais caro, porém mais lucrativo, dependendo, claro, de arranjar uma fonte de F1 de confiança e a preço razoável. Os dados da Tabela 1 poderão lhe ajudar, se o seu rebanho se enquadra nessas situações.

Saudações,
Fernando Madalena
PEDRO LUIZ NUNES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/03/2007

Caro professor,

Sou produtor de leite (3 mil litros/dia) com rebanho Girolando, com grau sanguíneo vaiando de 3/4 a 15/16 hol/gir. Faço duas observações:

1 - Como fazemos controle leiteiro com pesagens semanais e fechamento das lactoses (média de 5300 l/lactação vaca em 2005), temos a oportunidade de observar o comportamento dos diversos cruzamentos, que indica uma melhor preformance dos animais mais holandeses na produção sem comprometer a reprodução.

2 - Não tenho qualquer dúvida que a individualidade de cada fazenda tem que ser analisada, sendo perigosas as criações de paradigmas que poderão induzir nossos já sofridos produtores ao erro.

<b>Resposta do autor:</b>

Caro Sr. Pedro Luiz,

É isso aí: comparar os graus de sangue na mesma fazenda. Nesse alto nível de produção sua conclusão não surpreende. Em outras condições as coisas podem ser diferentes, com o Senhor diz.

Saudações,
Fernando Madalena
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/03/2007

Prezado Fernando,

Gostaria de saber por que se fala tanto em cruzamentos e ninguém aceita o fato de que os animais puros são, na realidade, os melhores para serem criados, apesar da ilusão do manejo mais difícil, já que, em meu pequeno e singelo entendimento, animais de alta produtividade, sejam eles puros ou mestiços, requerem sempre mais atenção e, em contrapartida, fornecem muito maior produção?

Sou selecionador de Gado Holandês, atividade herdada de meu avô, José Moreira de Mello Franco, que coloca nossa propriedade há cinqüenta anos no negócio, e, agora, atendendo a uma exigência de mercado, estou ingressando na criação de gado Jersey, para aumento de sólidos e gorduras do leite. Poderia ter optado pelo cruzamento entre as duas raças, mas, ao contrário, resolvi partir para a seleção, também, da raça Jersey, em rebanhos apartados.

Tenho a certeza que, desta forma, aproveito as duas características basilares de ambas as raças puras: a produção elevada da vaca holandêsa (no meu caso, média de 46,5 litros/dia/animal) e a maior porcentagem de gordura e sólidos do gado Jersey. Se misturasse ambas, ao final de algum período, teria perdido capacidades importantíssimas de cada uma das raças e teria um gado pior e menos valorizado comercialmente.

Não sou técnico, médico veterinário, nem zootecnista. Sou, apenas e tão somente, criador. Mas, ouso discordar do mestre quanto ao valor de venda dos animais, pois é inconcebível que um animal mestiço (1/2 sangue) valha mais que um 31/32 (PC). Na prática, não é isso que acontece, mesmo tendo por base (e, talvez, por isso mesmo) litros de leite. Tenho a certeza que não venderia animais mestiços pelo preço que comercializo minhas novilhas puras.

Um grande abraço.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Guilherme,

Vamos separar o produtor de leite comum, que só vende novilhas excedentes e vacas de refugo, do criador, direcionado principalmente para criação de animais para venda, que parece ser seu caso. A vaca oriunda de cruzamento de raças diferentes geralmente é mais fértil, longeva e precoce sexualmente que a vaca pura, e também produz mais leite, nas condições comuns de produçâo, e por isso as pessoas as preferem.

Claro que 46 kg de leite por dia não é o comum, nesse nível ninguém bate o Holandês, mas, a imensa maioria dos produtores de leite não produz dessa forma, porque não compensa economicamente. Já para quem vende principalmente tourinhos, novilhas e vacas, pode compensar, porque a alta produção funciona como propaganda do rebanho. Para fazer o cruzamento há de haver as raças puras, que criadores como o Senhor mantém.

Sobre os preços de venda auferidos pelas vacas do nosso experimento, fineza notar que são os preços de vaca velha, de 12 anos ou então de vaca de refugo para abate. As 1 4 auferiram o melhor preço para abate, porque vaca de refugo azebuada apresenta melhor condição corporal, e quanto mais holandesada pior, neste quesito.

Para leite, aos 12 anos, as F1 receberam melhores preços que os outros grupos. Se por gentileza o Senhor relee esta parte do artigo, nele foi apresentado o preço médio das que iam para abate e para produção, e ainda das mortas, consideradas com preço zero. A maior mortalidade das mais holandesadas derrubava esta média. Vaca Holandesa não é adaptada para fazenda comum da Região Sudeste. Isto não contradiz a sua afirmativa de que vende melhor pura que mestiça, já que nem, ao que parece, o Senhor se refere a vacas velhas, nem a sua fazenda é comum.

Um abraço do conterrâneo naturalizado juizforano,

Fernando
EDUARDO COGO ABIB

OUTRO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/03/2007

O manejo dos animais parece mais propício a animais mais azebuados, dadas as pequenas diferenças de produção, e até a produção maior das ½ sangue. Pois como produtor tenho os diferentes graus de sangue e os dados produtivos são bem diferentes, com produção bem maior para as mais holandesadas. Gostaria de saber se em um sistema com melhores condições para produção os dados de lucratividade seriam os mesmos.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Eduardo Abib,

As diferenças na lucratividade entre os graus de sangue certamente não serão as mesmas em outras condiçoes de produção, tanto maiores quanto menores que às do experimento. Mas deve se atentar não apenas para a produção, senão também para fertilidade, longevidade, mortalidade, precocidade sexual e outras características que influenciam os custos, pois o que interessa é lucro e não tão somente receita.

Fernando Madalena
RAIMUNDO LUIZ NUNES VAZ DA SILVA

SALVADOR - BAHIA - PESQUISA/ENSINO

EM 10/03/2007

Caro Madalena,

Permita-me aderir aos seus comentários felizmente postados no artigo supra. Comparar grupos genéticos sem considerar efeitos de fazenda e estes sobre os custos parece um equívoco. Costumo considerar com os produtores o seguinte: se o nível de produção de leite pretendido é, por exemplo, até 600 - 800 litros dia, trabalharemos com rebanhos com genética menos holandesa, produções acima disso tendemos para o holandês. Uma ou outra alternativa posta em prática, significa alterações significativas no sistema de produção, com acurado acompanhamento do impacto nos custos.

Parabéns pela clareza.

Saudações
Raimundo Luiz Vaz
EAFCATU-BA

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor Raimundo Luiz Vaz,

Obrigado pelo bondoso comentário. Exatamente, para cada tipo de fazenda há um cruzamento mais lucrativo, é a tal interação genótipo x ambiente que os melhristas falam. A produção por vaca total é um indicador simples combinando produção e fertilidade, duas das características mais importantes para o lucro.

Cordialmente,
Fernando Madalena
DIETHELM HAMMER

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 10/03/2007

Prezado Sr. Fernando,

Concordo com seu ponto de vista, mas quero questionar em geral a limitação das raças avaliadas na pesquisa. Infelizmente os produtores de leite do Brasil não recebem ou ignoram informações sobre raças acima de Holandes e Jersey, que serviam talvez muito mais como parceiros no cruzamento com zebuinos: as raças de dupla aptidão.

A melhor delas, Fleckvieh, com rebanho de 3,5 milhões de cabeças na Alemanha, está conhecida no Brasil como Simental e usado no cruzamento industrial para a produção de carne. As lactações/305 dias das vacas Fleckvieh expostas na atual exposição estadual de Baden Wuerttemberg falam por si mesmo:
Novilhas, 1.a lactacao 8.086 kg; vacas, média das lactações mais altas 9.726 kg, média sobre todas lactações 8.775 kg, respectivamente 26,5 kg, 28,8 kg e 31,9 kg de leite por dia.

Isso nao é bastante para uma raça de corte e uma indicação para ser parceiro para Gir, Guzera e talvez até para o Holandes? Basta lembrar que em 2005 a vaca que produziu mais leite na Expomilk em São Paulo era uma Fleckvieh alemã com 54 kg!

Na Alemanha e na Holanda cresce a tendência de usar o Fleckvieh para aumentar a renda de rebanhos de gado holandes, produzindo os mesmos 10.000 kg de leite mais um bezerro e uma vaca pesada e menos sensível ao stress da alta produção. São informações públicas. Como as centrais americanas, canadenses e holandesas, predominantes na distribuição de sêmen no Brasil, só trabalham com raças especializadas, elas não têm nada com dupla aptidão para oferecer e obviamente nenhum interesse para divulgar a existencia de concorrentes fortes.

Há mais de 20 anos, quando eu transformei no Brasil um rebanho Holandes em Fleckvieh eu acompanho esta realidade, e até hoje aquela fazenda vende os machos como reprodutores e ganha prêmios em julgamentos e torneios leiteiros. O que me levou para acabar com holandes foi o fato de desperdicar 50% da minha reprodução, que eram os bezerros machos. O prejuízo era compensado pela maior produção de leite, falou o vendedor de sêmen. Eu achei nisso muita especulação e pouca vantagem!

Saudacoes da Alemanha!
Diethelm Hammer

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Diethelm,

Concordo plenamente com as vantagens do sistema de dupla aptidão, criando o bezerro a vaca da mais leite total (ordenhada+bezerro) e o produtor pode se defender melhor das flutuações dos precios do leite. Por isso 95% dos produtores mineiros tiram leite com bezerro. Os bezerros mais holandesados são menos adaptados para as condiçoes de criação prevalecentes.

Concordo também sobre a necessidade se se testar outras raças, na apenas o Simental ou Fleckvieh, mas também o Holandês da Nova Zelândia e as raças vermelhas da Suécia e Noruega, que tem outras vantagens. Nosso grupo fez algumas pesquisas sobre cruzamentos de Jersey ou Pardo Suíço x vaca Holandês:Gir. Não fazemos mais porque recurso e organização não aparecem.

Saudações cordiais!
Fernando
FERNANDO ANTONIO DE AZEVEDO REIS

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/03/2007

Não tenho o conhecimento, o nível de formação e a capacidade dos professores Fernando Enrique Madalena e Sebastião Teixeira Gomes, mas como produtor de leite gostaria de expressar minha opinião, visto que esta não é a primeira vez que vejo discordância entre pesquisadores, desta vez em cruzamentos F1 ou 7/8, em outras situações confinamento ou pastejo, silagem de milho ou cana e por aí afora.

Até entendo que estes temas sejam polêmicos e nunca chegaramos a um consenso, os argumentos, as pesquisas, as realidades, tudo nos leva a um aprendizado, digo até que gosto deste forum do milkpoint, tenho verdadeira admiração a quem se dedica pesquisa, ensino.

Mas na visão de quem administra uma pequena propriedade que produziu em 2006 a média de 760 litros/dia (e que dá lucro), digo com convicção, não importa o cruzamento, ou o não cruzamento (gado puro), para mim a melhor solução é aquela que dá lucro no final do mês ao produtor, o gargalo não está no grau de sangue ou na raça e sim num conjunto de ações que sejam as mais acertadas para diferentes cenários (raça, grau de sangue, topografia, qualidade da terra, clima, mercado para o produto leite ou animais, mão de obra...).

Antes de qualquer coisa, acho que deveríamos educar e sensibilizar os nossos produtores a elaborar planilha de custo, inclusive por centro de custosm (saber quanto custa cada atividade), pois esta é a melhor opção para subsidiar as decisões.

Com certeza o gargalo não é a raça ou grau de sangue.
Ah, gostaria de esclarecer que na minha região (Itajubá - sul de minas) o que mais temos é gado cruzado, mas o meu é Jersey PO (criamos a 18 anos e estamos muito satisfeito).

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Fernando Antonio,

Concordo plenamente que há muitas coisas importantes além do grau de sangue, principalmente o produtor atentar para suas receitas e custos. Mas não se deve minimizar a importância do cruzamento utilizado. É só olhar para o lucro na Tabela 1. Dependendo do nível de manejo, as diferenças são muito grandes.

Fernando Madalena
CRISTOVAM EDSON LOBATO CAMPOS

BARBACENA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/03/2007

Gostaria de deixar o meu depoimento, pois sou produtor de leite (com gado holandês) e isso tudo me estranha um pouco...

Primeiro, porque meu negócio é todo computado na ponta do lápis e não vejo, em 15 anos de experiência, nenhuma desvantagem em utilizar o sistema de produção (semi-intensivo) e o tipo de gado (raça holandesa). Estou satisfeito com a minha atividade!
Além disso, não posso acreditar que uma vaca que produza 3147 kg de leite/lactação, possa ser denominada como 31/32. Nem que uma fazenda que admita uma mortalidade de quase 20%, até um ano de idade, seja chamada de "produtora de leite"... Talvez isso caiba numa propriedade de gado de corte, bem mal comandada.

Há quanto tempo não se vê holandesas e 5/8 produzindo tão pouco? Esse experimento é recente?
Apesar de não entender sobre experimentos, parece-me claro que realizá-los em situações de manejo limitantes, induz a uma reposta melhor daqueles animais que são muito resistentes e pouco produtivos mesmo.

Da mesma forma que realizá-los num sistema mais "elaborado" resultaria numa grande vantagem econômica dos animais com maior grau de sangue holandês, jersey...

Ou seja, pra mim, é obvio que os sistemas devem se adaptar a cada tipo de gado. Isso quer dizer, que para cada nível de produção (kg/vaca) existe um tipo de manejo mais adequado e, ao mesmo tempo, tão rentável quanto os outros (nessa parte eu concordo com o Dr. Fernando).

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Cristovam,

Como o Senhor diz, para cada sistema tem um tipo de gado melhor, e por isso mesmo foram testados os cruzamentos em dois tipos de fazenda diferentes. Nos não induzimos nada, simplesmente avaliamos todo mundo em todas as duas condições e tiramos conclusões para cada caso.

As fêmeas com 31:32 ou mais de HVB eram filhas de 31 touros de inseminação e 110 matrizes compradas, com papel passado, em 10 criatórios do Sul de Minas. No registro constava o grau de sangue, que era no mínimo 15:16 e a inspeção visual correspondia. De forma que não há o que questionar, a não ser que o registro estivesse mutretado, mas é muitao gado para que acontecesse com todas, e a inspeção dos colegas, técnicos de campo experientes, que compraram o gado, conferia.

As fazendas foram escolhidas para serem representativas de fazendas de duas ordenhas na Região Sudeste, e o fato de terem baixo nível de produção não tem nada de estranho, é a realidade. No site da Embrapa se informa que a média de produção por vaca ordenhada em Minas é 1482 litros e em São Paulo 1065 litros. A mortalidade de bezerras foi mesmo alta, mas onde morriam 19,2% das holandesadas morriam 11,1% das F1. O Senhor mesmo diz que nos níveis piores as mais adaptadas se saim melhor, que foi o que aconteceu, então, porque que isso seria estranho£

Se o Senhor está satisfeito com sua criação de Holandês, com certeza deve ter um manejo melhor, e isso não é para nada contraditório com os resultados do experimento, apenas está em condição diferente, que, convenhamos, não é a da maioria.

Atenciosamente,
Fernando Madalena
MATOZALÉM CAMILO

ITUIUTABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/03/2007

Professor Madalena,

Você tem razão em alguns pontos de sua análise, porém ainda existem coisas que carecem de melhores explicações. Na época que eu estudava medicina veterinária e o professor mensionava o seu trabalho que detectou superioridade da F1, alguma coisa me parecia estar faltando. Porque em alguns casos, parecia que a gente observava vantagens para as vacas com maior grau de sangue holandes em determinadas regiões.

Passados 15 anos e após vários acompanhamentos de rebanhos em diferentes regiões do Estado de Minas Gerais e Goias, me parece bastante claro que a questão fundamental não é se a F1 é melhor ou pior, mas sim onde a F1 seria melhor:
Veja 2 exemplos que poderiam embasar um pouco mais na resposta a este questionamento de ONDE a 1/2 é melhor ?

Exemplo 1 :
Em algumas regiões pontuais no médio rio doce (p. ex. Santa Maria do Suaçui, Agua Boa, José Raydan, etc.), onde o preço médio leite em 2006 foi de R$0,35/L e o preço de 1 Kg de concentrado com 22% de PB foi de R$0,58:
1º cenário :
F1 com 12 litros leite/dia recebendo só pasto bom
Saldo (Receita-Concentrado) = ( 12 L x 0,35 )-( 0 x 0,58 ) = R$4,20/vaca/dia
2º cenário :
Vaca 7/8 com 20 litros/dia, recebendo 7,5 kg de conc.
Saldo (Receita-Conc.) = (20 x 0,35 )-( 7,5 x 0,58 ) = R$ 2,65/vaca/dia
Nesta região com este preço de leite e de concentrado a F1 parece ser mais atrativa (o saldo foi 37% superior para a F1)

Exemplo 2 :
Na região de Uberlândia, onde o preço médio do leite em 2006, foi de R$0,55/L e um bom concentrado com 22% de PB foi adquirido por R$0,45/kg.
3º cenário :
F1 com 12 litros leite/dia recebendo apenas pasto bom
Saldo ( Receita - Concentrado ) = ( 12 L x 0,55 )-( 0 x 0,58 ) = R$6,60/vaca/dia
4º cenário :
Vaca 3/4 com 20 litros/dia, recebendo 7,5 kg de concentrado
Saldo ( Receita - Concentrado ) = (20 x 0,55 )-( 7,5 x 0,45 ) = R$ 7,63/vaca/dia

Nesta região com este preço de leite e de concentrado, a F1 não parece ser a mais atrativa ( houve superioridade de 14% da 3/4). Com um porém, em rebanhos maiores ( com 200 a 300 vacas em lactação ) a ordenha sem a presença do bezerro ao pé fica mais ágil. A F1, na maioria dos casos encurta muito o período de lactação se ordenhada sem o bezerro ao pé. Portanto, fica difícil enquadrar uma F1 neste tipo específico de manejo de ordenha.

Com base em observações como estas, é que acredito que ambas as vacas são boas ( F1 e 3/4...) porém existe a região e condições ideais para cada uma delas. Não acredito em uma vaca ideal, mas sim que existem regiões ideais para cada tipo de vaca. O trabalho que o professor Madalena fez na década de 80 é de muita crediblidade, porém as observações feitas pelo professor Teixeira Gomes, também são muito coerentes e presenciadas constantemente em várias regiões de minas e de outros estados também. Acredito não ser por acaso que fazendas que cosnseguem melhorar o manejo etejam optando por vacas 3/4 ou até 7/8

Att,
Matozalém Camilo Neto
Médico Veterinário
Ituiutaba

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Dr. Matozalém ,

A sua observação coincide com o que se fala no meu artigo, a F1 não é a única e universal solução genética, senão, como você diz, o cruzamento mais apropriado depende do manejo. É a tal interação genótipo x ambiente dos melhoristas. Acontece que, nos dois tipos de fazenda no nosso experimento, a F1 foi melhor, diminuindo a superioridade ao melhorar o manejo.

Em fazendas com mais insumos ainda, e que orenham sem bezerro, o resultado será diferente. Faltam pesquisas abrangentes para esse tipo de fazenda. De forma que estamos essencialmente de acordo nos conceitos.

Entretanto, favor notar que a Receita do leite - concentrado deja muito a desejar como medida da lucratividade, uma vez que não inclui os efeitos das diferenças genéticas em fertilidade, mortalidade, morbidade, longevidade e precocidade sexual, que influem muito no custo e podem mudar as conclusões.

Atenciosamente,
Feranado Madalena
ALEXEY HERONVILLE GONÇALVES DA SILVA

JATAÍ - GOIÁS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 09/03/2007

Gostaria de parabenizar o autor pelo ótimo e polêmico artigo e também de fazer algumas considerações. Aqui em Goiás, mais especificamente na bacia leiteira do sudoeste goiano, está havendo uma corrida ao cruzamento do momento: "Jersolando", ou seja, o cruzamento entre o gado Jersey X Holandês.

Os argumentos são, na minha opinião, os mais vagos e pobres possíveis, totalmente sem embasamento nos mais mínimos critérios de avaliação real e criteriosa das vantagens e desvantagens deste cruzamento. No caso, são os seguintes os tais argumentos: Vacas de porte menor que produzem, proporcionalmente, pelo consumo de alimentos dessa raça (Jersey), mais leite que o Holandês; Vacas mais rústicas; Vacas que exigem áreas de pastagens menores; Menos exigente em mão-de-obra e por aí vai.

O grande problema é que nenhuma planilha de custos do Antes e do Depois do cruzamento é apresentada, nenhuma real situação desse cruzamento nos é apresentada, nada, apenas falatório, marketing e artigos sem pé nem cabeça são produzidos. Quando é que o Brasil vai abandonar a prática dos modismos, ou da eterna busca do cruzamento ideal, do pasto milagroso, da ração milagrosa, etc.? Será que não evoluiremos nunca nossa concepção de produzir leite, respeitando as milhares de nuances que a atividade têm como característica? Como as que o autor desse artigo já apresentou.

Enfim, se o autor, ou alguém, com um pouquinho mais de esclarecimentos, e dados concretos das REAIS vantagens desse cruzamento, quiser entrar em contato comigo eu gostaria muito. Mais uma coisa, para a nossa região, temos uma pérola que está se perdendo atualmente, o gado Girolando, que apesar da dificuldade de se obter a estabilização do rebanho, é realmente produtivo e rústico, para os sistemas de produção semi-intensivo (a pasto nas águas e confinado na seca) de nossa região.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Senhor Alexei,

Agradeço o comentário bondoso. Concordo plenamente na necessidade de pesquisas sérias, avaliando custos e benefícios das alternativas comparadas.
Temos alguns resultados de cruzamentos de Jersey x Holandês:Gir, no momento estou fora do Brasil, quando voltar lhe enviarei a referência.

Fernando Madalena
CASSIO VINICIUS VIVEIRA

MONTE ALEGRE DE MINAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/03/2007

Parabéns pelo artigo! É um dos poucos que conseguiu abordar de maneira coerente a necessidade de interpolação entre as diferentes possibiliades e oportunidades de desempenho na atividade leiteira com a informação técnica disponibilizada através da pesquisa.

Todas as vezes que o assunto de direcionamento genético é colocado em discussão são citados como pilastras de sustentação da argumentação, trabalhos conduzidos por pesquisadores ou pessoas referenciais do meio. A questão de divergência entre os dois artigos vem reforçar o quão perigoso é a colheita imperiosa de dados e sua interpretação.

O fato é que existem várias propriedades eficientes trabalhando com vacas F1 e várias com animais de sangue europeu. Apesar de muitos buscarem a raça ou o grau de sangue ideal, a diferença entre as propriedades eficientes e as deficitárias não está especificamente na composição genética de animais especializados na produção de leite. No alicerce do sucesso, está o conhecimento do negócio e a sua gestão, que envolve incluvise o aproveitamento de sinergias produtivas.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Cássio,

Obrigado pelo comentário. De fato, este assunto de raças e cruzamentos é geralmente discutido com muita paixão. Porque será que as pessoas não discutem com o mesmo calor o capim que usam ou o tanto de ração que é mais econômico. Não há mesmo grau de sangue ideal, apenas alguns mais adaptados para cada tipo de situação. O bom gerenciamento é sim essencial, e ele inclui escolher a melhor alternativa de cuzamentos para combinar com os outros elementos dos sistema de produção.

Fernando Madalena
CÁCIO RIBEIRO DE PAULA

PIRACANJUBA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/03/2007

Porque temos diferentes níveis tecnológicos, daí se infere que todos estão corretos? Ou, que devem ser seguidos? Por que, no Brasil, a cana, a soja e a avicultura, por exemplo, são atividades competitivas e respeitadas em qualquer parte do Globo? Por que o leite produzido na Nova Zelândia é o mais competitivo no mundo?

Até que ponto a "permissividade tecnológica" do leite no Brasil seria saudável do ponto de vista da competitividade Global?

Coloquemos persistência de lactação de uma vaca leiteira especializada em animais zebus! Aí não poderemos ter dúvida sobre qual tipo de cruzamento é mais adequado a essa ou àquela propriedade!
Torna-se essencial discutir e avaliar com critério as questões apresentadas, dentre inúmeras outras. Senão continuaremos tendo o leite como o "patinho feio" da agropecuária brasileira.

Grato.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Cácio,

Da nossa parte não pretendiamos, com o experimento de cruzamentos, opinar sobre qual sistema de produção seria melhor, apenas reconhecemos que existe uma grande variação nas maneiras de se produzir leite no Brasil e avaliar as melhores alternativas de cruzamentos nas condições mais comuns e em outras um pouco melhores. Num país do tamanho do Brasi, com 1 milhão de produtores, é difícil pensar em teconolgia única para todos.

Atc.,
Fernando Madalena

<b>Resposta de Cácio:</b>

Dr. Madalena,

Concordo com suas ponderações. Claro que não se pode afirmar, em hipótese alguma, que o melhor sistema de produção de leite é "esse" ou "aquele". Quis eu evidenciar que, independente de sistema, é impossível produzir leite com eficiência técnica e econômica, em qualquer lugar do Planeta, sem o mínimo de persistência de lactação. Não sou adepto à Raça A ou B. Pode ser a raça C, com persistência.

O "ideal" seria explorar animais zebus ou com bom grau de Bos indicus, com ampla adaptação climática, geográfica e rusticidade,.. etc., porém esbarramos na persistência a nível de rebanho.

Saudações,
Cácio.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Cácio,

Problemas de lactações curtas tem havido na ordenha a máquina sem bezerro, mas não com apojo.

Saudações,
Fernando Madalena

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