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Enigma Agrário

POR XICO GRAZIANO

ESPAÇO ABERTO

EM 22/04/2010

4 MIN DE LEITURA

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Acontece mais um abril "vermelho". O roteiro dessa confusão anda bem conhecido pela sociedade. Incerto mesmo está o propósito atual das estripulias agrárias no campo. O que pretende, afinal, o Movimento dos Sem-Terra (MST)?

Resposta óbvia: a reforma agrária. Sabe-se que o famoso movimento surgiu, há 25 anos, na luta contra o latifúndio. Historicamente a distribuição de terras se preconizava como caminho para o moderno desenvolvimento latino-americano. O Estatuto da Terra chega em 1964. Reprimido pelo regime militar, pouco solucionou o problema.

Quando, em 1985, sucedendo o autoritarismo, se instala a chamada Nova República, enormes expectativas se criam no País, cheio de vontade para redimir seu injusto passado. Um milhão de assentamentos rurais, no prazo de quatro anos, acaba prometido ao povo. Agora vai, pensaram os reformistas da esquerda.

Findo o governo Sarney, apenas 82.260 famílias foram beneficiadas pela reforma agrária. Uma frustração tomou conta da sociedade. Havia restrições legais. A nova Constituição, promulgada em 1988, exigia leis complementares que tardaram para regulamentar o processo de redistribuição fundiária. Collor não ligou para o assunto. Itamar tentou, mas pouco conseguiu avançar.

Fernando Henrique assumiu o governo, em 1995, com um enorme passivo agrário a enfrentar. Barracos de lona preta indicavam dezenas de acampamentos às margens das rodovias, na beirada de fazendas marcadas pela encrenca. Cerca de 50 mil famílias, gente excluída da modernização agrícola, se acotovelavam gritando pela terra prometida. Reforma agrária já.

Nessa época, o MST começava a se firmar no cenário das lutas agrárias, rivalizando com a tradicional, e poderosa, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Dominada historicamente pelos comunistas, a Contag envelhecera seus métodos de atuação política, acusada de peleguismo. Surgiram assim, pelas mãos da moçada gaúcha do MST, as violentas invasões de terras. O bicho pegou.

Invadir propriedades rurais - ou ocupar latifúndios, conforme dissimuladamente se denominava a arbitrariedade - chamava a atenção contra a lerdeza do processo de redistribuição fundiária, empurrando a agenda governamental para frente. Por isso, recebia o apoio da sociedade. A mídia adorava.

Passaram-se 15 anos. E, surpresa, ao contrário do que pensa o senso comum, o Brasil realizou a maior reforma agrária do mundo. O último relatório do Incra aponta a existência de 8.562 projetos implantados, com 906.878 famílias assentadas. Somados os mais recentes, pode-se dizer que 1 milhão de famílias recebeu terras, somando 80 milhões de hectares distribuídos. Para comparação, a área total cultivada no País atinge 67 milhões de hectares. Pasmem.

Ora, se a distribuição foi tamanha, por que não se acalmam os sem-terras? O argumento histórico, percebam, sobre a lerdeza do governo no processo da reforma agrária, não cabe mais. Algo distinto move o MST. Destrinchar esse enigma faz bem ao debate nacional.

A turma do MST afirma que ainda falta muita gente para ganhar seu quinhão. Pode ser. Mas essa hipótese considera incluir os desempregados da cidade, não propriamente os tradicionais sem terra, aqueles excluídos no campo. Fabricar sem-terras nas periferias urbanas infla a conta, mas não garante sucesso. Pelo contrário. Parte do fracasso dos assentamentos rurais se deve exatamente à falta de aptidão para a lide rural.

Outra linha de raciocínio centra fogo no agronegócio. Antigamente era o latifúndio culpado pelo mal. Sua existência caracterizava o velho feudalismo a ser varrido do mapa. Agora, porém, modernizadas as relações de produção, criou-se nova dicotomia, aquela que opõe a agricultura familiar ao negócio rural capitalista. Os ideólogos do MST abriram um fosso entre a via campesina e a agricultura empresarial. Tremenda bobagem.

Celso Ming escreveu em sua coluna no Estado, dias atrás, que o MST carrega a bandeira do atraso, invocando, muito apropriadamente, o conceito das utopias regressivas. No popular, lembra o apelo bucólico do passado, aquela reminiscência gostosa, bem brasileira, da época em que o bolo de fubá se fazia com ovo caipira colhido no quintal, perto da horta caseira. Um passeio a cavalo, um fogão a lenha na cabana da montanha. Quem não gosta?

No fundo, ao defender a agricultura familiar e atacar o agronegócio, valoriza-se a pobreza rural. Utopia faz bem, perfuma a vida. Mas cultivar a existência miserável abre caminho para a subserviência humana. Fazer reforma agrária só tem sentido se, economicamente, resultar em progresso material, em melhoria de qualidade de vida dos beneficiados. O MST, ao recusar a tecnologia e a integração produtiva, características básicas da moderna agricultura, condena o assentado à eterna dependência.

Difícil entender as razões do MST. Possivelmente, ainda mais em anos eleitorais como este, a motivação se encontra na política. No período de Fernando Henrique, lembram-se, o MST dizia combater o neoliberalismo. Uma chatice. Entrou o Lula, roupagem dúbia adornou a tagarelice do Stédile, bem no estilo oficial do bate-e-assopra, uma invasão aqui, um convênio ali. Beira a picaretagem.

Aproximando-se o pleito presidencial, divulga o ignóbil líder do MST que a eleição do Serra seria o "pior dos mundos". Depreende-se, portanto, que suas ações avermelhadas servem à candidatura oficial. Para divulgá-la invadem fazendas produtivas, destroem laranjais, queimam viveiros, roubam gado, fazem justiça com as próprias mãos. Resultado: estimulam a violência no campo. Sorte da Dilma?

Azar da democracia. Ninguém aguenta mais as invasões de terras.

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RODRIGO VIEIRA DE MORAIS

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/04/2010

As coisas funcionam assim.
Os integrantes do MST com toda a sua garra nas invasões conseguiram dos governos: terra para morar (ainda que mal), financiamento a custo perdido, linha de financiamento com juros menores, etc...
Podemos falar que não vai dar em nada este movimento estas invasões, pois são poucos os que quando ganham o direito de utilizar a terra vão ter sucesso na mesma.
Mas o que deveria ser analisado é que os produtores rurais, se ficarem nas suas propriedades não vão conseguir nada dos governantes.
No Brasil as manifestações são reprimidas, mas nos países de 1 mundo as manifestações dos agricultores sempre solucionam em ganhos para os agricultores. (ou vcs acham que os subsídios foram inventados pelos governantes de lá).
Até los ermanos Argentinos deram uma mostra do que são capazes de fazer.
Portanto a realidade é que se os produtores rurais brasileiros não se organizarem e manifestarem suas idéias, vamos ter uma agricultura cada vez mais predatória.
GUILHERME GOMES DE CARVALHO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 23/04/2010

Pois voltemos então no tempo.

A ocupação humana da terra sempre foi o motivo das maiores batalhas já travadas, sempre foi razão da ganância dos reis e dos conquistadores, também da igreja católica, e dos políticos de todo o mundo. A defesa da terra sempre foi marcada por batalhas sangrentas, pelos camponeses que se recusavam a mudar seus pacatos e milenares estilos de vida. Quem nunca ouviu falar das Cruzadas, de Alexandre o grande, ou Napoleão? Como não lembrar do famoso filme "Coração Valente", que retrata a resistência escocesa à invasão inglesa. Muita guerra para garantir a liberdade, a produtividade, o suporte do governo e da mídia, e a sustentabilidade com qualidade de vida dos campesinos que tem a lida com a terra sua única fonte de renda.

No entanto, no Brasil a história foi bem diferente. Esta semana tivemos um feriado nacional para celebrar a lição de Tiradentes, que foi esquartejado para manter os interesses da coroa. 33 anos mais tarde UMA espada era erguida por um príncipe português e estava declarada a independência. Aqueles camponeses, foram gradualmente se tornando funcionários de grandes fazendas ou mudaram para cidades, onde podiam trabalhar para comprar no mercado aquilo que sempre tiraram da terra. A ganância continua. A terra hoje é o bem mais precioso que há, cada dia está mais cara, frequentemente se torna menos produtiva ano após ano, envenenada pelos mais diversos químicos, nascentes desaparecendo, e a diversidade cada vez menor. Qualquer movimento subversivo é prontamente reprimido pelo governo e a mídia se prontifica a esculachar a chamada "justiça com as próprias mãos" e garantir a ira da opinião pública.

Cinqüenta anos atrás ocorreu no Brasil um marco que pode ser comparado à conquista do velho oeste nos Estados Unidos, que foi a criação de Brasília, a capital do país, não sei se por ironia, mas justamente no dia de Tiradentes. O centro-oeste foi ocupado pelo capital, vastas porções de terra, plana, fértil, muita água, e "sem dono". Hoje se tornou altamente produtiva, um deserto verde enorme regido por um único coronel. Os latifúndios estão espalhados por todo o país, sejam eles produtivos ou não, e despertam sempre o interesse daqueles que acreditam em uma distribuição mais igualitária da terra, e daqueles que outrora cultivaram naqueles solos. Mas por que será que os antigos moradores daquelas terras "não sabem produzir alimentos"? Qual amparo técnico é oferecido pelo governo para a produção mais eficiente? É curioso pensar isto sabendo que mais de 70% da comida dos brasileiros provém dos pequenos agricultores.

Enquanto isso as grandes cidades não param de crescer, e com ela o trânsito, o estresse, o risco de epidemias e doenças contagiosas, o caos, e a exploração desenfreada dos recursos naturais. Começa a crescer agora um fenômeno não muito comum, o êxodo urbano. E assim continuo a devagar... o que quer o MST? Por que será que eles ganham tantos prêmios internacionais? Quando serão julgados tantos processos de trabalho escravo no campo? Por que tanta luta para o fim dos subsídios agrícolas em outros países? Não quero neste comentário defender nem atacar ninguém, apenas iniciar um debate democrático abrangendo todo o contexto histórico da formação da sociedade brasileira, que levou ao surgimento de um movimento ativo e armado como o MST.

Sem mais devaneios, concluo dizendo que também estou sem terra, e aceito doação. Brincadeira.

Xico Graziano, parabéns pelo artigo. A reforma agrária é importantíssima, e acredito que muito debate precisa ser feito para que ela ocorra da melhor maneira possível, promovendo a justiça e o desenvolvimento social e da agropecuária do Brasil.

Grande abraço,
Guilherme Gomes de Carvalho.
MARCOS VINICIUS GREIN

BALSAS - MARANHÃO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/04/2010

Prezado Xico
Seus comentários deveriam ser lidos em todas as escolas e praças públicas do Brasil, de maneira a esclarecer a população sobre os crimes contra a propriedade cometidos pelos ditos movimentos sociais. O problema da reforma agrária não é na verdade um problema de terra, é um problema de geração de renda da atividade agrícola.
Parabéns!
NEIMAR CORREA SEVERO

UBERABA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 23/04/2010

Prezado Xico
Seu artigo demonstra sua lucidês com relação a assunto tão polêmico para a sociedade brasileira. O meio rural não aguenta mais tanta violência, comandada por algumas dezenas de espertos dirigentes (???) desta infame "troupe" chamada MST. A sociedade urbana, que ainda defende o movimento, tratando-os como coitadinhos que lutam por belos ideais, deve acordar porque a hora que não tiver mais terras para invadir, vão buscar nas cidades a continuidade de suas lutas.
Pobre Brasil.
RAMON BENICIO LIMA DA SILVA

NITERÓI - RIO DE JANEIRO

EM 23/04/2010

Prezado Xico Graziano,

Quero parabenizá-lo pelo artigo repleto de lucidez. E como você bem indica nenhum brasileiro e contra a reforma agrária mas precisamos de uma reforma que contemple a produtividade. Parece que a lucidez presente em abundância no seu artigo é minguada na cabeça daqueles que usam a bandeira da reforma agrária de forma emblemática apenas para marcar presença no cenário político do país.

Certamente o atual governo perdeu o trem da reforma agrária e agora não sabe o que fazer para retomar o controle da situação (ou não quer retormar este controle), parece que posar de estadista para os governantes de além mar será suficiente para resolver os graves problemas que temos internamente.

Um grande abraço
Ramon Benicio

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