ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

E a seca continua

ESPAÇO ABERTO

EM 08/02/2013

4 MIN DE LEITURA

4
0
Por Mário Borba, presidente da FAEPA

Em recente viagem pelo interior da Paraíba e outros estados do nordeste, pude constatar que, apesar das tentativas estaduais e federais de minimizar as consequências da pior seca dos últimos anos, a situação continua crítica e, infelizmente, de mal a pior. A falta de água e comida é real e preocupante. Se o que aconteceu em 2012 se repetir em 2013, será o fim da agropecuária do nordeste.

No Vale do Piancó, por exemplo, a distribuição de proteinado e outros tipos de ração já não é suficiente para atender a demanda dos produtores rurais. O que se ouve são histórias dos produtores que já perderam mais de 700 cabeças de gado e sobre a produção de leite que era de 17 mil litros/dia e hoje só chega a 3 mil litros/dia.

Em Sousa, a produção caiu de 100 mil litros/dia para apenas 30 mil litros/dia. O Programa Leite da Paraíba que era abastecido com 120 mil litros de leite por dia, atualmente recebe cerca de 10 mil litros/dia.

A estimativa de perda do rebanho era de 40%, hoje a previsão é que as perdas ultrapassem 50% dos animais da Paraíba. Em algumas regiões, 60% do rebanho já desapareceu.

A evasão do campo só cresce. Nada de palpável ou valioso está sendo construído na zona rural, enquanto nas cidades, a construção de loteamentos serve como incentivo para que as pessoas abandonem o campo. A população rural hoje corresponde a 17% da população país. No nordeste, 26% da população está na área rural. Em 2050, apenas 7% da população permanecerá no campo. Quantos sobrarão no nordeste?!

E estas pessoas estão saindo do campo endividadas. Hoje, no nordeste, existem 114.175 produtores com dívida ativa na União. Só na Paraíba, são 5.606 produtores inadimplentes. A inadimplência junto ao Banco do Nordeste (BNB), em todo a região nordeste, chega a R$ 10 bilhões. E, se não houver uma ação do Governo Federal que resolva o passivo do crédito rural da região, que vem acumulando desde os anos 90, volto a repetir, a agropecuária do semiárido e do nordeste acabará de vez.

Sobre a educação é preferível nem falar, pois a situação da maior parte das escolas rurais é decadente, sofrível. E, por favor, me diga como uma população poderia estar preparada para uma catástrofe como esta, se um de seus direitos básicos, que é a educação, lhe é negado?

Os problemas, no entanto, são “disfarçados” pelos programas sociais do Governo Federal, que acabaram com a fome, com a miséria e com a dignidade das pessoas, criando uma legião de acomodados, que estarão, mais uma vez, despreparados para enfrentar as próximas secas. Até quando o país aguentará pagar esta conta? Até quando estas pessoas estarão “protegidas” por este guarda-chuva, ou melhor guarda-sol, que se mostra cada vez mais vulnerável?

Só aqueles que vivem e dependem do campo é que sabem o que estão passando, sem forragem, sem água, sem crédito e endividados. Só quem está vivendo os horrores desta seca, sabe. Só quem está perdendo tudo, inclusive a família, se vendo forçado a enviar seus filhos e esposa para a cidade, sabe. Os produtores rurais do nosso estado e de todo o nordeste sabem. Muitos deles já começam a sofrer de doenças, enfartos, derrames e até mesmos a desistir de suas vidas. E por quê? Por dignidade.

O produtor rural tem brio, orgulho e honra. E a seca tem tirado até mesmo estes valores de muitos deles.

Entre os anos de 1877 e 1878, 500 mil nordestinos morreram de fome, devido a seca. Em 1942 e 1943, milhares de nordestinos, fugindo da falta de água e comida, foram para a Amazônia extrair borracha. Metade deles morreu de malária. O que será feito HOJE para evitar que prejuízos como estes voltem a acontecer?

Estes fatos e muitos outros estão na pauta de reinvindicação elaborada pela Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba e que será entregue para o governador Ricardo Coutinho, durante a audiência que tenho com ele nos próximos dias.

Somamos a estas reivindicações e pedidos desesperados de milhares de produtores do nosso estado, um apelo aos nossos representantes, aos deputados estaduais e federais e senadores, para que eles olhem para a Paraíba e ajude-nos a salvar o que ainda existe.

Viver no semiárido é totalmente possível. Existem, hoje, diversas alternativas viáveis para a sobrevivência nesta região e a pecuária é uma delas. Existem diversos exemplos a serem seguidos, como a Austrália, grande produtor de carne, que possui uma região semiárida onde chove de 200 a 300 ml em apenas 90 dias.

O nordeste tem uma vocação natural para pecuária, especialmente para a produção de leite. Tem referência genética das raças Sindi, Gir, gado mestiço e leiteiro, sem falar nos caprinos. É preciso acabar com a demagogia da distribuição de sementes para os produtores do semiárido. O investimento deve ser na pecuária, com distribuição de animais para os produtores iniciarem seus plantéis.

A distribuição de sementes de capim búfalo e outras variedades resistentes para alimentação animal, investimentos na avicultura e a criação de polos produtores de forragem são outras alternativas.

Volto a pedir às autoridades competentes da Paraíba e do Brasil que acordem para a realidade e escutem as vozes dos milhares de produtores rurais do nordeste, que neste momento, pedem socorro para as autoridades para que não se repita o que foi vivido em 1877. O capital pecuário não é só patrimônio de quem possui, ele é também responsabilidade do Estado.

4

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

FRANCISCO DE ASSIS PERAZZO

JOÃO PESSOA - PARAIBA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/02/2013

Caro amigo e Presidente da FAEPA ,



Sei da sua luta, por sinal constante , em prol do nosso segmento agropecuário.

Em tudo estou consciente com o que vc relata em seu tão bem elaborado texto, premido pela emoção de vivenciar a cada dia o total "desmantelamento" do nosso setor primário.

Todavia, me desculpe pela franqueza , não estamos mais a ver as invasões das cidades pelos oprimidos pela fome.

Por que ?

A resposta é que estamos vivenciando um momento singular e preocupante, de que os que invadiam as feiras nordestinas estão sendo contemplados pelos "salários" do fome zero + bolsa familia + bolsa escola + seguro safra + etc...etc....

Aprovo plenamente a dignidade do Gov .Federal em complementar a renda dos desafortunados em " não poder produzir " .

Entretanto, sabemos todos que queremos continuar na nossa missão em sermos o maior contribuidor para o PIB brasileiro , e que tem que existir um elo para a não efetivação do que já dizia o nosso Luiz Gonzaga " Esmola para um homem são vicia o cidadão "  .

Prezado Mário , talvez pela sua posição de homem público e defensor de uma classe, não queira descer a detalhes como o faço agora .

As benesses do Governo são entendidas de outras forma pelos beneficiários . Me acosto ao setor público no seu desejo de diminuir as desigualdades.

Entretanto, os beneficiários estão a considerar que tais valores são como salários.Tanto que não temos mais os "vaqueiros" ; os "cerqueiros" ; os " tiradores de leite" , enfim, as pessoas importantes no dia a dia de uma fazenda .

Todos se acham patrões e mandatários da sua própria vida .

E aí, como vão produzir a médias e grandes propriedades . Será que o Governo é contra quem produz mais do que 45 % do PIB nacional ?

Mário , a questão é mais em cima . A educação é primordial para uma nação vencer , todos sabemos . A Europa e EUA , e outros países , preservam a sua classe produtora.

Aqui, não.

A  pretexto de inclusões sociais , estamos a presenciar, " nas regiões que precisam de mão de obra " , como nós na Paraíba e parte do NE , pois em outras o trator  e a colheitadeira digitais resolvem o problema .

Tal fato está a gerar o TOTAL abandono da zona rural , pois não existe um controle "produtivo" , vamos assim dizer , para quem é beneficiário.

O correto seria que os que estão contemplados com tais benefícios "continuassem nas fazendas", exercendo as suas labutas diárias e correspondentes ás suas obrigações em produzir. E não o que estamos a hoje presenciar , no uso dos benefícios governamentais, em utiliza-los para outros fins que não são dependentes para auxílio á sua sobrevivência e no afastar malévolo e inconsequente das suas atribuições como parceiros no produzir.

Esta é a minha opinião , com as devidas desculpas a quem pense o contrário.



Att.



Francisco Perazzo
JULIANO CAMPOS VALE

TERESINA - PIAUÍ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/02/2013

Boa matéria!



Estou no Piauí e sinto por aqui a mesma dor e angústia do seu relato. Infelizmente a inércia e a cegueira do Governo do Piauí são gigantescas. Gostaria que a  nossa Federação (FAEPI) fosse mais atuante.

Valeu,



Juliano Vale
CRISTIANE CAROLINE ABADE

LONDRINA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 11/02/2013

um ótimo texto... PARABÉNS! obrigado por trazer um assunto tão importante!

Cada vez que leio  ou assisto reportagens na TV sobre a seca me entristeço =/

São tantas pessoas sofrendo... são tantos animais morrendo...

E o que me indigna é saber que tem sim solução! Como o texto mesmo diz diversos países lidam com regiões semiáridas sem tamanho sofrimento!!!

Está na hora do Brasil mudar! o sertanejo não precisa de programas tapa buraco mas sim de EDUCAÇÃO primeiramente e apoio técnico para que as pessoas aprendam a lidar com seu clima e sua terra.
MARCELO BRANQUINHO PEREIRA

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/02/2013

E a transposição do rio São Francisco,não há interesse político em acabar com a seca pois diminuiria a dependência das bolsas "voto".A seca fortalece os atuais políticos.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures