ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Distúrbio bipolar

POR MARIO SÉRGIO ZONI*

ESPAÇO ABERTO

EM 03/10/2007

3 MIN DE LEITURA

4
0
Distúrbio bipolar é uma doença em que o paciente em alguns momentos apresenta quadros de euforia e logo em seguida migra para quadros de profunda depressão. Vocês podem me perguntar o que isso tem a ver com o mercado de leite. Na minha visão, tem tudo a ver, pois é assim que os produtores tem vivido nos últimos anos, migrando de depressão para euforia e de euforia para depressão quase que imediatamente.

Em um ano que se apresentava muito complicado devido ao intenso calor nos meses de outono e que derrubou a produção e os índices reprodutivos, a intensa aceleração nos preços recebidos pelos produtores estava permitindo a recuperação das margens de lucro da atividade, que estavam muito reduzidas desde o segundo semestre de 2005. Esta recuperação, alicerçada por preços internacionais aquecidos e demanda com pequeno crescimento no mercado interno, permitiu ao produtor repensar a atividade com uma visão de cenário um pouco mais otimista.

Talvez escaldado pelo ano de 2005, o que vimos em nossa região, até o momento, foi produtores bastante cautelosos quanto aos investimentos na atividade, ou no máximo se readequando ao volume de animais ordenhados, construindo ou comprando equipamentos apenas para ajustar animais e capacidade física de produção, pois ainda é comum vermos instalações com capacidades abaixo ou bem abaixo do volume de animais ordenhados.

A referida recuperação de preços do outono/inverno gerou realmente um sentimento de satisfação por parte dos produtores, pois não há quem não goste de ter seus esforços recompensados, e de muita euforia por parte dos fornecedores de insumos e máquinas, pois enxergaram, no cenário de satisfação, uma possibilidade de alavancar vendas de equipamentos e produtos que as propriedades há muito precisavam. Houve exageros? Acredito que sim, pois eu mesmo fui contactado por candidatos a produtores de diversas regiões do Brasil querendo formatar projetos de compra de animais e construção de instalações partindo do nada, ou de muito pouco. Quase todos baseados em crédito bancário, o que de forma geral é muito temerário, pois se o crédito só cobre as despesas de aquisição de bens, na hora de fazer frente a despesas correntes, o projeto tende a naufragar.

Em uma atividade com lucro líquido médio após a liberação de preços ao redor de 12% para produtores da região dos Campos Gerais do Paraná, os extremos da escala mostram produtores que crescem em número de animais ordenhados sem capacidade correspondente de investimentos, pois seu lucro líquido é inexistente ou muito próximo do mínimo, ou mesmo trabalha com lucro operacional com prejuízo se considerarmos depreciação e remuneração sobre capital.

Por outro lado, os produtores mais eficientes tem navegado em um cenário de crescimento e lucro líquido médio muitas vezes superiores a 20 % ao ano. Esta situação deve repetir-se por todo o Brasil, e é absolutamente normal em todas as atividades, com produtores eficientes, produtores medianos e produtores que andam de arrasto.

Sendo assim, o movimento de baixa determinado pela ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) pouco tem a ver com o fato dos produtores terem comentado sobre a recuperação do setor, até porque normalmente a mídia procura de forma geral os produtores líderes para serem entrevistados e esse produtor, apesar das reclamações de sempre, ganhou dinheiro mesmo em anos um pouco mais complicados, e mais com o fato do setor ainda não ter uma entidade com capacidade aglutinadora e poder de barganha para dialogar com os grandes players do varejo. Em um cenário com grande número de processadores, enorme diversidade de produtores e sem um agente moderador, o outro lado da cadeia, que é o varejo, se prevalece e força uma baixa por sua força de coesão.

Os fatos que estão ocorrendo neste ano mostram com absoluta clareza a enorme necessidade de acelerarmos com os processos de sedimentação da Láctea Brasil, pois só uma entidade forte, com coesão de idéias, que represente os agentes produtores e que principalmente tenha dinheiro para trabalhar e clareza de propostas para gerir estes recursos, pode de certa forma reordenar ou influenciar o mercado de leite em busca de mecanismos que evitem essa enorme gangorra de emoções.

Mesmo em uma atividade que possui períodos de produção muito diferenciados ao longo do ano e conseqüentemente preços também diferenciados, a busca de mecanismos que minimizem estas variações seriam bem aceitos pelos produtores, pois é melhor trabalhar com cenários conhecidos, ainda que menos radiantes, do que a cada dia saltar para o escuro.

4

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

ANA MARIA DE FREITAS OLIVEIRA MOREIRA

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/10/2007

Prezado Mário Sérgio:

Parabéns pelo artigo e pela analogia. Tenho uma irmã que sofre de distúrbio bipolar e que já tentou suicídio oito vezes....assim como os produtores de leite que nos últimos anos desistiram da atividade, se desfizeram de seus rebanhos, despediram seus empregados, começaram a plantar cana...

Enqüanto nosso país não tiver uma política honesta para o leite, infelizmente os produtores continuarão doentes. E o que é pior.... transtorno bipolar não tem cura!

Abraços,

Ana Maria
ROBERTO TRIGO PIRES DE MESQUITA

ITUPEVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 15/10/2007

Mário Sérgio,

Como disse o Marcelo, realmente a analogia com o distúrbio bipolar foi muito feliz. Como não adianta apenas medicar nos surtos, o tratamento exige o combate permanente ao agente causador, ou seja, a produção sem planejamento.

Nada mais interessante para oligopolizar um mercado do que o descontrole da oferta de produtos inelásticos com shelf life estendido, como é o caso do leite longa vida e de alguns derivados.

Ao invés de pensar em ganhos de produtividade, o produtor precisa planejar suas produções a partir da sazonalidade de mercado, objetivando ganhos de lucratividade estruturados pela adequação da oferta ao longo de cada safra.

Abraços,

Roberto
L. AGUIAR

ARAXÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/10/2007

Sr. Mário.

Parabéns pelo artigo. Mas queria completar o título de seu brilhante artigo, para distúrbio bipolar e ansiedade, uma doença que afeta a maioria dos produtores de leite do Brasil.

A depressão e ansiedade são maiores que a euforia. Pois quando começa a ter uma recuperação nos preços do leite, que muitos insistem em falar em alta de preços e ligamos a televisão, o assunto principal é o aumento exagerado no preço do leite e derivados. Ai acaba a euforia e começa a depressão que nos tira o sono.

A ansiedade é constante, pois ao comprar ração e outros insumos no início do mês, quase sempre pagamos preços maiores que os do mês anterior, e só ficamos sabendo quanto vamos receber pelo leite que produzimos quarenta dias depois, quando vamos ao banco e nem sabemos se o dinheiro recebido vai dar para pagar as contas.

Enquanto não houver no país uma política séria, honesta e justa para o setor, continuaremos a ser pacientes de psiquiatras e psicanalistas e não empresários do setor leiteiro.
ELDER MARCELO DUARTE

SÃO CARLOS - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 03/10/2007

Mario Sergio,

Parabéns pelo artigo! A analogia feita com distúrbio bipolar foi genial! Apesar do quadro ter sido mais acentuado neste ano, essa é a realidade há pelo menos 25 anos, desde que entrei no setor.

<b>Resposta do autor:</b>

Obrigado pelos elogios, Marcelo. Para alguém que conhece muito bem as particularidades e meandros da cadeia láctea, serve como um grande estímulo no intuito de tentar compreender este difícil mercado.

Abraços

Mário Sérgio Zoni

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures