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Desenvolvimento e democracia no campo

POR XICO GRAZIANO

ESPAÇO ABERTO

EM 06/07/2015

4 MIN DE LEITURA

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Há 30 anos o Brasil reacendia sua democracia. Iniciava-se também, naquele momento, um processo de profunda transformação no campo. A agropecuária nacional, definitivamente, abandonava o atraso oligárquico para assumir a dianteira da modernidade capitalista. Sob o mando da tecnologia.

Nesse processo, a produção rural se integrou com a indústria e os serviços, gerando complexas teias produtivas que passaram a ser denominadas, em seu conjunto, de agronegócio. Expandiram-se as fronteiras agrícolas rumo ao cerrado do Centro-Oeste, utilizando a técnica do plantio direto, que não promove nem aração nem gradação do solo, facilitando obter duas safras sucessivas no mesmo terreno. Na pecuária, a melhoria da genética dos rebanhos impulsionou a boa sanidade animal.

Nas últimas décadas a agropecuária brasileira cresceu espetacularmente. Segundo a CONAB, entre 1976 e 2013 a produção nacional de grãos se expandiu em 306% (47 milhões para 191 milhões de toneladas), enquanto que a área cultivada aumentava apenas 51% (37 milhões para 56 milhões de hectares). Conclusão: houve extraordinária elevação da produtividade física da terra, o dobro da observada, no mesmo período, na agricultura norte-americana.

O país passou a participar decisivamente do mercado agropecuário global, trazendo importantes reflexos na economia interna: as divisas geradas pelo superávit da balança agrícola, ao redor de U$ 100 bilhões (2014), pagaram as contas das importações de bens e produtos industriais. O agronegócio ajuda a movimentar o Brasil. Desapareceu também o desemprego no campo. A abundância de mão de obra cedeu lugar à escassez e, consequentemente, os salários subiram, acima da média nacional.

Desse extraordinário processo de transformação, porém, não participaram todos os agricultores e trabalhadores rurais. Como soe acontecer na história, existem vitoriosos, derrotados e acomodados. Os primeiros conseguiram entrar no ciclo virtuoso do progresso; os segundos perderam o bonde da modernidade rural; os terceiros ainda esperam sua chance. Aqui está o xis da questão agrária contemporânea: como democratizar, através do acesso à tecnologia e pela integração ao mercado, o sucesso no campo.

Visto tradicionalmente como passaporte para a felicidade nos programas de reforma agrária, o pedaço de terra começou a valer menos que o uso da tecnologia. Pequenas propriedades, intensivas no uso do solo, passaram a ser mais rentáveis que grandes fazendas extensivas. As novas técnicas favoreceram os agricultores menos abastados, que se qualificaram pela produtividade e qualidade de sua produção. Novos conceitos precisam ser utilizados na interpretação da realidade agrária.

Revisitando os 30 anos recentes da nossa história agrária há o que comemorar. A agropecuária brasileira triplicou de tamanho e deu um extraordinário salto de qualidade. Se, entre os direitos fundamentais da pessoa humana, se coloca o direito à adequada alimentação, pode-se afirmar que, no Brasil, uma pujante agricultura garante a segurança alimentar da população. E ainda exporta para o mundo.

Por outro lado, esse incrível desempenho do agro nacional está sendo comandado por um seleto grupo de produtores rurais - pequenos, médios ou grandes - que foram capazes de incorporar, através do esforço tecnológico, ganhos de produtividade, aumentando a rentabilidade de seus negócios. Estima-se que, dos 4,4 milhões de estabelecimentos produtivos do campo (Censo Agropecuário IBGE/2006), somente 500 mil deles se responsabilizaram por 87% do valor da produção. Quer dizer, o dinamismo da agropecuária nacional está sendo comandado por uma dianteira de 11,4% dos agricultores.

Em contrapartida, os demais 3,9 milhões de estabelecimentos produzem pequena fatia (apenas 13%) da produção agropecuária, indicando dificuldades na geração de sua renda. A base da pirâmide, formada por 2,9 milhões de estabelecimentos rurais, responde apenas por 4% da produção rural. Esse pífio desempenho produtivo sugere haver pobreza nessa enorme faixa de pequenos agricultores, a grande maioria localizada no território nordestino. Aqui mora o drama rural do país, uma situação de miséria familiar que continua machucando a democracia brasileira.

Determinante desse triste quadro é a baixa escolaridade no campo. Portanto, somente uma vigorosa política de educação e difusão tecnológica poderá elevar a produtividade e promover a geração de renda dessa grande maioria de agricultores pobres, que pouco participa da safra nacional. Incluem-se neles os recém-assentados nos projetos de reforma agrária, contingente aproximado de um milhão de famílias. Com terra, sem renda.

Repetindo o argumento: o contraste entre os produtores rurais exitosos e os empacados na história somente será superado via participação no ciclo tecnológico. A verdadeira conquista da democracia vai, assim, depender de decididos investimentos na educação e na capacitação profissional. Somente a instrução, direcionada para a juventude rural, conseguirá enfrentar a pobreza que denigre a moderna agricultura. Chegou a vez da revolução pelo conhecimento, pelo saber fazer.

Nessa jornada que parece interminável a favor da justiça social não podemos cometer o equívoco de D. Quixote, que combatia moinhos de vento. Não haverá retorno ao passado. É no contexto do capitalismo agrário, em sua fase globalizada e tecnológica, que devemos encontrar as condições objetivas da luta política. Não se trata de capitulação ideológica, mas de, simplesmente, reconhecer a realidade no século 21. Nada de quimeras. Precisamos incluir os pequenos no progresso do agronegócio.

O artigo é da edição de segunda-feira, 06 de julho, do jornal O Estado de S. Paulo.

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HENRIQUE PASSINI DE CASTRO

ARACÊ - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/07/2015

Parabéns. Belo e sensato pronunciamento. Gostaria de sugerir ao MILKPOINT o envio deste comentário as autoridades do MAPA  e  MDA, Realmente, só através de educação e uso de tecnologias conseguiremos dar aos com terra(pequenos e micro produtores) condições para que este venha a incrementar sua produção. No meu trabalho diário, encontro uma realidade(Sul do E.S.) em que o jovem as vezes até tem vontade e condição de aplicar novos conceitos a sua produção, porém, o PAI, dono da terra, impossibilita ou inviabiliza, com medo de dívidas e suas consequencias. Já sugeri em outras ocasiões, e torno a apresentar a sugestão, de " no  contesto do capitalismo agrário", que seja pensado e implementado um programa fundiário, inovador, seculo 21, sem as lutas ideológicas que tanto impregnam este tema, de FINANCIAMENTO DE AQUISIÇÃO DE TERRA, nos moldes do SFH(Sistema Financeiro da Habitação) em que o interessado irá a um banco e pedirá o financiamento, com taxas de juros e prazos compatíveis. Então a partir deste momento estaremos dando a quem quer trabalhar e produzir condições e financiamentos para a inclusão social, o aumento de produção e distribuição de renda que deixarão de envergonhar o agro nacional.

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