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Desafios de coordenação no agronegócio

POR MARCOS SAWAYA JANK

ESPAÇO ABERTO

EM 18/09/2013

4 MIN DE LEITURA

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Em 1957, os professores da Universidade Harvard John Davis e Ray Goldberg cunharam o termo agribusiness, traduzido em português como agronegócio. O objetivo deles era mostrar que o setor agropecuário não era mais um elo isolado e autônomo da economia, chamado de "setor primário". Nos Estados Unidos, naquele momento o setor agropecuário já se encontrava fortemente conectado a indústrias situadas a montante (máquinas, fertilizantes, agroquímicos, sementes, etc.) e a jusante (processamento e distribuição) dele.

Passados 55 anos desde a publicação desse trabalho seminal, aqui, no Brasil, ainda há muita gente que acredita que a agricultura seria um setor com baixos índices de produtividade, valor adicionado e inovação. Para essas pessoas, a presença dominante de commodities na nossa pauta exportadora seria um sinal de subdesenvolvimento a ser revertido pela política pública. Acontece que o agronegócio não é mais "primário". Ele começa nos insumos modernos, passa pela agropecuária e termina na forma de comida, bebida, roupas, energia, plásticos e uma infinidade de produtos acabados que desmontam por completo a ideia simplista da divisão da economia nos setores primário (agricultura), secundário (indústria) e terciário (serviços). Sistemas produtivos de base agrícola incluem todos esses segmentos.

Outra miopia frequente é a afirmação de que o agronegócio seria coisa de grandes produtores e agroindústrias - e o pequeno produtor familiar representaria um modelo mais sustentável, capaz de sobreviver sem ele. O fato, contudo, é que o termo agronegócio, desde a sua origem, em 1957, nada tinha que ver com a "grande produção", tal como afirmado no Brasil. Ao contrário, qualquer que seja o seu tamanho, para sobreviver o produtor fatalmente acaba tendo de se inserir em cadeias agroindustriais sofisticadas marcadas por contratos complexos, envolvendo escolha de pacotes tecnológicos, processamento, marketing, abastecimento, distribuição e financiamento. Basta dizer que hoje a política agrícola mais importante para o agronegócio se chama "logística". Costuma-se dizer que a cadeia é tão forte quanto o seu elo mais fraco. No agronegócio brasileiro a maior dificuldade atual não é produzir, mas sim transportar. Esse é o elo frágil, que impacta o agronegócio mais do que qualquer outro setor da economia.

Um dos aspectos mais importantes do agronegócio é o tema da coordenação das cadeias produtivas, que podem ser ou não ser marcadas por relações construtivas e ganhos sistêmicos de eficiência.

Em alguns setores, a coordenação entre os elos da cadeia resolve-se unicamente pelo sistema de preços. Exemplos são as commodities cujos preços são fixados de forma transparente e universal em bolsas de físicos e futuros, como a soja, o milho e o algodão.

Em outros, a especificidade dos ativos demanda dos agentes a montagem de uma cadeia de suprimentos mais sofisticada, com planejamento de oferta e cuidados extremos com questões de qualidade, sanidade e rastreabilidade de produtos. Um bom exemplo são as cadeias de suínos e aves, marcadas por sistemas contratuais estabelecidos entre produtores e indústrias que têm gerado impressionantes ganhos de produtividade, favorecendo inclusive a integração de milhares de pequenos produtores às agroindústrias e cooperativas, como observado nos Estados do sul do País.

Há ainda casos de cadeias produtivas marcadas pela integração vertical para trás, com a indústria adquirindo terras e ativos de produção agropecuária, como no exemplo da cana-de-açúcar, da laranja e do eucalipto. A integração completa justifica-se nos casos em que a eficiência depende do controle de áreas produtivas ao redor da indústria, em que a matéria-prima tem um ciclo de produção mais longo ou é altamente perecível. Nesses casos, as indústrias procuram produzir elas mesmas uma parte da matéria-prima de que necessitam, sem terem de depender unicamente do mercado spot para obtê-la.

Dois temas costumam provocar polêmica neste último caso: deve a agroindústria focar os seus recursos na aquisição de ativos agrícolas ou desenvolver contratos com produtores que lhe permitam concentrar-se no processamento e nos mercados finais? Neste último aspecto, faz sentido contar com preços de referência que gerem sinalização, transparência e menor volatilidade ao sistema? O centro da discussão são os limites da integração vertical e os parâmetros que poderiam ser usados para criar incentivos e melhorar o relacionamento e a livre negociação entre os agentes.

No caso da cana-de-açúcar, há 13 anos preços de referência são discutidos num conselho formado por um número equitativo de representantes de associações de produtores e agroindústrias. O mecanismo, conhecido como Consecana, baseia-se na construção de consensos entre as partes sobre as margens da atividade agrícola, a partir do levantamento de preços relevantes dos produtos finais e de índices técnicos que permitam calcular os custos de produção.

A cadeia citrícola brasileira padece do mesmo problema que a cana-de-açúcar e busca formas de tornar viável o seu conselho. O Consecitrus pretende construir preços de referência para a laranja na fazenda, além de avanços em temas sistêmicos como o combate às pragas e doenças que têm dizimado a citricultura e os esforços de comunicação para aumentar o consumo de suco.

O fato é que mecanismos puros de mercado aparentemente já não resolvem os desafios sistêmicos de competitividade e sustentabilidade de importantes cadeias produtivas. Sistemas contratuais mais complexos podem ser a solução para criar incentivos de longo prazo e lidar com as novas exigências dos consumidores em termos de certificação, rastreabilidade de produtos, respeito ao meio ambiente, qualidade e bem-estar. 

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CARLOS MARCELO SAVIANI

EM 25/09/2013

Caro Marcos, obrigado pelo excelente artigo. Aqui nos EUA no leite, ja existem empresas como a Danone desenvolvendo contratos de longuissimo prazo com produtores aonde o P&L da fazenda e aberto e a Danone cobra todos os custos mais uma margem fixa para o produtor. Logicamente trabalha com ele para reduzir os custos. Algo semelhante nos da Genus, atraves da nossa empresa de consultoria Promar, fazemos com grupos de produtores na Inglaterra, fornecedores diretos do varejista Tesco. Calculamos todos os meses o custo medio de producao de todos e o Tesco paga um preco minimo em cima disso, estimulando os produtores a baixarem seus custos de producao. Na sua opiniao, por que nao vemos ainda sistemas como esses em implementacao no Brasil, uma vez que todos sairiam ganhando?



Obrigado e Um Abraco, Saviani

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