Agradeço a todos que leram meu artigo e em especial aos que enviaram seus comentários, aos quais respondo através do presente.
O biodigestor, numa câmara fechada faz a transformação anaeróbica dos dejetos dos animais diluído em água em gás, que pode ser usado para aquecimento ou gerar energia elétrica e um biofertilizante.
Muitos dos leitores, que enviaram seus comentários, interessados no uso do gás e do biofertilizante, pediram informações sobre biodigestores. O biodigestor pode ser fornecidos por empresas comerciais ou feito pelo próprio produtor. Existe ampla informação na internet sobre o princípio de funcionamento, desenhos e recomendações para que quiser construir o seu biodigestor, empresas que vendem equipamentos e materiais para construção de biodigestores e até empresas que fornecem o projeto e o biodigestor instalado. Recomendo a esses leitores que façam a pesquisa na internet, verificando o que mais lhes interessa e a partir daí fazendo os contatos necessários para complementar as informações.
É preciso analisar econômica e financeiramente a instalação de um biodigestor, pois o retorno do investimento em muitos casos pode não ser interessante se o biodigestor for feito inteiramente com recursos próprios do produtor, sem algum tipo de subsídio, e inclusive o produtor deve verificar se não tem outras prioridades para melhorar a situação financeira de sua atividade.
É exatamente por isso que empresas, como a Bio Carbon Gestão Ambiental Ltda., que fez a palestra na Câmara Setorial de Leite e Derivados de São Paulo, estão se propondo a fazer todo o investimento em troca de créditos de carbono no período estabelecido por contrato, ficando o produtor durante esse período com o gás ou energia elétrica e o bio fertilizante, e após o período contratual, ficaria com o bio fertilizante.
Em princípio é uma proposta atraente, mas o período contratual é longo, de no mínimo 10 anos, ficando o produtor, e seus sucessores, obrigados a manter a atividade leiteira ou entrar em outra atividade que gere dejetos para alimentar o biodigestor. Dentro de um histórico de aviltamento de preços ao produtor, o produtor que tenha biodigestores vinculados a créditos de carbono pode receber preços menores. E essas situação contratual pode inclusive criar dificuldades para a venda da propriedade. Por isso o produtor deve examinar com muito cuidado o vinculamento de sua atividade a créditos de carbono, o que alguns leitores perceberam e se manifestaram nos seus comentários.
Evidentemente que os produtores de leite tem preocupação com a questão ambiental, e da relação dessa questão com sua atividade, e vários leitores manifestaram sua preocupação nesse sentido. A sustentabilidade da produção de leite e a sustentabilidade ambiental deve ser procurada pelos produtores de leite, por todos os elos da cadeia produtiva e pelos governos. Mas alerto que é preciso estabelecer prioridades, e que sem sustentabilidade econômica e financeira do produtor de leite inevitavelmente teremos dificuldade com a sustentabilidade ambiental. Por isso os produtores, a cadeia produtiva como um todo e os governos devem estabelecer cuidadosamente as suas prioridades, e o debate sobre essa questão é importante.
Nesse sentido destaco que o MilkPoint está preparando o 2º Encontro sobre Formação Gerencial de Produtores, um importante evento a ser realizado no final de julho e começo de agosto, cujo tema central é a questão da sustentabilidade da pecuária de leite como atividade econômica e a sustentabilidade ambiental.
Nesse evento se tratará do ambiente de negócios influenciado pela questão ambiental, da produção de leite e mudanças climáticas, da sustentabilidade da produção de leite e da sustentabilidade ambiental, boas praticas ambientais em fazendas de leite, inclusive um painel sobre a viabilidade técnico-econômica da comercialização de créditos de carbono e geração de energia na pecuária de leite.
Recomendo aos produtores que fiquem atentos e participem desse importante evento, que sem dúvida será bastante esclarecedor sobre essas questões e um passo importante na busca de se estabelecer prioridades no caminho da sustentabilidade econômico financeira da produção de leite e da sustentabilidade ambiental.
Quero fazer um agradecimento especial ao leitor Vilson Marcos Testa, da Epagri - Santa Catarina, que na sua carta me parabenizou por trazer, através desse artigo, o tema ao debate aberto e franco, revelando argumentos verdadeiros que fazem bem ao país, e que via de regra incomodam aqueles que são expúriamente beneficiados.
E finalizo, para chamar a atenção dos leitores, transcrevendo o comentário do Vilson, que na sua carta introduz um aspecto que não abordei no artigo original, e que é de extrema importância considerando que a pecuária leiteira brasileira é feita fundamentalmente a pasto:
" Gostaria de chamar atenção para uma produção a base de pasto, com pastoreio rotativo em que os dejetos são retribuídos ao solo (pastos), devolvendo parte de fertilização. Esse sistema não envolve nem terceiros (geralmente picaretas que vivem dos produtores de leite), nem intermediários políticos, nem governos, nem burocracia e ainda é mais competitivo em termos de custos de leite e envolve muito menos investimento. Biodigestores nesse sistema tendem a ser elementos alienígenas. Se São Paulo e outra regiões insistirem mais intensivamente em trajetórias pouco competitivas, a agricultura familiar sul brasileira, produtora de leite a base de pastos, agradece. Ou seria por acaso que SP perde espaço na produção de leite?"
Clique aqui para ver a carta enviada ao MilkPoint pelo presidente do Sindicato Rural de Guaratinguetá, Tadeu Guimarães, comentando a atuação da Leite São Paulo.