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Como projectar o alojamento em vacas de transição

POR ANTÓNIO LUIZ GOMES

ESPAÇO ABERTO

EM 07/04/2014

9 MIN DE LEITURA

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Introdução
Esta é uma tradução adaptada de um artigo de Nigel Cook (Cook, Five steps to designing the ideal transition cow barn, 2011). Descreve um método criado na Universidade de Wisconsin-Madison para projetar o alojamento das vacas de transição de modo a otimizar a saúde e a produção.

Por onde começar?

Antes de iniciar o plano, é preciso definir qual vai ser o maneio das vacas no periparto.
Para minimizar o risco de distócias e nados-mortos e evitar mudanças de grupo e perturbações sociais no período crítico dos últimos dois a sete dias antes do parto, só há duas estratégias possíveis:

1. Mudar as vacas de um parque pré-parto com cubículos para uma maternidade individual ou colectiva no momento do parto – “mudança ao parto”
2. Manter grupos estáveis no pré-parto e deixar as vacas parirem no parque pré-parto, que será de cama acumulada – “parto no pré-parto”

Cada estratégia tem vantagens e desvantagens (quadro 1), que é preciso analisar.
 



Cada estratégia tem diferentes requisitos para ter sucesso (Quadro 2).





A Figura 1 mostra a conceção ideal da maternidade: uma área cimentada junto à manjedoura, em primeiro plano, uma cama de areia com palha por cima, na metade traseira do parque, e um tranca-cabeças no canto posterior. O bebedouro, não visível na fotografia mas assinalado na planta, fica no canto anterior direito, bem afastado da cama, para não a molhar.

A Figura 2 mostra uma série de parques pré-parto de cama acumulada para uma vacaria de 1000 vacas. Cada parque tem 270 m2 de cama, para uma lotação máxima de 30 vacas. Os três parques têm capacidade para uma frequência semanal de partos de 140% da média da vacaria, com um tempo de ocupação por grupo de 21 dias. Os parques são preenchidos em série. Atingida a lotação máxima, não entram mais vacas. As vacas podem parir no parque ou numa maternidade adjacente, e passam para o grupo pós-parto. Quando o parque fica vazio, é limpo, leva cama nova e torna a ser preenchido.




Decidida a estratégia de maneio da vaca ao parto, pode-se passar ao planeamento, nos cinco passos seguintes:

1. Dimensionar os parques para o 90º percentil da frequência semanal de partos.
2. Assegurar 75cm de espaço à manjedoura entre 21 dias antes e 21 dias depois do parto.
3. Criar uma estrutura social de grupo estável – minimizando as mudanças de grupo nos 2-10 dias antes do parto.
4. Proporcionar cubículos com camas de areia, dimensionados para as vacas.
5. Assegurar pelo menos um cubículo, ou 9m2 de cama acumulada, por vaca

1º passo. Dimensionar os parques.

A duração efectiva da permanência em qualquer dos parques de vacas de transição (que incluem os grupos “vacas secas”, pré-parto, maternidade, em parto, em colostro e pós-parto) depende de dois fatores: a frequência de partos e o tempo de permanência previsto.
As dimensões recomendadas geralmente baseiam-se na frequência média de partos. Por isso, constroem-se muitos alojamentos de vacas de transição que não se ajustam às normais oscilações na frequência de partos. As instalações devem ser dimensionadas para minimizar a sobrelotação nos picos da frequência de partos. Resumindo, devemos sobredimensionar.
Descreve-se a seguir um processo para dimensionar os parques de vacas de transição de maneira a assegurar os requisitos mínimos de espaço durante 90% do tempo. Durante cinco semanas por ano (os outros 10%), será necessário reduzir o número de dias de permanência, para cumprir os limites de lotação, ou intensificar a vigilância sanitária, para compensar a sobrelotação e o consequente aumento do risco.

1. Calcular a frequência semanal de partos
Em explorações com historial, podemos calcular as médias com base nos dados existentes. Em alternativa, podemos estimar o número de partos como 104% no número médio de vacas. A frequência semanal média é esse valor dividido por 52.
Por exemplo, uma vacaria de 1000 vacas terá, em média:
- 1000x104/100=1040 partos por ano
- 1040/52=20 partos por semana.

2. Calcular o 90º percentil da frequência semanal de partos
A figura 3 mostra o gráfico da frequência semanal de partos numa vacaria de 1200 vacas. A linha horizontal a tracejado é o limite do 90º percentil (32 partos/semana): abaixo dela estão 90% dos partos, e acima só 10%. O traço vermelho é a média (24 partos/semana). Note-se que, se dimensionarmos para a média, haverá sobrelotação durante metade do tempo.


Para novas explorações e para efetivos em expansão, tem de se usar uma estimativa do 90º percentil. Calculou-se que 140% da frequência semanal de partos é uma boa estimativa do 90º percentil.
Por exemplo, para um efetivo de 1000 vacas, a frequência média estimada de partos por semana é 20 (1000*1,04/52=20), e o limite estimado do 90º percentil é 28 (20*1,4=28)

3. Definir a duração de estadia prevista em cada parque de vacas de transição
É preciso definir a duração prevista do período seco e da permanência de vacas e novilhas no pré-parto, maternidade e pós-parto. São decisões da gestão da exploração.

4. Calcular o número de vacas em cada grupo
Por exemplo, numa vacaria de 1000 vacas com 21 dias de permanência no parque pós-parto, este teria 28/7*21=84 cubículos.
Este link dá acesso a um calculador do tamanho dos parques para uso na exploração (Cook, Kammel, & Ogburn).

O quadro a seguir mostra os valores calculados para uma vacaria de 1000 vacas com um período seco de 60 dias e permanências de 21 dias no pré-parto e no pós-parto.



Outro exemplo: numa vacaria de 400 vacas com 21 dias de permanência no parque pós-parto, este teria 11/7*21=34 cubículos (Quadro 4).




Sabido o número de animais em cada parque, pode-se continuar com o plano.

2º passo. Calcular o espaço à manjedoura necessário no pré-parto e no pós-parto

Para saber o comprimento total de manjedoura por parque, multiplica-se o número de animais por 0,75m para o pré-parto e o pós-parto e por 0,6m para o parque de secas.
Por exemplo, numa vacaria de 400 vacas, o parque pré-parto, para uma permanência de 21 dias, tem de ter 84*0,75m=63m de manjedoura.
Para satisfazer os requisitos de espaço à manjedoura, os parques de vacas de transição só devem ter duas filas de cubículos, frente a frente, traseira com traseira ou frente com traseira.
Frente com traseira facilita a identificação quando se tem de detetar os partos iminentes de hora a hora. Parques de cerca de 30 cubículos, com dois corredores ligados por uma travessa de 8m de largura, a meio da qual se situa o bebedouro, dão flexibilidade para lidar com as variações do número de vacas por grupo ao longo do tempo.

3º passo. Minimizar as mudanças nos 2-10 dias antes do parto

Isto depende da estratégia escolhida inicialmente: mudança ao parto ou parto no pré-parto. As soluções variam com as explorações. Por exemplo, a exploração na Figura 4 optou pela mudança ao parto com maternidades individuais. As entradas no parque pré-parto fazem-se uma vez por semana, para reduzir a agitação social na última semana antes do parto.


A exploração da figura 5 também tem maternidades individuais, mas as vacas mantêm-se em parques socialmente estáveis durante todo o período seco. Há 5 parques de 25 vacas. Cada parque recebe as vacas à secagem, até ficar lotado. Depois deixa-se esvaziar por completo, à medida que as vacas vão parindo, antes de iniciar um novo ciclo. Há um parque só para novilhas.




Finalmente, na exploração da figura 6 criam-se grupos pré-parto socialmente estáveis, em parques de cama acumulada, podendo as novilhas ficar separadas das vacas.



4º passo. Cubículos com cama de areia, dimensionados para as vacas.

A areia é o material de camas ideal: proporciona higiene, conforto, aderência e estabilidade quando a vaca mais precisa. É no pré-parto que as vacas atingem o maior peso e largura, requerendo os cubículos mais largos. As vacas Holstein adultas no pré-parto devem ter cubículos com 1,30-1,40m de largura. Isto cria um problema em grupos mistos de vacas e novilhas. Se os cubículos forem largos para as novilhas, elas sujam-nos mais. Se forem estreitos para as vacas, elas usam-nos menos. Dos dois males, o menor é serem largos para as novilhas. Uma solução de compromisso é ter cubículos de 1,30m e limpar-lhes a borda com mais frequência. O ideal é ter vacas e novilhas separadas, com cubículos de 1,30-1,40m para as vacas e de 1,20m para as novilhas.
Para vacas Holstein adultas no pós-parto recomendam-se cubículos de 1,30m de largura.



5º passo. Proporcionar número de cubículos e/ou área de cama acumulada suficientes

A área mínima de cama acumulada, no pré-parto e maternidades, é de 11m2 por vaca. Não devendo a cama acumulada ter mais de 11m de largura, normalmente isto resulta num espaço à manjedoura mais do que suficiente (mínimo de 1m por vaca). A área total de um parque de cama acumulada é 15% maior do que a dum parque com cubículos para o mesmo número de vacas. Os bebedouros devem estar na área de cama mas com acesso só pela área de alimentação, com chão de cimento (figura 7).


Na semana antes do parto, as vacas passam menos 3h/dia deitadas que no início do período seco.
Para evitar a competição pelos cubículos, recomenda-se pelo menos um cubículo por vaca ao longo de todo o período de transição.

Conclusões e economia

Uma vacaria de 1000 vacas construída para alojar o 90º percentil da frequência semanal de partos necessitaria mais 61 cubículos do que se fosse construída com base na frequência média. A 3500 dólares por vaca, isto equivale a mais 213500 dólares no total, ou 214 dólares por vaca.
Para convencer o produtor, ou o banco, da vantagem deste investimento, tem de se argumentar que a instalação mais ampla proporciona mais 606 kg de leite por lactação do que uma instalação que está sobrelotada 50% do tempo.
Com as vacas de transição, ou se paga ao princípio, construindo um alojamento que favoreça a saúde e a longevidade, ou se paga no fim, em vacas arruinadas e altas taxas de refugo. A escolha é fácil.

As informações foram traduzidas pelo Prof. António Gomes e adaptadas pela Equipe MilkPoint Portugal.


Bibliografia:

 

Cook, N. (11 de Janeiro de 2011). Five steps to designing the ideal transition cow barn. Obtido em 7 de Fevereiro de 2014, de eXtension: https://www.extension.org/pages/26040/five-steps-to-designing-the-ideal-transition-cow-barn#.UvVmf_mKWm4
Cook, N., Kammel, D., & Ogburn, W. (s.d.). Transition Cow Pen Size Calculator.

 

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ANTÓNIO LUIZ GOMES

SANTARÉM - SANTARÉM - PESQUISA/ENSINO

EM 12/04/2014

Caro Sérgio

Publiquei um esboço de instalações para secas e novilhas, dimensionadas para a sua exploração, na página do Milkpoint.pt no Facebook. Espero que consiga vê-lo. Senão, diga-me para eu lho mandar por outra via.

Um abraço
ANTÓNIO LUIZ GOMES

SANTARÉM - SANTARÉM - PESQUISA/ENSINO

EM 11/04/2014

Resumindo: se as vacas estão bem na rua - limpas, confortáveis e bem alimentadas -, trazê-las para dentro é só uma questão de funcionalidade.
ANTÓNIO LUIZ GOMES

SANTARÉM - SANTARÉM - PESQUISA/ENSINO

EM 11/04/2014

Olá, Maaike. Há aqui um engano que tenho de esclarecer. Eu não sou professor: sou vaqueiro. Posto isto, voltemos às vacas de transição. Do ponto de vista delas, se elas se sentirem bem na rua, não há problema em ficarem lá até ao parto e até de parirem lá. Do ponto de vista do vaqueiro, se conseguir dar-lhes lá a alimentação de transição - essencial para preparar o rúmen - e a vigilância e assistência que o estado delas requer, tudo bem também.
MAAIKE SMITS

LISBOA - LISBOA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/04/2014

Professor António,

Obrigado pela sua resposta. Nós temos as nossas vacas secas na rua todo o ano, mas na transição voltam para o pavilhão. Mantê-las mais tempo na rua tem sido uma questão em aberto, especialmente durante os meses de primavera e de outono, sendo que por isso a experiência curta não me permita formular uma opinião sustentada.
ANTÓNIO LUIZ GOMES

SANTARÉM - SANTARÉM - PESQUISA/ENSINO

EM 09/04/2014

Caro Sérgio Moninhas

Obrigado pela sua pergunta. Estou a preparar uma resposta. Um abraço

António Gomes
SERGIO MONINHAS

VILA DO CONDE - PORTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/04/2014

tenho uma vacaria recente para 80 vacas em produção,com cubículos ,estou a pensar construir ao lado uma outra para vacas secas ,pre.parto e maternidade,  o espaço disponível tem 65metros de comprimento por 10 metros de largura ,sera que me pode enviar um pequeno desenho indicativo para me ajudar nessa construção.abraço sergio moninhas.
ANTÓNIO LUIZ GOMES

SANTARÉM - SANTARÉM - PESQUISA/ENSINO

EM 08/04/2014

Olá, Maaike. Muito obrigado pela sua intervenção.

Quanto ao acesso ao exterior, parece ser muito bom para as vacas, desde que haja área suficiente e se mantenha limpa e seca. O ideal seria pastagem bem drenada, Caso isso não seja possível - a maior parte dos casos em Portugal continental - deve ser na mesma um terreno com boa drenagem e tem de se manter limpo, para bem das vacas e para evitar a poluição, por lexiviação, das águas superficiais e subterrâneas. Era interessante ouvir a opinião de produtores e técnicos que tenham experiência nesta matéria.
MAAIKE SMITS

LISBOA - LISBOA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/04/2014

Mais um artigo muito interessante e útil, muitos parabéns.



Há dias vi um estábulo novo (na Holanda) em que a disposição de parto e pré-parto se fazia conforme a estratégia 1, mudança ao parto mas com as camas num colchão com uma espécie de toldo que se podia limpar com máquina de pressão que segundo o vendedor confere um grau de higiene e de conforto à vaca superior. (fiquei intrigada se esse tipo se adequaria no nosso clima mais quente)



Relativamente ao assunto contemplado no artigo lanço uma questão: Existindo o espaço para o efeito acha que o acesso ao exterior para aumentar a mobilidade e evitar que as vacas andem tanto no betão traz benefícios suficientes para analisar a ideia?

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