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China: o fiel da balança do mercado internacional de lácteos

ESPAÇO ABERTO

EM 30/05/2011

5 MIN DE LEITURA

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Duarte Vilela

Duarte Vilela é Chefe geral da Embrapa Gado de Leite


O consumo de produtos lácteos na China deverá crescer novamente acima de 8% em 2011. Para um país cujo consumo no ano passado foi de cerca 41 bilhões de litros (37 bilhões produzidos no próprio país mais o equivalente a 4,2 bilhões litros importados), este crescimento significa um adicional acima de 3,2 bilhões de litros a atual demanda.

A crescente demanda por produtos lácteos, resultado do enriquecimento da população e de um marketing eficiente, faz dos chineses o maior importador de lácteos do mundo. Trata-se de um player tão poderoso que, segundo o professor e diretor-geral do Instituto de Ciência Animal da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas, Jia-Qi Wang, em 2010 o país foi o responsável por manter o equilíbrio do mercado internacional. Foi o país que mais importou leite em pó, sendo o responsável pela elevação dos preços desse produto. Em 2011 não deverá ser diferente.

Com 1,3 bilhão de consumidores - população que, a cada ano, aumenta a sua capacidade de consumo - a China deverá permanecer como o fiel da balança do mercado mundial por muito tempo. Principalmente se considerarmos a baixa capacidade de resposta dos sistemas de produção do país. Cabe comentar que a expansão da produção de leite na China tem sido sustentada mais pelo crescimento do rebanho leiteiro (é o país que mais importou vacas de leite no mundo, provenientes da Nova Zelândia, Europa e mais recentemente do Uruguai) do que pelo incremento de produtividade. Em recente missão realizada à China pela Embrapa Gado de Leite, a convite do Pólo de Excelência do Leite (missão da qual participei), constatamos o quão atípica é a pecuária de leite chinesa. A indústria tem grande peso na cadeia produtiva, pois incorpora a maior parte da produção do setor primário. Salvo poucas cooperativas, quase todas as grandes unidades produtivas pertencem às indústrias.

No norte do país as fazendas são gigantescas, com confinamentos abrigando acima de 10 mil vacas. No sul, objeto da nossa recente missão, onde percorremos seis províncias, as fazendas são menores, mas ainda assim as unidades produtivas possuem mais de 1.500 vacas. Independentemente da região, todos os sistemas se baseiam no modelo americano: vacas holandesas em confinamento total. Nos sistemas mais modernos ao norte e nordeste, a alimentação é do tipo ração total, com dieta equilibrada a base de silagem, feno e concentrado. Um fator limitante para o crescimento da produção, nitidamente perceptível, é a fragilidade da matriz de produção de alimentos volumosos. Em todas as regiões constatamos este fato, que se impõe pela proibição por parte do Estado de se utilizar campos de pastagens. Na concepção chinesa, a terra é voltada para alimentar o homem, por meio da produção de grãos e hortaliças. A alimentação do rebanho é importada ou oriunda dos resíduos desta produção.

As unidades produtivas no sul do país possuem parceria com os agricultores para a aquisição de resíduos da atividade e é bastante comum observar famílias levando aos estábulos, os restos da cultura de arroz e milho, capim-elefante verde picado etc. Há também a importação de feno e pré-secado, em grande volume, da Austrália e volumosos peletizados dos Estados Unidos. Em alguns casos constatamos sistemas de associativismo, onde a indústria entra com as instalações e o rebanho - normalmente a genética é subsidiada pelo governo - sendo a alimentação e o manejo de ordenha por conta dos associados. Cabe à indústria comprar o leite a preço de mercado.

Nas gôndolas de supermercado o consumidor paga hoje próximo a R$2,00 pelo litro de leite nacional e acima de R$7,00 pelo litro de leite importado. Esta ocorrendo uma crescente procura por terras em outros países para a produção de alimentos (inclusive leite). Esta procura se estendeu, recentemente, ao Brasil e pode ser um reflexo dos problemas que a China enfrenta para aumentar a sua produção e produtividade. No entanto, a legislação brasileira defende o setor agropecuário ao impor limites de aquisição de terras por estrangeiros.

A missão brasileira à China visou estabelecer uma proximidade com as instituições ligadas à pecuária de leite daquele país. Há, nesta aproximação, perspectivas de ganhos para ambos os países. Colocar tais perspectivas em discussão é o que a Embrapa Gado de Leite e o Pólo de Excelência do Leite pretendem fazer ao realizar, nos dias 12 e 13 de Julho deste ano, o Workshop Sino Brasileiro de Pecuária de Leite (Sino-Brazilian Dairing). Este evento acontecerá no Expominas de Juiz de Fora/MG e reunirá 30 autoridades chinesas, além de representantes de diversas instituições brasileiras. Nos dois dias de workshop, serão debatidas a conjuntura atual, as perspectivas para a produção de leite, a economia e a sustentabilidade do setor leiteiro em ambos os países. Outros temas a serem abordados são as tecnologias inovadoras para a produção de leite e as parcerias comerciais entre a China e o Brasil. Haverá também uma rodada de negócios organizada pelas indústrias e cooperativas de laticínios brasileiras, representantes de governo e entidades de classe. Pela missão chinesa, participam representantes de governo, líderes de classe, diretores e presidentes de grandes empresas do setor lácteo.

Da parte da China, há grande interesse nos trabalhos de melhoramento genético dos bovinos leiteiros brasileiros (principalmente com relação ao Girolando). Além da genética tropical, os chineses também buscam soluções para o tratamento dos resíduos da atividade leiteira, o controle da mastite e alternativas de produção de alimentos volumosos. Ao Brasil interessa, sim, exportar tecnologia, como a genética tropical; mas explorar o mercado de lácteos chinês é algo que temos plenas condições de realizar. Desde que consigamos resolver aspectos ligados à logística e ao custo com transporte, além de habilitar laticínios brasileiros para exportar para a China. Pode não ser uma tarefa fácil considerando o nível de exigência da legislação chinesa.

No entanto, o Brasil já exporta hoje 11 bilhões de dólares de produtos agrícolas para aquele país. A soja é o nosso principal produto (7 bilhões de dólares), seguida pelo açúcar, frango, algodão, pasta de madeira e milho. Está ainda em negociações avançadas a exportação de carne de suíno. Desde 2005 o Brasil vem negociando a abertura do mercado chinês para o leite e derivados. As negociações estão bem adiantadas, contudo ainda precisam vencer algumas barreiras não tarifárias. Se outras cadeias produtivas conseguiram conquistar aquele importante mercado, a cadeia do leite também pode. Basta querermos, demonstrando com habilidade o nosso potencial e a qualidade de nossos produtos.

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WOLMAR ROQUE LOSS

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/05/2011

Excelente o registro analítico da missão realizada à China pela Embrapa Gado de Leite, do Duarte Vilela. A China, por derivação da análise, será balizadora não só do leite, mas também dos insumos de alimentação animal. Somos competitivos em soja e milho, mas não o somos em leite e derivados.Talvez porisso, somado ao câmbio sobrevaslorizado e aos atritos de logística, não seremos tão cedo competitivos no mercado internacional do leite e derivados. Para a China, com tanta mão de obra disponível, será sempre desejável ( na visão deles) expandir a produção interna de leite, mesmo a custos mais elevados do que o importado. Isto é uma ameaça à competitividade da nossa cadeia produtiva do leite? O Workshop Sino-Brazilian Dairing, em julho, terá muito a avaliar. De prointo, questões cambiais e de logistica são ameaças às exportações de lácteos. Atenciosamente. Wolmar


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