Para analisar como foi o ano de 2007, foram selecionados, como produtores de genética, aqueles que fazem parte da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais e que participam do Projeto Educampo (possuem custo de produção) para esta análise. No total, apenas 8 de um total de 700 propriedades (em Minas Gerais) se enquadraram nesses requisitos.
É sabido que a quantidade de produtores que baseiam sua produção na raça holandesa é muito maior que esse número. No entanto, é importante ressaltar que, mesmo dentro de um grupo tão específico, existem discrepâncias muito grandes com relação à eficiência de produção. Esses produtores foram divididos em dois grupos, de acordo com a taxa de remuneração do capital com terra: um com até 6% a.a. e o outro acima desse valor, como pode ser visto na Tabela 1.
O preço do leite recebido entre os dois grupos diferenciou em 4 centavos por litro, o que seria suficiente para aumentar a margem líquida do grupo menos favorecido de R$ 28.119,54 para R$ 53.308,40 por ano. Valor este, que ainda continuaria muito longe dos R$ 130.480,20 do melhor grupo, pois este é mais eficiente que o primeiro, como pode ser visto na tabela acima. O melhor grupo tem maior número de vacas em lactação por hectare (1,07 contra 0,93) e maior produção por vaca/dia (20,46 contra 18,43). Esses dois fatores resultam numa maior eficiência da mão-de-obra (439,66 contra 312,39 litros/dia-homem) e do uso da terra (7.982,97 contra 6.227,19 litros/ha/ano) maiores.
A diluição dos custos fixos, juntamente com o menor custo variável (COE) por litro garantiu ao segundo grupo uma taxa de remuneração do capital com terra muito superior ao primeiro grupo (11,32 contra 2,20% a.a.). Isso pode parecer contraditório, mas as maiores produtividades com menores custos variáveis por litro são conquistadas através da melhoria na eficiência de utilização dos recursos disponíveis, tais como: melhor organização do trabalho dos funcionários, melhor negociação de compra de concentrado, melhor prevenção de doenças, melhor condução da lavoura de milho para silagem etc.
Todo esse cenário, é extremamente favorável ao grupo de maior rentabilidade, no entanto, é preciso ressaltar que o preço do leite recebido por este grupo em 2007 foi muito superior à média histórica. Esses mesmos produtores receberam R$ 0,59* por litro de leite em 2006 e o custo variável foi de R$ 0,55*, nesse mesmo ano. Já em 2007, o preço médio do melhor grupo foi de R$ 0,81* e o custo variável por litro de R$ 0,57*. Ou seja, em momentos de preços baixos como em 2006, o risco que existe na atividade é muito grande, devido à pequena margem bruta (custo variável alto). Esses valores tornam a atividade muito sensível às oscilações do mercado, pois os momentos de crise podem deixar a empresa com margem bruta tão pequena, que dificulte a administração do negócio.
O grande problema existente é que para manter os altos índices de produtividade, as empresas aumentam muito o gasto com insumos (concentrado, adubo...). Mesmo trabalhando com animais de raça pura, seja ela holandesa, gir ou girolando, as altas produtividades são sempre salutares para diluir custo fixo. No entanto, os sistemas precisam ter maior flexibilidade, como a utilização de alimentos mais baratos (subprodutos, cana-de-açúcar, pastagem...) para as categorias menos exigentes. Tornar os sistemas de produção muito "engessados", no curto prazo, é muito pior do que não ter produtividade suficiente para diluir os custos fixos.
Além disso, a venda de animais (componente importante da renda bruta) deve ser revista pelos pecuaristas de leite em geral, porque é um dos gargalos da atividade também. Por exemplo, cada um destes oito produtores venderam 7 vacas de leite (em lactação e seca), no ano de 2007, a um preço médio de R$ 1.064,00, dentre descartes voluntários e involuntários. No entanto, a grande maioria dos animais foi comercializada como descarte involuntário e os demais foram vendidos por preços comuns de mercado, para animais com média de 20 litros/dia.
Isso pode ter acontecido porque os empresários não quiseram vender seus animais num momento em que o preço do leite estava bom, porque estão comercializando mal seus animais, porque as vacas não possuem uma longevidade adequada ou porque o mau manejo desses animais está resultando em problemas sérios, como mastite, problemas de casco, entre outros. E como produtores que investem em genética, erros que comprometem a comercialização de animais se tornam cruciais, mesmo com a produção de leite sendo muito eficiente.
Este grupo de produtores precisa aumentar o número de descartes voluntários, em relação ao total de descartes e agregar mais valor ao próprio produto, que são as vacas vendidas acima da média que o mercado paga. Ou seja, investimento em genética por si só não garante uma boa remuneração, é preciso também conhecer um pouco mais da comercialização de animais, além de trabalhar com sistemas menos "engessados" financeiramente.
* Preços corrigidos pelo IGP-DI de Dezembro de 2007.