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Agricultura "fashion" (III)

POR CARLOS ARTHUR ORTENBLAD

ESPAÇO ABERTO

EM 19/06/2007

5 MIN DE LEITURA

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Em meus artigos anteriores, que tratavam, assim como este, de "agricultura ética" ou "comida ética", abordei "Agricultura Orgânica" em 8 de maio e "Buy Local" (compre alimentos no local onde é produzido), em 29 de maio.

Deixei o Fairtrade (troca ou comércio justo) para o final desta série de artigos, por ser uma idéia que, mesmo apresentando méritos, deixa alguns aspectos não resolvidos, ou, pior, mal resolvidos. Mas é a mais promissora das iniciativas de Agricultura "Fashion".

Mas o que é Fairtrade?

É um sistema que, através de subsídios explícitos a certos produtos agrícolas, oriundos de determinados países em desenvolvimento (i.e. pobres), objetiva aumentar a renda dos agricultores. O consumidor de países ricos que compram produtos com etiqueta Fairtrade, sabem que estão pagando mais caro, mas acreditam que algum empobrecido agricultor africano, asiático ou sul-americano estará se beneficiando com isso. Louvável, não? Certamente. Atinge os objetivos propostos? Quase nunca. Ao menos, não até agora.

Primeiro, porque boa parte deste subsídio concedido pelos consumidores não chega aos produtores 1 (mais uma vez, os intermediários são os grandes beneficiários). Em segundo lugar, porque mesmo o pouco que vem a beneficiar diretamente agricultores pobres, é suficiente para induzi-los a produzir mais daquele determinado produto - ao invés de diversificar sua produção - causando, ao longo do tempo, queda de preços por excesso de produção (estimulada).

Existem muitas objeções ao Fairtrade, além das duas mencionadas acima: (I) A concessão do certificado é arbitrária, discriminatória, e, não raro, injusta. (II) Só é permitida a concessão de Fairtrade a pequenos agricultores, em geral cooperativados, o que discrimina médios produtores, e também os grandes produtores e os funcionários destes (que, recebendo menos por seu produto, pagariam salários piores). (III) Estaria sendo utilizada por grandes corporações apenas para melhorar sua imagem. O exemplo mais citado é a Nestlé, que vende mais de 8.000 produtos não-Fairtrade, mas que lançou recentemente uma marca de café chamada Partner´s Blend, cuja matéria prima é exclusivamente Fairtrade. A crítica, neste caso específico, é que o impacto no comércio internacional de café - e nos preços - é mínimo. Mas o efeito para a imagem corporativa da Nestlé, seria imensa.

Pessoalmente, acho que, no caso em tela, os xiitas são os críticos do Fairtrade e não os ambientalistas com cunho sócio-econômico, ou as empresas comprometidas com este sistema (uma rara inversão de valores, aliás). Afinal, não se constrói um novo tipo de relacionamento sem tentativas e erros, e em tão pouco tempo.

Todas as críticas ao Fairtrade têm alguma validade, e há muito o que aperfeiçoar, e muitos preconceitos a serem eliminados, inclusive o que acredita que apenas "small is beautiful". Ainda assim, é uma formidável ferramenta para progresso, não apenas no preço mínimo dos produtos beneficiados com a certificação, como também na sua qualidade. Para ficarmos no caso do café: a transparência de iniciativas como o Starbucks´ CAFE, ou o "Cup of Excellence", de uma maneira ou outra ligadas ao Fairtrade, têm contribuído muito para o aprimoramento da qualidade do café (e também do preço), em diversos países, inclusive no Brasil. Seu impacto ainda não é relevante, no cômputo agregado (no preço) do comércio mundial do café, mas já é um começo. O mesmo ocorre com produtores de cacau da África Ocidental, beneficiados por esta política.

Como mencionei nos dois artigos anteriores, acho o conceito de "comida ética" admirável, e não deve ser motivo de menosprezo, mesmo quando dá origem a conceitos extravagantes. Afinal, nada há de errado com tentativas de proteger o Meio Ambiente, estimular desenvolvimento sustentável, e lutar por comércio mundial mais justo. Cidadãos que tentam contribuir para o bem, mesmo que equivocadamente, são sempre preferíveis àqueles que nada fazem.

Nesses meus três artigos sobre Agricultura "Fashion", nenhuma das bem intencionadas tentativas, parece dar muito certo. Seria o caso de abandoná-las? Não. A genuína preocupação com os semelhantes, e com o futuro do nosso planeta é algo que não deve ser subestimado, nunca.

Apenas considero que o voto em políticos e partidos que genuinamente defendam políticas eficazes para diminuir desigualdades, e proteger a Terra da destruição insensata em curso - é mais eficiente que o ingênuo "voto com carrinho de supermercado", defendido por muitos.

Realmente, a solução para estes problemas está na esfera dos governos, e não da dos indivíduos. Enquanto não houver diminuição da imensa cadeia de cotas, tarifas e barreiras diversas concedidas pelos países desenvolvidos - da Europa principalmente - a seus ricos, e nem sempre eficientes agricultores; enquanto não houver cobrança de uma taxa mundial punitiva para emissão de gases que causam efeito estufa; e enquanto não houver reforma séria no sistema de comércio internacional, os conceitos de "agricultura fashion" permanecerão sendo apenas isso: louváveis iniciativas individuais, capazes de aplacar consciências pessoais. Mas não suficientes para tornar nosso mundo em um lugar melhor para se viver.

Prezado leitor, você estará livre de mim por um bom tempo. Daqui a duas semanas, vou para o Peru com meu filho mais velho, onde passaremos quase um mês. Além de ser um país belíssimo, com diferentes opções aos visitantes, desde selva amazônica até altitudes acima de 5.000 mts. com neves (ainda) eternas dos Andes, e uma cultura muito rica, abriga o que para mim foi, e continua sendo, um insondável mistério.

Como o espanhol Francisco Pizarro em 1532-1533, comandando apenas 170 homens, e dotado de alguns poucos cavalos, conseguiu aniquilar o império Inca, que se estendia pelo oceano Pacífico desde o sul da Colômbia até o norte da Argentina. Afinal, os Incas eram um povo guerreiro, tão cruel e agressivo quanto o invasor, e possuidor de exército numeroso, e de um sistema administrativo sofisticado, que por vezes lembra o do império Romano. Além disso, em diversos aspectos, eram também culturalmente mais adiantados que os europeus. Na minha primeira ida ao Peru, há quase 30 anos atrás, visitei o país como mero turista. Desta vez, vou com encontros agendados com historiadores e antropólogos peruanos - a quem espero não aborrecer com minha ignorância, e de quem pretendo aprender muito.

Pobre de meu filho de 17 anos, que ainda não sabe dessas entrevistas, e também que provavelmente não encontrará lan houses ou videogames em Puno, Nazca, Arequipa, Machu Pichu, Cuzco, Huancayo, Cajamarca e locais afins.

A educação de filhos, no sentido mais amplo desta palavra, obriga às vezes que pais sejam um tanto... esquecidos.

_______________________________________________________________________________


1Tim Harford (The Undercover Economist - 2005) calcula que apenas 10% do subsídio chega realmente às mãos do público alvo.

CARLOS ARTHUR ORTENBLAD

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EDNA NORINHO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 18/10/2007

Sr. Carlos Arthur,

Encontrei-o aqui fazendo pesquisas sobre a cadeia da carne. Depois, buscava informações sobre a sustentabilidade e água e me deparei com outros textos seus. Enfim, você escreve com propriedade, dicernimento, e transforma um assunto meio hermético em pauta palatável, agradável, intelegível e, mais importante, interessante.

Pena tão grande pausa. Seus artigos nos dão imenso prazer. Espero encontrar novos textos seus. Parabéns e muito obrigada por eles.

GEORGEA PAIVA COELHO

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS

EM 07/08/2007

Sr. Ortenblad,

É muito bom ler um artigo de tal magnitude. Apesar de nenhuma experiencia e nunca ter ouvido falar de <i>fair trade</i>, sei que seu texto não foi além do que o agronegócio brasileiro precisa ouvir.

Boas Férias.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezada Georgea,

Meio sem saber, vi recentemente um Fairtrade em funcionamento em Chinchero, perto de Cuzco - região produtora de batata (aliás oriunda do Peru, onde existem mais de 3.000 variedades, segundo me disseram).

Como não estava no programa, só pude ficar pouco tempo. Mas o suficiente para me mostrarem que o Fairtrade deles com uma empresa canadense aumentou a renda líquida dos produtores (todos pequenos ou micro) em mais de 25%. E meu aprendizado ficou por aí, pois, por gentileza, me deram chicha (aguardente de milho), e como minha resistência a alcool é zero...

Parabéns por estar em Viçosa. Excelente universidade.

Atenciosamente,
Carlos Arthur Ortenblad
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 25/06/2007

Prezado Carlos Arthur,

Gostei muito da sua abordagem. Acho que você levantou, em poucas palavras, os principais pontos relativos ao Fair Trade, com imparcialidade e bastante precisão.

É motivo de satisfação para nossos sites publicar seus artigos.

Grande abraço,

Marcelo

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Marcelo,

Como sempre, você é um cavalheiro. Eu sei que os três últimos artigos meus, fogem do objetivo editorial imediato tanto do MilkPoint, quanto do BeefPoint. E mais ainda, do interesse dos leitores de ambos.

Ainda assim, resolvi escrevê-los, pois julgo importante que se reflita de maneira holística neste mundo globalizado, onde nada mais é estanque, e a capilaridade é a tônica.

Forte abraço,
Carlos Arthur
MÁRCIA CABRAL DIETRICH

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 24/06/2007

Caro Sr. Ortenblad,

Quero lhe dizer que seu artigo foi extremamente valioso para mim, uma jornalista que migrou da área de defesa de direitos humanos para o mundo do agronegócio. A sua avaliação sobre Fairtrade me forneceu subsídios para saber explorar os diversos aspectos referentes ao tema, quando ele estiver na minha pauta.

Por isso, o meu muito obrigada.

Quanto ao fato de ter se "esquecido" de alertar seu filho quanto a ausência das lan houses nos lugares que irão visitar no Peru, não se preocupe. Mais cedo do que pensa ele lhe agradecerá pela experiência proporcinada, e mais... duvido realmente que ele vá sentir a falta dos famigerados (na minha opinião de mãe) videogames.

Atenciosamente,
Márcia Dietrich

<b>Resposta do autor:</b>

Prezada Sra. Dietrich,

Fico muito feliz que a senhora tenha encontrado utilidade no meu artigo. Na realidade, relutei em escrever esta série de artigos que chamei de "Agricultura Fashion", não apenas pelo assunto não atender o os obetivos vestibulares nem do MilkPoint, nem do BeefPoint - como, principalmente, e por consequência, por não atender o interesse básico dos leitores desses veículos.

Porém, como neste mundo globalizado não se pode pensar mais de forma compartimentalizada e estanque, fui em frente, contando com a generosidade dos editores, e dos leitores.

Quanto aos "videogames", são mesmo famigerados, só perdendo para o You Tube - no qual os adolescentes passam horas. Enfim, trata-se de um mundo novo, e manda a sabedoria (e paz de espírito) que deva-se chegar-se a um meio-termo. No caso específico, o que poderei oferecer ao meu rebento, se ele estiver cansado de visitar ruínas, e imaginar o esplendor que foi o império Inca, é ir brincar com lhamas e alpacas. E levar dentadas de ambas.

Atenciosamente,
Carlos Arthur Ortenblad
PAULO ADAME FILHO

CASCAVEL - PARANÁ - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 19/06/2007

Tenho acompanhado os artigos do senhor Carlos A. Ortemblad, essa pessoa que muito fez pela raça Tabapuã, e que continue nos presenteando com seus valiosos artigos.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado sr. Paulo Adame Filho,

Agradeço muito a sua dupla generosidade: em destacar minha modesta contribuição para a raça Tabapuã, e em avaliar tão amavelmente meus artigos.

Obrigado e um forte abraço,
Carlos Arthur Ortenblad

ENALDO OLIVEIRA CARVALHO

JATAÍ - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/06/2007

Sr. Ortenblad,

Desejo-lhe boa viagem. Assim como muitos outros visitantes do site MilkPoint, sabemos que brevemente seremos contemplados com mais um artigo de sua autoria sobre mais uma economia latino-americana, o que será muito bem-vindo, dada a sua imparcialidade e seu conhecimento do setor produtivo primário.

Sugiro que faça algum comentário sobre a cogitada ligação Brasil-Peru, como via de acesso ao Oceano Pacífico.

E por falar em visita a um país andino, quando pensas em ir à Venezuela? Uma vez que é o país que está mais em evidência, pois o vírus populista de Hugo Chávez tem contaminado diversos líderes políticos América Latina afora.

Tendo já discutido com outros colegas e leitores do MilkPoint, acho que o sr. também ja teve esta idéia. Já pensou em fazer uma síntese de seus artigos escritos e lançar um livro? Todos os assuntos discutidos até então são de grande importância e muito enriquece o nosso conhecimento.

Obrigado.
Enaldo Oliveira Carvalho

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Sr. Enaldo,

Obrigado pelos votos de boa viagem. Realmente, quem precisa viajar de avião no Brasil de hoje, necessita de todo pensamento positivo que puder juntar.

Este duopólio TAM-Gol certamente não está a serviço do público. Outro dia, um amigo meu residente em Belém, precisou ir ao Rio Grande do Norte (ou Alagoas, não tenho certeza). Não havia mais qualquer vôo que interligasse estas capitais. Teve de descer até Brasília, para depois subir novamente ao nordeste.

Quanto à Venezuela, não está nos meus planos imediatos, mas sim o Paraguai - onde tenho um encontro (coletivo) a ser agendado com o bispo Pedro Lugo.

O bispo Lugo possivelmente será candidato à presidência do Paraguai, e, ao que tudo indica, com ótimas chances de ser eleito.

Pelo que se disse dele até agora, poderá ser um espinho mais doloroso para o Brasil que Evo Morales, notadamente no fornecimento de energia elétrica gerada por Itaipu, e também no preço pago por nós pelo kW/h.

Como assuntos políticos são sempre enredados por paixões, prefiro ouvir este senhor, e não prejulgá-lo.
Mas já que é de geopolítica que estamos falando, meu crescente temor é que o Brasil esteja sendo envolvido por governos antagônicos aos nossos interesses: Equador (Rafael Correa), Bolívia (Evo Morales), Venezuela (Hugo Chávez), Argentina (Néstor Kirchner), Uruguai (Tabaré Vásquez) e talvez, futuramente, o Paraguai (com Pedro Lugo).

A diplomacia brasileira tem sido, a meu ver, excessivamente complacente (ou displicente, como se queira). Se é justo que cada país procure o melhor para si, também é justo que o Brasil exija o preceito internacional de pacta sunt servanda, ou seja, que contratos legítimos sejam cumpridos.

A experiência demonstra que, quando se cede uma vez à chantagem, como o Brasil infelizmente o fez, esta não cessará nunca. Os fatos, lamentavelmente, têm corroborado esta noção.

Bom, pelo menos não temos - que eu saiba - qualquer pendência com o Peru, de forma que poderei mergulhar na culturas inca, chavín e cañari - sem maiores preocupações.

Abraço,
Carlos Arthur Ortenblad

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