Desde os tempos de criança, nos bancos de escola, ouvimos dizer que "o Brasil é um País em desenvolvimento". O mais impressionante é que, nossos pais e nossos avós, também já tinham ouvido, em suas épocas, a mesma assertiva. Envelhecemos sem ver o progresso chegar, o que, certamente, se dará com nossos filhos e netos.
Quando deixaremos de ser o País do Futuro? Nenhum de nós, infelizmente, sabe a resposta, que é tão incerta quanto aquela frase de botequim: "fiado só amanhã". Com a pecuária de leite, o que se sucede é a mesma coisa: amanhã será um dia melhor. Quando?
O mais impressionante é que nós temos todas as condições de reverter o quadro que hoje se nos é anunciado, com medidas muito simples, mas, nos falta apoio político, apoio social, apoio de classe, apoio governamental...
Diversas vozes têm se levantado para propalar as mais variadas soluções para a crise do mercado de leite no Brasil, mas, tal como na lenda dos ratos, ninguém se propôs, até agora, "a colocar o guiso no gato". Aliás, nem certeza temos de quem é o gato, se o Governo, se o Laticínio, se o Supermercado, ou se o Consumidor. Só uma segura e terrível constatação nos abate, cotidianamente: a vítima somos nós, os produtores.
Se a nossa cultura não nos prende ao associativismo, não podemos pretender que viremos, nem a longo prazo, seguidores da Nova Zelândia, com a sua poderosa Fonterra. Se ao Governo Federal, nocivo que o preço do leite ao consumidor final seja majorado, porque faria despencar seus fins eleitoreiros, já que o pobre não poderia consumir o necessário, imprescindível, insubstituível alimento, e, ainda, nos coloca como os vilões da alta da inflação e da destruição do meio ambiente, com ele não poderemos contar.
Se o mesmo Governo Federal não se interessa em promover uma fiscalização rígida nos Laticínios, para entender a política de preços praticados pelos mesmos, que pagam R$ 0,70 (setenta centavos de real) ou menos, aos que fornecem o leite in natura e o vende por mais do dobro do preço, desfigurado e empobrecido, o que faremos nós? Se não interessa aos que comandam o País saber quem é este atravessador que retira o leite de nossas fazendas a preço módico e o vende a um absurdo nas gôndolas dos supermercados, o que faremos nós?
Se a política agrícola brasileira tem pavor da palavra subsídio e, mesmo assim, nos despeja as obrigações da Instrução Normativa 51, a que santo nós vamos invocar para solucionar nossas contas de final de mês? Se os nossos governantes não sentem vergonha de ver o mercado de insumos ampliar seus preços pela simples mudança climática, esmagando a produção e avermelhando as melhores contabilidades, o que faremos nós, os endividados?
Se nossos deputados e senadores, que foram eleitos, pelo menos, teoricamente, para nos defender, ficam mais preocupados com suas cuecas e meias, a quem endereçar nosso grito? Se os responsáveis pelas políticas externas permitem a importação de leite, ao invés de incentivar o aumento da produção doméstica, que oração devemos sussurrar para que nos entendam e aceitem?
Se o Governo Federal não mede despesas para anunciar as obras do PAC, que nunca saíram do papel ou que, se deixaram as pranchetas, foram superfaturadas, mas se nega a fazer um minuto sequer de propaganda do leite como alimento necessário, que estrada tomar? Se, nem estrada temos para escoar nossa produção, evitando sua perda, que futuro ainda teremos que almejar?
Se ao estrangeiro é destinado todo o incentivo possível para que produza em nossas terras e, a nós, cidadãos, só os impostos, o que fazer para prosseguir produzindo? Só nos resta, infelizmente, apenas e tão somente, esperar, esperar, esperar pelo dia que nunca vem e que nós nem sabemos se virá.
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