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Como a pesquisa e a inovação poderão contribuir para o desenvolvimento da pecuária de leite nacional?

POR DUARTE VILELA

ESPAÇO ABERTO

EM 08/12/2014

13 MIN DE LEITURA

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É inconcebível delinear cenários para a produção de leite nas próximas décadas, sem considerar os investimentos em C&T, os atuais avanços da pesquisa agropecuária brasileira e sua contribuição para a inovação tecnológica. Do ponto de vista dos avanços e contribuições da pesquisa, os últimos anos foram positivos e serviram para acelerar a quebra de paradigmas, substituindo a cultura do “imediatismo” pela cultura da inovação (EMBRAPA, 2012, 2014). Os estudos científicos em bovinocultura se realizam em áreas que até pouco tempo eram restritos à ficção. A pesquisa se modernizou e está avançando na fronteira do conhecimento. O futuro já chegou a vários campos da ciência, entre eles a automação, a nanotecnologia, a genômica, as biotécnicas reprodutivas e a bioenergética. A pecuária de precisão marca a era dos sensores onde a tecnologia para mensurar indicadores produtivos, fisiológicos e comportamentais em tempo real já é uma realidade. Resta agora ao setor produtivo se apropriar do novo para acelerar o aumento da produção e produtividade, a eficiência e a sustentabilidade da produção de leite nas próximas décadas.

Para noticiar os avanços da pesquisa, um grupo de pesquisadores da Embrapa Gado de Leite colaborou na descrição de algumas tecnologias convergentes como seguem:

a) Automação

Dois fatores contribuirão para definir a continuidade do produtor na atividade leiteira no Brasil, a disponibilidade de mão de obra e o preço da terra. As tecnologias emergentes como a mecanização, a automação e a robótica substituirão o trabalho manual e deverão melhorar a qualidade de vida de quem vive no campo e aumentará a eficiência da atividade.

A automação aplicada aos sistemas de produção possibilitará aumentar a exatidão na geração de dados, processamento e uso das informações, contribuindo com os processos de tomada de decisão. A robótica será importante na redução da mão de obra necessária aos sistemas de produção em futuro próximo e como consequência, a redução nos custos de produção. Ao comparar a evolução do emprego setorial no Brasil nos últimos 50 anos, percebe-se claramente a situação dramática em que caminha o campo. Nesse período a disponibilidade de emprego na agricultura caiu de 70 para 15%, comparativamente a indústria e a outros serviços.

O desenvolvimento de sensores para monitoramento de parâmetros físicos, químicos, biológicos e sistemas de controle inteligentes, associados aos conhecimentos de especialistas, possibilitarão uma pecuária mais tecnificada, menos dependente de mão de obra, menos empírica e mais previsível, com menos perdas e melhor qualidade dos produtos e processos, com sustentabilidade ambiental. Assim, um novo conceito está surgindo, a “pecuária de precisão”, que enxerga o animal individualmente e não mais como um rebanho, que permite planejamento do consumo, prevê distúrbios metabólicos e reduz gastos. Ainda afirma o especialista em nutrição animal da Embrapa, Cláudio Versiani Paiva, que entraremos numa outra fase da pecuária, ou seja, vamos deixar o lado operacional para trabalhar a parte gerencial. Temos que pensar agora que tipo de mão de obra será necessária e como capacitá-la.

b) Nanotecnologia


A nanotecnologia ganhou destaque na última década. Possui como principal característica a transdisciplinaridade, unindo conhecimentos básicos das áreas de ciências e engenharia de sistemas complexos. A sua aplicação poderá contribuir para apoiar os avanços da produção de leite em condições tropicais, com qualidade e segurança para o consumidor, dando sustentabilidade aos sistemas de produção. A aplicação dessa nova ciência possibilitará, por exemplo, desenvolver formulações intramamárias a base de antibióticos nanoestruturados para o controle de inflamações e nanopartículas de própolis para o controle da mastite em sistemas orgânicos de produção, que poderão incrementar significativamente os índices de cura e prevenção dessa enfermidade, racionalizando o uso de antibióticos, segundo Humberto Brandão, pesquisador da Embrapa. Estima-se em U$ 1bilhão o prejuízo anual causado pela mastite à pecuária.

c) Seleção Genômica

A seleção genômica tem sido aplicada nos programas de melhoramento genético de raças leiteiras, o que permitirá identificar e retirar do processo de seleção os indivíduos portadores de alelos indesejáveis relacionados a doenças hereditárias. Programas que buscam a identificação de reprodutores com desempenho positivo em produção de leite e em outras características de importância econômica, normalmente são fundamentados nos testes de progênie. Esses testes ainda são a prova zootécnica mais segura para identificar os valores genéticos preditos de touros e promover o melhoramento genético em rebanhos leiteiros. A inclusão de marcadores moleculares ao processo de seleção pode duplicar os ganhos genéticos e diminuir expressivamente os custos dos testes tradicionais.

Estima-se que o gasto para obter a prova de um touro no Brasil, seja superior a US$100 mil. Com a implantação da seleção genômica nas raças zebuínas e na raça sintética Girolando, esse custo poderá ficar próximo de US$ 200,00 por touro, refletindo não só na redução do tempo e dos gastos com o teste de progênie, mas também na maior disponibilidade de indivíduos de alto valor genético a uma idade precoce, impactando diretamente no ganho genético dos rebanhos e no aumento da produtividade de leite, conforme relato do pesquisador da Embrapa, Marcos Vinícius da Silva. Será surpreendente o produtor saber ao nascer se um animal tem aptidão para leite ou para carne ou se deve ser descartado precocemente. Na verdade, o que se procura são características de importância econômica, como os genes ligados ao estresse térmico e a resistência ao carrapato, entre outros, mantendo-se bons índices de produtividade. Estima-se em U$ 3,24 bilhões o prejuízo causado pelo carrapato à pecuária nacional.

d) Biotécnicas reprodutivas

Em reprodução animal os avanços também são surpreendentes. Segundo a Sociedade Brasileira de Transferência de Embriões (SBTE), a produção de embriões in vitro no Brasil é superior a 500 mil unidades/ano, e a produção de embriões sexados, apesar de ainda questionada pelo elevado custo do sêmen, é um mercado em expansão, colocando o país na liderança absoluta no mercado de embriões bovinos, respondendo por 25% de tudo que é produzido no mundo.

A rápida adoção das novas tecnologias de reprodução como Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), Transferência de Embriões (TE) e Fertilização in vitro (FIV) com sexagem espermática, denota a força do agronegócio brasileiro. A adoção dessas biotécnicas poderá mudar o perfil genético da pecuária leiteira em pouco tempo. Por se tratar de inovações abertas – desenvolvidas tanto por centros públicos de pesquisa quanto por laboratórios privados – o mercado está tendo papel crucial no incremento de tais tecnologias.

Ainda na área de reprodução, a clonagem de bovinos de leite já é uma realidade e vem aos poucos conquistando o mercado. Por meio desta técnica, é possível multiplicar animais de alto valor genético. Os trabalhos com clonagem são a base para a produção de animais geneticamente modificados (AGM), técnica que irá, em breve, proporcionar ao setor uma forma jamais imaginada de se explorar a atividade leiteira. Os AGM serão capazes, por meio da engenharia genética, secretarem no leite proteínas utilizadas no controle do diabetes e além da insulina, anticorpos para o tratamento de diversas doenças, assim como suprimirem a produção de  lacto-globulina, aumentarem  e -caseina, elevarem o teor de ácidos graxos essenciais como o oleico e o linoleico e ainda reduzirem o teor de lactose do leite. Para o pesquisador especialista em reprodução animal da Embrapa Gado de Leite, Luiz Sérgio Camargo, pode-se dizer que “a engenharia genética associada às biotecnologias reprodutivas está criando as condições para que, num futuro próximo, um rebanho de vacas ou cabras possa ter a mesma função de uma fábrica de medicamentos, com a vantagem de que os animais possam se reproduzir e gerar descendentes sem que seja necessário criar um novo indivíduo transgênico”. Na verdade o que se quer no futuro é melhorar a qualidade de vida e que o leite sirva também como fonte de medicamentos.

e) Alimentos funcionais

A relação entre dieta e saúde humana tem sido amplamente divulgada pela comunidade científica, tornando os consumidores cada vez mais conscientes e exigentes na escolha dos alimentos. O conceito atual de “dieta saudável” está associado não somente à ausência de contaminantes (biológicos e químicos), mas também à presença de nutrientes que promovam benefícios à saúde do consumidor.

Pesquisas buscam estratégias que permitam produzir leite com características especiais, capazes de contribuir para a prevenção de doenças crônicas como aterosclerose e diabetes do tipo-II. É possível manipular a dieta de vacas para reduzir a concentração de ácidos graxos saturados hipercolesterolêmicos e obter aumento expressivo de ácidos graxos benéficos à saúde humana, como o ácido oleico (presente no óleo de palma e azeites de oliva) e o ácido linoleico conjugado (CLA). A gordura naturalmente encontrada no leite (full fat) também sofre alteração a partir da manipulação da dieta dos animais e apresenta potencial para prevenção de doenças neurodegenerativas, segundo Marcos Sundfeld Gama, pesquisador da Embrapa.

O investimento em pesquisa nessa área deverá em breve contribuir de forma significativa para valorização e reconhecimento dos produtos lácteos como alimentos indispensáveis em uma dieta saudável, com impacto positivo para a saúde humana.

f) Bioenergética

Pesquisas em bioenergética que promovam a sustentabilidade dos sistemas de produção de leite buscam as exigências de energia líquida de ruminantes em condições tropicais e a eficiência energética de alimentos volumosos, concentrados e coprodutos da agroindústria. Avaliando-se a energia líquida quantifica-se a produção de metano entérico, compreendendo-se os mecanismos de produção de gases de efeito estufa (GEE), o que possibilitará avaliar estratégias para mitigação da produção de metano, proporcionando aumento da eficiência na pecuária. O que será essencial para garantir incrementos na produtividade e redução dos impactos ambientais. Pesquisas recentes utilizando-se respirometria, lideradas pela Embrapa e algumas universidades agrárias, possibilitam compreender melhor a partição e o balanço de energia no animal, identificando os animais com maior eficiência metabólica, ou seja, aqueles capazes de converter maior proporção dos nutrientes consumidos em leite e carne.

A determinação das exigências nutricionais para a elaboração das normas e padrões nacionais de alimentação de gado de leite também será em breve realidade e um referencial para a cadeia do leite no futuro. Até o presente são utilizados sistemas internacionais na formulação de dietas para bovinos leiteiros, em condições onde o clima, as raças e a alimentação volumosa são totalmente distintos das condições tropicais.
Esses dados são fundamentais para que nos próximos anos tenham elaboradas tabelas nacionais de exigências e composição de alimentos tropicais, auxiliando o correto balanceamento de dietas para bovinos, como afirma o pesquisador da Embrapa Luiz Gustavo Pereira. Para isso, esta sendo concluída a construção de um dos maiores complexos laboratoriais especializados em pesquisas com bovinos de leite do país. Trata-se do Complexo Multiusuário de Bioeficiência e Sustentabilidade da Pecuária da Embrapa que contribuirá para definir os rumos da pesquisa em bovinocultura de leite nos próximos 20 anos.

g) Sistemas de produção em bases sustentáveis

Estima-se que a produção de leite esteja presente em 554 das 558 microrregiões geográficas levantadas pelo IBGE. É uma atividade de expressiva relevância social e econômica para o país, embora heterogenia em escala de produção e padrão tecnológico de exploração. Diante desse quadro, há que se repensar alguns conceitos sobre sistemas futuros de produção de leite de forma competitiva e sustentável.

A exploração intensiva de pastagens é um importante fator para promover a melhoria da eficiência econômica e deve prevalecer nas próximas décadas, mesmo considerando sua vulnerabilidade decorrente das incertezas climáticas e do valor da terra.
A adoção de tecnologias como a fertilização e a irrigação de pastagens permite intensificar a produção e aumentar a capacidade de suporte da pastagem, proporcionando condições de se prever com segurança a produção de mais forragem para alimentação do rebanho. O pastejo rotacionado é exemplo clássico de como elevar a produtividade da terra e incorporar eficiência econômica aos atuais sistemas de produção.

De modo geral, os sistemas intensivos de produção de leite são mais tecnificados e disponibilizam mais áreas para outras atividades. Os sistemas a pasto geralmente levam vantagens sobre os sistemas em confinamento (free stall, tie stall e outros), pelo melhor desempenho econômico, proveniente do menor gasto com mão de obra, alimentos concentrados e investimentos em infraestrutura, segundo pesquisas realizadas na Embrapa na década de 90 e posteriormente entre 2007 e 2012, conduzidas pelos pesquisadores Duarte Vilela, Carlos Augusto Gomide e colaboradores. Por outro lado, registram menores produtividades por animal, quando comparados com outros sistemas, uma desvantagem que as futuras agendas de pesquisa devem focar visando aumentá-las. Para Eliseu Alves, pesquisador da Embrapa, 70% do incremento da produção nacional de leite são explicados pela adoção de tecnologias, enquanto a elevação da produtividade do trabalho e da terra respondem pelos restantes 20% e 10%, respectivamente. Nos últimos 40 anos as pesquisas têm concentrado esforços na busca por tecnologias que comportem produtividades entre 3.500 a 4.500kg/lactação e é chegado o momento de concentrar esforços para se conseguir produtividades mais elevadas.

A utilização de pastagens com maior eficiência para suportar altas produtividades deve estar associada ao manejo adequado do solo e a adoção de técnicas conservacionistas, alicerçado em forrageiras com elevada qualidade, provenientes da seleção de novas variedades advindas da pesquisa, sejam elas para pastejo ou para corte. Não se pode pensar em sistemas futuros sem a participação expressiva de forrageiras com elevada eficiência nutricional, fibra equilibrada e amido ajustado, de forma a admitir menores gastos com alimentos concentrados. A concentração de energia da dieta e a qualidade da fibra do alimento volumoso são pontos fundamentais para se produzir leite a pasto com eficiência. Não é raro encontrar sistemas com uso elevado de concentrado e baixo volumoso, menos de 60% na dieta total, e não seria exagero prever sistemas futuros com 80 a 90% de volumoso na dieta e produtividades a pasto superiores a 6.000 kg/lactação. Lógico que para isso será necessário mudar paradigmas e criar um novo portfólio de pesquisa embasado em forrageiras de altíssima qualidade, onde geneticistas e nutricionistas estariam afinados e trabalhando juntos. No futuro, alternativas devem ser avaliadas em substituição às tradicionais silagens de milho por silagens de leguminosas (soja, alfafa) ou grãos (milho úmido, trigo) e as pastagens de gramíneas (Braquiária e Panicum) por pastagens de alfafa ou Cynodon sobressemeadas com leguminosas (amendoim forrageiro– Arachis pintoi, ervilha - Pisum sativum, por exemplo) ou forrageiras estacionais de inverno (azevem anual - Lolium multiflorum, cornichão - Lotus corniculatus). A adição de suplementos lipídicos à dieta de vacas no início da lactação, como os óleos vegetais, deve ser melhor avaliada. O que se deve procurar é substituir os concentrados convencionais a base de milho e soja, demandados como commodities agrícolas e alimentação de suínos e aves, por alternativas que sejam produtivas, rentáveis e com equilibrada concentração de nutrientes.

A integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) também se destaca como alternativa de produção sustentável e uso racional da terra. Na combinação de sucessão ou rotação de culturas, busca-se a sinergia entre os componentes do agro ecossistema, que garantam a proteção ambiental, valorização social do produtor e a viabilidade econômica do sistema.

Assim, a integração de esforços do poder público e da iniciativa privada, dentro de uma visão sistêmica de organização, será fundamental para assegurar a valorização e a competitividade do setor leiteiro nacional e a sua inserção no cenário mundial.

A pesquisa em bovinocultura de leite no Brasil está no compasso da modernidade. Os exemplos citados estão longe de ilustrar a totalidade de inovações tecnológicas desenvolvidas nos últimos anos. Como também estão longe de alcançar a meta que a ciência procura atingir nas próximas décadas. Em ciência, metas são parâmetros dinâmicos que se deslocam de acordo com os avanços alcançados. Ainda há muito que se progredir, tanto no campo científico e tecnológico, que passa necessariamente pela proposta de incrementar a produção e produtividade com menor custo de produção de leite, quanto no campo político, estimulando a inovação do setor. Os futuros produtores de leite não serão os maiores nem os menores, mas aqueles competitivos.

Os agentes que atuam numa cadeia produtiva mais madura e cada vez mais atuante deverão estar necessariamente mais próximos da pesquisa e inovação na busca de propropostas estruturantes que irão construir um futuro promissor para o setor. Um cenário que passa pela necessidade de fazer com que as tecnologias desenvolvidas pelas instituições de pesquisa cheguem até o produtor e a indústria.
 

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