João Paulo V. Alves dos Santos
Atualmente, com o aumento do número de produtores de leite a pasto, surge a necessidade do esclarecimento dos processos relacionados aos conceitos e instalação de cercas eletrificadas, uma vez que o manejo racional da forragem somente é possível através da divisão da pastagem em piquetes, da maneira mais prática e econômica possível.
O princípio da cerca tradicional (arame e madeira) consiste em oferecer uma barreira física aos animais, enquanto que a cerca elétrica provoca a contenção dos animais em função de sua memória, ou seja, a cerca traz a recordação de uma sensação dolorosa (choque).
Os eletrificadores de cerca convencionais são alimentados por bateria de 6 a 12 volts ou uso de corrente elétrica (rede) de 110 ou 220 volts. Tal corrente é convertida em pulso elétrico de 5000 a 10000 volts, com pulsos de curta duração que se repetem em intervalos longos. A recomendação é não exceder 70 pulsos por minuto.
A corrente elétrica circula através de um circuito no qual se enquadra a cerca, o animal e a terra, ou seja o animal é o elo de ligação da corrente, fechando o circuito. A eletricidade passa pelo seu corpo, que recebe a descarga. Por este motivo, devemos manter sempre o local por onde passam os fios limpos e livres, pois um número elevado de plantas em contato com a cerca diminui a eficiência da mesma, principalmente no caso de aparelhos de baixa potência. A recomendação é que se use um aparelho de alta potência, capaz de anular o efeito dos pequenos curtos circuitos possíveis (vegetação).
Muito produtores reclamam da qualidade de aparelhos, chegando a contestar a viabilidade da adoção do uso de cercas elétricas. Uma das falhas mais comuns que ocorrem refere-se ao aterramento, prática de suma importância para a eficiência do sistema. Como os aparelhos fornecem corrente de alta voltagem e instantânea, é necessária a utilização de bons condutores para o fechamento do circuito. A terra, em função da sua umidade e volume, é uma boa condutora da corrente.
Vale lembrar que a corrente sai do eletrificador, percorre o fio, passa pelo animal, penetrando e percorrendo o solo até chegar à estaca de aterramento (cano enterrado no solo, junto ao aparelho), que por meio de um fio conduz a eletricidade de volta à fonte em que foi gerada. Caso o aterramento não seja bem feito, como por exemplo o uso de canos curtos, o mesmo só receberá parte do pulso presente no grande volume que é o solo, reduzindo a eficiência do sistema. Logo, a recomendação é que se utilize um aterramento com um comprimento que permita a maior captação de energia.
Não é possível recomendar um tamanho padrão de aterramento pois o mesmo está relacionado à diversas características particulares de cada propriedade como tipo de solo, regime de chuvas e extensão das cercas, por exemplo. Uma maneira de se garantir um bom aterramento seria enterrar três canos com pelos menos 2 metros, espaçados de três metros entre si, formando uma linha. Devemos atentar para problemas que surgem em áreas mais áridas, cujo solo é mais seco, prejudicando a transferência da corrente. Neste caso recomenda-se a utilização de canos mais compridos, apesar da dificuldade de perfuração do solo. Outro problema comum de regiões mais secas é que na falta de umidade, a camada inicial do solo (seca) atua como isolante, não permitindo que o animal receba o choque ao encostar na cerca. A prática mais comum para resolver problemas, nestas situações, mas que também pode ser utilizada em qualquer propriedade é o aterramento utilizando outro fio de arame, paralelo ao eletrificado. Este segundo fio é conectado ao cano aterrado, que conforme visto anteriormente, devolve a descarga ao aparelho, promovendo o fechamento do circuito. Quando adotamos a utilização de dois fios de arame, devemos ter em mente que o mesmo (arame) é relativamente um bom condutor, oferecendo certa resistência à passagem de corrente, que se duplica (pois são dois fios). Situações como esta requerem a realização de aterramentos secundários, ou seja, ao longo do circuito (cerca), distribuímos os canos enterrados e conectados ao segundo fio de arame para melhorar a eficiência da instalação. O material recomendado para a realização do aterramento é o aço inoxidável galvanizado por não enferrujar, evitando que a camada oxidada (ferrugem) também isole a eletricidade.
Dicas para avaliar a qualidade de um aterramento:
1-) a 100 metros do aparelho, deve ocorrer um curto circuito na cerca, se tocada com uma vara metálica.
2-) deve-se colocar uma mão no aterramento e a outra no solo, o mais distante possível. A pessoa não deve sentir nada. Caso sinta um formigamento, o aterramento não é suficiente.
3-) utilização de um voltímetro: conecta-se a pinça no aterramento e o arame do voltímetro deve ser conectado o mais longe possível. O ideal é que não obtenhamos nenhuma medição.
O alcance dos aparelhos varia entre os fabricantes. É evidente que é impossível a eletrificação de 20 km, 30 km de cerca. Devemos nos basear no raio de alcance dos aparelhos. Aparelhos de 30 km de alcance, por exemplo, têm um raio de ação de 2 km a 3 km. Neste raio, podemos utilizar os 30 km indicados no rótulo do fabricante.
A segurança com relação a utilização de aparelhos eletrificadores de cerca é um aspecto que deve ser observado. No Brasil, não existem normas que controlem o processo de fabricação dos aparelhos, dando margem a fabricação de aparelhos "em fundos de quintais". Muitos destes "fabricantes" utilizam a capa de originais que quebraram, vendendo-os como usados.
A recomendação é que se utilize aparelhos que cumpram requisitos internacionais de segurança, não oferecendo, desta forma, maiores perigos aos homens e animais.
Dicas e regras de segurança dos aparelhos:
1-) o aparelho não deve emitir mais de 70 pulsos por minuto.
2-) aparelhos que utilizem corrente de rede devem ser instalados em locais abrigados de chuva e longe do alcance de materiais inflamáveis, crianças e/ou animais.
3-) nunca eletrificar cerca com mais de um aparelho simultaneamente.
4-) manter separadas, de pelo menos 2 metros, linhas eletrificadas por aparelhos distintos.
5-) não utilizar arame farpado.
6-) não utilizar postes de luz e/ou telefone para condução de fios eletrificados.
7-) caso a cerca elétrica seja instalada debaixo de uma linha de alta, média ou baixa tensão, a mesma não deve exceder 2 metros de altura.
8-) não devemos realizar o aterramento da cerca próximo a outro aterramento qualquer (transformadores, motores, por exemplo).
Como recomendação final para o emprego de cercas elétricas, devemos saber por quanto tempo desejamos utilizá-la e nível de segurança que pretendemos oferecer. O tempo de duração está relacionado com a qualidade do material, ou seja, para cercas de caráter provisório podemos utilizar um material de qualidade inferior, conseqüentemente, economizando. Com relação à segurança, devemos avaliar o risco que podem causar à outros possíveis animais ou necessidade, como por exemplo, seu uso em bezerros.
As figuras abaixo fornecem ilustram o texto.
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fonte: César A. Cordeiro, XIII Semana do Estudante, 5-9/7/99, Embrapa Pecuária Sudeste