Como já foi escrito por aqui anteriormente, precisamos implantar a pastagem muito bem. Adubá-la de forma correta, levantar curvas de nível, realizar adubações de manutenção e nos preocuparmos com o manejo do pasto, além do controle de pragas e outros. Sim, até aqui tudo certo - se esquecermos que, além disso, a forragem precisa ser ingerida.
Foram inúmeras as vezes que chegamos a visitar sistemas em que tudo foi feito de forma correta, mas erravam no que denominamos o mais fácil de tudo e mais barato, que nada mais é que a INGESTÃO da forrageira. Toda forragem, desde que bem manejada tem TODAS as características para ser ingerida e ainda atributos nutricionais suficientes para atrair os animais. Mesmo assim, verificamos que, em algumas propriedades, o consumo da pastagem é mais ou menos intenso, ou, ainda, ouvimos a seguinte frase: “o pasto tá ai o bicho num come porque não quer”.
O manejo de pastagem nada mais é que uma arte de utilização do recurso forrageiro na propriedade, com vistas à produção animal, que envolve a sensibilidade do técnico em apreciar a resposta pastagem x animal. Portanto, toda e qualquer atividade que envolva esta utilização é importante, para que o CONSUMO ocorra.
Dentre as histórias tristes, em certa propriedade, com pastagem bem manejada, um técnico foi chamado para diagnosticar o baixo desempenho dos animais em pastejo. Como eu sempre digo, neste momento todos pensam que e explicação era a falta de pasto. Porém, quando este técnico chegou à propriedade verificou que o pasto era excelentemente manejado. Então havia disponibilidade de forragem em abundância e o número de animais daquela área estava ajustado de forma correta para aquele momento. Aí então se partiu para um segundo fator, o da sanidade animal, mas concluiu-se que os animais estavam em perfeita harmonia nos aspectos sanitários. Depois de algumas outras hipóteses que foram em vão, o técnico se despediu da propriedade temporariamente intrigado. Mas, para sua surpresa, no momento de saída da propriedade, viu um grupo de animais no pasto (em pleno sol das 12 horas), enfileirados ao longo da cerca, parecendo se curvar uns nos outros ao longo do sentido desta cerca. Mas o que estava acontecendo? Uma resposta muito simples. Os animais estavam usufruindo da sombra dos arames e mourões da cerca em função da inexistência de sombra natural ou artificial na pastagem.
Com certeza uma triste realidade. Neste caso anterior, todo o “resto” relacionado com o manejo do pasto era perfeito, o que estava sendo feito erroneamente era apenas o uso de sombra na pastagem - ou ainda: estavam desobedecendo um parâmetro simplista que chamamos de bem-estar animal. Todo ser vivo precisa estar bem para se alimentar, bem como ter condições ambientais que proporcionem esta alimentação.
Deixo aqui também observações ao leitor, para lembrar alguns pontos como aguadas, cochos de sal, beira de matas e outros lugares que podem aumentar ou diminuir a ingestão de forragem, não somente por servirem de alimento e sim por pensarmos que estes podem imprimir bem-estar. A maioria de nós e de todas as espécies animais, ao se alimentar necessitam beber água.
Para associarmos o pastejo e o consumo animal da forragem em outros casos, para ruminantes, alguns fatores além da abundância de forragem são determinantes na escolha do local de pastejo ou ainda na frequência de visita a esta área. Os atributos relativos aos custos energéticos gastos na busca pelo alimento e a distância em relação às fontes de água são fundamentais. Por outro lado, locais de topografia irregular, presença de parasitas e de plantas com compostos anti-nutricionais podem provocar rejeição da forragem. Pasto com invasoras podem afetar diretamente o pastejo e consequentemente o desempenho destes animais. Falta de água ou distância da mesma, assim como ausência ou distância de sombra pode acarretar em acentuadas diminuições de pastejo.
Mais um fato curioso relatado por um professor, grande amigo, é que na região Norte do país da qual ele residia, em um determinado dia verificou que alguns equinos permaneciam e pastejavam perto de uma área que foi feito uma fogueira, ou ainda imaginemos uma área que ventava e estava nublada pela fumaça oriunda desta fogueira. A fumaça não aumentou o consumo melhorando a forrageira, muito menos a disponibilidade dela – ao invés disso, proporcionou um ambiente (acreditem) sem moscas que perturbavam estes animais e poderiam incomodá-los durante o pastejo. Neste caso a fumaça espantava as moscas e proporcionava paz para os animais pastejarem.
Conhecer o comportamento de pastejo da espécie utilizada é fundamental e obrigatório. Para ruminantes, a atividade de pastejo envolve turnos. O número de refeições parece ser um indicador de qualidade do ambiente pastoril, uma vez que, em situações de elevada oferta de forragem, os animais realizam um número grande de refeições de curta duração, caracterizadas por altas taxas de ingestão. Entretanto, o tempo total de pastejo tende a ser reduzido. Já em situações de massa de forragem restritivas ao pastejo seletivo, o número de refeições é menor e o tempo por refeição é aumentado. Deste modo, maior tempo é despendido com pastejo. O número total de refeições, combinado às suas respectivas durações, determinam o tempo diário de pastejo - uma variável que pode indicar as condições do pasto bem como as condições ligadas a esta ingestão de pasto, como citado anteriormente.
Toda e qualquer suplementação oferecida ao animal pode influenciar o consumo do pasto, de forma positiva ou negativa. A quantidade de suplemento, seja proteica ou energética, aumenta ou diminui o consumo de pasto com os possíveis fatores denominados de efeito substitutivos. Pode ser simplista o pensamento de que quanto mais suplemento o animal ingerir mais ele ingere o pasto e por isso engordará mais. Uma diminuição do consumo do pasto pode imprimir em diminuição do lucro uma vez que o suplemento é mais caro quando comparado ao pasto. Podemos assim pensar que aquilo que seria favorável seria prejudicial.
Para encerrar, declaro que quando nós vamos a um evento ouvimos: “a alimentação será à vontade e por conta da casa”. Desta forma ficamos felizes por pensarmos que teremos comida farta e de graça. Triste, mas engraçado, quando chegamos ao evento e presenciamos muita comida, ela esta em uma pequena mesa e com uma fila enorme em uma sala quente e com dois cachorros bravos vigiando. A fome é tanta, mas, muitas vezes, desistimos de comer.
Senhores, preciso lembrar a todos que necessitamos fazer comida para os animais. O alimento é a base do sistema e um animal bem alimentado, além de produzir, não adoece e não traz grandes problemas. Os animais precisam de comida, mas precisam ingerí-las. Vamos manejar corretamente a forrageira e os animais, a fim de dar chance para que eles o façam com categoria. Dizer que “o pasto tá ai o bicho num come porque não quer” não cola mais. A obrigação é nossa fazer com que ele coma. Somente assim ele poderá produzir.