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Novas evidências do benefício da inclusão de metionina na dieta de vacas em transição

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/11/2014

7 MIN DE LEITURA

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Alexandre M. Pedroso
Consultor em Nutrição e Manejo de Bovinos Leiteiros
Cowtech Consultoria e Planejamento


O manejo de vacas leiteiras no período de transição é tema bastante desafiador para técnicos e produtores de leite. E quanto mais produtivo é o rebanho, maior o desafio. No período pré-parto a preocupação maior é dar conforto às vacas e oferecer uma dieta que proporcione ingestão máxima de nutrientes, considerando que nessa fase o consumo voluntário começa a cair e instala-se o balanço negativo de nutrientes, em que a quantidade de nutrientes ingerida passa a não atender totalmente a demanda por energia e proteína, e as vacas precisam recorrer às reservas corporais.

Muita atenção é dada ao balanço energético negativo, mas o balanço proteico negativo no período de transição pode ser igualmente importante e danoso. Se nessa fase as vacas passarem por deficiência de proteína metabolizável (PM), terão que degradar fontes proteicas armazenadas nos músculos e outros tecidos corporais para poder atender à demanda por aminoácidos (AA). As estimativas de pesquisas específicas sobre o tema apontam que durante os 7 a 10 primeiros dias da lactação, vacas leiteiras de alta produção podem ter de mobilizar até 1000g (1 kg) de proteína dos tecidos corporais diariamente para atender a demanda da glândula mamária por AA e glicose.

Apesar de a mobilização proteica ser necessária para compensar o suprimento insuficiente de energia e proteína vindos da dieta, se a mobilização for excessiva, o risco de ocorrência de distúrbios metabólicos e prejuízo ao sistema imune será maior, bem como o risco de limitação ao desempenho produtivo e reprodutivo. No entanto, os efeitos do balanço proteico negativo podem não ser apenas devido à menor disponibilidade de proteína metabolizável por conta da menor ingestão, pode haver um efeito da qualidade da PM, especialmente seu balanço de AA.

Recentemente uma série de estudos desenvolvidos na Universidade de Illinois nos EUA se dedicou a avaliar os benefícios da adição de metionina à dieta das vacas em transição, com resultados bastante interessantes. A metionina tem várias funções biológicas importantes, como seu papel na síntese de lipoproteínas pelo fígado, substrato para reações antioxidantes, e participação no sistema imune. Dentre estes, talvez o papel mais importante a nível hepático seja atuar como agente lipotrópico, estimulando a síntese de VLDL, a principal lipoproteína utilizada por ruminantes para transporte de lipídios pela corrente sanguínea. Quanto maior a quantidade de VLDL disponível no fígado, maior será a capacidade desse órgão de exportar gorduras, de forma que sua deposição no fígado seja reduzida, o que pode minimizar a ocorrência de alguns distúrbios metabólicos, como a esteatose hepática (Síndrome do Fígado Gorduroso). Outro papel importante da Met é como substrato para síntese de glutationa, que é o principal agente antioxidante natural produzido pelo fígado, e é esperado que se houver maior disponibilidade de glutationa no organismo, o sistema imune será favorecido.

Apesar de já haver uma base de dados sólida sobre o papel da Met no organismo animal, ainda há um número limitado de estudos avaliando a eficácia da suplementação desse AA para vacas no período de transição. O trabalho de Osório et al (2013) avaliou a utilização da 2 fontes de Met como suplemento alimentar para vacas leiteiras, desde 3 semanas antes do parto até 30 dias em lactação. 45 vacas secas foram utilizadas no experimento. Entre 50 e 21 dias antes da data prevista para o parto (DPP) todas receberam a mesma dieta (para vacas em período seco inicial). Entre 21 dias da DPP e a data do parto todas passaram a receber a mesma dieta basal (para vacas em pré-parto), sendo que um grupo recebeu suplementação extra de MetaSmart® (0,19% da MS), outro grupo recebeu suplementação extra da Smartamine® (0,07% da MS) e o terceiro grupo foi mantido na dieta basal. Após o parto a dieta basal passou a ser uma formulação típica para vacas em lactação, mantendo-se os mesmos grupos e respectivas suplementações extras com as diferentes fontes de Met.

As diferentes dietas experimentais foram formuladas para apresentarem diferentes relações Lisina:Metionina na PM, entre as dietas basais e as suplementadas com Met. A meta era conseguir valores em torno de 2,9:1 (Lis:Met), o que é considerado ideal para desempenho de vacas leiteiras, segundo diversos trabalhos de pesquisa realizados na área (Chen, et al., 2011; Ordway et al., 2009; Rulquin, et al., 2006). A tabela 1 mostra os resultados principais observados no estudo em questão:



De maneira geral, a suplementação com Met resultou em maior CMS pós-parto, notadamente após a primeira semana de lactação, segundo observação dos autores. Observou-se também efeito positivo da suplementação com Met sobre a produção de leite e teor de proteína do leite. Esses resultados confirmam a importância de proporcionar teor ótimo de Met para fazer o ajuste fino do perfil de AAE na PM para vacas em início de lactação. Os valores observados para CMS e produção de leite foram responsáveis por um efeito pronunciado da suplementação com Met sobre a eficiência alimentar (kg de leite corrigido para gordura/kg CMS). Além dos efeitos sobre o desempenho produtivo, os autores também relatarem menor incidência de distúrbios metabólicos pós-parto nas vacas que receberam a suplementação com Met. Possivelmente isso esteja intimamente associado ao maior CMS apresentado pelas vacas suplementadas.

Os resultados desse estudo mostram que a suplementação com qualquer uma das fontes de Met testadas, desde que os níveis de Lisina permitam alcançar relação Lis:Met em torno de 2,9:1, podem melhorar o desempenho produtivo de vacas leiteiras no período de transição. Pelo menos em parte, esse efeito pode ser resultado do maior CMS apresentado pelas vacas que receberam metionina. Este estudo também envolveu uma avaliação do metabolismo das vacas nesse período, bem como uma avaliação da expressão de alguns genes ligados à resposta inflamatória ao stress do periparto. Esses trabalhos acabam de serem publicados no Journal of Dairy Science (Osorio et al. 2014a, 2014b).

O primeiro deles avaliou a variação na concentração de alguns biomarcadores de resposta inflamatória e stress oxidativo no sangue e fígado das vacas, e os animais suplementados com metionina apresentaram nos primeiros dias da lactação maior concentração sanguínea de albumina, que é um indicador de melhor função hepática e maior concentração de carnitina fosfatidilcolina no fígado, o que indica maior capacidade de β-oxidação de ácidos graxos e síntese de VLDL, processos metabólicos importantes para melhorar o metabolismo de gorduras, de forma que as vacas nessa condição tendem a apresentar menor incidência de alguns problemas típicos do pós-parto imediato como cetose e esteatose hepática. Além disso, a concentração hepática de glutationa, um importante anti-oxidante, também foi significativamente maior nas vacas suplementadas com metionina, o que reforça o melhor status metabólico das vacas suplementadas com o aminoácido.

O segundo estudo mostrou que a suplementação com Met afetou positivamente a expressão de genes ligados ao metabolismo de metionina e glutationa, resposta inflamatória, stress oxidativo e processos de metilação de DNA. De maneira geral os resultados mostraram uma melhor condição metabólica das vacas que receberam metionina, de forma que esses animais sofreram menos os efeitos do stress associado ao período de transição, especialmente no que se refere ao funcionamento do fígado e combate ao stress oxidativo. Animais que conseguem manter a função hepática em melhor nível conseguem lidar melhor com a mobilização excessiva de gordura no período de transição, e tendem a apresentar menor incidência de cetose. Os dados do primeiro estudo, mostrando aumento no CMS no pós-parto imediato corroboram essa tese.

Obviamente esse tema demanda mais estudos, mas os resultados apresentados nessa série de estudos lançam uma nova luz sobre o manejo de vacas em transição. Pelo que encontraram os autores dos trabalhos, a suplementação com metionina pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar o desempenho de vacas leiteiras, especialmente as de produção elevada.

Referências:

Chen, Z. H., G. A. Broderick, N. D. Luchini, B. K. Sloan, and E. Devillard. 2011. Effect of feeding different sources of rumen-protected methionine on milk production and N-utilization in lactating dairy cows. J. Dairy Sci. 94:1978–1988.

NRC. 2001. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 7th ed. Natl. Acad. Press, Washington, DC.

Ordway, R. S., S. E. Boucher, N. L. Whitehouse, C. G. Schwab, and B. K. Sloan. 2009. Effects of providing two forms of supplemental methionine to periparturient Holstein dairy cows on feed intake and lactational performance. J. Dairy Sci. 92:5154–5166.

Osorio, J. S., Ji, P., Drackley, J. K., Luchini, D., Loor, J. J. 2013. Supplemental Smartamine M or MetaSmart during the transition period benefits postpartal cow performance and blood neutrophil function. J. Dairy Sci. 96 :6248–6263.

Osorio, J. S., Trevisi, E.; Ji, P., Drackley, J. K., Luchini, D., Bertoni, G.; Loor, J. J., 2014. Biomarkers of inflammation, metabolism, and oxidative stress in blood, liver, and milk reveal a better immunometabolic status in peripartal cows supplemented with Smartamine M or MetaSmart. J. Dairy Sci. 97 :7437-7450.

Osorio, J. S., Ji, P., Drackley, J. K., Luchini, D., Loor, J. J., 2014. Smartamine M and MetaSmart supplementation during the peripartal period alter hepatic expression of gene networks in 1-carbon metabolism, inflammation, oxidative stress, and the growth hormone–insulin-like growth factor 1 axis pathways. J. Dairy Sci. 97 :7451-7464.

Rulquin, H., B. Graulet, L. Delaby, and J. C. Robert. 2006. Effect of different forms of methionine on lactational performance of dairy cows. J. Dairy Sci. 89:4387–4394.
 

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ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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MARIANA POMPEO DE CAMARGO GALLO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 30/07/2015

Olá pessoal,



Já estão abertas as inscrições para o Curso Online: "Manejo e alimentação de vacas em transição" com o instrutor Rodrigo de Almeida.



Neste curso você aprenderá a identificar os principais problemas que acometem as vacas nessa fase, como minimizar a ocorrência de distúrbios metabólicos e conhecerá as necessidades nutricionais das vacas neste período, de forma a oferecer a elas uma dieta adequada e balanceada para cada etapa, a fim de maximizar o seu desempenho produtivo e reprodutivo.



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LUIZ GUSTAVO COSTA APOLINÁRIO

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/12/2014

Alexandre, boa noite!

Tenho uma duvida em relacao a uma novilha, com 3 meses de lactação, a pasto e tem concentrado fornecido separadamente. O problema é que ela se recusa a ingerir o concentrado, em todo o lote ela é a unica.

Qual seria o motivo?

Obrigado!
ALEXANDRE M. PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 01/12/2014

Olá Claudio.Não, a metionina foi incluída na dieta das vacas dos 21 dias pré-parto até os 30 dias pós-parto.



Há um grande número de estudos mostrando os efeitos da suplementação com metionina e balanceamento de aminoácidos sobre a produção e composição do leite. Quando o manejo da alimentação é muito bom, e há constância na composição da dieta e qualidade de alimentos volumosos, é possível se conseguir ganhos em sólidos com o balanceamento das dietas por aminoácidos, especialmente lisina e metionina. Nos EUA esse conceito é amplamente difundido, por aqui estamos começando a trabalhar com essa tecnologia.



Abs!
CLÁUDIO HENRIQUE OLIVEIRA DE CARVALHO

CÁSSIA - MINAS GERAIS

EM 30/11/2014

Boa noite, Alexandre.



Em relação ao uso da Metionina sintética, esta foi incluída somente no período de transição, certo? Já há estudos comprovando a eficácia do uso durante a lactação? Acha que é interessante? Pelos resultados que se falam, me parece interessante, principalmente no que diz à saúde das vacas, além, obviamente, dos sólidos (proteína), não é mesmo?



Att.,



Cláudio.
ALEXANDRE M. PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 24/11/2014

Marina, excelente pergunta. Realmente no que se refere ao efeito da suplementação com metionina sobre os parâmetros metabólicos relacionados ao stress do periparto, aparentemente o que manda é a disponibilidade de metionina, a relação lisina:metionina não tem papel primário nesse caso. Conversando com o Daniel Luchini, um dos autores dos trabalhos citados, ele me disse que para vacas no pré-parto estão começando a testar relações Lis:Met mais baixas, ou seja, com maior inclusão de metionina. Vamos ver o que mostram os estudos que virão a seguir. Já sei que num segundo trabalho feito pelo Juan Loor, com protocolo muito semelhante ao dos trabalhos citados neste artigo, a resposta em consumo pós-parto foi praticamente idêntica. Estou ansioso pela publicação dos resultados.
MARINA A. CAMARGO DANÉS

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 24/11/2014

Alexandre,

Parabéns pelo excelente artigo e pela escolha do tema. Sem dúvidas a metionina tem funções muito importantes no organismo da vaca além da síntese de proteína. Essa melhoria das condições do animal no período de transição tem o potencial de aumentar a produção no pico de lactação e carregar essa vantagem pelo resto da lactação.



Minha dúvida é em relação ao que você comentou no oitavo parágrafo sobre a relação lisina:metionina. Você acha que os benefícios observados nesses estudos têm alguma dependência nessa relação ou são somente decorrentes dos efeitos diretos da metionina? De que forma a relação lisina:metionina afetaria o uso da metionina para essas funções "secundárias" (i.e. além da síntese de proteína)?



Obrigada e um abraço,

Marina

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